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3. Procedimentos Metodológicos e Resultados Preliminares

3.3 Inteligibilidades e Aproximações dos Resultados da Pesquisa

3.3.7 A Formação de Professores

3.2.7.1 Quadro 9 Categoria Formação de Professores

PAP04 O processo educativo com o conjunto de militantes do MST proporciona uma tentativa de redimensionamento perceptivo, uma mudança da relação estética, ou seja, uma transformação na percepção, na relação sensível com objetos no dia-a-dia, como os materiais do trabalho, foice e enxada, as sementes e a terra” (p. 1091).

PAP07 “A análise deste material baseou-se principalmente nas temáticas mais relevantes que emergiram nas discussões, entremeadas com os principais referenciais teóricos (em especial Nietzsche e Foucault) que sustentam os conceitos-chave da pesquisa: arte, experiência estética e formação” (p. 782). PAP09 “Unidas em sua origem a experiência estética (aisthesis) e a criação (poiésis)

fazem com que o professor da educação escolar assuma uma atitude de artista- pesquisador-professor, renovando seu mundo, inovando seus processos pedagógicos, descobrindo um aprender contínuo” (p. 889).

PAP18 “Nossa formação estética dá-se através da diversidade de imagens, performances e discursos que a sustentam, e que povoam nosso cotidiano. Dá-

se através de como nos afetam e de como reagimos a isso” (p. 771).

PAP36 “Segundo a perspectiva de Bakhtin, a contemplação estética é global, enxerga a totalidade e, é na unicidade do ato da contemplação, que o sujeito passa a dar sentido ao que percebe, é nessa condição que tem a possibilidade de enxergar a beleza e, a partir disso construir o objeto no seu olhar” (p. 649).

PED01 “Sobre a educação estética, em uma concepção sócio- histórica, sustentando que a atividade criadora é toda realização de algo novo, tratando-se de reflexos de algum objeto do mundo exterior, de determinadas construções do cérebro ou dos sentimentos que vivem e se manifestam no próprio ser humano” (p. 02).

PED04 “Utilizei-me da vasta e complexa discussão no pensamento deleuziano sobre a experiência estética aliada à concretude das experiências estéticas” (p. 04). PED08 “O campo da estética que nos interessa é abordado como um jogo de

experimentações com a arte, tratando de oferecer experiências estéticas com a mesma. Tratamos de desidentificar o campo filosófico com um discurso hermético de especialistas, para aprender com suas formas de problematizar a realidade e produzir diferença” (p. 02).

PED09 “No âmbito da educação estética, a experiência é algo indispensável para a construção de saberes e a aprendizagem dos signos artísticos que, com os constantes processos de apreciação e fruição artísticos, dá-se a chamada experiência estética, um progressivo processo de apreensão dos símbolos presentes nas obras, representando “[...] sentidos, sentimentos e vivências pertinentes ao nosso acervo de experiências vitais (DUARTE JÚNIOR, 2010, p. 43)” (p. 04).

PED10 “Formação estética, por sua vez, é entendida, nos limites deste trabalho, com base no referencial schilleriano, como a busca contínua da beleza nas diversas manifestações da vida. Uma busca que intenta transformar a relação entre os objetos dos dois impulsos humanos, o formal (manifestado na forma) e o sensível (manifestado na vida/natureza) em forma viva, gerando, com isso esse terceiro impulso, o lúdico (manifestado na liberdade criadora), que tem, pois, como objeto, a beleza” (p. 01).

PED12 “A experiência estética proporcionada pela obra de arte atinge o espectador de forma que possibilite o seu crescimento, pois lhe oferece material para o exercício de sua reflexão e de sua sensibilidade de forma integrada. Seria o exercício de um saber sensível” (p. 03).

PED13 “A estética tem a ver com uma ‘teoria das formas’ em funcionamento, uma teoria das formas em processo de formação e transformação. Nessa perspectiva a estética seria menos um domínio disciplinar, que uma performance constituidora dos modos de produção e reprodução das formas nos diversos domínios” (p. 12).

PED14 “Em nosso trabalho, ao usarmos o termo estética, queremos nos referir a um campo de sensível, em que os sentidos se abrem, que não se esgota no campo

da arte, a inclui, mas extrapola para a natureza e para as outras produções humanas. A apreciação estética é determinada pelas condições culturais, históricas e sociais em que ocorre” (p. 07).

Nessa breve descrição da categoria formação dos professores, podemos perceber que, como as demais temáticas discutidas anteriormente, a experiência estética e a educação sensível se encontram fortemente entrelaçadas na discussão. A formação do professor, para ser estética, segundo os textos, tem a realidade como uma aliada de sua formação e de sua prática didático pedagógica. Os objetos cotidianos considerados utilitários ganham uma porção estética quando apreendidos no seu contexto. Outro ponto considerado importante na tarefa da educação estética dos professores é o desafio da fruição da arte contemporânea. Aponta-se nos artigos a dificuldade do professor em compreender as múltiplas faces da arte contemporânea, resultado da priorização de estudos, em sala de aula, de obras da arte europeia.

