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Terceira Geração de Museus de Ciência: Ideias em Vez de Objectos

A terceira geração de museus de ciência difere marcadamente das gerações anteriores devido à mudança de filosofia na concepção das peças e na sua exibição. Phillips (1986) apresenta uma visão sucinta da sua influência no mundo museológico. Estes museus e centros de ciência centram-se mais na transmissão de ideias e de conceitos científicos do que na contemplação de objectos científicos ou na história do desenvolvimento científico (Figura 2.13).

Figura 2.13. Exposição permanente Vê, Faz e Aprende16 no Pavilhão do Conhecimento.

O seu principal objectivo é manifestamente a educação pública, mais do que doutas investigações sobre as colecções. A ênfase da terceira geração de museus de ciência está na Ciência contemporânea ou na Tecnologia e no facto de se usarem módulos interactivos, como veículos de comunicação, os quais requerem a atenção e a manipulação do visitante. Tipicamente, os módulos em exposição nestes museus são preparados por equipas que incluem grande variedade de profissionais: especialistas nas temáticas abordadas pelos módulos, analistas, engenheiros, arquitectos e desenhadores, educadores, museólogos, fabricantes, produtores de vídeo e editores, entre outros.

Um dos precursores da terceira geração de museus de ciência é o Palais de la Découverte que abriu em Paris, em 1937 (Figura 2.14), continuando a ser, ainda hoje, um museu actual e apaixonante. Nos Estados Unidos da América, o programa espacial foi o grande impulsionador do estabelecimento da terceira geração de museus. A

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divulgação da ciência ao público nacional tinha-se tornado uma necessidade urgente e uma nova perspectiva foi adoptada. O New York Hall of Science abriu em 1964, seguido do Lawrence Hall of Science, em 1968, e do Exploratorium de S. Francisco, em 1969.

Figura 2.14. (A) Fachada do Palais de la Découverte17, em 1937.

No presente, podemos encontrar duas variantes de formas de comunicação da ciência nos museus de terceira geração. A primeira ocorre num tipo de exposição baseada em um “não-objecto”, com módulos interactivos, descritos como sendo o último desenvolvimento da primeira e da segunda geração de museus (McManus, 1992). As exposições estão, muitas vezes, centradas em amplos conceitos de ciência ou temáticas com ideias relacionadas, por exemplo: Hereditariedade, Evolução, Nutrição e Produção Alimentar, Ecologia e Corpo humano.

Na segunda variante encontram-se os centros de ciência (science center, na terminologia dos autores norte americanos), nos quais os módulos interactivos se podem apresentar dispersos e expostos num pequeno centro ou numa galeria de um museu tradicional, podendo ser encarados como “estações exploratórias” de ideias. A Ciência e as realizações tecnológicas que dela derivam são apresentadas e explicadas, utilizando- se todos os meios de comunicação disponíveis para conseguir a participação activa do

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público por meio de exposições interactivas que motivam crianças e adultos através de experiências por eles próprios executadas. Nestes centros de ciência está ausente, em geral, a perspectiva histórica da Ciência e da Tecnologia, assim como a exibição dos testemunhos do seu passado.

Os centros de ciência proliferaram rapidamente. No Reino Unido, entre 1987 e 1992, foi criada uma dúzia deles. O Launch Pad, no Science Museum, em Londres, o Techniquest, em Cardiff e o Exploratorium, em Bristol foram os pioneiros. Os centros de ciência foram, muitas vezes, iniciados por educadores, pessoal pertencente ao museu, cientistas ou engenheiros que possuíam em comum uma forte inclinação pessoal para comunicar, entusiasticamente, a Ciência.

Em Portugal, na última década, a criação de Centros Ciência Viva tem constituído um dos elementos centrais da política desenvolvida pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia no sentido da promoção da cultura científica e tecnológica na sociedade portuguesa. O Centro Ciência Viva do Algarve foi o primeiro de uma rede de 18 centros interactivos já existentes.

Segundo Bragança Gil (1988), o carácter interactivo das exposições nos centros de ciência pode fornecer, quando bem operacionalizado, uma visão realista da actividade científica, isto é do modo como a Humanidade procura arduamente descobrir e explicar a Natureza. Para este autor, um centro de ciência é essencialmente caracterizado por,

- preocupar-se com a apresentação e explicação da Ciência contemporânea, suas aplicações e implicações, eliminando, em geral, das suas exposições, os testemunhos das actividades científicas e técnicas do passado;

- ao contrário dos museus tradicionais de qualquer tipo – em que o visitante está sujeito a normas do género “não tocar nos objectos” – o utente de um centro de ciência é constantemente encorajado a participar na exposição, utilizando e manuseando o equipamento que aí se encontra para esse objectivo;

- as exposições são concebidas e organizadas com fins educacionais em lugar de constituírem colecções de objectos sem ligação entre si;

- a acção educativa das exposições permanentes e temporárias é complementada por iniciativas paralelas, integráveis nos programas escolares ou destinadas à população em geral.

