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Quinta Fase: Globalização e TV Paga (1990-2000)

2. A TELEVISÃO: DO ANALÓGICO AO DIGITAL

2.1 A INVENÇÃO DA TV

2.1.3 Expansão da Televisão no Brasil

2.1.3.5 Quinta Fase: Globalização e TV Paga (1990-2000)

Na divisão histórica da TV brasileira concebida por Mattos (2000) no período de 1990 a 2000, o Brasil insiste em se modernizar e a televisão precisa se adaptar a essas mudanças. Neste sentido, destaca o autor, a marca forte desta penúltima fase foi a organização das bases para o surgimento da TV por Assinatura – via cabo43, satélite (DBS/DTH44) ou, ainda, através do espectro

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http://www.tudosobretv.com.br/histortv/tv80.htm Acessado em 12/06/11.

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Tecnologia mais difundida no mundo. Transmite o sinal codificado até as residências, usando cabos coaxiais ou fibra ótica – sendo normalmente uma rede híbrida. O sinal é captado por uma antena. Se o aparelho de TV não for capaz de fazer a conversão, é necessário um

radioelétrico, por micro-ondas (UHF45, MMDS46 ou LMDS47) – estruturada nos moldes americanos.

Criada nos Estados Unidos, no final dos anos 1940, a TV por assinatura visava à melhoria técnica das transmissões para regiões que apresentavam problemas de recepção do sinal dos canais abertos. A experiência, realizada, inicialmente, em Nova Iorque, era baseada na instalação de antenas em locais mais altos. O sinal era recebido por uma estação, que corrigia as distorções e o enviava por meio de cabos conectados até as residências.

A TV por assinatura ou TV fechada requer o pagamento mensal de um pacote específico de canais de televisão – escolhidos a critério do consumidor, a partir das opções de oferta da operadora – para que se receba o sinal mediante o uso de um aparelho decodificador. Este tipo de transmissão se enquadra no narrowcasting48 e aponta para a segmentação das produções

conversor, além de um decodificador. São cerca de 110 canais, na frequência de 50 Mhz a 750Mhz, que podem ser multiplicados. Tem boa qualidade de imagem, sem sofrer interferências, podem ser incluídas emissoras locais e oferece um certo grau de interatividade. Mas só é viável em regiões urbanas e possui um relativo custo de instalação.

44 Direto para casa. Transmissão via satélite – fixo, em uma órbita geoestacionária, a 36 mil km

de altitude, banda Ku. O satélite recebe o sinal eletromagnético de uma estação chamada de

up-link center. O público deve ter antena e decodificador. Aumenta a possibilidade de

interatividade e o número de canais, chega a regiões com baixo povoamento, mas o custo é elevado e não inclui emissoras sem transmissão por satélite.

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Sigla para o termo inglês Ultra High Frequency, que significa Frequência Ultra Alta. Designa a faixa de radiofrequências de 300 MHz até 3 GHz. É uma frequência comum para propagações de sinais de televisão e de canais em HDTV (canais 14 ao 83), rádio e transceptores. No Brasil, no início dos anos 90, a faixa foi reduzida entre os canais 14 ao 69 para utilização dos canais de 70 a 83 para telefonia movel celular. Menos sujeita a interferências no sinal. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/UHF Acessado em 17/03/2010.

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Multichannel Multipoint Distribution System ou sistema de distribuição de múltiplos canais para múltiplos pontos. Para transmissão são usadas frequências elevadas de micro-ondas, de 2,5Mhz a 2,7Mhz. O sinal chega ao decodificador a partir de uma antena externa (60cm), tendo sido enviado por uma antena central. Alcança até 25km. É possível haver interatividade em sistemas digitais bidirecionais. Oferece menor custo de instalação, mas dispõe de poucos canais e sofre influências climáticas.

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Local Multipoint Distribution System ou sistema de distribuição local para multipontos. A transmissão é em frequência muito alta, de 26Mhz a 28Mhz, em micro-ondas. São antenas pequenas que cobrem um raio de 5km. É uma evolução do MMDS.

