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Regime de permissão de lavra garimpeira

3 O DIREITO MINERÁRIO BRASILEIRO

3.5 Natureza jurídica e peculiaridades dos regimes de exploração e aproveitamento

3.5.4 Regime de permissão de lavra garimpeira

A permissão de lavra garimpeira regula o aproveitamento imediato das jazidas de minerais garimpáveis, independentemente de trabalhos prévios de pesquisa e por período determinado, segundo critérios fixados pelo DNPM. As substâncias minerais consideradas garimpáveis estão especificadas no art. 10, § 1º da Lei 7.805, de 18.07.1989, e são as seguintes: “ouro, diamante, cassiterita, columbita, tantalita e wolframita, nas formas aluvionar, eluvional e coluvial, sheelita, as demais gemas, rutilo, quartzo, berito, muscovita, espodumênio, lepidolita, feldspato, mica e outros, em tipos de ocorrência que vierem a ser indicadas a critério do DNPM”.

Esse regime encontrava-se principalmente regrado no art. 78 do Decreto-lei n. 227, de 28.02.1967, o qual foi revogado pela Lei n. 7.805, de 18.07.1989. Assim, é este o diploma legal que disciplina o regime, o qual foi regulamentado pelo Decreto n. 98.812, de 09.01.1990; e na Portaria DNPM n. 178, de 12.04.2004.

O requerente deve preencher os requisitos previstos no art. 5º da Lei n. 7.805/89: “a permissão de lavra garimpeira será outorgada a brasileiro, à cooperativa de garimpeiros, autorizada a funcionar como empresa de mineração”. E os dispostos nos arts. 21, XXV e 174, § 3º da CF e art. 7º do Decreto n. 98.812, de 09.01.1990 e art. 81 do CM, com a redação conforme a Lei n. 9.314/96. A área máxima permitida para o polígono é de 50 hectares, salvo quando outorgada à cooperativa de garimpeiros, conforme o art. 7º, III do Decreto n. 98.812, de 09.01.1990. Admite-se esse regime em qualquer parte do território nacional, exceto em terras indígenas. Em faixa de fronteira, a explotação está sujeita as condições adicionais, consoante o disposto no art. 7º, I do Decreto n. 98.812, de 09.01.1990. (BRASIL. 2000).

Há por parte do Poder Público o dever de promover o controle e a proteção do meio

ambiente, consoante o disposto no art. 15 da Lei n. 7.805, de 18.07.1989 e seu regulamento.

No que pertine ao aspecto preventivo para a explotação no regime de permissão, é necessária a obtenção de prévio licenciamento ambiental expedido pelo órgão estadual competente, ou pelo IBAMA em determinados casos (art. 16 da Lei n. 7.805, de 18.07.1989 e arts. 2º, parágrafo único e 18 do Decreto n. 98.812, de 09.01.1990); e, em seguida, uma portaria de permissão do Diretor-Geral do DNPM. Em se tratando de lavra em área urbana, deve-se acrescentar o assentimento da autoridade administrativa do município onde se localiza a jazida, conforme o disposto no art. 2º da Lei n. 7.805, de 18.07.1989 e art. 3º do Decreto n. 98.812, de 09.01.1990. (BRASIL, 2000).

Importante observar que este assentimento não possui a mesma natureza daquele observado no regime de licenciamento.

O requerimento deve ser endereçado ao DNPM, e instruído com os documentos descritos nos incisos do art. 2º da Portaria DNPM n. 178, de 12.04.2004. O direito de prioridade sob o critério da área livre deverá ser observado.

Trata-se de regime mais célere que a concessão de lavra, assim como o licenciamento, por não necessitar de regime prévio de pesquisa. Entretanto, mesmo aquele garimpeiro que se acomoda perfeitamente ao regime de permissão, poderá optar pela autorização de pesquisa e concessão de lavra, se assim preferir. O título ou seu requerimento também podem ser objeto de cessão ou transferência, prescritos pelo DNPM (Art. 5º, II da Lei n. 7.805, de 18.07.1989 e as Instruções Normativas DNPM n. 02 e n. 03, ambas de 22.10.1997). (NOGUEIRA, 2004, p. 45)

