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Relativamente ao padrão organizacional vigente, talvez a principal resistência à teorização de um Estado Ecológico advenha de fatores de ordem econômica.

Nesse sentido, Klaus Bosselmann se manifesta:

o nível constitucional é uma das plataformas favoritas à negociação de objetivos e valores. Mas não significa que é o estágio central. Se a economia pode ser curvada é o que deve ser decidido em primeiro lugar [...caso contrário...] nem as revoltas sociais nem as normas jurídicas serão boas o suficiente se deixadas por si só. Nas instâncias legais e estatais os critérios são expressos mais claramente do que em qualquer outro espaço, em acordo com a forma que os processos econômicos devem se desenvolver. Temos demonstrado que a ética ecocêntrica tem ocasionado algumas mudanças graduais9899.

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“The constitutional level is one of the preferred platforms on which goals and values are negotiated. But that does not mean that it is the central stage. Whether the economy can be curbed is first decided elsewhere […]then neither social revolts nor legal norms will be good enough if taken on their own. In legal and state instances the criteria are expressed more clearly than anywhere else, according to which the economic process should develop. We have already shown that they are gradually changed by the ecocentric ethic”. BOSSELMANN, Klaus. op.cit., 1995, p. 220-221. Tradução livre.

No que diz respeito à fundamentação das objeções de Bosselmann às práticas econômicas, tem-se, inicialmente, o processo de secularização ocorrido na modernidade, em que o exercício das atividades econômicas passa a ser guiado por lógica e racionalidade próprias.

A corrida pelo acúmulo de riquezas e de lucratividade dentro do sistema capitalista se alastra e faz correntemente surgir novas necessidades100, a ponto de se defender o crescimento ilimitado da economia.

Esta diretriz se aprofunda e complexiza com o desenvolvimento do industrialismo, que intensifica a quantidade de mercadorias fabricadas, reduz o tempo em que são produzidas, diminui o número de trabalhadores necessários, tornando-os alienados na estrutura do processo produtivo e cada vez mais dependentes das máquinas.

Nesse sentido, Bosselmann se inspira no pensamento de Herbert Marcuse, segundo quem um dos aspectos mais perturbadores da sociedade industrial seria “o caráter racional da sua irracionalidade”101.

Isso porque o sistema de verdades e necessidades criadas faz com que os indivíduos nele se reflitam de tal maneira que o próprio conceito de alienação pode ser questionável: é “quando os indivíduos se identificam com a existência que lhes é imposta e tem nela seu próprio desenvolvimento e satisfação”102, o que fez com que se declarasse o homem industrial moderno como o “homem unidimensional”.

Nesse contexto, as técnicas de produção se diversificam, as tecnologias se multiplicam e o consumo chega a patamares jamais experimentados. Criam-se movimentos contínuos de aprimoramento de produtos, em inúmeras e sucessivas versões pretensamente mais eficientes à finalidade a que se propõem; e,

99 Alguns aspectos da difícil relação entre economia e preservação do meio ambiente já foram objeto de estudo anterior desta pesquisadora. Cf. MENDES, Ana Stela Vieira. Princípios e diretrizes da

ordem ambiental econômica no Estado de Direito Ambiental brasileiro. Dissertação (Mestrado

em Direito). Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010.

100 Um dos exemplos disso é a forma como se desenvolve o mercantilismo em França. Como aquele país não possuía, ao contrário de Portugal e Espanha, muitas colônias para explorar matéria-prima, passaram a empregar criatividade e força de trabalho no desenvolvimento e aprimoramento de artigos de luxo e, assim, obter os ditos metais por outras vias. Cf. HUGON, Paul. História das

doutrinas econômicas. 14. ed. São Paulo: Atlas, 1995.

101 MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1973, p. 29.

paralelamente, há a incidência de movimentos sazonais, em que os produtos de modelos anteriores – ainda que em perfeitas condições de funcionamento ou de reaproveitamento – rapidamente se desvalorizam. Este fenômeno é designado pela obsolescência planejada, respectivamente, em relação à função, à qualidade e à desejabilidade103.