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televisivas, buscando-se, de forma mais objetiva, um determinado público, a partir de suas escolhas, preferências, estilos. Na vanguarda do segmento de TV por assinatura, estava o Canal +, também conhecido como Canal Plus. Posteriormente, entrou no ar a TVA, com os canais Showtime, TNT, ESPN, Supercanal e CNN. Só cinco décadas depois de implantada nos EUA, a TVA chegou ao Brasil.

Pode parecer estranho que só em meados da década de 1990 esteja sendo implantado no Brasil o serviço de TV por Assinatura. Porém, mais estranho ainda é saber que a TV por Assinatura no Brasil, especificamente a TV a Cabo, começou a ser fazer presente há pelo menos 20 anos na história das comunicações nacionais. Durante toda a década de 70, várias foram as tentativas de se implantar no Brasil o que se chamou na época de Cabodifusão (que seria a uma contraposição ao serviço de Radiodifusão, isto é, o rádio e a TV aberta convencional), ou TV por Cabos. Interesses diversos estavam em jogo, sobretudo os políticos – centrados no Ministério das Comunicações e no Poder Legislativo – e os econômicos, de empresas de equipamentos eletrônicos até as grandes redes de rádio e TV. (RAMOS; MARTINS, 1996, p. 08).49

O DIST – Distribuição de Sinais de Televisão – foi criado a partir de uma portaria do Ministério das Comunicações, editada em 1989. “Entretanto, as primeiras outorgas de DIST só vieram a ocorrer durante o governo Collor, que emitiu 105 autorizações. No início dos anos 90, grande parte das outorgas foi adquirida por empresários despertados para o negócio de TV por Assinatura”.50

Ainda assim, durante muito tempo, este foi um produto acessível ao consumo de poucos.

Com a regulamentação da TV a cabo, por meio da Lei 8.977, de 06/01/1995, havia a expectativa de fragilização da hegemonia da TV aberta, uma vez que era provável a diluição da audiência. A Lei da TV a cabo (ou Lei do Cabo, como ficou conhecida) trazia ainda a promessa de democratização, pois se vislumbrava a abertura de mercado para profissionais de comunicação

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Disponível em: http://vsites.unb.br/fac/publicacoes/murilo/Cap12.pdf Acessado em: 30/04/2010.

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e a regionalização de parte da programação. No entanto, nada disso, de fato, foi posto em prática.

A modalidade de TV por assinatura passou por dois ciclos no seu processo de implantação em território brasileiro: a emergência, de 1992 a 1998, e a consolidação, que se estende até os dias atuais, “[...] marcada pelo planejamento de longo prazo, bem como por maior interação da indústria com a sociedade, universidades, centros de pesquisa e escolas técnicas, com os fabricantes e a comunidade financeira nacional e internacional”.51

No primeiro ciclo, o suporte das chamadas novas tecnologias viabilizou a evolução do

broadcasting52 para narrowcasting. A segmentação de canais e da programação chegava aos lares brasileiros, se bem que de maneira ainda tímida e elitizada, por conta dos custos implícitos no processo. Junto com tal segmentação, vêm a TV de serviços e a ampliação dos canais regionais, rompendo com a proposta de integração nacional, herança do governo militar, que buscava favorecer a constituição das redes de TV e a unificação da programação, implementando a falsa ideia de um país que estava sob um comando que impunha ordem e normalidade.

Também marcaram esta quinta fase do percurso histórico da TV brasileira delimitado por Mattos (2000) o começo das transmissões em UHF e a inauguração da MTV53 Brasil, depois de nove anos operando nos Estados Unidos. O primeiro canal segmentado do Brasil era o único a transmitir 24h, voltado para o público jovem e com intensa programação musical. Depois veio a TV Jovem Pan, com concessão outorgada pelo então presidente Fernando Collor de Mello e equipamentos de última geração. Em 1996, em São Paulo, ia ao ar em UHF o Canal 21, pioneiro no país no sentido de ser direcionado a uma região metropolitana.

