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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.2 ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DA AXADO

4.2.2 Momento 2: Entrada do investidor-anjo

4.2.2.2 Processo no momento 2

Como colocado anteriormente os empreendedores conheceram um investidor que se interessou pelo projeto e, partir de então muitas estratégias do negócio mudaram. Essas mudanças referem-se não apenas às ações e interações, mas na própria cultura organizacional que estava sendo criada até o momento. A seguir são listadas as principais ações de mudança do negócio no momento 2:

1) Protótipo: Com a entrada do investidor-anjo a pressão para que o produto fosse entregue aumentou consideravelmente. Como o investidor-anjo entendia de programação, o processo gerou mais pressão e a empresa entregou um protótipo do sistema que era apenas o início da parte final de desenvolvimento;

2) Plano de negócio: Como os empreendedores estavam com sobrecarga de trabalho na dupla jornada, contrataram duas mestrandas para fazer o plano de negócio da empresa e uma empresa para fazer o vídeo institucional. Tudo isso alinhado com o desejo de participar do concurso Buscapé;

3) Concurso Buscapé: Até iniciarem o concurso Buscapé todo o projeto ainda era sigiloso e pouco exposto ao mercado. A partir do momento em que os empreendedores entraram no concurso, novas ameaças poderiam surgir e outras empresas copiarem a ideia;

4) Investidor-anjo: Os empreendedores começaram as negociações com o investidor-anjo e após três reuniões todos chegaram a um acordo financeiro e de dedicação. Os empreendedores passariam a trabalhar com o objetivo de posteriormente venderem a outra empresa e trabalharem exclusivamente na Axado e o investidor entraria com capital e coaching para o negócio;

5) Novos produtos: Com a entrada do investidor-anjo, vieram novas idéias. Através de brainstorming foram criados quatro novos produtos para o negócio;

6) Planejamento estratégico: Empreendedores e investidor iniciaram um trabalho de planejamento estratégico para definir o que e quando cada atividade e produto seriam criados e entregues. Foram criadas estratégias também para entrada de novos investidores (fundo de investimentos);

7) Estrutura física: Com um plano estratégico definido, uma sala foi alugada para ser a nova sede da empresa;

8) Formação de equipe: Como planejado, foram feitas entrevistas e os empreendedores selecionaram uma estagiária para auxiliar no trabalho comercial, administrativo e operacional da Axado;

9) Dedicação aumentada: Um dos empreendedores começou a trabalhar na nova sala da Axado, para isso precisou negociar com os outros sócios da Metta. Além de negociar, fez a primeira proposta de venda, sem sucesso;

10) Fundo de venture-capital: Com a entrada do investidor os empreendedores começaram a participar de negociações com diversos fundos de investimento, principalmente na cidade de São Paulo. Tudo era financiado e preparado pelo próprio investidor-anjo.

Muitas das ações que aconteceram nesse segundo momento, segundo o empreendedor B, mostraram que estaria nascendo uma empresa de base tecnológica que iria definitivamente fazê-los sair da empresa Metta. E foi através do investidor-anjo que muita coisa começou a mudar na organização Axado. Até então, todas as decisões eram tomadas por dois empreendedores com pouca experiência de mercado e tecnologia.

O investidor-anjo, ex-diretor da Microsoft com muita experiência em gestão de empresas de tecnologia, passou a traçar novas possibilidades que os empreendedores até então não enxergavam. Segundo o investidor, os novos produtos vieram numa colaboração de idéias entre os três. Para o empreendedor B nada seria possível sem uma visão externa de alguém com muita experiência em tecnologia. As ações realizadas em parceria com o investidor-anjo levaram os empreendedores a se planejarem para vender a empresa Metta. O objetivo era que até dezembro/2011 vendessem a participação, para poderem se dedicar exclusivamente à empresa de tecnologia. Em paralelo a isso, diversas reuniões com empresas interessadas na tecnologia foram realizadas, e que serão citadas posteriormente.

As estratégias do segundo momento, segundo Miles e Snow (1978), passaram a ser prospectoras, pois com a entrada do investidor-anjo os empreendedores iniciaram uma busca constante por oportunidades mercadológicas. Tinham como objetivo encontrar soluções e respostas para as necessidades logísticas existentes no ambiente. Muitas dessas soluções começaram a serem criadas antes mesmo que as alterações ambientais ocorressem. Segundo o empreendedor A, o objetivo era criar mudanças (soluções) no ambiente organizacional de logística de transportes do Brasil.

Essas ações continuaram com o enfoque de Quinn e Voyer (1980) de incrementalismo, pois ainda de forma intuitiva, tiveram que criar soluções e ao mesmo tempo se adaptarem incrementalmente às mudanças tecnológicas do ambiente. Pela classificação de Oliveira (1991) a formulação de estratégias desse segundo momento foi proativa, pois foi motivada pela busca dos próprios empreendedores em encontrar melhores alternativas e aproveitar as novas oportunidades.

Já pela classificação de Hardy e Fachin (1996), essas estratégias são chamadas de empreendedoras, pois fizeram parte da visão (não articulada) dos líderes. Junto do investidor-anjo traçaram um plano estratégico e por isso se pode dizer que as estratégias são relativamente deliberadas, todavia não foram estratégias explicitadas formalmente em documentos, o que possibilitou aos empreendedores mudá-las rapidamente. Esse é um momento em que a empresa deixa de ter estratégias informais e começa, de forma empreendedora, a escrever um plano de ação formal.

Como colocado anteriormente, nesse momento os empreendedores tiveram uma visão sistêmica da oportunidade de negócio que seria a Axado. Pela tipologia de Wright et al. (2000) a estratégia predominante foi a empresarial, pois os gestores focaram em responder questões como “em quais negócios a organização deveria estar atuando”. Para Mintzberg (1998) foram estratégias deliberadas, pois tanto o plano de negócio quanto o planejamento foram criados e seguidos. Mesmo com adaptações e algumas estratégias emergentes, a predominância se deu de forma deliberada.

Segundo Mintzberg (2006), as formulações desse momento foram marcadas por tipologias: empreendedora e planejada. Empreendedora porque foi um intervalo marcado pela procura de novas oportunidades por parte dos empreendedores e investidor-anjo. Os empreendedores tiveram predominantemente incertezas ambientais, então algumas decisões emergentes foram tomadas incrementalmente de forma intuitiva pelos gestores. E planejado porque de maneira proativa, as ações foram previamente

planejadas em um processo lógico do plano de negócio e posteriormente pelo planejamento estratégico, que foi um planejamento racional.

Quadro 28 – Tipologias de formulação de estratégias

Autores Tipologias

Miles e Snow (1978) Prospectora Quinn e Voyer (1980) Intuitivo

Oliveira (1991) Proativa: motivadas pela busca do próprio gestor Hardy e Fachin (1996) Empreendedora

Wright et al. (2000) Empresarial Mintzberg (1998) Deliberada

Mintzberg (2006) Empreendedor; Planejado Fonte: Elaborado pelo Autor