Embora o industrialismo e muitas de suas consequências econômicas ambientalmente indesejáveis aqui descritas estejam imbricavelmente associadas ao próprio surgimento e desenvolvimento do capitalismo, também é preciso advertir que as experiências socialistas não escaparam impunes do mal ocasionado por tal modo de produção, como a ilusão do crescimento infinito104.

A hegemonia do industrialismo tem sido desafiadora para a preservação do meio ambiente, mesmo que sob o viés antropocêntrico, que se dirá a partir da adoção de um paradigma ético ecocêntrico.

Para subverter esta lógica de insustentabilidade, é necessário não apenas otimizar, mas reduzir a enorme sobrecarga do sistema industrial, que tem ocasionado perdas irreparáveis nos ecossistemas e ultrapassando a sua capacidade de recuperação e absorção105.

Diante do atual contexto, “todas as soluções técnicas para a proteção do meio ambiente combinadas não são suficientes para reduzir a quantidade de energia e utilização de materiais”106.

103 PADILHA, Valquíria; BONIFÁCIO, Renata Cristina A. Le Monde Diplomatique. 02 set. 2013. Disponível em: <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1489>. Acesso em: 23 mar. 2014. 104 DELLAPENNA, Joseph W. Behind the red curtain: environmental concerns and the fall of communism. In: ENGEL, Ronald J.; WESTRA, Laura; BOSSELMANN, Klaus (ed.). Democracy,

ecological integrity and international law. Cambridge: Cambridge Scholars Publishing, 2010.

105 Apenas para exemplificar, segundo dados do The Worldwatch Institute, os humanos usaram

aproximadamente 10 vezes mais energia durante o século XX do que nos mil anos anteriores. A extração de carvão, por exemplo, que era de aproximadamente 10 milhões de toneladas em 1800, passou para 4.130 milhões de toneladas em 2013. A produção de metais, que era de 30 milhões de toneladas em 1900, passou para 1,7 bilhões de toneladas em 2013. Mais de 150.000 componentes químicos foram sintetizados desde 1900, num mercado que em 1970 alcançava 171 bilhões de dólares, em 2010 tendo aumentado para 4.1 trilhões de dólares. Cerca de 179 milhões de toneladas de fertilizantes sintéticos (entre eles, os agrotóxicos) eram utilizados na agricultura em 2013, contra 4 milhões em 1940. A poluição do ar aumentou significativamente, com os cerca de 1 bilhão de automóveis circulando em 2013 (em 1950 eram 8 milhões). THE WORLDWATCH INSTITUTE. State

of the World 2015: confronting hidden threats to sustainability. Washington: Island Press, 2015.

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BOSSELMANN, Klaus. op.cit., 1995, p. 222. Tradução livre (“all the technical solutions for the protection of the environment combined are not enought to reduce the amount of energy and material deployment”).

Pelos motivos elencados acima é que Bosselmann afirma veementemente que o Estado Ecológico não pode ser fundado no livre mercado, tampouco constituiria um estado de economia planificada. Daí, conclui este autor que os padrões econômicos modernos são incompatíveis com um Estado Ecológico: é preciso, pois, superar o modo de produção industrial e os sistemas econômicos capitalista e socialista.

Assim, Bosselmann propõe, diante de tantas incertezas que obscurecem a visão do futuro, não um modelo fechado, mas sim aberto, que permita vislumbrar, a partir de uma forte crítica às previsões ingênuas de crescimento econômico ilimitado, fundada no combate ao industrialismo, a construção de algo novo e diferente, pelo que se faz pertinente uma associação de seu pensamento aos dizeres de Edgar Morin sobre os desafios de se construir o método do conhecimento: “aqui temos que aceitar caminhar sem caminho. Fazer o caminho no caminhar”107.

Todavia, isso não significa dizer que este percurso se faria por aventureiros entregues à própria sorte; na verdade, seria necessário estabelecer critérios e objetivos a serem observados neste processo de ecologização do Estado, do direito e das políticas.

Nesse sentido é que Bosselmann começa a erguer os pressupostos de seu Estado Ecológico. Defende, inicialmente, a necessidade de se adotar o

decrescimento econômico como alternativa organizacional ecologicamente viável108.

