• Nenhum resultado encontrado

PROCESSUAL CIVIL AÇÃO RESCISÓRIA AÇÃO POSSESSÓRIA DEPÓSITO PRÉVIO E LEGITIMIDADADE DAS PARTES PRELIMINARES REJEITADAS VIOLAÇÃO A

No documento Coleção Jovem Jurista 2010 (páginas 115-117)

CARLA RIBEIRO TULL

III. A NEGATIVA DA TUTELA POSSESSÓRIA AOS OCUPANTES DE BENS PÚBLICOS PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PELOS TRIBUNAIS

95 PROCESSUAL CIVIL AÇÃO RESCISÓRIA AÇÃO POSSESSÓRIA DEPÓSITO PRÉVIO E LEGITIMIDADADE DAS PARTES PRELIMINARES REJEITADAS VIOLAÇÃO A

DISPOSIÇÃO LEGAL E ERRO DE FATO. INOCORRÊNCIA. PEDIDOS IMPROCEDENTES. 1. Tendo a parte autora efetuado o depósito previsto no art. 488, II, do Código de Processo Civil, não procede a preliminar fundada na não efetivação desse depósito. 2. A eventual inocorrência das situações previstas no art. 485, V e XI, do Código de Processo Civil diz respeito ao mérito da ação rescisória, não implicando a inépcia da peça vestibular. 3. Tendo os autores fi gurado como partes no processo originário, eles ostentam legitimidade para fi gurar no pólo ativo da ação rescisória (art. 487, I, CPC). 4. A INFRAERO ostenta legitimidade e interesse para ajuizar ação possessória relativa a imóvel sob a sua jurisdição técnica, administrativa e operacional, bem como sob a sua responsabilidade e guarda. 5. A União ostenta legitimidade e interesse para fi gurar como assistente da INFRAERO em ação possessória (art. 1º, Lei 5.862/72), notadamente quando a propriedade do imóvel lhe pertence. 6. A ocupação de imóvel público por particulares há diversos anos, ainda que atendendo à sua função social, não lhes assegura a respectiva propriedade ou a continuidade da posse, visto que os bens públicos são imprescritíveis (arts. 183, §3º, e 191, parágrafo único, CF/88). Não há, pois, que se falar em violação dos arts. 5º, XXIII, 170, III, e 173, §1º, II, da Constituição Federal. 7. Inexiste ofensa aos arts. 1.228 e 2.035 do Código Civil de 2002, pois esses dispositivos não se aplicam retroativamente para alterar efeitos jurídicos pretéritos nem para desconstituir julgados anteriores à sua entrada em vigor. 8. O contrato de concessão de uso anteriormente fi rmado entre a INFRAERO e outros particulares e levado em consideração no acórdão rescindendo não implica ofensa ao art. 25, §2º, da Lei 8.987/95. 9. Não há que se falar em incompetência da INFRAERO para conceder serviço público, porquanto o caso envolve mera concessão de uso de imóvel. 10. O acórdão rescindendo não reconheceu nenhuma espécie de sublocação do imóvel público em favor dos ora autores, não restando caracterizado qualquer erro de fato. 11. O imóvel objeto da ação possessória foi sufi cientemente individualizado na respectiva petição inicial e documentos que a acompanharam, tendo sua localização sido posteriormente confi rmada pela prova pericial. 12. Não restando caracterizada nenhuma das situações previstas no art. 485 do Código de Processo Civil, os pedidos formulados na ação rescisória devem ser julgados improcedentes. 13. Pedidos rejeitados. (TRF1, Terceira Seção, AR 2005.01.00.017195-6, Rel. Des. João Batista Moreira, j. em 08.07.08, e-DJF1 21.07.08, unânime) – Grifos nossos.

96 ADMINISTRATIVO. BEM PÚBLICO. OCUPAÇÃO. FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE. INAPLICABILIDADE. 1. Como se depreende da interpretação sistemática dos incisos XXII a XXV do art. 5º da Constituição, o inciso XXIII, ao estabelecer que “a propriedade atenderá a sua função social”, se refere à propriedade privada, impondo o que alguns autores chamam de deveres sociais ao direito de propriedade, outrora concebido como absoluto e estritamente individual. Descabido, porém, invocar o dispositivo para reconhecer a função social da posse e permitir que particulares continuem a ocupar irregularmente o Jardim Botânico, bem do domínio público (Lei nº 10.316, de 6.12.2001), pois isto representaria repudiar a destinação legal do bem, voltada, ex auctoritate legis, ao bem-comum. 2. Além

pode ser oposta de modo a arredar a propriedade pública. Cumpre ressaltar que tal reconhecimento, conforme noticia o relatório do acórdão, afastou a sentença de 1º grau, que havia reconhecido a prevalência da função social da posse em detrimento do direito de propriedade da União, em atenção ao disposto nos arts. 1º, III e 5º, XXII, da Constituição da República. Confi ra-se, a propósito, o seguinte trecho do voto do Desembargador Relator:

Assim, a tese de que a função social da posse deverá prevalecer em detrimento do direito de propriedade pública da União, seja pela idade avançada dos Apelados, seja porque eles residem no imóvel há vários anos ininterruptos, não pode prosperar porque contravém a princípios elementares de direito constitucional e administrativo, devendo incidir, in casu, muito pelo con- trário, as normas dos artigos 71 do Decreto-Lei nº 9.760/46, 67 e 497, pri- meira parte, do Código Civil de 1916 (respectivamente, arts. 100 e 1.208, primeira parte, do Código Civil de 2002).

Por isso, embora os Apelados ocupem o imóvel construído pelo marido da pri- meira Apelada, falecido em 19.02.1985, que recebeu autorização do Poder Público para se estabelecer no terreno e nele construir sua moradia, como se depreende do documento de fl . 63 e dos carnês de recolhimento de “aluguel”, nunca tiveram a posse do imóvel, porquanto “sobre os bens públicos não há posse jurídica senão quando seu uso concedido segundo lei específi ca, a mera detenção, ou ocupação, ainda quando não clandestina, isto é, quando per- mitida, é sempre a título precário.”

Diante do cenário exposto, conclui-se que os Tribunais não têm privilegia- do a situação do ocupante de bens do domínio estatal, por não se preocuparem em diferençar a tutela possessória que pode se dar através dos interditos (pos- sibilidade de utilização das ações possessórias) da possibilidade de adquirir a propriedade pela prescrição aquisitiva. É indiscutível que o particular não pode tornar-se proprietário de bem público pela usucapião, inclusive por expressa vedação constitucional (art. 183, §3º). Todavia, é preciso discutir – e é o que se pretende com este trabalho – até que ponto uma propriedade pública que não exerce função social pode ser mais merecedora de tutela do ordenamento jurídico, no caso concreto, que a ocupação por particulares que conferem ao imóvel a referida qualidade.

disso, sobre os bens públicos não há posse jurídica senão quando o seu uso é concedido segundo lei específi ca. A mera detenção, ou ocupação, ainda quando permitida e não clandestina, é sempre a título precário. 3. Recurso e remessa providos. (TRF2, Quinta Turma Especializada, AC 1986.51.01.922901- 9/RJ, Rel. Des. Luiz Paulo S. Araujo Filho, j. em 21.03.07, DJU 04.05.07, unânime).

No documento Coleção Jovem Jurista 2010 (páginas 115-117)

Outline

Documentos relacionados