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1.1.4 – PRESSUPOSTOS DO CURRÍCULO PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA

De antemão, é importante ressaltar que analisaremos os pressupostos para Educação Física no caderno específico dos anos finais do ensino fundamental, já que é o recorte deste estudo.

Trata-se da 2ª edição atualizada pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, a partir da 1ª edição publicada em 2014. Essa renovação se fez necessária para poder se ajustar à BNCC (Base Nacional Comum Curricular).

A Educação Física situa-se na área de Linguagens do currículo, a qual permite ao estudante uma leitura mais ampla do meio em que vive e de sua identidade nesse lugar, de quem é o outro, como também das relações interpessoais entre os seres humanos, possibilitando a comunicação verbal, corporal, visual, sonora e digital.

A área de Linguagens tem o principal objetivo de possibilitar aos estudantes a participação em práticas de linguagem diversificadas que lhes permitam ampliar conhecimentos e capacidades expressivas em manifestações artísticas, corporais e linguísticas, considerando o processo de constante transformação social. (SEEDF, 2018, p. 16)

O documento elucida que o componente curricular Educação Física, tem como objeto de ensino as manifestações da cultura corporal, que contribui para a formação integral do ser humano desde seu ingresso na escola, por meio de brinquedo, de jogo simbólico, de movimentos gerais vivenciados mediante atividades orientadas, de iniciação das danças, de ginásticas e de jogos pré-desportivos, entre outras atividades que, ao oportunizar as aprendizagens, favoreçam o desenvolvimento do estudante.

Considera ainda que o enfoque dessa abordagem é mais abrangente à medida que valoriza e considera aspectos sócio-históricos de cada atividade trabalhada, como também o contexto em que os estudantes estão inseridos e as

45 aprendizagens motoras individuais, independentemente do nível de habilidades que apresentem.

A Educação Física é uma área do conhecimento que trata pedagogicamente de práticas e saberes relativos às manifestações corporais produzidas em diversos contextos sociais e históricos, constituindo, assim, a cultura corporal. As práticas que constituem a cultura corporal podem ser compreendidas como o conjunto de brincadeiras, danças, esportes, ginásticas, jogos, lutas e outras atividades relacionadas a práticas sociais que privilegiam o uso do corpo e do movimento humano, construídas e reconstruídas na dinâmica cultural humana. (SEEDF, 2018, p.109)

Acerca do exposto, fica transparente que os pressupostos para o ensino da Educação Física se relacionam com uma abordagem crítica e transformadora, o que se comprova no seguinte trecho:

Entende-se, contudo, que compete ao ensino da Educação Física no Ensino Fundamental a democratização desse acervo, garantindo uma progressão curricular que amplie sua diversidade e a complexidade no contato desses estudantes com as práticas corporais, agregando os aspectos sócio- históricos e os conhecimentos conceituais e atitudinais que permitam ao estudante reproduzir, transformar, analisar e criar os elementos envolvidos na apropriação crítica, na fruição e na reflexão sobre a prática das diferentes manifestações da cultura corporal. (SEEDF, 2018, p.109)

Desse modo, o ensino proposto da Educação Física requer uma participação ativa do estudante na vida social, superando a dicotomia corpo e mente, porém sem abandonar sua especificidade de ampliar a formação corporal e motora dos estudantes.

Em relação à especificidade, retrata que a Educação Física não deve abandonar, por exemplo, o ensino da técnica do esporte ou da promoção do desenvolvimento motor, tarefa que é intrínseca ao ensino da cultura corporal. O que importa realmente é a forma de abordagem e a democratização desse acervo cultural, agregando os aspectos sócio-históricos e conhecimentos que permitam ao aluno uma apropriação crítica dos conteúdos.

Nesse sentido, uma abordagem crítica para o ensino da Educação Física, busca:

desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificados como formas de representação

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simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas. (SOARES et al., 2013, p.34)

A forma de organização dos objetivos de aprendizagem e conteúdos apresentados na matriz curricular preza pela progressão em relação à etapa anterior. Os conteúdos estão organizados em blocos, conforme o quadro a seguir:

Quadro 1 – Bloco de Conteúdos do Ensino Fundamental 2º CICLO (ANOS INICIAIS) 3º CICLO (ANOS FINAIS)

Brincadeiras e jogos Jogos

Esporte, ginásticas e lutas Esportes

Danças e atividades rítmico-expressivas Ginástica

Conhecimentos sobre o corpo Danças e atividades rítmico-expressivas Lutas

Práticas corporais de aventura Conhecimentos sobre o corpo Fonte: SEEDF, (2018). Elaboração própria.