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Panorama da Indústria de TV por Assinatura no Brasil, p. 14.

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Transmissão em larga escala, o mesmo produto para diversos telespectadores ao mesmo tempo.

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O exemplo mais bem acabado de segmentação, em relação às TVs abertas, parece ser o alcançado pelos canais transmitidos em UHF. A MTV, dirigida para o público jovem; a Rede Mulher, com programação voltada para mulher; a Redevida, canal da Igreja Católica e que se dirige ao público formado pelos seus congregados; a Rede Gospel, outro canal religioso, dirigido à comunidade evangélica; e Shoptour, canal exclusivo de veiculação de ofertas comerciais e canal 21, pertencente à Rede Bandeirantes e com uma programação baseada em jornalismo e filmes. (BORELLI; PRIOLLI, 2000, p. 103).

Dados de dezembro de 2009 apontam para um número total de mais de 7,4 milhões de assinantes no país, em um mercado composto por seis principais operadoras (Net Serviços, Sky/Direct, Telefônica, Embratel, Oi e Abril), além de outros grupos econômicos de menor porte54. Segundo o Portal Imprensa, até março de 2010, o crescimento do setor já atingia a casa dos 3,9%.

O maior percentual de alta foi registrado nos serviços via satélite, de 5,7% para um total de 3,05 milhões de assinantes (39,1% do total). As assinaturas a cabo aumentaram 0,7%, para 4,463 milhões (56,5% do total). A parte restante, de 4,4%, pertence a assinantes do serviço de micro-ondas. (PORTAL IMPRENSA, 27/04/2010)55

Estes dados mostram que a TV por assinatura é um mercado em expansão, mas que ainda atinge uma pequena camada da população brasileira. Muito mais que por entraves tecnológicos, os altos preços das assinaturas mensais cobrados pelas empresas que exploram o setor impedem o acesso a este tipo de programação.

No que concerne à televisão aberta, em 1989, os grupos Sílvio Santos e Paulo Machado de Carvalho vendiam a TV Record para a Igreja Universal do Reino de Deus, do Bispo Edir Macedo56. Cinco anos depois, a Rede Record

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AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES – ANATEL. Panorama dos Serviços de TV por Assinatura, 2009, p. 18. 55 Disponível em: http://portalimprensa.uol.com.br/portal/ultimas_noticias/2010/04/27/imprensa35238.shtml Acessado em 02/05/10. 56 http://www.tudosobretv.com.br/histortv/tv80.htm Acessado em 07/06/11

passou a ser propriedade do bispo (90% do capital) e de sua esposa, Ester Eunice Rangel Bezerra (10% do capital). Em 1992, a Rede Cultura passou a dispor de nova antena retransmissora, com maior potência, permitindo um aumento da audiência. A Redevida, Canal 40, de São Paulo, conseguiu firmar contrato de outorga. Em 1993, a Rede OM foi rebatizada com o nome de CNT, Central Nacional de Televisão, usando a TV Gazeta para as transmissões em São Paulo, pois não podiam ser outorgadas concessões de canais abertos na cidade. Em 1994, quando entrou no ar a Rede Mulher, havia 1,24 bilhões de aparelhos de TV no mundo57.

Em 1996, aqui no Brasil, o SBT inaugurava o Complexo Anhaguera, um investimento de 120 milhões de reais com construção e equipamentos (MATTOS, 2000, P. 142). São 231 mil metros quadrados, com 85 mil metros quadrados de área construída, comportando oito estúdios com estrutura técnica independente (Linha de shows, com três estúdios; Jornalismo, 1 estúdio; Novelas, 3 estúdios; Esportes, 1 estúdio). No ano anterior, a Globo havia inaugurado, no Rio de Janeiro, a nova Central Globo de Produções, o PROJAC (Projeto Jacarepaguá), com 1.300.000 m² e 120 mil metros quadrados de área construída, quatro estúdios com mil metros quadrados cada, fábricas de figurinos e cenários, cidades cenográficas, centros de pós- produção, fora instalações para administração e apoio à produção58.