Com isso, seu pensamento se aproxima do de autores como Nicholas Georgescu-Roegen e Herman Daly109. O primeiro formula críticas à economia neoclássica110, pelo fato de esta representar os processos econômicos “por um

107 MORIN, Edgar. op.cit., 1991, p. 23. 108 BOSSELMANN, Klaus. op.cit., 1995.

109 Para maiores informações a respeito deste assunto, Cf. MENDES, Ana Stela Vieira. op.cit., p. e DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. 3.ed. 2.tir. São Paulo: Saraiva, 2009.

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“O quadro da economia neoclássica é facilmente resumível. Os compradores tentam maximizar seus ganhos com a obtenção de mercadorias, o que fazem ao aumentar as suas compras de um bem até que o que ganhem a partir de uma unidade extra seja ponderado em relação ao que eles tem de desistir para obtê-la. Dessa forma, maximiza-se a "utilidade", a satisfação associada ao consumo de bens e serviços. Da mesma forma, os indivíduos fornecem trabalho para as empresas que desejam empregá-los, através do sopesamento entre os ganhos de oferecer a unidade marginal de seus serviços (o salário que receberiam) com a inutilidade do trabalho em si - a perda do lazer. Os indivíduos fazem escolhas dentro dessa margem. Isso resulta em uma teoria da demanda por bens e fornecimento de fatores de produção. Da mesma forma, os produtores tentam produzir unidades de um bem, de modo que o custo de produção da unidade incremental ou marginal é apenas equilibrado com as receitas que gera. Dessa forma, maximizam-se os lucros. As empresas também optam ao contratar funcionários até o ponto em que o custo de um emprego adicional é balanceado em relação

diagrama circular, que cerra o movimento de vai-e-vem da produção e do consumo em um sistema completamente fechado”111.

ao aumento do valor da produção que o trabalhador adicional iria produzir. A visão neoclássica, portanto, envolve "agentes" econômicos, sejam eles famílias ou empresas, otimizando (fazendo, assim tanto quanto podem), sujeitando a todas as restrições relevantes. O valor é ligado a desejos ilimitados e colide com restrições ou escassez. As tensões, os problemas de decisão, são resolvidos nos mercados. Os preços são os sinais que dizem às famílias e empresas se os seus desejos conflitantes podem ser conciliados. Um certo preço de carro novo, por exemplo, pode fazer a mim e a outras pessoas quererem comprar um. Mas os fabricantes não podem querer produzir tantos carros quanto todos nós queremos. Nossa frustração pode nos levar a fazer subir o preço dos carros, eliminando alguns compradores potenciais e estimulando alguns produtores marginais. Como as mudanças de preços, o desequilíbrio entre ordens de compra e ordens de venda é reduzido. Isto é como a otimização sob restrição e interdependência do mercado levam a um equilíbrio econômico. Esta é a visão neoclássica. A economia neoclássica é o que se chama de uma metateoria. Ou seja, é um conjunto de regras implícitas ou entendimentos para a construção de teorias econômicas satisfatórias. É um programa de pesquisa científica que gera teorias econômicas. Seus pressupostos fundamentais não estão abertos à discussão na medida em que definem os entendimentos compartilhados daqueles que se dizem os economistas neoclássicos, ou economistas, sem qualquer adjetivo. Essas suposições fundamentais incluem o seguinte: 1. As pessoas têm preferências racionais entre os resultados. 2. Indivíduos maximizam a utilidade e as empresas maximizam os lucros. 3. As pessoas agem de forma independente, com base em informações completas e relevantes. As teorias que se baseiem ou se guiam por esses pressupostos são teorias neoclássicas” (The framework of neoclassical economics is easily summarized. Buyers attempt to maximize their gains from getting goods, and they do this by increasing their purchases of a good until what they gain from an extra unit is just balanced by what they have to give up to obtain it. In this way they maximize "utility"—the satisfaction associated with the consumption of goods and services. Likewise, individuals provide labor to firms that wish to employ them, by balancing the gains from offering the marginal unit of their services (the wage they would receive) with the disutility of labor itself—the loss of leisure. Individuals make choices at the margin. This results in a theory of demand for goods, and supply of productive factors. Similarly, producers attempt to produce units of a good so that the cost of producing the incremental or marginal unit is just balanced by the revenue it generates. In this way they maximize profits. Firms also hire employees up to the point that the cost of the additional hire is just balanced by the value of output that the additional employee would produce. The neoclassical vision thus involves economic "agents," be they households or firms, optimizing (doing as well as they can), subject to all relevant constraints. Value is linked to unlimited desires and wants colliding with constraints, or scarcity. The tensions, the decision problems, are worked out in markets. Prices are the signals that tell households and firms whether their conflicting desires can be reconciled. At some price of cars, for example, I want to buy a new car. At that same price others may also want to buy cars. But manufacturers may not want to produce as many cars as we all want. Our frustration may lead us to "bid up" the price of cars, eliminating some potential buyers and encouraging some marginal producers. As the price changes, the imbalance between buy orders and sell orders is reduced. This is how optimization under constraint and market interdependence lead to an economic equilibrium. This is the neoclassical vision. Neoclassical economics is what is called a metatheory. That is, it is a set of implicit rules or understandings for constructing satisfactory economic theories. It is a scientific research program that generates economic theories. Its fundamental assumptions are not open to discussion in that they define the shared understandings of those who call themselves neoclassical economists, or economists without any adjective. Those fundamental assumptions include the following: 1. People have rational preferences among outcomes. 2. Individuals maximize utility and firms maximize profits. 3. People act independently on the basis of full and relevant information. Theories based on, or guided by, these assumptions are neoclassical theories). Cf. WEINTRAUB, E. Roy. Neoclassical Economics. In: The concise Encyclopedia of Economics. Disponível em: <http://www.econlib.org/library/Enc1/NeoclassicalEconomics.html>. Acesso em: 10 jan. 2014. Tradução livre.

