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AGRICULTURA E O AGRONEGÓCIO 156 5.1 Território e Conflito Ambiental

6 AS FLORES DESENHANDO A LUTA PELA ÁGUA 230 1 Projetos coletivos de defesa da água

2.5 Procedimentos Metodológicos

A partir das considerações alusivas aos princípios da pesquisa participante e à forma como eles compõem este trabalho, saliento que a investigação aqui apresentada realiza uma abordagem qualitativa e utiliza como técnicas o levantamento bibilográfico, a análise documental, a observação participante, a realização de entrevistas semiestruturadas e os registros em diário de campo.

O levantamento bibliográfico consistiu na coleta e na análise de informações

relacionadas, especialmente, às categorias “direito humano à água”, “convivência com o

semiárido”, “território”, “Política Nacional de Irrigação” e “outorga de direito de uso da água”.

O levantamento documental, por sua vez, consistiu na coleta e na análise de documentos oficiais relativos ao Perímetro Irrigado de Santa Cruz; ao direito humano à

água; às políticas de irrigação e recursos hídricos formuladas pelo Banco Mundial e pelo Estado Brasileiro e à caracterização específica do território camponês de Apodi.

Já a observação participante consistiu no acompanhamento e na análise das informações colhidas durante as oficinas de construção, revalidação e restituição da cartografia social; as reuniões de planejamento com o STTRA, o Labocart e a CPT; a audiência pública com o IGARN e as apresentações ao Fórum da Agricultura Familiar de

Apodi. Contou, ainda, com o auxílio de registros fotográficos, gravações de áudios40 e

anotações em diário de campo.

Esse processo de observação participante foi complementado, ainda, por entrevistas semiestruturadas realizadas em outubro de 2015 e janeiro e março de 2016. Em sua elaboração, tais entrevistas levaram em consideração as observações de Boni e Quaresma

(2005) e as indicações de roteiro formuladas por Manzini (2004)41.

Para elas, foram selecionadas doze pessoas, que representaram, na pesquisa, parte dos sujeitos envolvidos nas expressões do conflito pela água em Apodi. Nesse sentido, foram ouvidos dois representantes do Vale; quatro da Chapada; um da Areia e um da Pedra, no intuito de contemplar, qualitativamente, todas as regiões camponesas do município.

O critério para a escolha dos(as) representantes das comunidades foi a participação no Fórum da Agricultura Familiar de Apodi, nas oficinas de cartografia social e, especialmente, no Sindicato dos(as) Trabalhadores(as) Rurais, visto que essa é a principal instância de formação, mobilização e articulação política dos(as) agricultores(as) no

município42 . Tentou-se privilegiar, também, a escuta das mulheres camponesas,

destacando-se, entre os(as) entrevistados(as), duas mulheres da Chapada e uma mulher da Areia.

40 Grande parte dessas gravações terminaram parcialmente comprometidas devido à própria dinâmica dos

espaços em que foram realizadas, pois havia um grande número de pessoas em cada evento e muitos deles ocorreram em locais abertos, o que dificultou a captação do som em virtude dos ventos da região.

41 Como já foi sinalizado, as entrevistas são apresentadas ao longo de todo o texto, pois elas traduzem conhecimentos significativos à metodologia, ao referencial teórico, à caracterização do território e à análise. No processo de transcrição, optou-se por evidenciar as falas com o máximo de proximidade às palavras, aos gestos, às emoções e aos silêncios dos(as) entrevistados(as). Assim, de forma geral, o(a) leitor(a) não encontrará alterações profundas entre aquilo que foi expresso na oralidade e aquilo que está registrado na dissertação. O máximo que se fez, em alguns momentos, foi suprimir determinadas partes das falas ou acrescentar, em colchetes, algumas explicações ou letras com o objetivo de dar fluidez à leitura e permitir um melhor entendimento do que estava sendo compartilhado.

42 Nesse sentido, evidencio que as duas mulheres da Chapada e os dois representantes do Vale compõem a

Além dos(as) representantes das comunidades, foram entrevistados uma representante do Centro Terra Viva (em razão da entidade realizar projetos de assistência técnica em Apodi desde 1997); um membro da Comissão Pastoral da Terra (em virtude da organização acompanhar a luta por direitos territoriais das comunidades camponesas de Apodi desde a década de 1980) e dois agentes do Estado (representados por servidores da Secretaria Municipal de Agricultura que estavam trabalhando diretamente com a temática das outorgas de direito de uso da água).