A autora destaca duas peculiaridades do regime de permissão de lavra garimpeira:

[...] “a admissão de simultaneidade entre este e o regime de concessão de lavra, num mesmo polígono onerado. Mas isso somente será possível se o titular pré-existente da área autorizar a atividade do segundo, e desde que haja viabilidade técnica e econômica para a explotação em ambos os regimes (Art. 7º e 8º da Lei n. 7.805, de 18.07.1989). Outra particularidade é a propriedade que as cooperativas de garimpeiros têm para obter autorização de pesquisa ou concessão de lavra, em áreas que já estejam atuando, em alguns casos taxados em lei (Art. 14 da Lei n. 7.805, de 18.07.1989)”. (NOGUEIRA, 2004, p. 45, grifos acrescentados).

Em relação aos deveres inerentes à permissão de lavra, além daqueles gerais no Código de Mineração, o titular está sujeito a todos os dispostos elencados no art. 9º da Lei n. 7.805, de 18.07.1989 devidamente regulamentado pelo art. 11 do Decreto n. 98.812, de 09.11.1990.

Às cooperativas de garimpeiros, somam-se o rol das obrigações constantes no art. 26, inc. I do Decreto n. 98.812, de 09.11.1990, verbis: “[...] promover a organização das atividades de extração e o cumprimento das normas referentes à segurança do trabalho e à proteção ao

meio ambiente”. (BRASIL, 2006, grifo acrescentado).

Além disso, as cooperativas de garimpeiros devem ater-se à Lei n. 5.764, de 16.12.1971, que define a Política Nacional de Cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas.

O título também é tempestivo, valendo por cinco anos, de acordo com o disposto no art. 7º, I do Decreto n. 98.812, de 09.01.1990, podendo ser renovado sucessivamente.

Importante salientar que a lei explicita o caráter notoriamente precário da permissão de lavra, visto que a área de garimpagem pode ser desconstituída, discricionariamente, por portaria

do Diretor-Geral do DNPM, quando comprometer a segurança ou saúde dos garimpeiros ou terceiros; estiver causando dano ao meio ambiente; ficar evidenciado a dilapidação do preço da riqueza mineral; ou comprometer a ordem pública (Art. 14 do Decreto n. 98.812, de 09.01.1990).

Como nos regimes de autorização de pesquisa e concessão de lavra, na permissão de lavra garimpeira, o título é outorgado independentemente de autorização do proprietário, causando, portanto reflexos para o superficiário.

Daí o entendimento prevalente na doutrina de estar o art. 74 do Código de Mineração revogado pela Lei n. 7.805, de 18.07.1989, responsável pela disciplina da permissão de lavra no ordenamento jurídico brasileiro.

Este artigo previa que a permissão só seria possível em terras de domínio privado, se o garimpeiro fosse também o proprietário do solo ou se deste tivesse autorização expressa. Entretanto, esse artigo é incompatível com a referida lei, pois esta, ao trazer o rol taxativo dos documentos de instrução necessários ao requerimento da permissão, silencia a respeito dos direitos do superficiário. (NOGUEIRA, 2004, p. 46).

Não obstante, o mesmo diploma legal, instituiu no art. 9º da Lei n. 7.805, de 18.07.1989 o dever ambiental do permissionário da lavra garimpeira, em: “evitar o extravio das águas servidas, drenar e tratar as que possam ocasionar danos a terceiros, e diligenciar no sentido de compatibilizar os trabalhos da lavra com a proteção do meio ambiente”. (BRASIL, 2002).

Há como responsabilizar o permissionário ante aos reflexos oriundos do inadimplemento de suas obrigações (art. 11 § 1º do Decreto n. 98.812, de 09.11.1990), inclusive com a suspensão temporária ou definitiva dos trabalhos de pesquisa e lavra que causarem danos ambientais, conforme art. 18 da Lei n. 7.805/89 e art. 14 inc. II e art. 20 do Decreto n. 98.812/90. Desta forma, cabalmente demonstrado, quer sob o aspecto preventivo, como corretivo, a previsão expressa na legislação minerária acerca das licenças ambientais e da necessidade do efetivo controle e fiscalização dos órgãos gestores para o cumprimento de seu mister .