111 GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. La décroissance. 2. ed. Paris: Sang de la terre (Édition

eletronique), 1995, p. 40. Tradução nossa (la représentation dans les manuels courants du processus économique par un diagramme circulaire enfermant le mouvement de va-et-vient entre la production et la consommation dans un système complètement clos).

Afirma Georgescu-Roegen e os seus seguidores que esta percepção é equivocada, dados os ensinamentos da termodinâmica112, cujas leis apontam para a existência de um ciclo energético aberto, em que o potencial de energia disponível para a utilização é finito, mesmo em se tratando das fontes ditas renováveis.

Assim, ainda que se considere de indispensável relevância travar debates sobre a necessidade de aprimoramento da eficiência energética dos processos produtivos, ou que se admita o inconteste avanço das tecnologias que possibilitam o melhor aproveitamento de matérias-primas, de fato, tais providências não seriam suficientes para garantir o crescimento ad infinitum.

Estas noções referentes a uma inexorável limitação física e ecológica às atividades econômicas são desconsideradas, subvalorizadas ou inexplicadas nas análises da economia neoclássica.

Se admitidos os esclarecimentos da termodinâmica acerca do funcionamento do mundo natural, haverá implicações diretas no entendimento do que seja sustentabilidade, acarretando na imprescindibilidade de adaptações das teorias econômicas e das políticas públicas, para que seja possível ter, de fato, condições de se prolongar ao máximo a existência da vida [não humana e humana] com qualidade.

