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1. A TESSITURA DOS RUMOS INVESTIGATIVOS

1.3. Procedimentos e instrumentos

A busca de informações sobre as questões investigadas suscitou o uso de instrumentos que possibilitaram a coexistência de diálogos, expressando a trama social constituída de forma espontânea, oferecendo subsídios relevantes e instigantes para a definição dos rumos da pesquisa.

Os instrumentos, definidos conforme o foco desta investigação, possibilitaram a obtenção de relevantes informações. Para produzi-los tornou-se imprescindível rever o que foi proposto no projeto de pesquisa: quais procedimentos haviam sido anunciados, quais as situações e interlocutoras se articulavam com cada um deles. Iniciei a elaboração dos roteiros quando estava finalizando o projeto de pesquisa, organizando os aspectos abordados em cada um de seus eixos. Quando comecei a realizar as observações, foi necessário finalizar a organização do roteiro, retomando a leitura do arcabouço teórico produzido, e considerando o que havia sido priorizado nos objetivos da pesquisa. Pude perceber a importante interdependência teórico-metodológica que orientou a investigação. Elaborei três roteiros, um para nortear a observação das situações de educação continuada (Apêndice B), outro se referindo ao trabalho docente (Apêndice C), e o terceiro sobre a coordenação pedagógica (Apêndice D). Os itens pontuados permitiram organizar os achados, observando as questões que ainda precisavam ser investigadas.

Por meio das observações, acompanhei, sistematicamente, as atividades realizadas no CEF 18 durante o primeiro semestre de 2007, gravando-as. Estive no campo de pesquisa por 342 horas - desde o primeiro dia de retorno dos professores, em 2007, momento em que se iniciou a Semana Pedagógica e lá permaneci até o recesso de julho. Durante o segundo semestre, continuei observando o curso proposto pelo CRA aos professores atuantes no BIA, e observei alguns momentos de coordenação pedagógica, o fórum de coordenadores e o trabalho realizado em sala de aula, entre agosto e setembro, totalizando 26 horas. Ao todo a pesquisa foi desenvolvida em, aproximadamente, 368 horas. Conforme os fatos aconteciam, fui organizando os achados, considerando os objetivos previstos. As observações foram realizadas de acordo com o rumo apontado pelas necessidades que envolvem o trabalho docente. Observei as atividades desenvolvidas no espaço/tempo da coordenação pedagógica, o trabalho realizado, em sala de aula e as situações de educação continuada - curso, oficinas, palestras e fórum. A situação vivenciada impeliu-me a participar do curso promovido no CRA

(2007) e de algumas atividades ocorridas na escola, como o Reagrupamento Interclasse e o Projeto Interventivo, o que será apresentado posteriormente.

O Calendário Escolar do ano de 2007 propôs a realização do Encontro Pedagógico16 na primeira semana, incluindo dentre as atividades previstas, a escolha de turma. Oportunidade que permitiu a definição das três professoras atuantes nas diferentes etapas do BIA e da coordenadora pedagógica da escola, deixando indefinido o cargo para coordenação deste CRA.

A escolha das professoras docentes ocorreu num convite à equipe do BIA, após a apresentação das intenções da pesquisa, realizada no momento da coordenação pedagógica, em fevereiro de 2007. Nesse momento, argumentei que necessitaria de cinco interlocutoras, sendo uma professora de cada uma das etapas e as coordenadoras pedagógicas do BIA e do CRA. Logo duas professoras, uma da etapa I e outra da etapa II apresentaram interesse em desenvolver o trabalho comigo. Na etapa III, todas as professoras se disponibilizaram a participar. Na intenção de manter o equilíbrio entre o número de interlocutoras, realizei um sorteio entre elas, definindo a terceira interlocutora. A coordenadora do BIA havia sido escolhida pelo grupo, mas diante da situação político-educacional, ficaria em sala de aula até que chegasse uma professora para substituí-la, e até aquele momento, ainda não havia coordenadora para o CRA/CEF 18.

