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Para realizar esta pesquisa, adotamos a abordagem qualitativa de caráter empírico- teórico e utilizamos, como instrumentos de coleta de dados, entrevista semiestruturada e grupo focal. A opção pela abordagem qualitativa decorreu do fato de não termos como objetivo quantificar, generalizar, nem padronizar dados; correspondeu ao desejo de compreender os modos de interação, os discursos, e as peculiaridades que incidem no ambiente escolar em função da inclusão de crianças com TEA nesse espaço; e considerou que o termo qualitativo “[...] implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais, que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível” (CHIZZOTTI, 2003, p. 221).

O questionário com questões abertas foi eleito como instrumento para a coleta de dados por acreditarmos que o mesmo contribui no sentido de atingir o objetivo proposto, pois

[...] o pesquisador qualitativo, que considera a participação do sujeito como um dos elementos de seu fazer científico, apoia-se em técnicas e métodos que reúnem características sui generis, que ressaltam sua implicação e da pessoa que fornece as informações (TRIVIÑOS, 1987, p. 138).

A realização de entrevista semiestruturada com os profissionais envolvidos no processo de escolarização de crianças com TEA, com os familiares e com a própria criança com esse transtorno foi considerada adequada ao nosso propósito por se tratar de uma prática discursiva, “[...] situada e contextualizada, por meio da qual se produzem sentidos e se constroem versões da realidade” (PINHEIRO, 2000, p. 184), possibilitando, portanto, a percepção da opinião e do posicionamento dos diversos sujeitos implicados nesse processo de escolarização. Com relação às demais crianças, colegas de sala das crianças com TEA, avaliamos, por concordar com Gatti (2012), que a realização de grupo focal promoveria uma geração de dados significativa, considerando os processos de interação e de colaboração presentes no contexto pedagógico. Essa abordagem, em nosso entendimento, revelaria percepções, crenças e posicionamento necessários à pesquisa.

Tendo em vista essa proposta de coleta, participaram das entrevistas semiestruturadas os gestores das escolas, professores que atuam no processo de escolarização da criança com TEA, funcionários das escolas, familiares das crianças com TEA, um técnico do Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado (CAPE), e um promotor de justiça do Grupo de Atuação Especial de Educação (GEDUC) do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP). Os alunos matriculados na mesma turma que as crianças com TEA participaram de grupo focal. Procuramos, desta forma, coletar diferentes olhares e vivências referentes ao objeto da pesquisa.

De acordo com Triviños (1987), por meio do estudo de caso torna-se possível analisar profundamente determinada situação e ampliar a complexidade do exame à medida que se aprofunda no assunto. Para Lüdke e André (1986, p. 19),

Os estudos de caso buscam retratar a realidade de forma completa e profunda. O pesquisador procura revelar a multiplicidade de dimensões presentes numa determinada situação ou problema, focalizando-o como um todo. Esse tipo de abordagem enfatiza a complexidade natural das situações, evidenciando a inter-relação dos seus componentes.

Com base nos critérios expostos, após a determinação do tema, do delineamento do projeto e das questões, seguiu-se a coleta de informações em duas escolas com alunos de anos iniciais do ensino fundamental da rede estadual de ensino paulista. A decisão por investigar o processo de escolarização de crianças com TEA em escolas desta rede de ensino se deu pela

proximidade e experiência que a pesquisadora tem com essa rede de ensino, conforme explanado na apresentação desta dissertação, tanto quanto pela possibilidade de aprofundar a reflexão sobre o tema em escolas com Salas de Recursos e professores especializados, ou seja, com as condições exigidas nos documentos legais para que essa inclusão se realize de forma efetiva, conforme veremos no Capítulo 3.

O primeiro conjunto de entrevistas ocorreu na Escola Órion, após um primeiro contato com o grupo gestor, no qual os objetivos da pesquisa foram expostos, o convite para a participação da equipe dessa unidade escolar na pesquisa foi formalizado, e a confirmação da disponibilidade em participar reiterada. Estreitamos o contato com professores, funcionários e a mãe da criança com TEA que se dispôs a participar da pesquisa, mais uma vez esclarecendo os objetivos da mesma. Na sequência, entrevistamos individualmente os gestores, a professora da sala comum, a professora da Sala de Recursos, a professora de arte, e a mãe da criança com TEA. Após as entrevistas individuais, crianças matriculadas na mesma classe do aluno com TEA foram convidadas a participar do grupo focal. O grupo foi composto por seis crianças, que prontamente se dispuseram a participar da pesquisa. Cabe ressaltar que a entrevista foi realizada em um espaço tranquilo, próximo às salas de aula e mediada pela pesquisadora.