Enfatizo, ainda, que o processo de elaboração e realização das entrevistas foi tecido em parceria com Santos (2016) e que dividimos os temas das perguntas para que ela abordasse as mais diretamente relacionadas à agricultura camponesa e eu, as mais diretamente relacionadas à água.

Isso contribuiu para que aprofundássemos os elementos reiterados durante as oficinas de confecção e revalidação dos mapas; dirimíssemos nossas dúvidas em relação a determinados aspectos abordados durante essas oficinas e acentuássemos nossa análise de como as comunidades de Apodi vivenciam uma “dimensão camponesa da água”, plenamente associada à produção e ao modo de vida que constroem. Avaliamos, porém, que realizar as entrevistas de forma coletiva acabou se tornando muito cansativo para os(as) participantes, vez que cada momento durou, em média, uma hora e meia.

Diante do conflito ambiental vivenciado no território e da responsabilidade ética e política de nossas pesquisas, pedimos, ao final de cada entrevista, que os(as) participantes escolhessem o nome de um rio ou de uma árvore com o qual se identificavam para que

seus nomes fossem preservados no momento das transcrições 43 . Também nos

comprometemos a não revelar os nomes específicos das comunidades e dos assentamentos dos quais faziam parte. Assim, ao serem citados(as) ao longo do texto, eles(as) terão seus nomes fictícios apresentados em itálico e serão relacionados(as) apenas à região que representam, ao vínculo que estabelecem com determinadas instituições e/ou às profissões que exercem.

Junto às técnicas descritas, utilizei, ainda, os registros em diário de campo, que consistiram no processo de recolhimento de informações transversais a todos os momentos da pesquisa, com observação dos contextos físicos e simbólicos direta e indiretamente associados a ela (QUEIRÓS; RODRIGUES, 2006).

43 Isso não foi feito, todavia, com os representantes da Secretaria Municipal de Agricultura (os primeiros a serem entrevistados), razão pela qual o(a) leitor(a) encontrará, nas referências às falas desses agentes, apenas a indicação do órgão que integram.

Tais registros contribuíram para que eu realizasse um controle epistemológico e uma avaliação dos procedimentos técnicos que estava utilizando (QUEIRÓS; RODRIGUES, 2006). Além disso, pemitiram que agregasse um conjunto de notas

substantivas, metodológicas e analíticas44 (BURGESS apud QUEIRÓS; RODRIGUES,

2006) a todo o processo de construção da pesquisa e, paralelamente, foram importantes para que eu mantivesse o ritmo e o equilíbrio da ação-reflexão propostos por Borda (2006).

Nesse sentido, vislumbro o diário de campo como um arquivo de ideias (BURGESS apud QUEIRÓS; RODRIGUES, 2006), um ponto de apoio para a redação da dissertação e uma ferramenta séria e criativa de trabalho, que, por isso mesmo, exigiu tempo e perserverança de minha parte (QUEIRÓS; RODRIGUES, 2006).

Com o auxílio dele e das demais técnicas metodológicas, portanto, sistematizei e analisei os dados necessários à concretização dos objetivos apresentados no trabalho.

44As notas substantivas ou de observação caracterizam situações, sujeitos e comportamentos

(SCHATZMAN e STRAUSS apud QUEIRÓS; RODRIGUES, 2006). As metodológicas refletem sobre a heuristicidade e a adequação epistemológica das técnicas utilizadas; contribuem para o esforço de auto- análise relacionado ao papel do(a) pesquisador(a) e permitem trilhar caminhos metodológicos alternativos (SCHATZMAN e STRAUSS apud QUEIRÓS; RODRIGUES, 2006). As analíticas ou teóricas, por sua vez, condensam reflexões sobre como, ao longo da investigação, são tecidas as relações entre teoria e empiria (SCHATZMAN e STRAUSS apud QUEIRÓS; RODRIGUES, 2006). Logo, também se constituem como “linhas de perspectivação téorica a aprofundar” e como uma ferramenta de controle da heuristicidade das hipóteses de partida (QUEIRÓS; RODRIGUES, 2006, p. 5).

3 AS TERRAS: O REFERENCIAL TEÓRICO E A PROBLEMATIZAÇÃO