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Primeira Fase: A Implantação (1950 – 1964)

2. A TELEVISÃO: DO ANALÓGICO AO DIGITAL

2.1 A INVENÇÃO DA TV

2.1.3 Expansão da Televisão no Brasil

2.1.3.1 Primeira Fase: A Implantação (1950 – 1964)

A fase denominada de elitista (Wolton, 1996; Mattos, 2000) se inicia com a chegada da TV no Brasil, em 1950, e se estende até 1964. Wolton destaca os quatro primeiros anos desta fase como aqueles dedicados à implantação do novo veículo no país, e analisa que, mesmo com os avanços nos dados obtidos logo no início, durante todo este período o acesso a este veículo permaneceu ainda restrito a um pequeno número de pessoas.

Este primeiro momento, em que a imagem de Chateaubriand estava fortemente associada ao novo meio de comunicação, se caracteriza pela aquisição de equipamentos, de inaugurações e estímulo ao telespectador para que comprasse um aparelho de televisão. O problema nesse sentido é que o preço de um televisor chegava a ser três vezes mais que o de uma radiola potente, na medida em que o Brasil não produzia nenhum componente da máquina que acabara de ser apresentada ao público e tudo precisava ser importado (Mattos, 2000, p. 92-94).

Tantos entraves iniciais se justificavam pelo fato de que o quadro socioeconômico brasileiro não era favorável à implantação da TV em 1950.

Na atividade econômica prevalecia o setor agrícola, com mais de dois terços da população vivendo em área rural, onde a maioria absoluta das propriedades não contava nem sequer com energia elétrica. Tais características, aliadas ao cunho de total improviso que marcou os primeiros anos da TV e as limitações técnicas do equipamento da época, levaram a televisão brasileira a um prolongado período de hibernação. Para se ter uma ideia, em 1956 existem apenas 250 mil televisores em todo o país, concentrados basicamente no eixo Rio-São Paulo. (SIMÕES, 2004, p. 19).

Mesmo com as dificuldades enfrentadas, já no ano seguinte à inauguração da TV no país, o público brasileiro pôde acompanhar a primeira telenovela produzida no Brasil. Isto foi possível graças ao início da fabricação de televisores nacionais da marca Invictus. Quando foi ao ar, de 21 de dezembro de 1951 a 15 de fevereiro de 1952, “Sua Vida me Pertence” era

exibida apenas duas vezes por semana por falta de condições técnicas (MATTOS, 2000, p.97). O fato de ser ao vivo implicava em uma série de necessidades específicas inviáveis para uma produção diária.

Com a produção nacional, em 1952 já se conseguia chegar à casa dos onze mil aparelhos de TV no país. Calcula-se que o preço de um televisor estaria próximo ao de um carro. Dois anos depois, o Brasil atingia os 34 mil domicílios com aparelhos de TV19.

O contexto histórico da fase elitista se caracteriza por um Brasil pós- guerra, vivenciando a queda de Getúlio Vargas e uma política amparada em grupos envolvidos com o poder industrial e financeiro. Já nesta época, como lembra Almeida (1988), os avanços e a disseminação da TV no país atrelam-se fortemente a interesses políticos. À medida que este novo meio de comunicação avançava pelo país, outras emissoras, além da TV Tupi de São Paulo, que inaugurou a TV no Brasil, viriam para movimentar o mercado. Em março de 1952, em um prédio residencial, começava a funcionar a TV Paulista, Canal 5 de São Paulo. Em setembro de 1953, era a vez da TV Record – primeira a ter um prédio projetado para uso específico em transmissões televisivas. No mês de setembro de 1955, os Diários Associados inauguraram a TV Itacolomi, em Belo Horizonte. No ano seguinte, Chateaubriand pôs no ar nove estações: São Luís, Belém, Goiânia, Fortaleza, Recife, Campina Grande, Salvador, Porto Alegre, Curitiba.

Mas os avanços tecnológicos custavam a chegar ao Brasil e muito se improvisou para viabilizar as exibições. Foi em 1956 que a TV Tupi fez uma transmissão interestadual, do Rio para São Paulo. Era o jogo Brasil X Itália, no Maracanã. Na falta de antenas parabólicas, o técnico da TV Tupi usou tela de galinheiro no corpo das três antenas. Ainda assim, em 1957, foram iniciadas as primeiras transmissões sistemáticas para o interior do estado de São Paulo.

Contavam-se naquele momento, início da década de 1960, dez emissoras de TV no Brasil. Após dois anos, viria a TV Excelsior e, no ano

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seguinte, seriam criadas a TV Paranaense (no Paraná), a TV Itapoan (em Salvador, primeira emissora baiana) e a TV Cultura de São Paulo, as duas últimas pertencentes aos Diários Associados.

Em 196220, foi criado o Código Brasileiro de Telecomunicações, que autorizou a constituição da Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL), empreendimento público que daria garantias às concessionárias. Analisando esta tentativa de normalização da TV brasileira, Valim, Costa e Fiodelisio afirmam que “O Código inova na conceituação jurídica das concessões de rádio e televisão, mas peca em continuar atribuindo ao executivo poderes de julgar e decidir, unilateralmente, na aplicação de sanções ou de renovação de concessões.”21

Também neste período foram criados o CONTEL (Conselho Nacional de Telecomunicações) e a ABERT (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão). Com a pressão conjunta, os empresários conseguiram alterar o prazo das concessões de três para 15 anos.

Em 1962, houve a inauguração da TV Gaúcha, que daria origem à Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS). Por sua vez, a TV Excelsior, de olho no mercado, modernizou seus equipamentos, contratou pessoal de ponta e investiu em teledramaturgia. No ano seguinte, se destacou como a primeira a implantar programação horizontal (novela todos os dias, às 20h) e vertical (programa infantil seguido de novela, depois jornal, show, acostumando, assim, o telespectador a uma ordem na programação). A Excelsior demonstrava rigorosa preocupação com a estética, tendo a qualidade visual como a característica das produções que veiculava.

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http://www.teleco.com.br/legis_forum/quadros02.asp Acessado em 25/05/11.

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