Frente a esta corrida pelo mercado, a Rede Record investiu 20 milhões em equipamentos e intensificou a busca por uma sede melhor. No ano seguinte, trocou todos os veículos e todos os departamentos foram informatizados. Em 1998, dedicou-se ainda mais à técnica e à programação, construindo novos estúdios. Além disso, a emissora adquiriu transmissores mais potentes – deixando de lado os antigos de 30KW para alcançar 60 KW –, uma unidade móvel (toda digital, um caminhão com quatro câmeras, três VTs com slow motion, um switcher, dois geradores de energia), Silicon Graphics, câmeras digitais, equipamentos de som e iluminação. Também foram

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http://www.tudosobretv.com.br/histortv/tv90.htm Acessado em 07/06/11.

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comprados um helicóptero, batizado de Asa Dourada, para sobrevoar São Paulo e um carro para UP link, para fechar links direto de satélite de qualquer lugar, por meio de parabólica instalada no veículo. Isso dispensa conexões com Embratel ou qualquer outra empresa de telecomunicações59.

Em 1997, a Rede Bandeirantes inaugurou uma nova torre de transmissão, em São Paulo.

Dos 212 metros que possui, 42 m destinam-se às antenas, que abrigam os transmissores dos canais 13, 21 e da Band FM. Está instalada no ponto mais alto da cidade, com dois elevadores panorâmicos. A torre circunda um edifício de 8 andares que consumiu dois mil metros cúbicos de cimento. Na mesma torre há espaço para a instalação de ‘truking’ para telefonia celular, antenas parabólicas e links para transmissão de externas; o sistema de antenas para FM pode comportar até 5 emissoras.60

Como conseqüência dos esforços e investimentos realizados, a Band alcançou a segunda posição no ranking das emissoras em rede física, em número de emissoras, com 11 próprias e 68 afiliadas. O cenário era também promissor para o Brasil que, desde o ano anterior, ocupava a 6ª posição como produtor mundial de aparelhos de TV, com uma produção de 7,5 milhões. Era o terceiro maior consumidor, perdendo somente para EUA e Japão61.

A Rede Manchete concentrou esforços financeiros, em uma tentativa de recuperação. Até contratou novos profissionais. Apesar do empenho, em 1999, a crise havia chegado a um patamar irreversível, forçando a venda da empresa para o Grupo TeleTV, por 608 milhões de dólares. Nascia ali a RedeTV!, oficialmente, em 15 de novembro62.

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Disponível em: http://www.tudosobretv.com.br/histortv/tv90.htm Acessado em 29/12/2009.

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Disponível em: http://www.tudosobretv.com.br/histortv/ Acessado em 08/01/2010.

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http://www.tudosobretv.com.br/histortv/tv90.htm Acessado em 29/12/2009.

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Foi nesta década, que marca a quinta fase do percurso histórico da TV brasileira, que os Estados Unidos iniciaram as pesquisas em direção à digitalização da transmissão e recepção televisivas. Em 1991, foram iniciados, neste país, os testes da TV de alta definição (HDTV), com padrão digital, 1050 linhas. Em 1994, foram realizadas, ainda em caráter experimental, as primeiras transmissões digitais usando o sistema DirecTV.

Dessa forma, no Brasil, a migração do sistema analógico para o digital nos processos de produção de audiovisuais começou a ser implementada nas produções para televisão, antes mesmo que representantes do governo e da área de TV realizassem qualquer debate para decidir sobre um padrão norteador para a digitalização das transmissões televisivas no país. Muitos programas das TVs abertas, paulatinamente, já vinham sendo desenvolvidos a partir do aporte de equipamentos digitais, o mesmo acontecendo também com a programação das TVs pagas.