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4. REFLEXÕES SOBRE O CONTEXTO: ANALISANDO ESPAÇO, CULURA(S) E SUJEITOS

4.2 PERSONAGENS DO CONTEXTO: A PROFESSORA, OS ALUNOS E A DIRETORA

4.3.7 Preferência musical

Os últimos tópicos já auxiliaram na visão panorâmica das preferências musicais dos alunos, entretanto este tópico busca adentrar mais profundamente nas relações dos jovens com suas escolhas musicais e com as escolhas dos colegas. As preferências musicais de cerca de metade dos alunos circundaram as músicas que Trotta (2013) define por "periféricas de

massa", por sua associação à sedução, aos encontros festivos, à alegria e à noite. Neste sentido, foram citadas as bandas Farra de Rico, Wesley Safadão, Forró dos Plays e Calcinha Preta - considerado pela mídia como forró eletrônico -, Grafith - do gênero swingueira - e os artistas Rei da Cacimbinha - dos gêneros brega/arrocha - e Zezo - do gênero brega. Destes grupos e artistas, Grafith, Farra de Rico e Zezo são do Rio Grande do Norte, o que sugere uma aproximação dos jovens com produções da indústria cultural local.

Nenhum aluno citou primeiramente a preferência pelo funk. Achei estranho, pois diversas das minhas experiências de vida remetem à aproximação de gêneros como o funk a alunos de contextos periféricos. Então perguntei abertamente: "alguém gosta de funk?". Apenas um aluno se manifestou positivamente, e logo foi censurado por alguns colegas: "Funk é ruim demais!!!". Em seguida, o aluno H comentou que "as meninas ali tudinho gostam, viu? Tão aí se fazendo de doida, mas vivem cantando e dançando por aí". As jovens em questão sorriram e, depois de um curto período de hesitação, admitiram a predileção pelo gênero. Uma delas, se explicou: "Eu gosto por causa do ritmo… Eu sei que as letras às vezes são pesadas, mas o negócio é que quando a música começa a tocar já dá vontade de dançar". A omissão da afirmativa em relação à preferência pelo funk e, em seguida, a necessidade de explicação sugere que a aluna conforma-se com a situação de inferioridade do gênero em relação a outros. O aluno H, ao comentar sobre a vivência das jovens com o funk, fazia-o em tons acusatórios, como se elas fossem culpadas por isso - e elas, por sua vez, demonstravam assumir esta culpa.

Os comentários dos colegas, em uma perspectiva geral, apontaram para a não- aceitação do funk ou, ao menos, uma aceitação parcial do funk. A aceitação parcial diz respeito à temática da letra como pré-requisito fundamental para legitimar ou não o valor da música. Muitos alunos demonstraram que gostam apenas dos funks que "tenham letra", conforme apontado pelos alunos Y e U e reforçado pela aluna I:

Aluno Y: Funk só se tiver letra!

Pesquisador: Como assim se tiver letra?

Aluno U: É que aqueles que só falam de sacanagem não tem letra… É só lixo [tomando a posição do colega na resposta]

Aluna I: A batida do funk eu acho legal, gosto da dança… Mas só gosto da música se cantar coisa que preste, não pode ser música pesada.

Percebe-se que, na ótica destes jovens, o fato de uma letra falar sobre algum assunto indesejável descaracteriza sua natureza de "letra de música", como se para uma composição de palavras ganhar a qualidade de letra de uma canção seja necessário seguir uma série de

requisitos temáticos e morais. No entanto, ter letra não significa ter letra culturalmente definida como "boa", significa apenas ter combinações de palavras, podendo falar sobre absolutamente qualquer assunto. Este assunto me remete à discussão sobre o que é música, mais especificamente sobre os debates entre ideias etnocentristas de que se a música for construída segundo códigos considerados indesejáveis por uma cultura ela perde seu caráter "musical" e ideias etnomusicológicas de que a música é o "som humanamente organizado16" (BLACKING, 1995, tradução minha), independente de como seja organizado e de quais sejam suas naturezas sonoras.

A passagem na qual a aluna I afirma que gosta da batida do funk e da dança, mas não das letras "pesadas" assemelha-se com a fala de uma informante de Costa (2012, p. 214), que admite gostar do gênero forró e da dança, mas condena as temáticas. Neste sentido, o autor apresenta uma negociação com o campo da sexualidade como alegoria de uma lógica conflitante: "gosta-se das danças sensuais, mas não se gosta das letras de caráter sensual. Assim, seguramente é possível afirmar que o campo da moralidade é estruturante para o consumo dos bens culturais de massa" (COSTA, 2012, p. 214).

