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Capítulo III – Estágio curricular em Farmácia Comunitária

10. Preparação de medicamentos

O medicamento manipulado (MM) engloba tanto o conceito de “fórmula magistral” como o de “preparado oficinal” que são preparados e dispensados sob responsabilidade de um farmacêutico. A dispensa de MM pode ser feita mediante a receita médica, tratando-se de uma fórmula magistral, ou podem ser dispensados diretamente ao utente, sendo neste caso, um preparado oficinal (preparados segundo as indicações compendiais, de uma farmacopeia ou formulário). Tal como no caso das receitas especiais, os medicamentos manipulados têm que ser prescritos isoladamente, ou seja, a receita médica não pode conter outros medicamentos ou produtos, e a receita deve conter a indicação “MM”, indicando a ou as substâncias ativas presentes neste, as respetivas concentrações pretendidas, os excipientes aprovados e a forma farmacêutica final [52,53].

O farmacêutico, como responsável pela preparação do MM, deve garantir a qualidade da preparação regendo-se pelas boas práticas a observar na preparação de medicamentos manipulados em farmácia estabelecidos pela portaria n.º594/2004,de 2 de junho [52]. De acordo com o Despacho n.º 18694/2010, de 18 de novembro, encontram-se as condições necessárias para a comparticipação de medicamentos manipulados, nomeadamente: "a

inexistência no mercado de especialidade farmacêutica com igual substância ativa na forma farmacêutica pretendida; existência de lacuna terapêutica a nível dos medicamentos preparados industrialmente; e a necessidade de adaptação de dosagens ou formas farmacêuticas às carências terapêuticas de populações específicas, como é o caso da pediatria ou da geriatria", assim como a lista de medicamentos manipulados

comparticipáveis, sendo a percentagem atual de comparticipação de 30% para preparados oficinais incluídos na Farmacopeia Portuguesa ou no Formulário Galénico Nacional e as fórmulas magistrais que constam dessa lista [54, 55].

O preço de venda ao público dos medicamentos manipulados é calculado de acordo com a Portaria n.º 769/2004, de 1 de julho, e no valor dos honorários da preparação, do valor das matérias-primas e no valor dos materiais de embalagem. É de referir ainda que os valores dos honorários da preparação são calculados consoante a forma farmacêutica final do medicamento e as quantidades preparadas, utilizando um fator multiplicativo (F), o qual é anualmente atualizado. Os valores referentes às matérias-primas são determinados pelo valor da aquisição multiplicado por um fator, consoante a maior das unidades em que forem utilizadas ou dispensadas. Os valores referentes aos materiais de embalagem são determinados pelo valor da aquisição multiplicado pelo fator 1,2. Assim, o PVP dos medicamentos manipulados pode ser calculado através da seguinte fórmula [56]: (Valor dos

honorários + Valor das matérias-primas + Valor dos materiais de embalagem) x 1,3 (acrescido do valor do IVA à taxa legal em vigor).

De forma a garantir a qualidade do medicamento manipulado, é necessário que as operações sejam padronizadas. Para tal, na Deliberação n.º 1500/2004, de 7 de dezembro, encontra-se a lista de equipamento mínimo de existência obrigatória para as operações de preparação, acondicionamento e controlo de medicamentos manipulados, entre os quais se encontram os almofarizes de vidro e de porcelana, uma balança de precisão sensível ao miligrama ou a pedra para a preparação de pomadas. Relativamente às matérias-primas, só podem ser utilizadas na preparação de um medicamento manipulado matérias-primas inscritas na Farmacopeia Portuguesa, nas farmacopeias de outros Estados Partes na Convenção Relativa à Elaboração de Uma Farmacopeia Europeia, na Farmacopeia Europeia ou na documentação científica compendial [57,58]. Embora já não seja obrigatória a existência de matérias-primas específicas no laboratório das farmácias, como ainda acontece com o material, todas aquelas matérias-primas que forem utilizadas na preparação de medicamentos manipulados devem possuir um boletim analítico que comprova que as mesmas cumprem com os requisitos da farmacopeia onde a respetiva matéria-prima se encontra descrita. Deve ainda existir na farmácia um registo dos movimentos destas matérias-primas [1].

De forma a garantir a qualidade dos manipulados preparados, o farmacêutico deve-se guiar pelas boas práticas da preparação de medicamentos manipulados, de acordo com o artigo 4º do Decreto-Lei n.º 95/2004, de 22 de abril [58] e pelas normas constantes na Portaria n.º 594/2004, de 2 de junho. Deste modo, FGP torna-se também uma importante ferramenta na garantia de qualidade dos manipulados preparados na farmácia, padronizando e uniformizando as operações relacionadas com a preparação e manipulação, embalagem, rotulagem e verificação das especificações do manipulado assim como as especificações para as matérias-primas a utilizar [59].

No fim da preparação do manipulado, deve proceder-se a todas as verificações necessárias para garantir a boa qualidade final do medicamento manipulado, incluindo, no mínimo, a verificação dos caracteres organoléticos (cor, aspeto) e do volume ou massa final de medicamento a dispensar, que deve corresponder à quantidade prescrita. Os resultados obtidos das verificações são registados na ficha de preparação do manipulado. Esta ficha de preparação contém também o registo dos lotes das matérias-primas utilizadas, da técnica de preparação, dos dados do utente a que se destina e dos dados do prescritor, do prazo de validade, das condições de conservação, do preço de venda ao público e o respetivo cálculo efetuado e também atribui ao manipulado preparado um número de lote, constituído por um número sequencial de três dígitos seguido do ano de produção (que permite a rastreabilidade dos medicamentos manipulados) [1].

Após a preparação dos manipulados, estes são acondicionados nos respetivos recipientes e devidamente rotulados. Segundo a Portaria n.º 594/2004, de 2 de Junho, o rótulo aplicado ao manipulado deve conter: nome do utente; fórmula do medicamento manipulado; número do lote; prazo de validade; condições de conservação, como, por

exemplo, «agite antes de usar», «uso externo» (em fundo vermelho); instruções de utilização, via de administração; posologia e identificação da farmácia e do DT [52].

Na FR, a preparação de medicamentos manipulados é pouco solicitado e, de forma a evitar gastos desnecessários em matérias-primas, este tipo de medicamentos é fornecido pela Farmácia Serpa Pinto, no Porto. Por conseguinte não tive possibilidade de realizar este tipo de preparação. No entanto, pude realizar várias vezes um outro tipo de preparações, as preparações extemporâneas, nomeadamente de antibióticos orais para uso pediátrico (como por exemplo, Clavamox® ES, Zithromax®, Zoref®, Klacid®, entre outros). Para a preparação destas, deve-se ressuspender o pó e posteriormente adicionar um pouco de água purificada, agitando um pouco, depois perfaz-se até à indicação do frasco com mais água purificada, agitando vigorosamente de forma a homogeneizar a solução. Este tipo de preparações, após a reconstituição apresenta um prazo de validade de 7 a 14 dias quando conservado no frio (2- 8ºC). Aquando da dispensa dos mesmos, tive sempre a atenção de informar/ alertar o utente para os cuidados a ter com este tipo de preparações.