Para o 2º ciclo (anos iniciais), o currículo evidencia uma predominância para o bloco de jogos e brincadeiras, devido às características de desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes dessa faixa etária, porém foram propostos outros blocos que se relacionam com as manifestações da cultura corporal.

Já para o 3º ciclo (anos finais), a proposta do documento tem como referência diferentes categorias de práticas corporais que devem ser tematizadas nas aulas de Educação Física com maior adensamento, respeitando a progressão curricular. Isso se deve pela própria característica de construção permanente dessas práticas, tendo em vista o vasto rol de movimentos, que muitas vezes vão se modificando, procurando se ajustar à realidade de cada unidade escolar, o que possibilita ao professor não se restringir a conteúdos relacionados no currículo, como se este fosse um receituário fechado para o desenvolvimento de seu trabalho no cotidiano escolar, mas sim com autonomia e originalidade buscar o avanço de todas as aprendizagens dos estudantes. Vale destacar que nesse bloco o conteúdo esporte aparece com maior predominância em relação aos demais, possuindo maior acervo de possibilidades.

47 O documento chama atenção para questão de se considerar a vivência dos alunos em relação às práticas culturais, assim como é característica da pedagogia histórico-crítica, uma vez já elucidada aqui.

É importante salientar que as lutas, danças, jogos, ginásticas e esportes fazem parte do imaginário e cotidiano de nossos estudantes desde antes de entrarem para a escola. Dessa forma, a definição dos conteúdos a serem trabalhados deve considerar as informações e as características de desenvolvimento dos estudantes em um processo de identificação da prática social inicial, conforme preconizado pela didática para a pedagogia histórico-crítica. (SEEDF, 2018, p.111)

Posto isto, evidencia que:

O fundamental é permitir que a criança e o adolescente conheçam e vivenciem as práticas corporais, colaborando para que cada um construa seu estilo pessoal de participação e possa, a partir dessas práticas, ter consciência de seu corpo e de sua inserção social e ao mesmo tempo ampliar o próprio repertório motor. Na perspectiva da formação integral, a organização do trabalho pedagógico de Educação Física deve ainda buscar o equilíbrio entre objetivos e conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, visando atender o desejado desenvolvimento integral do estudante. (SEEDF, 2018, p.112)

Vale destacar que o currículo faz um breve levantamento do percurso histórico da Educação Física, evidenciando que em determinado período dava-se ênfase ao ensino instrumental das técnicas esportivas, associando-a meramente ao desenvolvimento físico e das técnicas esportivas que hegemonizaram as aulas de Educação Física nesse momento. Destaca, ainda, que a partir da década de 80 a Educação Física passa a ser influenciada pelas mudanças no cenário político e com a abertura de novas possibilidades pedagógicas, das quais se destacam as que se orientam por teorias críticas, buscando aproximar suas relações com a realidade social e função social da escola.

Debruçamo-nos, neste capítulo, acerca da função social da escola e da pedagogia histórico-crítica. Diante disso, surge o desafio de articular esta pedagogia, a qual enfatiza que o papel da escola é a transmissão do saber sistematizado, com o ensino do esporte numa perspectiva crítica.

Não se deve negar o saber sistematizado, como também esses conteúdos (saberes) devem ser abordados e transmitidos de forma crítica e reflexiva, evitando a forma mecanizada e tradicional de transmissão, onde os alunos assimilam tais conteúdos de forma acrítica.

48 Diante do exposto, deve-se apresentar um ato pedagógico com a intenção de fazer com que esse saber seja transmitido de modo a tornar-se uma mediação na construção de uma prática social, com a possibilidade da apropriação de elementos culturais necessários para atribuir um novo significado ao conteúdo esporte.

A partir de então, elucidaremos sobre esse fenômeno mundial, compreendendo sua história, suas dimensões e como transformá-lo pedagogicamente na escola.

49 CAPÍTULO 2 – “SEGUE O JOGO”