Voltando às considerações dos alunos sobre o funk, uma outra aluna, ainda na perspectiva de aceitação parcial do gênero, citou o interessante termo "funk com censura", reproduzindo normas de desaprovação a conteúdos considerados de baixo valor:

“Tem uns funks que eu gosto, mas não são aqueles pesados [temática sexual ou violenta]. Gosto de funk com censura"

Trotta (2013, p. 31) comenta que os meios de comunicação de massa acionam, com frequência, discursos de condenação da sexualização, da baixa qualidade estética e da apologia à violência, assim, atrelando a esses meios parte da responsabilidade pela estigmatização negativa ao funk. O mesmo autor, em parceria com Roxo, complementa comentando que o gênero é "continuamente demonizado pela imprensa nacional" (TROTTA; ROXO, 2014, p. 6). Souza (2006) comenta sobre fenômenos sociais e midiáticos que, na década de 1990, contribuíram para o desenvolvimento do processo de estigmatização negativa do funk:

O funk conseguiu repercussão nacional devido aos arrastões na praia de Ipanema, em 1992. Tais episódios foram diretamente associados aos frequentadores de bailes funk - jovens, negros ou pardos, pobres e moradores

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da favela -, que logo seriam demonizados na imprensa como representantes da violência e do perigo (SOUZA, 2006, p. 5 e 6).

Rangel e Rocha (2013) apresentam a discriminação em relação ao funk segundo a perspectiva do preconceito linguístico. Os autores apresentam que as críticas da sociedade dominante em relação à cultura funkeira ainda são muito constantes. Conforme comentam, "uma das marcas linguísticas presentes na linguagem musical do funk são gírias e palavrões ou palavras de baixo calão" (2013, p. 92) - neste sentido, como a sociedade dominante preza "como referencial o uso da língua à base da norma culta, os palavrões são discriminados, são verdadeiros tabus linguísticos" (2013, p. 93)

Conforme apresentado, poucos jovens se manifestaram positivamente em relação à preferência pelo funk. Em perspectivas similares, Trotta e Roxo (2014) apresentam que, em uma pesquisa sobre hábitos de consumo musical na localidade da Maré no Rio de Janeiro, pelo Grupo Musicultura17, houve uma predileção muito maior ao gênero pagode que ao gênero funk. Nesse sentido, os autores explicam que os marcantes traços de marginalização do funk são consequências de seu ainda breve percurso de legitimação:

Se, por um lado, o samba e o pagode conquistaram com o passar das décadas uma posição de prestígio ambígua mas eficaz no imaginário nacional, os 30 anos de existência do funk ainda não permitiram que o forte preconceito e estigma contra o gênero ainda apareçam de modo bastante explícito em diversas ocasiões. Possivelmente, entrevistas e pesquisas de gosto possam ser incluídas em uma dessas situações (TROTTA; ROXO, 2014, p. 5). Pimentel e Donnelly (2008) constataram relações positivas estatisticamente significativas entre a dimensão música de massa e o fator extroversão. Para Flores-Mendonza et al (2005), o fator extroversão relaciona-se com a tendência à comunicação, com a assertividade e com o entusiasmo. McCrae e John (1992) atrelam à extroversão os adjetivos ativo, energético, entusiástico e comunicativo. É interessante que pude observar em muitos dos alunos que confirmaram suas preferências por músicas de massa algumas caracterizações de extroversão: ao se portarem de uma maneira geral e especialmente ao se manifestarem sobre suas experiências com festas e outros fenômenos sociais nos quais tocava-se músicas de massa – mais especificamente o forró eletrônico – demonstravam extroversão, e também narravam situações de extroversão, coerentes com as dinâmicas culturais assumidas e compartilhadas por pessoas que vivem o fenômeno cultural do forró eletrônico. Costa (2012) expõe traços destas dinâmicas culturais quando apresenta as temáticas recorrentes das letras -

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que considera como prescrições umas das outras: cabaré (bordel), cachaça (aguardente), paredão de som (potentes aparelhos sonoros na mala dos automóveis) e rapariga (meretriz). Assim, o conteúdo temático utiliza-se do trinômio "festa, amor e sexo", criando uma espécie de propaganda dos shows e dos ambientes criados nestas ocasiões.

