• Nenhum resultado encontrado

PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO TRIBUTO CONFISCATÓRIO OU RAZOABILIDADE DA

No documento CS TRIBUTÁRIO (páginas 51-55)

LEI x LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

4. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO TRIBUTO CONFISCATÓRIO OU RAZOABILIDADE DA

PREVISÃO LEGAL

Encontra-se positivado no art. 150, IV da CF.

Art. 150, CF. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) IV - utilizar tributo com efeito de confisco

INCIDÊNCIA

Conforme prevê a Constituição, veda-se a utilização de TRIBUTO com efeito de confisco. A vedação aplica-se à multa tributária (compreendida na obrigação tributária principal)? R: O STF já se manifestou, entendeu que o inciso IV do art. 150 da CF deve ser interpretado extensivamente, a fim de que seja vedada a aplicação de multa tributária com a finalidade confiscatória. Vejamos:

“A aplicação da multa moratória tem o objetivo de sancionar o contribuinte que não cumpre suas obrigações tributárias, prestigiando a conduta daqueles que pagam em dia seus tributos aos cofres públicos. Assim, para que a multa moratória cumpra sua função de desencorajar a elisão fiscal, de um lado não pode ser pífia, mas, de outro, não pode ter um importe que lhe confira característica confiscatória, inviabilizando inclusive o recolhimento de futuros tributos.” (STF, RE 582.461).

Obs.: O STF considera que não é confiscatória a multa moratória no importe de 20%. Em relação à multa punitiva, considera que haverá efeito confiscatório apenas quando exceder o montante de 100% do valor do tributo.

CS – TRIBUTÁRIO 2020.1 51 AFERIÇÃO

No Brasil, não há objetividade de quando se tem efeito confiscatório. De acordo com o STF, deve ser analisado a partir do caso concreto. Ademais, na análise do caso concreto, não se deve considerar o tributo individualmente, mas sim à luz da carga tributária total (múltiplas incidências tributárias – STF).

STF – determinada lei ampliava, para os servidores públicos, a alíquota da contribuição previdenciária, passando de 11% para 25%. Um dos legitimados do art. 103 da CF propôs ADI alegando que o aumento da contribuição previdenciária de 11% para 25% violaria o art. 150, IV, da CF. Entendeu o STF que para considerar o efeito confiscatório seria necessária a análise da carga tributária total e não apenas o aumento do tributo de forma isolada. Muitos servidores já pagavam IR de 27,5% e, ainda, teriam que pagar 25% de contribuição previdenciária. Perceba que mais de 50% da remuneração do servidor seria para o pagamento de carga tributária, tendo caráter confiscatório.

SANÇÕES POLÍTICAS

Por meio do princípio da vedação ao efeito confiscatório do tributo, veda-se, igualmente, a aplicação de sanções políticas ao devedor tributário. Por sanções políticas entende-se qualquer embaraço ao livre exercício da atividade econômica, tais como interdição de estabelecimento comercial, apreensão de mercadoria.

Neste tópico, pertinente a análise das súmulas 70, 323 e 547 todas do STF.

Súmula. 70, STF: É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança de tributo.

Súmula. 323, STF: É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos.

Súmula. 547, STF: Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais.

O Estado do RS possuía um ato normativo determinando que o devedor tributário prestasse garantia para poder imprimir notas fiscais (obrigação tributária acessória), o STF reconheceu a inconstitucionalidade de tal ato, em razão de ser uma sanção política. Vejamos:

A exigência, pela Fazenda Pública, de prestação de fiança, garantia real ou fidejussória para a impressão de notas fiscais de contribuintes em débito com o Fisco viola as garantias do livre exercício do trabalho, ofício ou profissão (CF, art. 5º, XIII), da atividade econômica (CF, art. 170, parágrafo único) e do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). (...). Discutia-se eventual configuração de sanção política em decorrência do condicionamento de expedição de notas fiscais mediante a oferta de garantias pelo contribuinte inadimplente com o fisco. (...). Sublinhou que esse tipo de medida, denominada pelo Direito Tributário, sanção política, desafiaria as liberdades fundamentais consagradas na Constituição, ao afastar a ação de execução fiscal, meio legítimo estabelecido pela ordem jurídica de cobrança de tributos

CS – TRIBUTÁRIO 2020.1 52 pelo Estado. (...) O Tribunal, ademais, ressaltou o teor dos Enunciados 70, 323 e 547 (STF, RE 565048/RS, rel. Min. Marco Aurélio. 29.5.2014 Informativo nº 748).

