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Terceira Fase: Desenvolvimento Tecnológico (1975-1985)

2. A TELEVISÃO: DO ANALÓGICO AO DIGITAL

2.1 A INVENÇÃO DA TV

2.1.3 Expansão da Televisão no Brasil

2.1.3.3 Terceira Fase: Desenvolvimento Tecnológico (1975-1985)

De acordo com Mattos (2000), a fase do desenvolvimento tecnológico tem como principais iniciativas o aperfeiçoamento das redes de TV, a

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padronização da programação televisiva em todo o país e a sedimentação do conceito de rede de televisão – ações previstas pelo projeto militar e que expressam uma necessidade das emissoras para dar conta de tantas horas de programação.

Sem dúvida, o governo foi a mais importante força motriz por trás do desenvolvimento da indústria televisiva brasileira, especialmente da TV Globo (criada depois do Golpe de 64). Ao criar facilidades nas telecomunicações, tais como as redes de microondas, o cabo coaxial, os satélites e a televisão a cor, o regime militar brasileiro contribuiu para o desenvolvimento técnico da televisão, utilizando-a para promover os ideais do regime. (MATTOS, 2000, p. 102)

O suporte técnico governamental viabilizou o aprimoramento da televisão. Para as redes de TV, este apoio dos militares foi bastante interessante, pois, além de ampliar o seu público, padronizou a programação, preenchendo mais facilmente a grade das emissoras menores (afiliadas espalhadas pelo interior do Brasil, que, desde sempre, enfrentam dificuldades de produção) e dando uma noção de unidade à rede. Sob o ponto de vista do governo, emissoras de TV interligadas nacionalmente se tornaram instrumentos para propagar os interesses militares – sem contar que, integradas, facilitavam a fiscalização e a censura dos conteúdos.

Esta terceira fase coincide com a divulgação dos números de um novo censo, realizado pelo IBGE, em 1980. Entre outros dados, este recenseamento mediu também o crescimento da televisão brasileira com base no número de lares com receptores, e constatou que “55% de um total de 26,4 milhões de residências já estavam equipadas com aparelhos de TV, um crescimento de 1.272% entre 1960 e 1980.” (MATTOS, 2000, p. 129).

Além da cassação da TV Tupi de São Paulo, os anos de 1980 trouxeram o fim de mais outras emissoras: TV Tupi (Rio de Janeiro), TV Marajoara (Belém), TV Itacolomi (Belo Horizonte), TV Rádio Clube (Recife), TV Piratini (Porto Alegre) e TV Ceará (Fortaleza). Com estes canais e mais dois também cassados da Tupi (Canal 9, de São Paulo, ex-Excelsior e Canal 9, do Rio de

Janeiro, ex-Continental, ambas extintas nos anos 1970), o governo criou duas redes e abriu licitação para elas. Dos nove interessados, o Grupo Sílvio Santos ficou com quatro canais (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belém), que deram origem ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). A Manchete, de Adolpho Bloch, ficou com cinco canais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza).31 Em 1980, o cálculo chegava a 106 emissoras comerciais e 12 estatais.

A Globo tornou-se Network of Brasil, com a exportação de programas para 71 países. Criou, desta forma, uma divisão internacional e comprou a TV Monte Carlo, em Mônaco. Em 1982, somava 27 emissoras no Brasil, além de 42 estações afiliadas, com um total de 5.500 funcionários. Foi também a Rede Globo que iniciou o uso de satélite32 na programação. Porém, a Rede Bandeirantes conseguiu ser pioneira na substituição do sistema de micro- ondas por satélite, tornando mais baratos os custos de transmissão33.

Enquanto isso, em 1983, a Rede Manchete começava a funcionar com as cinco emissoras próprias e mais a afiliada TV Pampa, com sede em Porto Alegre. Foram 50 milhões investidos em equipamentos avançados. Parte da programação era composta por séries e filmes, em uma proposta, como dizia o

slogan, de ser uma “Televisão de Primeira Classe” e “A TV do ano 2000” 34. Em março de 198535, foi lançado o primeiro satélite brasileiro para telecomunicações. Neste mesmo mês, foi inaugurada a TV Bahia, transmitindo a Manchete – embora com a ascensão de José Sarney à presidência, o contrato de afiliação tenha sido alterado para transmissão da Rede Globo. Apesar de diversos investimentos e tentativas de se reerguer, a Rede Manchete já apresentava sinais de crise. No ano seguinte, a situação crítica da empresa se tornou pública.

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CRUZ, 2008, p. 41.

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Trataremos melhor deste assunto no final deste capítulo.

33 http://www.tudosobretv.com.br/histortv/tv80.htm Acessado em 12/06/11. 34 http://www.tudosobretv.com.br/histortv/tv80.htm Acessado em 12/06/11. 35 http://www.tudosobretv.com.br/histortv/tv80.htm Acessado em 27/05/11.