Quando comentaram sobre bandas de forró eletrônico que gostam, os alunos acompanhavam suas falas de experiências festivas nas quais conviveram com essas músicas e davam maior importância às experiências em torno das festas do que a música em si. Eles até conhecem algumas músicas, apreciam como soam as bandas, mas no fim percebi que a música em si não toma o centro das atenções. Não era como quando eu, na adolescência, conheci o rock e tornei-me o estereótipo do fã, acompanhando biografias, curiosidades, decorando letras, comprando CDs, DVDs e camisas, colando pôsteres na parede aprendendo a tocar riffs e melodias. Como Costa (2012, 157) aponta, o consumo no forró eletrônico costuma ocorrer de uma maneira diferente: "o consumo no forró eletrônico não se dá exclusivamente em torno da música em si (apego incondicional pelo material sonoro), mas sim, fundamentalmente, através do próprio fenômeno festivo".

O aluno H comentou sobre uma festa para a qual foi levado por um primo mais velho. Na ocasião, havia uma reunião de donos de automóveis e seus paredões, que espalhados em um amplo espaço exibiam todo o potencial sonoro de seus equipamentos utilizando como matéria-prima musical produtos advindos da esfera do forró eletrônico, em inevitáveis disputas de volume com os vizinhos. O ambiente descrito pelo aluno era de saturação sonora, nas quais os marcantes graves dos subwoofers18 e os timbres estridentes dos metais cruzavam- se na medida em que a área de influência sonora de cada paredão invadia a do outro. Enquanto a descrição do evento parecia-me caótica, no sentido de que ganha mais respeito quem fala mais alto, o aluno narrava com um sorriso no rosto: "aí nessas festas os donos dos maiores paredões geralmente botam uns whiskys caros na mesa, sempre tem mulher do lado..." [em tom de admiração] "o povo vai juntando ao redor, pra ver o paredão, pra dançar...".

Costa (2012) comenta que o consumo dos paredões de som em automóveis são sinais da necessidade demasiada de evidência em realidades na qual o capital econômico costuma induzir ao prestígio. Assim, "as máquinas passam a ser fortes fontes de identificação, exaltando os sentimentos de poder e auto-suficiência" (COSTA, 2012, p. 187). O autor apresenta o consumo etílico como tema recorrente de canções de sucesso do forró eletrônico e

18 Subwoofer é um tipo de reprodutor usado para potencializar os graves na execução sonora, variam de 20 Hz a 200 Hz

a associação entre o álcool e as festividades nas quais há o forró eletrônico como repertório. O distanciamento entre o contexto socioeconômico desprivilegiado do jovem e a conquista do poder e autossuficiência proporcionados pelas máquinas caras pode induzir o jovem ainda mais a inflamar aspirações consumistas.

O aluno J, ao comentar sobre sua preferência pelo reggae, fez menções ao termo "4 e 20":

Aluno J: Eu gosto é de reggae… É 4 e 20!!! [risos] Pesquisador: Você gosta de quais bandas de reggae?

Aluno J: Ah, tem várias… Bob Marley, Ponto de Equilíbrio, Rastafeeling19

Em uma entrevista para a New York Times, Steven Hager, diretor criativo da High Times20, comenta que o termo advém de um ritual que teve seu início em meados dos anos 1970, quando adolescentes do norte da Califórnia fumavam maconha todos os dias por volta das 4 horas e 20 minutos da tarde. Com o tempo, o ritual espalhou-se e o dia 20 de maio (4/20) tornou-se "um dia não-oficial de celebração para fãs da maconha [...]", assim como o termo 420 passou a ser usado "como um código para fumar e como um sinal em fliers de concertos nos quais haveria abundância da droga" (McKINLEY, 2009). Assim, quando o aluno conecta o reggae ao termo 4 e 20, sugere a apreensão de códigos culturais que concatenam o gênero musical ao hábito de fumar maconha.