Em outra oportunidade, o STF reconheceu a constitucionalidade de uma lei do Estado de São Paulo que previa a retenção de mercadorias sem documentação fiscal idônea até que fosse comprovada a posse legítima.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 163, § 7º, DA CONSTITUIÇÃO DE SÃO PAULO: INOCORRÊNCIA DE SANÇÕES POLÍTICAS. AUSÊNCIA DE AFRONTA AO ART. 5º, INC. XIII, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. A retenção da mercadoria, até a comprovação da posse legítima daquele que a transporta, não constitui coação imposta em desrespeito ao princípio do devido processo legal tributário. 2. Ao garantir o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, o art. 5º, inc. XIII, da Constituição da República não o faz de forma absoluta, pelo que a observância dos recolhimentos tributários no desempenho dessas atividades impõe-se legal e legitimamente. 3. A hipótese de retenção temporária de mercadorias prevista no art. 163, § 7º, da Constituição de São Paulo, é providência para a fiscalização do cumprimento da legislação tributária nesse território e consubstancia exercício do poder de polícia da Administração Pública Fazendária, estabelecida legalmente para os casos de ilícito tributário. Inexiste, por isso mesmo, a alegada coação indireta do contribuinte para satisfazer débitos com a Fazenda Pública. 4. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente. (STF, ADI 395, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 17/05/2007, DJe-082 DIVULG 16-08- 2007 PUBLIC 17-08-2007 DJ 17-08-2007 PP-00022 EMENT VOL-02285-01 PP-00052 RTJ VOL-00201-03 PP00823 RDDT n. 145, 2007, p. 181-185 RT v. 96, n. 866, 2007, p. 101-106).

Outra questão pertinente é a possibilidade ou não de protesto de certidão de dívida ativa (CDA), a qual dá suporte a execução fiscal. Em 2012, passou-se a autorizar o protesto de CDA, nos termos no art. 1º, parágrafo único doa Lei 9.492/97.

Art. 1º, Lei nº 9.492/97: Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida.

Parágrafo único. Incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 12.767, de 27.12.2012, DOU de 28.12.2012).

A constitucionalidade do dispositivo foi questionada, entendendo o STF que é perfeitamente possível o protesto de CDA.

STF, ADI 5.135 - “O protesto das certidões de dívida ativa constitui mecanismo constitucional e legítimo por não restringir de forma desproporcional quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e assim não constituir sanção política.”

CS – TRIBUTÁRIO 2020.1 53 REsp 1.694.690 e REsp 1.686.659 - A Fazenda Pública possui interesse e pode efetivar o protesto da CDA na forma do art. 1º, parágrafo único, da lei 9.492/97, com a redação da lei 12.767/12.

Para o STJ, a classificação como contribuinte inapto é irregular, possuindo natureza de são política. Por outro lado, é plenamente possível a perda de bens nas hipóteses de importação ilícita O Estado não pode adotar sanções políticas para constranger o contribuinte ao pagamento de tributos em atraso. (...) No caso analisado, contribuinte impetrou mandado de segurança com o objetivo de cancelar inscrição de seu nome comercial em cadastro de inadimplentes perante a Fazenda Estadual, que o enquadrou na situação de "contribuinte inapto". Com base na legislação estadual de regência, essa classificação não representa mero "diferencial terminológico" a orientar o trabalho da fiscalização, uma vez que, notadamente no tocante às operações interestaduais, cujo o recolhimento do ICMS se realiza por meio de denominada "antecipação tributária", traz consigo regra própria de responsabilização tributária para o transportador, procedimento diferenciado para recolhimento do imposto e até mesmo majoração direta da carga tributária, com o estabelecimento de maior percentual de margem de valor agregado em comparação com o contribuinte apto. (STJ, RMS 53.989-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, por unanimidade, julgado em 17/04/2018, DJe 23/05/2018).