Além das observações, realizei entrevistas semi-estruturadas com todas as participantes da pesquisa, totalizando, aproximadamente 4 horas. Momentos anteriores às entrevistas foram dedicados ao seu planejamento. Para realizar esse procedimento foi necessário organizar um outro instrumento, o roteiro para cada uma das entrevistas. Para elaborá-los foi necessário rever os três roteiros produzidos anteriormente, considerando os pontos neles destacados, ou seja, as idéias abordadas em cada eixo do projeto de pesquisa; os objetivos propostos e quais situações relacionavam com quais interlocutoras. Organizei um quadro entrelaçando-os. A partir desse quadro, elaborei o roteiro para a entrevista com cada uma das interlocutoras: roteiro para a entrevista com as professoras regentes e coordenadora do BIA no CRA/CEF 18 (Apêndice E); roteiro para a entrevista com a coordenadora do CRA/CEF 18 (Apêndice F). No momento de discussão com a orientadora desta pesquisa, fomos revendo e redefinindo algumas questões para que o objetivo previsto fosse atingido. Logo em seguida, realizei a testagem da entrevista com uma professora não participante da pesquisa, mas com características semelhantes, observando a clareza e objetividade dos

questionamentos, bem como o tempo utilizado para realizá-la. Foram, aproximadamente, 30 minutos.

As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas em momentos diferenciados, pois imprevistos aconteceram, impedindo a execução do planejamento organizado. Num primeiro momento, a conversa envolveu duas professoras regentes, porque, quando fui entregar o convite17, uma delas informou-me que, naquela semana, iria usufruir o direito do abono e do Tribunal Regional Eleitoral. Dessa forma foram entrevistadas inicialmente as professoras das etapas II e III, e em outro momento a professora da etapa I. Assim que foram definidas as coordenadoras pedagógicas do CRA/CEF 18 e do BIA no CEF 18, realizei a entrevista, com cada uma delas, em separado. O tempo médio utilizado em cada uma das quatro entrevistas correspondeu a, aproximadamente, 1hora. Todas as entrevistas transcorreram como uma conversa descontraída em que o assunto fluiu naturalmente, permitindo que relevantes informações fossem contempladas durante o diálogo.

A análise documental tornou-se fundamental para esta pesquisa, possibilitando o resgate do contexto sócio-histórico, permitindo o desvelar de informações importantes sobre o processo de construção da proposta educacional do Governo do Distrito Federal (GDF), para a implantação do Ensino Fundamental de Nove Anos. Permitiu o conhecimento de sua implantação, em especial, na cidade de Taguatinga, no Centro de Ensino Fundamental 18 – Centro de Referência em Alfabetização.

Buscando conhecer o processo de elaboração da proposta para o Ensino Fundamental de nove anos no Distrito Federal, foi necessário pesquisar alguns documentos que abordavam a legislação e outros organizados nessa intenção, conforme expressa o quadro 3:

Quadro 3 – Documentos sobre educação

Assunto Documentos

Declaração Mundial sobre Educação para Todos Declaração de Dakar

Educação: declarações internacionais

Acordo Punta del Leste e Santiago Lei 9394/96

Parecer 18/2005 Educação no Brasil

Projeto de Lei 144/2005

Lei n. 10.172/2001 - Plano Nacional de Educação Ensino Fundamental de Nove Anos - Orientações Gerais (2004)

Lei 11.114/2005 Ampliação do Ensino Fundamental

de Nove Anos

Lei 11.274/2006

Assunto Documentos

Educação Superior Resolução n° 1 do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno - CNE/CP - de 2006

Para conhecer a proposta do Ensino Fundamental de Nove Anos, elaborada pelo governo do Distrito Federal, foi necessário analisar os documentos relacionados no Quadro 4:

Quadro 4 – Documentos relacionados ao BIA

Assunto Documentos

Indicação n°5 (1966)

Documento Ensino Primário no Distrito Federal (1969) Cadernos da Escola Candanga

Projeto ABC: Estudos Experimentais em Alfabetização. Relatório – Separata

Documento-Síntese norteador para implementação do Ciclo Básico de Alfabetização – CBA: Orientação Pedagógica n° 4 (1989)

Educação no DF Parecer n° 53/89 – CEDF (1989) Lei 3.483/2004 Decreto nº 25.617/2005 Ampliação do Ensino Fundamental de

Nove Anos no DF Portaria nº 283/2005

Orientações gerais para o ensino fundamental de 9 anos: Bloco Inicial de Alfabetização (versão preliminar, 2005)

Orientações gerais para o Ensino Fundamental de 9 anos: Bloco Inicial de Alfabetização (versão revista, 2006)

BIA

Orientações gerais para o Ensino Fundamental de 9 anos: Bloco Inicial de Alfabetização – Proposta Pedagógica (versão revista, 2006)

Plano de Ação (2006)

Cronograma de Trabalho dos CRA e NCP 2º Semestre (2006)

Planejamentos das oficinas, palestras e fórum de coordenadores (2006) Cronograma de Trabalho dos CRA e NCP - 2º Semestre Planejamento para o semestre DEIF

CRA/CEF 18 2006

Portaria 30/2006/SEEDF Plano de Ação (2007) Programação do curso 2007 CRA/CEF 18 2007

