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CAPÍTULO II DIREITO CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO

II.III. Princípios Constitucionais Tributários

O poder de tributar não é ilimitado. Segundo Nogueira (1965: p. 8-9), “o

exercício do poder tributário, no Estado de direito, está limitado por normas. O Estado tem direito às prestações tributárias nos termos do Direito como também só nos termos do Direito está o contribuinte a elas obrigado”.

Essas limitações do poder de tributar36 advêm principalmente dos princípios constitucionais, os quais impedem uma tributação arbitrária e injusta. Como acentua Amaro (2009: p.106, 107):

a Constituição fixa vários balizamentos, que resguardam valores por ela reputados relevantes, com atenção especial para os direitos e garantias individuais. O conjunto dos princípios e normas que disciplinam esses balizamentos da competência tributária corresponde às chamadas

limitações do poder de tributar.

A face mais visível das limitações do poder de tributar desdobra-se nos

princípios constitucionais tributários e nas imunidades tributárias (...)

Desse modo, as chamadas “limitações do poder de tributar” integram o conjunto de traços que demarcam o campo, o modo, a forma e a

intensidade de atuação do poder de tributar (ou seja, do poder, que emana

da Constituição, de os entes políticos criarem tributos).

O que fazem, pois, essas limitações é demarcar, delimitar, fixar fronteiras ou limites ao exercício de poder de tributar.

Os princípios exercem papel de diretrizes, guias, nortes para compreensão do Direito37. São normas que carregam consigo valores consagrados no ordenamento jurídico e que, portanto, interferem diretamente na interpretação jurídica e, consequentemente, na determinação da conduta regulada.

Nas lições de Carvalho, P. (1991: p. 147), o termo princípio é utilizado para “apontar normas que fixam importantes critérios objetivos, além de ser usado,

36 Tal expressão – limitações do poder de tributar - foi utilizada pelo próprio Constituinte, para nomear a Seção II, composta pelos artigos 150, 151 e 152, do Título VI (“Da tributação e do Orçamento”) da CF. “Limitações do poder de tributar correspondem, mais do que nunca, se considerarmos as Cartas Magnas

anteriores, a um rol extenso, o mais amplo daqueles existentes em constituições escritas. São princípios, direitos e garantias fundamentais, que se interpenetram em profusão, enfeixando-se no Estado Democrático de Direito”. (Cf. DERZI. 2010: p. 3).

37 Nas lições de Mello, C. (2010: p. 54), o princípio constitui “mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhe o espírito e servindo de critério para exata compreensão e inteligência delas, exatamente porque define a lógica e a racionalidade do sistema normativo, conferindo-lhe a tônica que lhe dá sentido harmônico”.

igualmente, para significar o próprio valor, independentemente da estrutura a que está agregado e, do mesmo modo, o limite objetivo sem a consideração da norma”.

Tal opinião tem o abono de Coêlho (2007: p. 82), ao lecionar que

o que caracteriza os princípios é que não estabelecem um comportamento específico, mas uma meta, um padrão. Tampouco exigem condições para que se apliquem. Antes, enunciam uma razão para a interpretação dos casos. Servem, outrossim, como pauta das leis, a elas sobrepondo.

A noção das expressões supremacia constitucional e interpretação conforme

a Constituição, aliás, têm por base o raciocínio lógico de que, diante de várias

possibilidades interpretativas, se opte pela mais coerente com os princípios constitucionais. A exegese deve, sempre, levar em conta o conteúdo semântico dos princípios consagrados no sistema38.

De acordo com Schoueri (2011: p. 265):

no Direito Tributário, os princípios surgem ainda com mais vigor, já que não são apenas fruto de pesquisa do cientista, mas objeto da atividade do legislador. Do emaranhado de normas editadas pelos mais diversos escalões, extraem-se normas que se prestam para indicar valores do ordenamento, positivados e que servem de vetores para o conhecimento do Direito Tributário. São elas os princípios jurídicos, valores cuja importância é reconhecida pelo legislador, inclusive o legislador constituinte, e cuja observância espera-se tanto do próprio legislador como do aplicador da norma tributária.

No sistema constitucional tributário existem diversos princípios (princípios constitucionais tributários), implícitos e expressos39, que exercem papel fundamental na sistemática de tributação, ditando as regras do jogo. O respeito incondicional aos princípios constitucionais revela-se como dever do Estado.

Nesse sentido, manifestou-se o Supremo Tribunal Federal40:

38 Miranda, J. (1991: p. 226) pensa de maneira semelhante: “a ação mediata dos princípios consiste, em primeiro lugar, em funcionarem como critérios de interpretação e de integração, pois são eles que dão a coerência geral do sistema”.

39 “O princípio implícito não difere senão formalmente do expresso. Têm ambos o mesmo grau de positividade. Não há uma positividade “forte” (a expressa) e outra “fraca” (a implícita). Um princípio implícito pode muito bem ter eficácia (= produzir efeitos) muito mais acentuada do que um princípio expresso”.

(BORGES, RDT nº 63: p. 207).

O exercício do poder tributário, pelo Estado, submete-se, por inteiro, aos modelos jurídicos positivados no texto constitucional que, de modo explícito ou implícito, institui em favor dos contribuintes decisivas limitações à competência estatal para impor ou exigir, coativamente, as diversas espécies tributárias existentes. Os princípios constitucionais tributários, assim, sobre representarem importante conquista político- jurídica dos contribuintes, constituem expressão fundamental dos direitos individuais outorgados aos particulares pelo ordenamento estatal. Desde que existem para impor limitações ao poder de tributar do Estado, esses postulados têm por destinatário exclusivo o poder estatal, que se submete à imperatividade de suas restrições.

Os princípios constitucionais tributários, como se vê, possuem enorme relevância no sistema jurídico. Violar um princípio significa uma ofensa ao sistema jurídico como um todo. Transgredir uma norma deste patamar, pois, constitui grave forma de inconstitucionalidade.

Em linhas gerais, o sistema constitucional tributário contém princípios genéricos, aplicáveis à própria técnica de tributação (legalidade, igualdade, capacidade contributiva etc.) e princípios específicos de cada espécie tributária (pessoalidade, progressividade, seletividade etc.). Sem a mínima pretensão de esgotá-los, para o deslinde do trabalho, é conveniente fazer breves considerações sobre os princípios republicano, federativo, da legalidade, igualdade, irretroatividade, anterioridade, capacidade contributiva e segurança jurídica.