112 Luiz Fernando Krieger Merico, enuncia, resumidamente, que as duas leis da termodinâmica

podem ser expressas em uma única sentença: “A energia total do universo permanece constante e a entropia do universo continuamente tende ao máximo”. Continua explicando o autor que a primeira lei da termodinâmica é popularmente conhecida como a lei da conservação da matéria/energia. “Considerando-se um automóvel, verifica-se que a energia contida na gasolina será igual ao trabalho feito pelo motor, mais o calor gerado, mais a energia dos produtos da descarga. Nada é destruído, e sim, transformado”. Assim também é que acontece com a matéria e a energia nos ciclos vitais e na produção industrial. Se a existência e o funcionamento dos processos energéticos fossem exatamente assim, não haveria problemas. Afinal, seria possível utilizar e reutilizar a mesma energia infinitas vezes. No entanto, não é propriamente o caso, porque ainda existe a segunda parte da sentença enunciada acima, que limita significativamente a quantidade de energia disponível para uso no universo. As fontes de energia disponíveis na Terra provêm, basicamente, do estoque terrestre e da energia solar. O primeiro compõe-se de recursos renováveis em uma escala temporal humana, como a biomassa, e em escala temporal geológica, como os minerais e o petróleo, que precisam ser tratados como não renováveis. Todos estes recursos são limitados, inclusive os renováveis, que, a depender do nível de exploração, podem ser equiparados a recursos não-renováveis. Já a energia solar, que é praticamente ilimitada, também pode ser considerada limitada, de acordo com as taxas e padrões de chegada à terra. O aumento de entropia, energia dissipada ou dispersa reduz a quantidade total de energia disponível. O processo de produção industrial, se examinado da perspectiva puramente física, transforma baixa entropia em alta entropia, fenômeno este que é normalmente acompanhado de emissões tóxicas e de toda sorte de resíduos poluidores. Pode-se perceber, portanto, que o aumento da entropia, apesar de ser inevitável, não é um fenômeno que se deseje acelerar do ponto de vista ecológico. Cf. MERICO, Luiz Fernando Krieger. Introdução à

Para Clóvis Cavalcanti, economista brasileiro adepto desta vertente, não se trata de uma percepção pessimista ou catastrófica da realidade. Ao contrário, “permite que se desenhe um processo de desenvolvimento sem frenéticas e ilusórias propostas de expansão da escala da economia”113.

Assimilando estas lições de Nicholas Georgescu-Roegen, Herman Daly, que é considerado um de seus principais discípulos, explicita as distinções entre os conceitos de crescimento e desenvolvimento, afirmando categoricamente que o primeiro não está subordinado ao segundo.

Nesse sentido, este pensador estabelece uma distinção conceitual entre crescimento e desenvolvimento econômico, partindo do pressuposto de que aqueles que identificam a equivalência entre economia sustentável e crescimento econômico se esquivam do debate sobre os limites biofísicos do crescimento, dando ar retórico e insubstancial à expressão “sustentável”114.

Dessa forma, identifica que à noção de desenvolvimento, contrariamente a de crescimento, é possível atribuir e desejar um caráter ilimitado, pois:

claramente há limites físicos ao crescimento do subsistema econômico. Talvez o bem-estar e a felicidade, que são experiências e não coisas, podem aumentar para sempre se baseados em melhorias qualitativas (desenvolvimento), ao contrário de um aumento quantitativo (crescimento) na produção de matéria-energia. O problema é o crescimento, não o desenvolvimento115.

A descrição do cenário de descompasso da ordem econômica em face da construção de um Estado Ecológico, portanto, embasa-se em críticas dirigidas ao crescimento econômico ilimitado e ao modelo industrial de produção.

Interessante ressaltar que, cada um destes dois fatores, por si, produz repercussões negativas à proteção do meio ambiente. Quando considerados em

113 CAVALCANTI, Clóvis. Desenvolvimento e respeito à natureza: uma introdução termodinâmica à

economia da sustentabilidade. In: FERREIRA, Leila; VIOLA, Eduardo (org.). Incertezas de

sustentabilidade na globalização. Campinas: Editora da UNICAMP, 1996, p. 328.

114 DALY, Herman. Ecological economics and sustainable development: Selected essays of Herman Daly. Massachussets: Edward Elgar Publishing, Inc., 2007, p. 14.

115 Ibid., p. 2. Tradução nossa (Clearly there are physical limits to growth of the economic subsystem.

Perhaps welfare and happiness, which are experiences not things, can increase forever if based on qualitative improvements (development) rather than in quantitative increase (growth) in the throughput of matter-energy. The problem is growth, not development”).

conjunto, intensificam-se mutuamente, aumentando os desafios rumo à higidez do meio.

Nesse sentido são as observações de Herbert Marcuse:

Na época contemporânea, a conquista da escassez ainda está limitada a pequenos setores da sociedade industrial desenvolvida. Sua prosperidade encobre o Inferno dentro e fora de suas fronteiras; ela também dissemina