2.3 Espa¸ cos Vetoriais. Estruturas e Constru¸ c˜ oes B´ asicas
2.3.5 Produtos Tensoriais de Espa¸cos Vetoriais
2.3.5.1 Produtos Tensoriais, Duais Alg´ebricos e Formas Multilineares
Nesta se¸c˜ao, os espa¸cos vetoriais considerados o s˜ao sobre um mesmo corpoK, que tomaremos por simplicidade como sendoRouC. Aqui discutiremos a rela¸c˜ao entre o espa¸co dual de produtos tensoriais com o produto tensorial de espa¸cos duais. O resultado de maior significado que obteremos, por´em, ´e a equivalˆencia entre produtos tensoriais e o dual de formas multilineares. Comentaremos que esse resultado permite uma defini¸c˜ao alternativa da no¸c˜ao de produto tensorial de espa¸cos vetoriais, v´alida no caso de dimens˜ao finita.
• Isomorfismo natural entre (U⊗V)′ e (U′)⊗(V′)no caso de dimens˜ao finita
Sejam U eV dois espa¸cos vetoriais de dimens˜ao finita sobre um mesmo corpo K e sejam U′, respectivamente, V′ seus espa¸cos duais. Sabemos da discuss˜ao da Se¸c˜ao 2.3.2, p´agina 163, que por serem de dimens˜ao finita, U e V s˜ao n˜ao-canonicamente isomorfos a seus duaisU′ eV′, respectivamente, e queU⊗V ´e isomorfo a seu dual (U⊗V)′. Segue
Se considerarmos agora elementos gerais deU′⊗V′ da formaPM
a=1ℓa⊗µa a aplica¸c˜ao Φ :U′⊗V′ →(U⊗V)′ dada
Para provarmos que Φ ´e sobrejetora, seja
e1, . . . , em uma base emU e
• Generalizando para produtos tensoriais finitos arbitr´arios
As considera¸c˜oes acima se deixam generalizar para produtos tensoriais finitos de espa¸cos de dimens˜ao finita sobre um mesmo corpo. Assim, seVi,i= 1, . . . , n, s˜ao espa¸cos vetoriais sobre um mesmo corpoK, teremos que (V1′)⊗ · · · ⊗(Vn′) e (V1⊗ · · · ⊗Vn)′ s˜ao espa¸cos vetoriais naturalmente isomorfos.
Nesse mesmo caso, comoV1⊗ · · · ⊗Vn´e um espa¸co vetorial de dimens˜ao finita sobreRouC, existe um isomorfismo natural entreV1⊗· · ·⊗Vne seu bidual
V1⊗· · ·⊗Vn′′
(vide Teorema 2.13, p´agina 167, e a discuss˜ao que lhe antecede).
Disso conclu´ımos que existe um isomorfismo natural entreV1⊗ · · · ⊗Vn e
(V1′)⊗ · · · ⊗(Vn′)′
.
Sejam Vk, k= 1, . . . , nespa¸cos de dimens˜ao finita sobre o corpoK(aqui,RouC). Sejamk= dimVk, a dimens˜ao do espa¸coVk e sejan
e(k)1, . . . , e(k)mk
o
uma base emVk en
e(k)1, . . . , e(k)mko
sua correspondente base dual canˆonica em (Vk)′.
Seguindo a conven¸c˜ao de Einstein, vamos escrever os elementos deV1⊗ · · · ⊗Vn na forma A = Aa1···ane(1)a1⊗ · · · ⊗e(n)an
e os elementos de (V1′)⊗ · · · ⊗(Vn′) na forma
B = Bb1···bn e(1)b1⊗ · · · ⊗e(n)bn .
