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PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Importante trazer à tona o princípio da dignidade da pessoa humana, esculpido no artigo 1°, inciso III da Constituição Federal brasileira de 1988, que estabelece o seguinte:

Art. 1° - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III – a dignidade da pessoa humana. 30

Ao se realizar retrospecto histórico, vê-se que algumas Constituições de tempos passadas deste país restringiram direitos e liberdades individuais, como nos tempos de ditadura. Porém, hoje já está arraigada entre nós a consciência de que o homem deve ser o centro de todo ordenamento jurídico, à luz da previsão do referido princípio contido na Carta Magna Brasileira de 1988.

Atualmente é difícil encontrar nas diversas obras existentes acerca do dano moral a não-abordagem do princípio da dignidade da pessoa humana. Andrade esclarece que a importância de se ter tal princípio no texto constitucional se faz necessário para a sua efetiva proteção e o seu desenvolvimento nos órgãos públicos de uma forma geral e, em especial, nos órgãos que aplicam o direito. 31

O princípio em apreço é de suma importância, pois é ele quem norteia e fundamenta os direitos da personalidade e os direitos fundamentais, ou seja, é através dele que se interpretam os direitos citados.

Embora de forma extremamente sucinta, apesar de haver uma discussão na doutrina entre o que venha a ser direito da personalidade e direitos fundamentais, eis que possuem laços estreitos, não devem ser considerados iguais, já que nem todos os direitos fundamentais se constituem em direitos da personalidade, como, por exemplo, o direito à propriedade. Assim, os direitos da personalidade podem ser entendidos como aqueles direitos inatos ou inerentes ao homem, existentes independentemente do direito positivado e os direitos fundamentais aqueles direitos do ser humano, reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivado de certo Estado. 32

30 BRASIL.Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:

Congresso Nacional, 1988. Disponível

em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 21 de maio de 2010.

31 ANDRADE, 2009, passim. 32 Ibid., passim.

Os pilares do princípio da dignidade da pessoa humana são, especialmente, a liberdade e a igualdade. A análise de seus pilares é importante pois é através dela que se conclui que todos os povos e todos os indivíduos são detentores de igual dignidade, não importando se esse humano possa ou não exprimir suas vontades.33

Conceituar o que venha a ser dignidade não é tarefa fácil, tanto que, entre os autores não há um conceito fechado. Mas vale trazer à tona o exposto por Andrade acerca do princípio da igual consideração de interesses, por onde tenta explicar o que venha a ser dignidade.

Expõe Andrade:

O princípio da igual consideração de interesses consiste em atribuir aos interesses alheios peso igual ao que atribuímos aos nossos. Não por generalidade – que consiste em doar, em atender ao interesse alheio, sem o sentimento de que, com isso, se esteja a algum interesse próprio -, mas por solidariedade, que é uma necessidade imposta pela própria vida em sociedade. 34 (grifo do autor)

Moraes acrescenta o que venha a ser dignidade, estabelecendo em sua obra que:

A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. 35

Tamanha é a importância do princípio em apreço que o seu afastamento só se tornaria legitimado em circunstâncias extremamente necessárias, como forma democrática de proteção e de defesa do próprio ser humano, ou quando as circunstâncias apontarem que outro princípio deve ser preponderado, julgando-lhe ser de maior peso.

A importância do princípio da dignidade humana para o dano moral e, em especial, para a corrente que entende o dano moral como lesão aos direitos da personalidade reside no fato de que ele passou a ser o fundamento para a reparabilidade desse instituto, uma vez que abarcaria os direitos da personalidade. É por este motivo que se afirma que os direitos da personalidade, previstos no Código Civil Brasileiro de 2002 são apenas exemplificativos.

Tão imensurável é a importância do princípio da dignidade da pessoa humana, que não só permitiu a dilatação dos direitos da personalidade, mas também permitiu que alguns doutrinadores apontassem que a definição do instituto do dano moral deveria ser compreendida a partir do princípio em apreço, como afirma Moraes:

33 RESEDÁ, 2009, passim.

34 ANDRADE, 2009, p. 12.

[...] o dano moral não pode ser reduzido à “lesão a um direito da personalidade”, nem tão pouco “efeito extrapatrimonial da lesão a um direito subjetivo, patrimonial ou extrapatrimonial”. Tratar-se-á sempre de violação da cláusula geral de tutela da pessoa humana, seja causando-lhe um prejuízo material, seja violando direito (extrapatrimonial) seu, seja, enfim, praticando, em relação à sua dignidade, qualquer “mal evidente” ou “perturbação”, mesmo se ainda não reconhecido como parte de alguma categoria jurídica. 36 (grifo do autor)

Extraindo-se os argumentos de Morais, vê-se até o surgimento de uma nova corrente para explicar o que venha a ser o dano moral, sendo esse configurado quando houvesse uma agressão à dignidade humana, já que esse conceito abarcaria também os direitos da personalidade.

Assim, é no princípio da dignidade humana que se encontra a contemporaneidade conceitual do dano.