Planejamentos das oficinas, palestras e fórum de coordenadores (2007) Projeto Político Pedagógico 2006 e 2007

CEF 18

Modulação 2007

Planejamentos das Coordenações Coletivas Trabalho Docente Planejamentos de aula

O acesso à documentação referente ao CEF 18 foi facilitado pela equipe de sua direção, que a disponibilizou prontamente à medida que foram sendo necessários à pesquisa. A prática da gestão democrática que impulsiona as atividades escolares norteia as ações

conduzidas por este grupo, de forma que pude manusear e adquirir cópia de todos os documentos que forneceram importantes informações sobre esta realidade escolar. Tive livre acesso ao Projeto Político Pedagógico, à modulação com os dados sobre a instituição, bem como a toda documentação recebida e expedida em nome dessa instituição. Também pude presenciar, livremente, todos os acontecimentos ocorridos no âmbito escolar, tais como reuniões administrativas e pedagógicas, salas de aula, festas, estudos, oficinas, coordenações coletivas, planejamentos, dentre outros.

A trama tecida na pesquisa foi apresentada ao grupo de professores da escola desencadeando uma discussão sobre as análises realizadas pela pesquisadora.

Por meio da análise dos documentos e da ampla participação nesse cenário educacional, foi possível conhecer as nuanças que envolveram o trabalho docente proposto pelo BIA e desenvolvido pelas professoras desta escola, entrelaçando-os à complexidade educacional cotidiana em que ocorreram.

A análise dessas informações ocorreu desde o início da pesquisa e acompanhou todo o seu processo. Muitas delas foram obtidas mediante a análise das anotações e registros, por mim realizados, enquanto vivi o processo de implantação do BIA nesta escola, no ano de 2005 e 2006, como professora regente e coordenadora do BIA.

Busquei tecer relações rizomáticas entre o lido e o vivido, confrontando minhas interpretações com a realidade investigada nos diversos contatos com as interlocutoras. Essas construções foram articulando-se com os subsídios oferecidos pelo arcabouço teórico elaborado durante a participação em simpósios, seminários, congressos e encontros com os professores das disciplinas cursadas no Mestrado.

A pesquisa em si foi elaborada e reelaborada diversas vezes, o que demandou um processo de reelaboração contínuo, em que o respeito, o companheirismo, a sabedoria e o incentivo foram marcantes nos momentos de discussões ocorridos entre orientadora e pesquisadora.

A trama apresentada nesta pesquisa constituiu-se nas inter-relações rizomáticas tecidas durante todo o processo de pesquisa com acontecimentos que a antecederam e com aqueles produzidos em seu percurso. O que pode ser representado pelo rizoma, apresentado por Dandolini e Brito (2005) como a figura de uma raiz, conforme expresso na figura 8. Neto e Costa (2000: 14), na tradução da idéia de Deleuze e Guattari (1995), dizem que “os bulbos, os tubérculos, são rizomas” se ramificam em diferentes sentidos. O “rizoma nele mesmo tem

formas muito diversas, desde sua extensão superficial ramificada até suas concreções em bulbos e tubérculos” (1995: 15).

O desenho do rizoma simboliza o emaranhado de situações que se articularam para compor esta pesquisa, como algo que “tem como tecido a conjunção ‘e... e... e. ’” como explicam Neto e Costa (2000: 4), tendo como pano de fundo as orientações realizadas pela professora

orientadora da pesquisa. As situações apresentadas no decorrer da análise resultaram de diversos e de diferentes acontecimentos que se juntaram para significá-lo. Sendo assim o processo rizomático de elaborar/reelaborar a investigação pode ser graficamente representado conforme a figura 9:

Figura 9 – Rizoma da produção da pesquisa

Elaborado pela pesquisadora a partir das idéias de Deleuze e Guattari (1995) apresentadas por Neto e Costa (2000) e Dandolini e Brito (2005).

Figura 8 – Rizoma

A complexidade rizomática, que envolve o contexto educacional, apresentada dessa forma possibilita compreender que tudo o que se passa dentro e fora dele, nele incide, sendo “um mapa que deve ser produzido, construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com múltiplas entradas e saídas”, como definem Neto e Costa (2000: 32). Assemelha-se à realidade educacional que vive um intenso e pulsante movimento; um ir e vir, prosseguir, voltar, inovar, renovar; ou seja, um ressignificar constante, como será apresentado nos achados desta pesquisa, que se inicia com a apresentação do processo de institucionalização do Ensino Fundamental de Nove Anos em uma escola da rede pública do Distrito Federal.

2. BLOCO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO E CENTRO DE REFERÊNCIA EM