Denominemos, como acima, por Φ : (V1′)⊗ · · · ⊗(Vn′) → (V1⊗ · · · ⊗Vn)′ o isomorfismo entre (V1′)⊗ · · · ⊗(Vn′) e (V1⊗ · · · ⊗Vn)′. Por defini¸c˜ao, Φ satisfaz
DΦ(B), AE
= D Φ
Bb1···bn e(1)b1⊗ · · · ⊗e(n)bn
, Aa1···ane(1)a1⊗ · · · ⊗e(n)anE
= Bb1···bn Aa1···an D Φ
e(1)b1⊗ · · · ⊗e(n)bn
, e(1)a1⊗ · · · ⊗e(n)anE
:= Bb1···bn Aa1···an D
e(1)b1, e(1)a1E
| {z }
=δb1a1
· · ·D
e(n)bn, e(n)anE
| {z }
=δbnan
= Bc1···cn Ac1···cn . (2.116)
Para futuro uso, resumimos os fatos acima na seguinte proposi¸c˜ao:
Proposi¸c˜ao 2.21 Se V1, . . . , Vn,n∈N, s˜ao espa¸cos vetoriais de dimens˜ao finita sobre o mesmo corpo, ent˜ao V1′⊗ · · · ⊗Vn′ ≃ V1⊗ · · · ⊗Vn
′
, (2.117)
ou seja, V1′⊗ · · · ⊗Vn′ e V1⊗ · · · ⊗Vn′
s˜ao espa¸cos vetoriais canonicamente isomorfos. Por for¸ca do Teorema 2.13, p´agina 167, isso implica, tamb´em em dimens˜ao finita, a rela¸c˜ao canˆonica de isomorfia expressa em
V1⊗ · · · ⊗Vn ≃ V1′⊗ · · · ⊗Vn′′
, (2.118)
rela¸c˜ao essa que se obt´em de (2.117) substituindo-seVk por Vk′, para cadak. 2
• Mais conven¸c˜oes e identifica¸c˜oes
Al´em da conven¸c˜ao de Einstein, h´a uma outra conven¸c˜ao frequentemente adotada na literatura. Como Φ, definida acima ´e um isomorfismo, ´e comum identificar-se um tensor Bb1···bn e(1)b1 ⊗ · · · ⊗e(n)bn ∈ (V1′)⊗ · · · ⊗(Vn′) com sua imagem por Φ. Isso corresponde a identificar-se (V1′)⊗ · · · ⊗(Vn′) com o espa¸co vetorial dual (V1⊗ · · · ⊗Vn)′. Com essas conven¸c˜oes e identifica¸c˜oes, (2.116) pode ser apresentada simplesmente na forma
D B, AE
= D
Bb1···bn e(1)b1⊗ · · · ⊗e(n)bn, Aa1···ane(1)a1⊗ · · · ⊗e(n)an
E
= Bc1···cn Ac1···cn, (2.119) comA∈V1⊗ · · · ⊗Vn eB∈(V1′)⊗ · · · ⊗(Vn′).
De forma totalmente an´aloga permitimo-nos, no caso de dimens˜ao finita, identificarV1⊗· · ·⊗Vncom o espa¸co vetorial dual
(V1′)⊗ · · · ⊗(Vn′)′
, escrevendo
DAa1···ane(1)a1⊗ · · · ⊗e(n)an, Bb1···bn e(1)b1⊗ · · · ⊗e(n)bnE
= Ac1···cnBc1···cn. (2.120)
• Produtos tensoriais e formas multilineares
Vamos agora discutir a rela¸c˜ao entre produtos tensoriais de espa¸cos vetoriais de dimens˜ao finita e o dual de formas multilineares. A saber, estabeleceremos que o espa¸co vetorialV1⊗ · · · ⊗Vn ´e isomorfo ao espa¸co dual deM V1⊕ · · · ⊕Vn (o espa¸co vetorial das as formasn-lineares sobre V1⊕ · · · ⊕Vn, no¸c˜ao introduzida na Se¸c˜ao 2.3.4.1, p´agina 171).
Considere-se a aplica¸c˜aoΨ:V1⊗ · · · ⊗Vn →
M V1⊕ · · · ⊕Vn′
definida de sorte que para todo elemento geral de V1⊗ · · · ⊗Vn da formaPN
. Note-se que essa defini¸c˜ao ´e natural: independe de escolhas de base. Vamos mostrar que se trata realmente de um isomorfismo de espa¸cos vetoriais.