Tendo em vista que um dos problemas sociais destacados pelos alunos no tópico 4.4.1 foi o convívio em regiões nas quais há proximidades ao acesso e consumo de drogas, possivelmente há correlações entre este fato e a familiaridade do jovem com um termo que denota o uso de maconha. Pimentel, Gouveia e Vasconcelos (2005) apresentam correlações entre o uso de cannabis e a preferência musical por estilos de música anticonvencional – definidos na pesquisa como os gêneros rap, punk, heavy metal e reggae. Dentre eles, possivelmente o reggae é a que tem ligação mais forte com a cannabis, por ter em suas raízes vinculações ideológicas/religiosas com a erva:

Ao som do baixo, da guitarra e da bateria, os trios musicais da época [de surgimento do reggae] entoavam louvores a Jah, o Deus-Supremo e criador de todas as coisas vivas e inanimadas, além de mostrar nos palcos do mundo as longas tranças (locks), que seria por onde os rastamen receberiam as inspirações celestiais [...]. Nota-se que tão relevante quanto as tranças e o

19 Todas as três bandas citadas tematizam, dentre outros fatores, o consumo e a reverência à maconha. 20

Revista mensal de New York, fundada em 1974 voltando-se para apreciadores da Cannabis Sativa e defensores de sua legalização. Ver <https://en.wikipedia.org/wiki/High_Times>.

apego ao Antigo Testamento é o uso da maconha. Para os rastamen a erva que tem o uso reprimido em diversas partes do mundo é sinônima de santidade (OLIVEIRA, 2009, p. 22).

Assim, a erupção do movimento reggae configurou-se como um expressivo meio de dissipação de códigos culturais rastafaris da Jamaica para o mundo. Hausman (1997) comenta que os rastafaris criaram mitologias em torno do uso da maconha, ganja ou erva. Os mitos associados à erva sagrada advém de fragmentos de salmos da Bíblia e contos etíopes que tematizam os tempos do Rei Salomão. Um desses mitos sugere que "pés de maconha brotaram da tumba de Salomão após ele ser enterrado". Há provérbios que estabelecem que fumar maconha 'torna um homem tão sábio quanto Salomão' ou que 'a erva é o vinho', a bênção do sacramento, a advocação do Senhor'" (HAUSMAN, 1997, p. 61). Nessa perspectiva, Davis e Simon (1983, p. 59) apresentam que a maconha "deveria ser fumada em grandes círculos, passando de mão em mão, como os cristãos faziam com o vinho e com o pão em suas mesas. A cada tragada, uma prece e um agradecimento a Jah [Deus]".

Descobri que para o aluno, Bob Marley representa uma influência maior como um ícone de louvor do que como uma referência musical. Quando perguntei algumas músicas, ele soube cantarolar apenas uma: Three Little Birds21. Uma curiosidade sobre a música é que recentemente – no ano de 2008 – foi utilizada como trilha sonora de uma popular propaganda de automóveis, fato que provavelmente ajudou em sua popularização22. O aluno não soube dizer mais músicas, mas atrelou a Bob Marley o papel de criador do reggae23 e o definiu como uma figura reverenciada em dimensões que o aproximam à divindade: “Bob Marley foi quem criou o reggae. Ele foi o cara que mudou tudo… A cara dele tá em todo canto, ele é tipo um Deus pro povo do reggae!”. Os exemplos de músicas do Ponto de Equilíbrio e do Rastafeeling foram mais numerosos. O interessante sobre esta última é que trata de uma banda atuante na cena musical potiguar, demonstrando mais um exemplo de aproximação dos alunos com produções artísticas próximas advindas de sua cidade.

Os doze alunos evangélicos alegaram a preferência musical pela música gospel. Na contemporaneidade, o termo tem assumido forma não de gênero musical, mas como um universo variado de estilos musicais que assumem temática evangélica em suas letras. Dolghie (2004, p. 203) comenta que a música gospel contemporânea rompe com os antigos

21 A quarta música do lado b do álbum Exodus, de 1977, que também foi lançada como single no ano de 1980.

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Propaganda do novo Palio Weekend Adventure Locker, dirigida por Cláudio Borelli, que passou um bom tempo visitando periodicamente a programação das redes televisivas abertas do Brasil

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cânticos protestantes "quando passa a incorporar uma gama quase contraditória de valores: valores seculares, litúrgicos e de mercado". O autor complementa apresentando que

Musicalmente, esse novo estilo (aqui tratado no sentido de sua significação simbólica e não de estética musical) se vale de todos os ritmos, que vão desde o rock pesado até o samba, passando pelo funk, axé, etc. As bandas são as mais variadas e se confundem com o tipo de apresentação de bandas musicais seculares. O termo gospel é nesse caso, usado como uma música, não importa o seu estilo, que fala de Deus ou, pelo menos, das coisas de Deus (DOUGHIE, 2004, p. 203).

