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O PROTOCOLO DA PETIÇÃO INICIAL COMO ÚNICA CONDIÇÃO DA

3 ESTABELECENDO ALGUNS CONCEITOS: AÇÃO E CONDIÇÃO DA

3.5 O PROTOCOLO DA PETIÇÃO INICIAL COMO ÚNICA CONDIÇÃO DA

imperioso recordar que: (i) a ação-norma abstrata e geral é um direito subjetivo abstrato e incondicionado inerente a qualquer cidadão (direito de agir); (ii) a ação- norma concreta e individual consiste no exercício do direito abstrato de ação pelo sujeito-de-direitos; (iii) ação e jurisdição revelam-se como direito e dever correlatos que surgem diante da provocação pelo sujeito-de-direitos ao Estado-juiz, numa busca à tutela jurisdicional; (iv) a enunciação da norma secundária concreta e individual (ação-norma concreta e individual) é efetuada pelo sujeito ativo, por meio da petição inicial.

Consequentemente, pode-se afirmar que, se há que se falar em alguma condição da ação para a ação-norma concreta e individual, esta é – e sempre foi – a petição inicial182 devidamente protocolada, requisito necessário ao exercício do direito de

182 Sobre a forma da petição inicial, disserta Pontes de Miranda que a petição “há de ser escrita em

língua portuguesa, com a ortografia oficial, segundo o estilo do foro, que é comum aos ofícios dirigidos às autoridades, e redigida, pelo menos, com as qualidades ordinárias dos escritos

ação, por meio da manifestação da vontade do indivíduo.

A petição inicial, como visto, é fato jurídico processual “cuja função é instrumentalizar o exercício do dever jurisdicional e do direito de ação, retirando o Estado-juiz de sua posição de inércia”183. A petição é, então, o ato inicial mediante o qual o autor pede que o Estado lhe entregue a prestação jurisdicional, quer dizer, a sentença.

O exercício do direito de ação tem início com a petição inicial e continua a ser exercitado na medida em que cumprido o dever de prestar a jurisdição, ou seja, com uma série de atos processuais que se perfazem até o proferimento de uma decisão judicial (independentemente do seu conteúdo). Nas palavras de Pontes de Miranda: “A petição inicial e a sentença, tal como ficarão no fim de todo o processo [...] são os dois extremos da via processual. Uma abre-a; a outra fecha-a”184.

Por isso, o legislador do diploma processual civil de 1973 incorreu em desacerto ao deixar entender que a falta de interesse de agir, de legitimidade ad causam e/ou de possibilidade jurídica do pedido implicariam em carência de ação. Isso porque, mesmo ante a ausência das por ele chamadas condições da ação, é inegável que a jurisdição atuou e a ação fora exercida.

A ação-norma concreta e individual é o exercício do direito de comparecer perante o juízo e requerer um provimento jurisdicional. Por isso, independe da presença dos elementos definidos como condições da ação pelo CPC/73 e existe ainda que ocorra a extinção do processo sem a apreciação do mérito e até mesmo antes da citação do réu185.

Ora, o demandante, mesmo se não atender a alguma das “condições”, tem expositivos de fatos e pontos de direito.” (Comentários ao Código de Processo Civil. Tomo IV. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979; p. 10)

183 CONRADO, Paulo César. Processo tributário. 3ª ed. atual. São Paulo: Quartier Latin, 2012; p. 39. 184 MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. Tomo IV. 2ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 1979; p. 6.

185 Há ação judicial mesmo antes de o demandado ser citado para integrar o processo, pois já há a

incidência de normas processuais na relação linear entre autor e Estado-juiz. Neste sentido: MOUSSALLEM, Tárek Moysés; SILVA, Yuri de Oliveira Dantas. As condições da ação no processo tributário: uma análise do “interesse de agir” a partir da repetição de indébito. In: SANTANA, Alexandre Ávalo; LACOMBE, Rodrigo Santos Masset (Coord.) Novo CPC e o processo tributário: impactos da nova lei processual. 1ª ed. Campo Grande: Contemplar, 2016; p. 298.

assegurada a possibilidade de ir ao Judiciário pelo menos para que se diga não ter ele legitimidade de agir ou interesse processual, por exemplo.186

Lembramos que a atividade do juiz não se traduz exclusivamente no seu pronunciamento final, mas em todos os atos necessários para a movimentação do processo até que se atinja o seu objetivo final. Nas esclarecedoras palavras de Calmon de Passos:

A verdade é que, reconhecendo a ilegitimidade da parte, ou afirmando a inépcia, o juiz não julga de sua atividade, e sim emite um juízo sobre um ato da parte. E aqui também há um juízo, um jus dicere, uma atuação do direito objetivo, um ato de tutela, uma atividade substitutiva, característica da jurisdição.187

E, como já reiterado, havendo jurisdição, há também ação (e vice-versa).

Nesse teor, começou bem o novo Código de Processo Civil ao eliminar a inapropriada expressão condições da ação de seu texto, limitando-se a afirmar em seu art. 17 que “para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”. Todavia, a redação atual ainda não é a mais precisa: para postular em juízo é necessário tão somente protocolar a petição inicial, pois ainda que não haja interesse e legitimidade, o direito de ação previsto em norma abstrata e geral pode ser exercido independentemente da presença de tais elementos.

Qual seria, então, a natureza jurídica do interesse de agir, da legitimidade ad

causam e da possibilidade jurídica do pedido, já que não são propriamente

“condições da ação”? Estudaremos no próximo capítulo.

186 NOGUEIRA, Pedro Henrique. A legitimidade processual no Novo Código de Processo Civil. In:

DIDIER JR, Fredie (Coord). Novo CPC doutrina selecionada. Vol. 1. Parte Geral. Salvador: JusPodivm, 2016; p. 281.

187 CALMON DE PASSOS, José Joaquim. A ação no direito processual civil brasileiro. Coleção:

4 O INTERESSE DE AGIR E A LEGITIMIDADE AD CAUSAM: CONDIÇÕES PARA A PROCEDÊNCIA DO PEDIDO

A partir de agora, buscar-se-á determinar a natureza jurídica do interesse de agir e da legitimidade ad causam. Já foi esclarecido que não é correto enquadrá-los na categoria condições da ação, embora muitos insistam nessa nomenclatura. Seriam então condições para o exame do mérito? Condições para o exame do pedido? A fim de responder essas e outras indagações, será feita uma breve análise acerca do

mérito e do pedido, para que, ao final, possamos concluir que o interesse e a

legitimidade são, em verdade, condições para a procedência do pedido.

4.1 O INTERESSE DE AGIR, A LEGITIMIDADE AD CAUSAM E A POSSIBILIDADE