A prova da linearidade de Ψ´e elementar e ´e deixada como exerc´ıcio. A defini¸c˜ao (2.121) diz-nos tamb´em que DΨ
E evidente dessa express˜ao que valer´´ a a igualdade DΨ Isso provou queΨ´e sobrejetora e estabeleceu o isomorfismo de espa¸cos vetoriais
V1⊗ · · · ⊗Vn ≃
M V1⊕ · · · ⊕Vn′
. (2.123)
Note-se ainda que, por (2.122) e por (2.100) temos D Para futura referˆencia, resumimos os importantes fatos estabelecidos acima na seguinte proposi¸c˜ao:
Proposi¸c˜ao 2.22 Se V1, . . . , Vn,n∈N, s˜ao espa¸cos vetoriais de dimens˜ao finita sobre o mesmo corpo, ent˜ao
Reunindo nossos resultados das Proposi¸c˜oes 2.21 e 2.22, temos:
Proposi¸c˜ao 2.23 Se V1, . . . , Vn,n∈N, s˜ao espa¸cos vetoriais de dimens˜ao finita sobre o mesmo corpo, ent˜ao V1⊗ · · · ⊗Vn ≃
(V1)′⊗ · · · ⊗(Vn)′′
≃
M V1⊕ · · · ⊕Vn′
. (2.126)
Pela Proposi¸c˜ao 2.18, p´agina 167, e pelo Teorema 2.13, p´agina 167, segue de (2.126) (tomando-se o dual) que V1⊗ · · · ⊗Vn′
≃ (V1)′⊗ · · · ⊗(Vn)′ ≃ M V1⊕ · · · ⊕Vn
. (2.127)
Essa rela¸c˜ao tamb´em ser´a evocada adiante. 2
• Uma alternativa `a defini¸c˜ao de produto tensorial de espa¸cos vetoriais
A express˜ao (2.125) diz-nos que podemos, para todos os efeitos, identificarV1⊗ · · · ⊗Vn e o dual deM V1⊕ · · · ⊕Vn
, as formasn-lineares emV1⊕ · · · ⊕Vn. Por isso, a igualdade (2.125) pode ser tomada comodefini¸c˜aoda no¸c˜ao de produto tensorial de espa¸cos vetoriais, o que ´e feito por alguns autores. Note-se, por´em, que essa segunda defini¸c˜ao da no¸c˜ao de produto tensorial ´e restrita ao produto tensorial de espa¸cos de dimens˜ao finita. Nossa primeira defini¸c˜ao de produto tensorial de espa¸cos vetoriais (Se¸c˜ao 2.3.5, p´agina 173) ´e mais geral, e se aplica mesmo ao caso de espa¸cos de dimens˜ao infinita.
Nenhuma das duas defini¸c˜oes ´e “elementar” ou “simples” e pode-se adotar uma ou outra de acordo com a conveniˆencia.
A maioria dos textos sobre Topologia Diferencial ou Geometria Diferencial, por exemplo, prefere a segunda defini¸c˜ao (2.123) (espa¸cos tangentes e cotangentes a variedades de dimens˜ao finita s˜ao espa¸cos vetoriais de dimens˜ao finita. Vide Se¸c˜ao 33, p´agina 1604).
• Novamente, identifica¸c˜oes e conven¸c˜oes Como Ψ : V1⊗ · · · ⊗Vn →
M V1⊕ · · · ⊕Vn
′
´e um isomorfismo, convenciona-se tamb´em identificar (sempre em dimens˜ao finita) os espa¸cos V1⊗ · · · ⊗Vn e
M V1⊕ · · · ⊕Vn′
, ou seja, convenciona-se identificar um tensor Ta1···an e(1)a1⊗ · · · ⊗e(n)an com sua imagem porΨ. Com a mesma, (2.124) fica simplesmente
Ta1···an e(1)a1⊗ · · · ⊗e(n)an ≡ Ta1···anma1···an, (2.128) que identifica um tensor com o dual de uma forma multilinear (ma1···an foram definidos em (2.99), p´agina 173).
Devido a (2.126) temos (sempre em dimens˜ao finita) as identifica¸c˜oes deV1⊗ · · · ⊗Vn com
(V1′)⊗ · · · ⊗(Vn′)′
e com
M V1⊕ · · · ⊕Vn
′
. Evocaremos essas identifica¸c˜oes no futuro, por vezes, sem maiores coment´arios.
Comentamos, por fim, que tamb´em adotaremos a conven¸c˜ao de identificar
Ta1···an e(1)a1⊗ · · · ⊗e(n)an ≡ Ta1···anma1···an, (2.129) assim como identificaremos
V1⊗ · · · ⊗Vn
′
com (V1)′⊗ · · · ⊗(Vn)′ e comM V1⊕ · · · ⊕Vn
, devido a (2.127).