A Igreja Apostólica Renascer – fundada em 1986 e reconhecida pelo estilo despojado de seus pastores, pelo culto vibrante e pelas programações inovadoras para jovens – foi a responsável pelo lançamento da música gospel nestas configurações no mercado religioso tendo, inclusive, patenteado a marca "gospel" (DOLGHIE, 2004). Os alunos, além de se referirem ao gospel como um todo, citaram especificações de gêneros que assumem a temática religiosa, tais como rap gospel, reggae gospel e rock gospel. Neste sentido, o aluno C comentou que gosta de “tipo… qualquer batida… Um reggae ou uma música mais pesada… Se a letra for pra Deus, eu gosto".

Percebe-se, nessa passagem, uma ecleticidade seletiva – já comentada no item “4.4.4.” -, na qual o interesse pelos aspectos sonoros de uma música ficam em segundo plano; assim, a ideologia religiosa rege, antes de qualquer aspecto, a escolha musical. Dos doze evangélicos, oito alegaram ouvir exclusivamente músicas religiosas, enquanto o resto alegou ouvir outros tipos de música, mas se preocupando sempre nos conteúdos – evitando as músicas com temáticas indesejáveis.

Foi significativo o número de alunos que defenderam os gêneros "pop internacional", referindo-se a artistas como Katy Perry, Beyoncé, Kesha e Christina Aguilera e ao "rock". Este último, na fala dos jovens, assume uma ecleticidade bastante elástica, circundando opostos das vertentes do amplo universo do rock, já que, por exemplo, um mesmo aluno citou a preferência por Capital Inicial e Slipknot. Como em um caldeirão heterogêneo de ingredientes, os alunos misturavam dentro de uma genérica esfera do rock artistas/bandas como Avril Lavigne24, Legião Urbana, Capital Inicial e Pitty25, Charlie Brown Jr26, Jota Quest27, AC/DC28, Korn e Slipknot29, One Direction30.

24 Pop punk. Ver <

http://www.biography.com/people/avril-lavigne-16472577>. 25

Conhecidos como parte do “rock nacional” 26

Banda que pode ser atrelada genericamente como rock nacional, mas que entrelaça influências do hardcore, do reggae, do rap e do skate punk. Ver <https://pt.wikipedia.org/wiki/Charlie_Brown_Jr.>

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O contato com esses gêneros musicais foi atrelado basicamente às experiências proporcionadas pela internet – com exceção de duas alunas que comentaram orgulhosas sobre a experiência de ter ido a shows das bandas Capital Inicial e Pitty. Os alunos destacaram o YouTube como uma importante plataforma de execução dessas músicas de preferência. O fato sugere a inserção crescente de indivíduos das classes sociais mais desprivilegiadas na imensidão do mundo virtual. Castells (2001, p. 7), sobre os impactos da internet no mundo contemporâneo, comenta que

a internet é o tecido de nossas vidas. Se a tecnologia da informação é hoje o que a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a Internet poderia ser equiparada tanto a uma rede elétrica quanto a um motor elétrico, em razão de sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da atividade humana.

Com o processo de democratização ao acesso a bens tecnológicos, essa distribuição de força da informação tem sido facilitada e vem experimentando sucessivas expansões, chegando a espaços e indivíduos cada vez mais afastados da elite. Assim, no contexto periférico investigado foi constatada a prevalência do acesso à internet pelos jovens. Especificamente sobre o YouTube, Burgess e Green (2009, p. vii) consideram que "o YouTube é hoje parte do cenário dos meios de comunicação, e uma força a ser reconhecida na cultura popular contemporânea".

Apenas o aluno M citou o gênero MPB como de sua preferência. Sobre as primeiras manifestações de interesse a este gênero musical, o jovem comentou:

Eu via que muitas pessoas consideravam o MPB como o melhor ritmo [gênero]. Em muitos cantos que eu andava, via o pessoal falando isso [...]. E aí um dia eu disse 'Poxa vida, será que é mesmo? Vou pesquisar porque se for bom mesmo eu começo a escutar'. Aí fui pesquisar e acabei gostando [...]. Até o momento foi o melhor ritmo que ouvi. Mas existem muitos outros bons também [...] E mesmo que eu não ache alguma música boa, isso é só uma opinião minha, sabe? A gente tem que respeitar os outros tipos de