STJ: (...) MERCADORIA IMPORTADA. ADULTERAÇÃO DE DADOS ESSENCIAIS (ORIGEM DO PRODUTO). PERDIMENTO. PAGAMENTO DOS TRIBUTOS DEVIDOS. IRRELEVÂNCIA. (...) 3. A pena de perdimento não constitui sanção cujo fato gerador tenha por base a inadimplência de tributo. Portanto, a circunstância de a recorrente haver adimplido a obrigação de conteúdo pecuniário não a exime de observar a legislação alfandegária e respeitar os valores por ela protegidos. A quitação do tributo devido não implica direito ao descumprimento das normas que disciplinam o direito alfandegário. (...) 7. Nesse contexto, a hipótese se amolda perfeitamente ao previsto no art. 105, VIII, do Decreto-Lei 37/1966: "Art.105 - Aplica-se a pena de perda da mercadoria: (...) VIII - estrangeira que apresente característica essencial falsificada ou adulterada, que impeça ou dificulte sua identificação, ainda que a falsificação ou a adulteração não influa no seu tratamento tributário ou cambial". 8. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, não provido. (STJ, REsp 1385366/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/09/2016, DJe 11/10/2016). Além disso, nos casos de importação é possível a retenção de mercadoria até o pagamento dos direitos antidumping.

Importação. Despacho aduaneiro. Pagamento dos direitos antidumping. Requisito imprescindível. Retenção de mercadoria importada. Súmula n. 323/STF. Inaplicabilidade. A retenção de mercadoria importada até o pagamento dos direitos antidumping não viola o enunciado da Súmula n. 323/STF. (STJ, REsp 1.728.921-SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, por unanimidade, julgado em 16/10/2018, DJe 24/10/2018. Preliminarmente, destaca-se que o termo dumping se origina do verbo to dump, que significa jogar, desfazer, esvaziar-se. Consiste na prática de medidas com o fim de possibilitar que mercadorias ou produtos possam ser oferecidos em um

CS – TRIBUTÁRIO 2020.1 54 mercado estrangeiro a preço inferior ao vigente no mercado interno. O remédio adotado para essa prática comercial desleal é chamado de direito antidumping, ou seja, é o procedimento que agrega ao valor do produto importado uma quantia igual ou inferior àquela margem de preço diferenciado. Com efeito, o pagamento dos direitos antidumping representa condição para a importação dos produtos. O importador fica sujeito à sua exigência de ofício, além de multa e juros moratórios, se não cumprir a determinação, cuja imposição deve ser formalizada em auto de infração. Por essas razões, resta inaplicável o enunciado da Súmula n. 323 do Supremo Tribunal Federal, que rejeita a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos, porquanto não se pode confundir a apreensão com a retenção de mercadorias e consequente exigência de recolhimento de tributos e multa ou prestação de garantia, procedimento que integra a operação de importação. Outrossim, a quitação dos direitos antidumping é requisito para perfectibilização do processo de importação, sem o qual não pode ser autorizado o despacho aduaneiro. Não há como liberar pura e simplesmente as mercadorias à míngua de qualquer garantia. Nessa linha, existe precedente da 2ª Turma desta Corte (REsp 1.668.909- SC, Rel. Ministro Herman Benjamin, j. em 20/6/2017, DJe 30/6/2017). Por fim, o STF entende que a cassação de registro especial para produtores de cigarro não é uma sanção política.

A cassação de registro especial para a fabricação e comercialização de cigarros, em virtude de descumprimento de obrigações tributárias por parte da empresa, não constitui sanção política. Essa a conclusão do Plenário que, ao finalizar julgamento, por decisão majoritária, negou provimento ao recurso extraordinário, interposto por indústria de cigarros, em que se discutia a validade de norma que prevê interdição de estabelecimento, por meio de cancelamento de registro especial, em caso do não cumprimento de obrigações tributárias (Decreto-Lei 1.593/77, art. 2º, II). (STF, RE 550769/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 22.5.2013, Informativo 707, Plenário).

No documento CS TRIBUTÁRIO (páginas 51-55)