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3 O DIREITO MINERÁRIO BRASILEIRO

3.5 Natureza jurídica e peculiaridades dos regimes de exploração e aproveitamento

3.5.2 Regime de concessão de lavra

A concessão da lavra terá por título uma portaria assinada pelo Ministro de Estado de Minas e Energia, é o que reza o art. 43 do Código de Mineração, com a redação da Lei 9.314, de 14.11.1996. (BRASIL, 2000).

Admite-se a concessão de lavra em determinada área para o titular de autorização de pesquisa que estiver com o respectivo relatório final aprovado pelo DNPM e requerê-la em tempo hábil; ou para outro interessado que preencher os requisitos legais estabelecidos, em caso de caducidade anterior do título de pesquisa que declare a área disponível ou livre. Ademais, deve-se

ter em conta a possibilidade de adquirir o requerimento ou o título através de transferência ou cessão, conforme o art. 55 do CM c/c Instrução Normativa DNPM n. 02, de 22.10.1997 e Instrução Normativa DNPM n. 03, de 22.10.1997. (BRASIL, 2000).

Trata-se de fase pertinente à explotação ou aproveitamento industrial de jazida considerada técnica e economicamente viável; bem como ao beneficiamento do bem extraído, que consiste na realização das seguintes etapas de transformação: fragmentação, pulverização, classificação, concentração, homogeneização e outros. (NOGUEIRA, 2004, p.36).

Pela ampla definição do Código de Mineração, prevista no art. 36: “[...] lavra é o conjunto de operações coordenadas objetivando o aproveitamento industrial da jazida, desde a extração das substâncias minerais úteis que contiver, até o beneficiamento das mesmas”. São duas as condições legais indispensáveis para sua outorga, de acordo com o art. 37 do referido Diploma Legal: “[...] a jazida deve estar pesquisada, com o relatório aprovado pelo DNPM; e a área deve ser adequada à condução técnico-econômica dos trabalhos de extração e beneficiamento, respeitados os limites do polígono”. (BRASIL, 2000).

O requerimento deve ser formulado pelo interessado e dirigido ao Ministro de Estado de Minas e Energia, devendo ser instruído com os elementos de informação e prova citados no art. 38 do Código de Mineração. Administrativamente o requerimento será numerado e registrado cronologicamente no DNPM, sendo juntado ao processo administrativo que autorizou a respectiva pesquisa. O direito de prioridade também subsiste na concessão de lavra, aproveitando-se as regras da área livre já observada no regime de autorização de pesquisa.

Satisfeitas todas as exigências legais, a concessão será outorgada por meio de portaria do Ministro de Estado de Minas e Energia - MME atribuição atualmente delegada ao Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineira, para as pessoas devidamente habilitadas. O titular da concessão passa a ter, no prazo de noventa dias a contar da publicação da portaria de lavra no DOU, o direito de requerer a posse da jazida. No entanto, conforme o art. 46 do CM, caberá recurso ao MME contra a imissão de posse, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias contados da data do ato de imissão. O recurso, se provido, anulará a imissão de posse.

Várias são as obrigações resultantes dos trabalhos de lavra, especialmente, as fixadas no art. 47 do CM. Uma delas é o dever do titular apresentar ao DNPM anualmente um relatório das atividades realizadas no ano anterior (Art. 47, XVI do CM). Este relatório deve conter os tópicos relacionados nos incisos do art. 50 do CM, também elaborado por técnico habilitado.São exigidos

os seguintes tópicos no relatório anual: “a) método de lavra, transporte e distribuição no mercado consumidor, das substâncias minerais extraídas; b) modificações verificadas nas reservas, características das substâncias minerais produzidas, inclusive o teor mínimo economicamente compensador e a relação observada entre a substância útil e a estéril; c) quadro mensal, em que figurem, pelo menos, os elementos de: produção, estoque, preço médio de venda, destino do produto bruto e do beneficiado, recolhimento da Taxa Anual por Hectare e pagamento da indenização devida ao proprietário (estabelecida entre o titular e o proprietário, ou imposta judicialmente na ação de avaliação de rendas e danos); d) número de trabalhadores da mina e do beneficiamento; e) investimentos feitos na mina e nos trabalhos de pesquisa; f) balanço anual da empresa”.

Por outro lado, o aproveitamento da jazida não deve ser dificultado ou impossibilitado por lavra ambiciosa que, para o conceito do art. 48 do CM é: “a lavra conduzida sem observância do plano preestabelecido, ou efetuada de modo a impossibilitar o ulterior aproveitamento econômico da jazida”. O titular também deve promover a segurança e a salubridade das habitações existentes no local, e responder por quaisquer danos e prejuízos que causar a terceiros que resultarem, direta ou indiretamente, da lavra.