Nesta fase, somam-se 83 concessões de canais de televisão outorgados – 47 no governo Geisel e 36 no de Figueiredo. “No final desta terceira fase constata-se a existência de quatro redes comerciais operando em escala nacional (Bandeirantes, Globo, Manchete e SBT), duas regionais (Record, em São Paulo, e Brasil Sul, no Rio Grande do Sul) e uma rede estatal (Educativa).” (MATTOS, 2000, p. 133).

Paralelamente, na década de 1980, também ganha força a produção independente. Neste período, iniciativas diversas marcaram o início do percurso da TV alternativa36 no Brasil: TV Olho, com seu VHS e suas caixas de som em uma das praças de Duque de Caxias; a TV Viva, em Olinda (PE), com exibições ao ar livre em Recife; TV Bixiga37, defendendo o patrimônio artístico e cultural do bairro homônimo em São Paulo – os monitores circulavam pelo bairro sobre veículos -; TV dos Trabalhadores, no ABC, vinculada ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, promovendo discussões sobre salário e condições de trabalho. Dentro destas iniciativas podem ser incluídas também a TV Cubo e a TV Vento Levou, TVs Piratas que, transmitindo programação sem a autorização do governo, encontravam artifícios para driblar a fiscalização do Departamento Nacional de Telecomunicações (DENTEL).

Embora Almeida ressalte o amadorismo que imperou na televisão durante esta terceira fase e ao longo de outras seguintes – mesmo no que se refere ao marketing, estava presente a marca do improviso: “[...] um modo de produção artesanal, baseado mais em instintos do que em estudos de

marketing” (ALMEIDA, 1988, p. 20) –, nas décadas de 50 a 70, a verba

publicitária das empresas públicas e privadas para TV saltou de 11% para 40%. Na década de 80 já havia atingido os 60%.

Bucci ressalta que tantos números confirmam um espantoso crescimento da situação financeira do país e costumam ser invocados como

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Eram produções e exibições que fugiam da formatação das grandes emissoras, trabalhando temas diferenciados a partir de linguagens inovadoras. Até a veiculação destes produtos para o público buscava meios não convencionais, baratos e, ao mesmo tempo, criativos.

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Hoje há a intenção de exibição na web da TV Bixiga, no site que abriga o jornal do bairro: http://www.bixiganews.com.br/ Acessado em 28/04/2010.

indicadores de desenvolvimento da economia nacional. Contudo, chama a atenção para o possível equívoco de se confundir crescimento com desenvolvimento real. De acordo com o autor,

[...] o que se verifica é bem o inverso: a importância da televisão numa sociedade, atualmente, é diretamente proporcional às taxas de analfabetismo e de subdesenvolvimento. A influência do veículo tende a ser maior na pobreza do que na riqueza, maior em continentes como a América Latina do que nos Estados Unidos. Em países mais desenvolvidos, existe ao menos a possibilidade de que outras instituições, como a imprensa escrita ou mesmo a escola e a família, possam mediar a influência da televisão – e a lei (que é cumprida) estabelece limites mais claros para o poder das grandes redes. Se compararmos o Brasil com os países europeus, veremos que não apenas aqui a TV é um hábito mais cultivado, uma referência mais constante, como o poder do veículo (e de cada uma das grandes redes) é incomparavelmente superior. (BUCCI, 1997, p. 15).

A preocupação de Bucci (1997) se justifica se percebermos que, em meio a todas estas experiências da televisão nacional, o Código Brasileiro de Telecomunicações, cuja Lei n° 4.117, de 1962, foi aprovada para execução pelo Decreto nº 52.026 de 20/05/63, que era acusado de denotar um caráter autoritário e restritivo ao meio (ALMEIDA,1988, p. 20), levou mais de vinte anos para ser revisto. Só em 1988, o Decreto nº 97.057 trouxe alterações para os Títulos I, II e III38.

E foi nesta nova versão do CBT, em uma situação pós-ditadura militar, que a revisão do Título III (“Das Definições”) acrescentou o item “Televisão/TV: forma de telecomunicação caracterizada pela transmissão de imagens transientes, animadas ou fixas, reproduzíveis em tela optoeletrônica à medida de sua recepção”.39

A nosso ver, uma definição vasta que, certamente, não exclui as novas formas de fazer e ver televisão pouco mais de 20 anos depois.

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Fonte: http://www.wisetel.com.br/acoes_de_regulacao/regulamentos/rg_cbt2.htm

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Código Brasileiro de Telecomunicações, 1988. Disponível em http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/114374/decreto-97057-88. Acessado em 16/03/2010.