Dividindo a responsabilidade de se avançar na compreensão da arte contemporânea entre a universidade e o próprio professor, um dos artigos chama a atenção para que cada docente responda por sua bagagem cultural, organizando as vivências culturais cotidianas, para que possam em todos os níveis de ensino, circular na tríade arte, ensino e pesquisa. Seria assim construída a totalidade do artista-pesquisador- professor. Outro ponto defendido foi a necessidade do professor agregar as suas competências o universo vasto da tecnologia, que em sua porção virtual pode contribuir com as práticas docente do mundo real.

Mesmo que a educação estética do professor se solidifique em espaços alternativos como os ateliês, por exemplo, um dos artigos pergunta sobre a real intenção da universidade na formação estética dos professores, tendo como horizonte os contextos sócios históricos. A formação estética a partir das experiências estéticas é compreendida como fundamentais para a educação sensível. Seriam as vivências criativas potências para a construção de um professor alfabetizado esteticamente. Ao se referir as especificidades da formação do pedagogo, um dos artigos faz a ponte com essa formação sensível necessária, intitulando pedagogia das afecções. Nesse resgate da porção sensível do educador, a subjetivação do sujeito tem um espaço considerado fundamental na produção do conhecimento.

Complexo é o caminho para a formação estética do professor, é o que revela esta parte dos artigos. Tendo o corpo sensível como uma porta de entrada, a emoção valorizada nos processos de aquisição dos saberes encontra na arte elementos próximos, mas tendo como objetivo formar sujeitos no espaço de educação. Como equilibrar os conflitos para uma educação estética que ofereça aos sujeitos elementos que alimente o pensamento crítico e promova o seu potencial para a transformação desejada na construção de uma sociedade mais justa ainda é um projeto a ser realizado, e, por enquanto, não parece ser considerado o mais importante por estes artigos.

Podemos a partir da descrição do quadro 9 entender que os autores, com diferentes abordagens se propõem a pensar a estética e a educação estética a partir de outras áreas de conhecimento. Assumindo conceitos de acordo com o pensamento dos autores centrais utilizados na fundamentação dos textos, os artigos PED11, PAP18 e PAP36 realizem a crítica acerca dos fundamentos da educação estética, mas apenas o PED11 e PAP18 partem da perspectiva do materialismo histórico e dialético e criticam o que temos hoje de educação estética no cenário brasileiro. Fundamentado em Marx e Engels (2002; 2004), Fischer (1983) e Vásquez (1978; 1977) assumem a teoria marxista como fundamental para se pensar a educação estética.

Preocupa-se centralmente em demonstrar que na medida em que faz parte do Sistema Capital, a arte reproduz em seu meio de produção, isto é, no processo de trabalho, no ensino e na circulação da mercadoria arte os mesmos esquemas de exclusão e dominação inerentes a qualquer outra mercadoria na mesma circunstância. (PED11)

“Se a educação nessas últimas décadas no Brasil vem sendo debatida e assumida como um “ato político”, põe-se em questão neste momento, justamente, a ampliação do entendimento do ato educativo, ou seja, o ato educativo deve ser também entendido em sua complexidade como um “ato estético” que precisa ser formado cotidianamente nos seus diferentes níveis e aspectos”. (PAP23)

Os esquemas de exclusão e dominação inerente a arte, citada no artigo PED11 e a consciência de que a educação é sim um ato político (PAP23), e que a educação estética não pode ser pensada longe dessas questões, nos parece um excelente

referencial para as mudanças que se mostram urgentes frente ao mundo capitalista que nos desumaniza.

No entanto, fica evidente a partir dos dados descritos, que essa compreensão é postura quase isolada, pois a maioria dos artigos não fazem qualquer referência sobre a importância da consciência do ato educativo, ou ainda, que ser professor é um trabalho e como todo trabalho no capitalismo sofre influências sociais e carregam consigo uma herança histórica de desenvolvimento humano que a arte faz parte. Salvo os artigos que problematizam as questões culturais como importantes para se pensar a educação estética, todos os demais artigos se concentram nos processos de percepção e desenvolvimento de sensibilidade que a arte pode oferecer.

Identifica-se uma naturalização da educação pelo contato com a obra de arte, seja ela qual for, perpassando pelas práticas artísticas que despertam o corpo sensível dos participantes. Para nós, essa postura educativa está longe de ser considerada uma educação estética para a emancipação; e por isso, frente a educação estética que temos, a que queremos é um percurso ainda em construção.