O segundo conjunto de entrevistas ocorreu na Escola Sirius, e a dinâmica adotada na Escola Órion se repetiu, qual seja, as entrevistas foram realizadas após um primeiro contato com o grupo gestor, no qual os objetivos da pesquisa foram expostos, o convite para a equipe dessa unidade escolar participar da pesquisa foi formalizado e a confirmação da disponibilidade em participar reiterada. Estreitamos o contato com professores, funcionários e a mãe da criança com TEA; esclarecemos os objetivos da pesquisa e, na sequência, entrevistamos individualmente os gestores, a professora da sala comum, a professora da Sala de Recursos, a professora de arte, e a mãe da criança com TEA. Após as entrevistas individuais, as crianças matriculadas na mesma classe do aluno com TEA foram convidadas a participar do grupo focal, que foi composto por seis crianças que se dispuseram a participar da pesquisa. A entrevista foi realizada em um momento tranquilo, na sala dos professores, e mediada pela pesquisadora.

Após um primeiro contato com a Diretora do CAPE, órgão da SEE/SP, atendendo à sua solicitação, as questões foram encaminhadas por e-mail e as respostas retornaram também por e-mail.

O primeiro contato com o GEDUC do MPSP foi estabelecido por e-mail, no qual informamos dados da pesquisa e encaminhamos as questões a serem respondidas por um representante desse órgão. Na sequência, recebemos como resposta que seria possível agendar a

entrevista. A entrevista foi agendada para a semana seguinte e as questões foram respondidas pessoalmente pelo 1º promotor de justiça do GEDUC, Dr. João Paulo Faustinoni e Silva.

Antes da realização das entrevistas, o Termo de Consentimento foi entregue aos participantes e ficou acordado que as entrevistas realizadas por meio de questões previamente elaboradas, embasadas em um roteiro semiestruturado centrado no tema, seriam gravadas, serviriam de matéria-prima para a análise do conteúdo e seriam apagadas após transcrição, conferência da transcrição e análise dos dados.

O objeto desta pesquisa, conforme apresentado na introdução, é a análise da perspectiva emancipadora no processo de escolarização de crianças com TEA matriculadas nos anos iniciais do ensino fundamental de duas escolas da rede estadual de ensino paulista e, em função do mesmo, consideramos as seguintes dimensões: percepções sobre inclusão; como são caracterizados os alunos com TEA; comunicação entre a escola e a família; discussões sobre inclusão; articulação e planejamento do trabalho voltado à inclusão da criança com TEA; propostas de intervenção; a prática pedagógica; a escola real e a escola desejada.

Em consonância com Franco (2008), se propôs como ponto de partida para a compreensão das situações e a complexidade que as envolve o conteúdo manifesto em diálogo com o referencial teórico, pois

[...] uma questão temática incorpora, com maior ou menor intensidade, o aspecto pessoal atribuído pelo respondente acerca do significado de uma palavra e/ou sobre as conotações atribuídas a um conceito. E isso, com certeza, envolve não apenas comportamentos racionais, mas também ideológicos, afetivos e emocionais. (FRANCO, 2008, p. 42-43).

Os documentos oficiais relacionados ao tema foram considerados na análise por, como afirma Lüdke e Andre (1986), constituir-se de técnica valiosa no sentido de complementar as informações e desvelar aspectos relevantes do problema em estudo.

Além disso, a análise do conteúdo desta pesquisa foi acompanhada de inferências não arbitrárias, que se encontram embasadas no referencial teórico, tendo como pressuposto as respostas às questões da pesquisa e a análise documental. Para tanto, consideramos a afirmação de Franco (2008), de que toda a mensagem contém informações potenciais, sendo o pesquisador um selecionador capaz de interpretar de acordo com o seu quadro de referência.

CAPÍTULO 2

O PERCURSO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO

BRASIL

4 CAPÍTULO 2 – O PERCURSO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL