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3 O DIREITO MINERÁRIO BRASILEIRO

3.4 Princípios regedores do direito minerário

3.4.6 Princípio do conteúdo ético

O princípio do conteúdo ético, tomando por fundamento o fato de que os recursos minerais pertencem à coletividade e de que não são renováveis, não podem ser desperdiçados, impondo-se ao minerador o melhor aproveitamento técnico do recurso mineral. Daí a necessidade da apresentação de um Plano de Aproveitamento Econômico da Jazida – PAE, bem como o dever de seu estrito cumprimento, em que serão apontados os métodos de mineração a serem utilizados, escala de produção, etc. (SERRA, 2000, p. 29).

Pertencendo os recursos minerais a toda a humanidade e não sendo eles renováveis não podem ser desperdiçados, tendo de ser preservados para as presentes e futuras gerações. Disso resulta para o minerador, a obrigação de fazer o melhor aproveitamento da jazida, com vistas ao prolongamento da sua vida útil. O Plano de Aproveitamento Econômico da jazida deve, por conta disso, ser o mais consentâneo com a realidade fática da jazida e com as demandas presentes e futuras da sociedade.

No mesmo sentido, entendemos deva ser adotado para o Plano de Fechamento de Mina – PFM o mesmo princípio, com o melhor planejamento a ser executado, contemplando todas as variáveis de controle e monitoramento da jazida desde a sua fase de concepção, objetivando a provisão dos custos ambientais em todas as etapas do empreendimento minerário até a sua desativação.

Neste diapasão como bem observa Machado (1993, p. 404) os legisladores brasileiros de 1981 tiveram a sensibilidade ética de adotar a responsabilidade ambiental civil sem culpa (art. 14 da Lei n. 6.938/81 – Lei de Política Nacional do Meio Ambiente). Esse regime de responsabilidade tem servido de fundamento para o expressivo número de decisões judiciais nas ações civis públicas ambientais.

E se não bastasse a responsabilidade objetiva preconizada na Política Nacional do Meio Ambiente, os constituintes brasileiros de 1988 deram um significativo passo na teoria jurídica da responsabilidade penal e administrativa ambiental, ao dispor no art. 225, § 3º que “[...] as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos ambientais”. (BRASIL, 2006).

E não é diferente no Código de Mineração, o minerador de acordo com o disposto no art. 47, inc. VII e art. 48 do Decreto-lei n. 227, de 28.02.1967, é obrigado a cumprir os ditames legais previstos, sob pena de caducidade do título minerário, se incorrer nas sanções previstas e não respeitar aos ditames especificados no referido diploma legal. Assim, não havendo adimplemento das condições previstas e se constatar lavra ambiciosa, responderá o minerador pela falta de cumprimento ao princípio do conteúdo ético de sua atividade. (BRASIL, 2000).

E ainda, o empreendedor deverá arcar com o recolhimento da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais – CFEM, instituída pela Lei n. 7.990, de 28.12.1989.

No parecer emitido a pedido do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM)3: “[...] a CFEM é receita originária (patrimonial) e não derivada (tributária), cobrada como forma de contraprestação pela utilização de recursos minerais, tendo natureza jurídica de preço público, que é devido pelo minerador em razão da utilização de bem patrimonial da União Federal (recurso mineral), ou de uma indenização ou, ainda de um ressarcimento que a União, como proprietária do bem mineral, impõe ao beneficiário de um título que ela mesma confere – concessão – para o seu aproveitamento”.

Neste sentido cumpre esclarecer que quanto à natureza jurídica da compensação financeira existe basicamente um consenso no nível dos pareceres a seguir mencionados, como ainda nos próprios tribunais, de tratar-se de uma receita patrimonial configurada em um preço público, o que a descaracteriza de qualquer conotação tributária. São as decisões:

Apelação Cível n.93.01.28881-8/DF Relator: Juiz Olindo Menezes

Ementa: Tributário. Exploração de Recursos Minerais. Compensação Financeira pela Exploração. Natureza Jurídica. Legalidade e Constitucionalidade.

1. A compensação financeira pela exploração de recursos minerais, prevista na Lei 7.990, de 28/12/89, não é ilegal nem inconstitucional. Sua cobrança representa apenas o cumprimento de um mandamento constitucional.

2. Não se trata de receita tributária, senão de uma receita patrimonial no seu território. 3. Improvimento de apelação.

Apelação Cível n. 94.01.29850-5/DF Relator: Juiz Osmar Tognolo

Ementa: Direito Financeiro. Compensação pela Exploração de Recursos. Constituição Federal, art. 20, § 1º. Leis n. 7.990/89 e 8.100/90. Receita Patrimonial e Não-Tributária.

1. Os recursos minerais constituem patrimônio da União Federal (Constituição Federal, art. 20, inciso IX) e sua exploração por terceiros, depende de autorização ou concessão estatal (art. 176, § 1º).

2. A compensação financeira assegurada pelo § 1º do art. 20 da CF/88 pela exploração de recursos minerais constitui receita patrimonial, e não tributária, a ela não se aplicando, pois, os princípios constitucionais pertinentes aos tributos.

3. Assim, impertinentes as alegações de ofensa ao principio da não cumulatividade tributária e a exigência de lei complementar para a sua instituição, do mesmo modo que válidos os critérios adotados pelo legislador – Leis n. 7.990/89 e 8.001/90 – para cálculo e distribuição de receita, ainda que merecedores de críticas.

4. Apelação a que se nega provimento.

Tributário. Constitucional. Lei n 8.990/89. Compensação Financeira. Extração de Minerais.

1) Não existe na legislação que disciplina a compensação financeira pela exploração de recursos minerais no território da União qualquer afronta à Constituição Federal. Na verdade, aquela remuneração, integrante da receita originária do Estado, é uma indenização pelo dano provocado pelo exaurimento lucrativo e progressivo das jazidas.

2) Apelação provida. 3) Remessa prejudicada.

(TRF da 1ª Região, 3º Turma. Apelação no MS n. 93.01.34468-8/BA, Relator Juiz Fernando Gonçalves, DJU de 1/7/94, p. 35.798).

Pelo exposto, o empreendedor minerário para cumprir efetivamente com o princípio do conteúdo ético, deverá empreender de acordo com o aproveitamento racional dos recursos minerais e recolher o preço deste, com o pagamento a título de contraprestação dos recursos minerais empregados na sua atividade produtiva. Dentro desta concepção, à luz do princípio do usuário-pagador entendemos deva ser o empreendedor deste segmento considerado “usuário-

minerador”, tendo em vista que a sua finalidade é baseada em ato lícito.

É cediço na doutrina e jurisprudência dominante que o devido recolhimento da CFEM por meio das declarações prestadas no Relatório Anual de Lavra – RAL é considerado a contraprestação da utilização de um recurso ambiental que deverá ser destinado ao uso comum de todos, portanto, requer basicamente o estrito cumprimento do princípio do conteúdo ético para uma exploração sustentável.

Importante ressaltar, que a imposição ao usuário de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos tem por objetivo impor ao usuário do recurso ambiental − recurso mineral, contraprestação pela sua utilização.

Para finalizar, segundo Milaré (2003): “[...] devemos ter ética sob os aspectos: individuais e sociais, políticos e administrativos, técnicos e empresariais para que se construa num sistema de vida e de ações compatíveis com a verdade e o amor que de nós merece o planeta Terra, ‘nossa casa’”.

Assim, o princípio do conteúdo ético é fundamental para balizar os demais princípios que regem o direito mineral, inclusive o direito do ambiente, como se acaba de demonstrar.

3.5 Natureza jurídica e peculiaridades dos regimes de exploração e aproveitamento das