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Cada centro de ciência viva possui o seu próprio distintivo, característica individual que condiciona os serviços disponíveis ao público e as perspectivas escolhidas nas exposições (Figura 2.15). Um centro de ciência viva distingue-se de outro pelas colecções que toma por base para exposições e pelas temáticas específicas que se relacionam, quase sempre, com as características da região onde se localizam.

Figura 2.15. Centro de Ciência de Proença-a-Nova18, dedicado à Floresta.

Tanto os museus como os centros de ciência têm em comum o mesmo objectivo: fomentar a educação científica e técnica, pelo seu valor cultural intrínseco e pelo que ela representa como condicionadora das sociedades modernas. Parece óbvio que tal seria mais profícuo e eficaz se se juntassem ambos os tipos de instituições – escola e museu – aproveitando de cada uma os respectivos elementos positivos e harmonizando-os num conjunto museológico coerente. (Bragança Gil, 1988; Winterbothan, 2005).

De acordo com o que se disse atrás, um centro de ciência pode ser considerado um museu de ciência cuja ênfase se encontra numa perspectiva hands-on (Figura 2.16), na exibição de módulos interactivos que encorajam os visitantes a experimentar e a explorar (Albertini, 2005).

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Figura 2.16. Visitantes interagindo com os módulos hands-on na exposição Vê, Faz e

Aprende19 patente no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.

De acordo com Wellington (1990), os objectivos educacionais dos centros de ciência podem ser distribuídos de acordo com os seguintes níveis: cognitivo, psicomotor e afectivo. Como exemplos de objectivos educacionais dos centros de ciência, segundo aqueles níveis, encontram-se os seguintes:

Nível cognitivo - Conhecimento o quê - Conhecimento como - Conhecimento porquê - Síntese - Compreensão Nível psicomotor - Competências manipulativas - Destreza manual - Coordenação olho-mão Nível afectivo - Interesse; entusiasmo - Motivação; envolvimento - Desejo de aprender - Abertura

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Tal como numerosas instituições e organizações, os MCC têm conhecido, nas últimas décadas, um processo de transformação relacionada com a utilização das TIC: presença crescente dos computadores para realizar o trabalho de secretaria, ferramentas informatizadas de gestão das colecções, acesso à documentação e informação, uso das TIC no âmbito das exposições, e mais recentemente a sua implementação no espaço virtual da Internet, com uma diversidade de conteúdos e actividades derivadas das potencialidades destas tecnologias.

O uso das TIC nos museus ocorre em diversos campos. No primeiro encontramos a sua utilização, pelos funcionários dos MCC, nas tarefas de organização e gestão da informação e das colecções. No caso do tratamento relacionado com o arquivo das colecções, necessita-se da concepção e implementação de bases de dados que permitam aceder a uma grande diversidade de informações sobre os objectos das colecções. Na ausência dessas bases de dados, o conservador ou outro funcionário precisaria de percorrer o índice das fichas dactilografadas ou os microfilmes. É evidente que isto supõe a criação e implementação de novos sistemas de catalogação, de inventariação e de documentação de objectos. Segundo, o seu uso na conservação das colecções, como a digitalização das colecções e a esquematização, permite uma maior acessibilidade às informações sobre as colecções. O uso das TIC conduz a novas formas de acessibilidade do público às colecções, quer através de quiosques situados no espaço físico do MCC quer fora dos limites físicos tradicionais, como a Internet. Além disso, possibilita novos modos de protecção das obras contra o vandalismo. Terceiro, as TIC, em, particular a Internet, passam a fazer parte das exposições, nomeadamente no seu anúncio e publicitação através do website do MCC. A ligação entre as TIC e a exposição ultrapassa largamente esta função de publicidade e de marketing podendo estar incluídas nos próprios módulos expositivos, permitindo uma interacção diferente da realizada com os módulos presenciais e, ainda, integrar os visitantes na exposição através de programas de modelação e de simulação e de novas funcionalidades facultadas por dispositivos móveis e ubíquos.