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Primeira Geração de Museus de Ciência: Saturação de Objectos

A primeira geração de museus de ciência derivou do espólio resultante da desagregação das colecções dos cabinets de curiosités. Incluem-se aqui os grandes museus de História Natural e aqueles que se dedicavam a colecções de instrumentos usados na investigação científica. Entre eles encontra-se o British Museum, fundado em 1753.

No decorrer da revolução francesa, a Convenção transformou os estabelecimentos criados por Luis XIII no Musée National d’Histoire Naturelle, surgindo assim o primeiro museu moderno neste domínio, que se manteve até hoje como um dos mais notáveis estabelecimentos do género. Em Inglaterra, o aumento crescente da importância da secção natural do British Museum conduziu a que, em 1881-85, fosse criado o British Museum - Natural History (Figura 2.4). Outro marco

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Fonte: http://pages.infinit.net/cabinet/images/imperato-cabinet.gif

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importante no desenvolvimento destas instituições foi o aparecimento, em 1889, do Museu Austríaco de História Natural, em Viena, por iniciativa do imperador Francisco I.

Figura 2.4. Hall central do Museu de História Natural de Londres6, em1902.

Portugal também aderiu ao culto dos famosos gabinetes. O gosto de coligir minerais e pedras preciosas aumentou, de forma evidente, no final do século XVIII, possivelmente devido ao grande afluxo de pedrarias provenientes do Oriente. Nessa altura proliferavam gabinetes mais ou menos importantes, em geral sem o mínimo princípio de organização sistemática, dispersos, uns, pelas ordens monásticas, outros, incorporados no património da alta nobreza em que se destacavam, como reflexos longínquos da mineralogia quinhentista, colecções valiosas de pedras preciosas (Canêlhas, 1983). Assinale-se aqui, a título de exemplo, o Gabinete de Curiosidades, existente no Paço da Ribeira antes do terramoto de 1755, o Museu Real da Ajuda, fundado pelo Marquês de Pombal em substituição do que o terramoto tinha destruído, para instrução e recreio do príncipe D. José e do Infante D. João e, em Coimbra, o Museu Universitário, que foi designado por Museu Pombalino, também por ele fundado. Em 1780, a Academia Real das Ciências de Lisboa concebeu o projecto de instalar um Gabinete de História Natural Nacional, no Palácio das Necessidades (Figura 2.5.).

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Figura 2.5. Museu Geológico na Academia das Ciências de Lisboa – Sala de

Paleontologia e Estratigrafia: (A) Como aparecia no século XIX7; (B) como é na actualidade8.

Em 1807 existiam em Portugal os seguintes gabinetes de História Natural (Canêlhas, 1983): Calçada da Ajuda, Universidade de Coimbra, Academia Real das Ciências, no Palácio do Calhariz, Museu Maynense, no Convento de Nossa Senhora de Jesus, Padre João Faustino, na Casa do Espírito Santo, Marquês de Angeja, à Junqueira, Marquês de Abrantes, em Benfica, D. Luis de Vasconcellos e Sousa, ao lado do Passeio Público, Adolphe Frédéric de Lindenberg, na Rua Formosa e Jorge Rei, aos Mártires. Existiam, ainda, os seguintes Jardins Botânicos: Ajuda, Universidade de Coimbra, Marquês de Angeja, ao Lumiar e Marquês de Abrantes, em Benfica.

7 Fonte: Canêlhas, M. (1983). Museus portugueses de História Natural – Perspectiva histórica. Cadernos

de Museologia. Lisboa: Associação portuguesa de museologia (p. 43).

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A primeira geração de museus de ciência tinha uma forte filiação às disciplinas académicas nas universidades e era constituída essencialmente por museus de História Natural que tinham derivado dos gabinetes de curiosidades. Com o evoluir dos quatro ramos da Ciência que classicamente fazem parte de um museu de história natural – zoologia, botânica, geologia e antropologia – estes museus passaram a ser o local de trabalho de especialistas. Começaram assim a delinear-se as três funções que actualmente se consideram como essenciais de qualquer museu: aquisição e conservação de colecções, investigação e divulgação (Chagas, 1993).