A concessão tem prazo indeterminado, ao contrário da tendência em outros países, perdurando enquanto o titular estiver cumprindo com todos os deveres impostos pela lei. Em vista disso, a lavra praticada em desacordo com o plano aprovado pelo DNPM sujeita o concessionário a sanções que podem ir gradativamente da advertência à caducidade do título. As infrações taxativas que implicam em caducidade, tanto da pesquisa, quanto da lavra, estão estabelecidas no art. 65 do CM, que será objeto de portaria do MME.

Extinguindo-se o título, por quaisquer motivos, o Diretor Geral do DNPM, mediante edital publicado no DOU, declarará a disponibilidade da respectiva área para fins de novos requerimentos, utilizando-se do critério da área disponível para a definição da prioridade, já explicitado no regime de autorização de pesquisa, conforme Portaria DNPM n. 419, de 19.11.1999. (BRASIL, 2000).

Nas palavras de Nogueira (2004, p.38), relativamente à propriedade superficiária, pode- se dizer que, assim como no regime de autorização de pesquisa, a portaria de lavra é outorgada independentemente da anuência do superficiário. Assim, seu domínio é restringido na medida em que o título onera a propriedade por tempo indefinido para a execução de todas as atividades

previstas. Esta aparente “agressão” ao direito de propriedade, tão contestada por proprietários indignados que vêem uma limitação ao domínio legítimo sobre bem de raiz, e obrigados a abrir mão da função que previam para as suas terras, na realidade nada mais é que uma imposição legítima para predominar uma atividade de interesse público sobre outra de interesse predominantemente privado.

Neste sentido, com a Resolução SMA n. 4, de 22.01.1999, que disciplina o licenciamento ambiental integrado das atividades minerárias no Estado de São Paulo, o órgão ambiental exige a anuência do proprietário do solo onde se localizar o empreendimento para a concessão da Licença de Instalação do empreendimento. (SÃO PAULO, 1999).

Este requisito foi muito criticado à época e suscitou discussão jurídica acerca da atuação do órgão ambiental, posto que o direito de prioridade acabou com o primitivo direito de preferência do proprietário.

O Código de Minas de 1967, já na sua redação original suprimiu o antigo direito de preferência do proprietário, do solo (Constituição Federal de 1946, art. 153, § 1º), cuja aplicação não demonstrou na prática atender aos anseios da política minerária nacional, substituindo-o pelo direito de prioridade e via de conseqüência garantindo ao proprietário o direito de participação

nos resultados da lavra (Constituição Federal de 1967, art. 161, § 2º e na atual Constituição

Federal, art. 176, § 2º). A prioridade assegura juridicamente o direito minerário de terceiros interessados em investir na pesquisa e posteriormente na lavra, visa incrementar o aproveitamento dos recursos minerais e garantir o abastecimento nacional, conforme item 25 da Exposição de Motivos do texto original de 1967.

A resolução está sendo discutida com propostas de alterações no Conselho Estadual de Meio Ambiente - CONSEMA, porém não será contemplada neste estudo.

As hipóteses de caducidade são as mesmas relacionadas no regime de autorização de pesquisa, observando-se que no caso do não cumprimento ao disposto no art. 47 do CM, em se tratando de poluição de águas ou poluição do ar resultante dos trabalhos de mineração, a penalidade de caducidade pode ser imposta pelo Presidente da República, consoante o disposto no art. 102, II, do Decreto n. 62.934, de 02.07.1968 – Regulamento do Código de Mineração, c/c o art. 54, incisos XI e XII, do mesmo diploma legal, verbis: “[...] quando o infrator, embora multado por duas vezes no intervalo de um ano prosseguir no descumprimento das determinações da fiscalização”. (BRASIL, 2000).

O art. 47 do CM ainda determina que: “Ficará obrigado o titular da concessão, além das condições gerais que constam deste Código, ainda, às seguintes condições, sob pena de sanções previstas no Cap. V: ...X – evitar o extravio das águas e drenar as que possam ocasionar

danos e prejuízos aos vizinhos; XI – evitar poluição do ar ou da água que possam resultar dos

trabalhos de mineração; XII – proteger e conservar as fontes, bem como utilizar as águas segundo os preceitos técnicos, quando se tratar de jazida da classe VIII (jazida de águas minerais”.(BRASIL, 2000, grifos acrescentados).

Há, portanto, expressamente o dever ambiental do concessionário da lavra de não poluir o ar e/ou as águas.

Neste sentido Machado (2004, p. 644), adverte que “[...] o Código de Mineração não concorda com a poluição tolerada das normas de emissão outorgada pelos órgãos ambientais. O Código veta a poluição e, dessa forma, obriga a utilização da melhor tecnologia disponível no mercado nacional e/ou internacional”.