A principal finalidade destes museus era contribuir para a produção de conhecimento científico, se bem que a educação pública também fosse um dos seus objectivos tal como é patente nos documentos administrativos. Aos conservadores era confiada a direcção dos museus e gabinetes, em paralelo com a docência nas universidades. Durante o século XIX, e ainda no século XX, as exposições existentes nos museus públicos, apresentavam colecções, como se fossem armazéns abertos ao público (Figura 2.6). Muitos dos museus das universidades, nos nossos dias, ainda se apresentam como tal. As exposições eram preparadas pelos conservadores e os objectos valiosos eram apresentados, usualmente, como “livros de informação a três dimensões”.

Figura 2.6. Museu Nacional de História Natural na Escola Politécnica9.

O conservador era quem seleccionava a temática da exposição, escrevia a informação e preparava os lotes para colocar nos expositores de vidro. Por vezes eram realizados diaporamas, especialmente já neste século, tornando-se mais agradável a

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Fonte: Canêlhas, M. (1983). Museus portugueses de História Natural – Perspectiva histórica. Cadernos

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exposição para o público não entendido em ciência. O principal distintivo destes museus foi, e continua a ser, a saturação de objectos expostos e de informação e a ausência de pessoal especializado em educação, responsável pela divulgação científica e pela interpretação verbal da exposição (McManus, 1992).

O segundo estádio no desenvolvimento da primeira geração de MC ocorreu recentemente. Nos finais da década de 1970, os responsáveis dos museus interrogaram- se sobre o fracasso das exibições que pareciam ser incompreensíveis para o público. No cerne da mudança estava o desejo de desviar a atenção do arranjo taxonómico dos objectos das exposições para explicações de ideias e de conceitos científicos como, por exemplo, o de Evolução ou de Ecologia.

Gradualmente, foi surgindo uma nova perspectiva de museu com o aparecimento de exposições com informação cuidada e estruturada que envolviam o visitante. Muito deste trabalho realizou-se no Canadá, Estados Unidos da América e Reino Unido. A filosofia subjacente ao desenvolvimento de exposições, de acordo com esta nova perspectiva, derivou de correntes provenientes dos trabalhos realizados por Gagné e Bloom (Miles, 2000).

De acordo com esta abordagem, o planeamento de cada exposição iniciava-se com a especificação de objectivos, definindo os comportamentos que os visitantes deveriam demonstrar após a sua passagem pela exposição (Chagas, 1993).

Como esta mudança continha algo de revolucionário, novos profissionais de museus entraram em cena – pessoal para interpretar e conceber formatos de informação, e especialistas que se dedicavam aos visitantes e à descrição da exposição (Figura 2.7).

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Figura 2.7. Interpretação das colecções pela guia10 no North American Mammal Hall.

Entre os primeiros MC desta geração mais influenciados pelo novo estilo de exposições encontram-se o Hall of Human Biology do London Natural History Museum e o Biology of Man Hall do American Museum of Natural History. A figura 2.8 apresenta uma exposição deste último, mostrando o conservador como seu impulsionador, apresentando-o como um perito na matéria.

Figura 2.8. Exposição Endocrines and Growth11 no Biology of Man Hall do American Museum of Natural History.

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Fonte: http://images.library.amnh.org/photos/ptm/catalog/desc/93217/

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Esta mudança levou a que a função educacional dos museus passasse para primeiro plano, enquanto a função de investigação, mesmo continuando vigorosa, deixasse de transparecer para o público. Desta forma as secções educacionais dos museus tornaram-se mais sofisticadas e com mais recursos, constituindo as suas exposições um meio para comunicar com o público em geral (figura 2.9). Esta nova orientação dos museus foi precursora do recente desenvolvimento e estabelecimento dos museus de ciência de terceira geração abordados mais adiante neste capítulo, após a passagem que se segue sobre os museus de segunda geração.

Figura 2.9. Criança e sua mãe no Children’s Gallery12, Science Museum em Londres.

Segunda Geração de Museus de Ciência: O Mundo do Trabalho e dos