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3. Procedimentos Metodológicos e Resultados Preliminares

3.3 Inteligibilidades e Aproximações dos Resultados da Pesquisa

3.3.4 A relação Obra e Público

O que acontece com o sujeito ao defronta-se com a obra de arte e quais são as implicações deste encontro no desenvolvimento cultural e educacional desses sujeitos são preocupações presentes nos textos pesquisados dessa categoria. Usando expressões como “Estética Viva”; “Experiência Estética em Vácuos Locacionais”; “Vivências estéticas” e “Formação estética do grande público”, os artigos tem em comum a preocupação de entender o que ocorre na relação obra e público em espaços públicos e instituições de arte como museus, exposições e galerias.

O PED07 ao investigar essa relação, se interessa “pelo fenômeno de “mal-estar” deste grande público face à arte contemporânea”. Feito a investigação, onde foram ouvidos 300 participantes a autora define o que seria para ela a educação estética frente a arte contemporânea: “Um trabalho que poderíamos definir aqui como uma educação do olhar e da sensibilidade com todos os paradoxos e desequilíbrios, alegrias e angústias suscetíveis de emergir e que podem ser trabalhados se obtivermos o conhecimento da maneira pela qual funcionam estes sujeitos face à arte contemporânea” (p.11). Esta educação estética circunda a formação do professor, que de forma análoga, também rejeita a produção artística que foge dos padrões já estabelecidos, pois “A arte contemporânea representa, de maneira incontestável, uma porção significativa da produção cultural global de nosso tempo” (p. 08), salienta também a importância da educação em Arte que desenvolvam o olhar dos alunos para prepará-los a visita ao museu, buscando “estratégias que provoquem os sentidos e os prazeres que podem ser mobilizados na experiência de visita” (p. 10).

A interação física do público com a obra de Christa Sommerer e Laurent Mignonneau é a experiência problematizada no PAP02. Para a autora é “A interatividade, conceito fundamental para a compreensão de processos de relações que se estabelecem entre obra e público” (p. 265). Identificou neste encontro que acontece a

partir dele, uma autonomia do estético: “Levantando questões sobre a relação entre o artista e sua criação, e as possibilidades de uma estética da autonomia, os artistas criam obras que sofrem intervenção direta a partir da interação humana, reagindo e comunicando-se constantemente” (p. 266). Neste viés “A arte interativa além de transformar a obra em ambiente cognitivo para o público, a transforma no lugar da experimentação, da ação, da performance, do toque no qual os signos produzidos são organizados em um todo lógico e comunicativo por meio de uma interface” (p. 270).

A cidade e as manifestações artísticas que coabitam o espaço público são discutidas ao se pensar a educação estética. A arte pública e a sua relação com a educação dos sujeitos são o foco investigativo do artigo PAP06 que defende: “as obras de arte em contexto urbano passem a ser consideradas pelos educadores como um recurso educativo”, pois a arte que entra na escola não se resume a ela, levando os seus estudantes a reconhecê-la nos espaços urbanos. Na sua concepção de Estética/Educação Estética, declara: “o substantivo estético em síntese “designa hoje qualquer conjunto de ideias (filosóficas) com o qual se procede a uma análise, investigação ou especulação a respeito da arte e da beleza (DUARTE JÚNIOR 2003, p.8).” (p. 260). “Por fim, experiência estética é o indefinível conjunto de sensações, deslumbramentos e choque que toma conta do indivíduo num momento de contemplação do mundo onde se dá o encontro do indivíduo que percebe o mundo com o mundo que se oferece para ser percebido” (p 260). Sobre a Arte na educação registra que “é preciso que o ensino de Arte no Brasil seja capaz de fornecer ao indivíduo o conhecimento necessário para fazê- lo sentir-se competente para fruir uma obra de arte, ou até mesmo de reconhecer a arte.” (p. 262).

O artigo PAP08 discute a estética pragmatista, a partir de Dewey, a noção de experiência estética como conceitos eficazes para a interpretação de uma “visualidade popular urbana”. A Arte como Experiência, livro de John Dewey pode nos ajudar a compreender a educação estética a partir desses fundamentos tidos como pragmatista. A dissertação de mestrado de Roberto Cavallari Filho (Experiência, Filosofia e Educação Em John Dewey: As “Muralhas” Sociais e a Unidade da Experiência) faz uma investigação cuidadosa sobre os escritos de John Dewey e ao referir-se ao livro escreve sobre a separação nas artes, da forma e do conteúdo: (...) o problema da hierarquização das artes finas foi a separação rígida entre forma e conteúdo. Assim, a filosofia da experiência de Dewey também é a reconstrução da continuidade da experiência estética

contemplativa com o processo cotidiano da vida”. Cavallari explica que essa separação para Dewey está ligada “a duas escolas filosóficas dos séculos XVII e XVIII: o empirismo e o racionalismo. A primeira faz suas separações em favor do reinado das qualidades sensórias; a segunda, em favor dos significados. (p.46). Dewey defende que toda experiência é uma arte e por isso é importante buscar as qualidades presentes nesses processos de experienciar, que poderia ser entendido como a própria beleza, ou seja, estética. Definindo melhor o que para Dewey significa a experiência em arte, explica:

“Para Dewey, experiência é o sofrer e o fazer, no sentido de ter, receber receptivamente do ambiente e fazer ativamente um ato, no qual o termo ato ou ação é utilizado não apenas como um ato motor, mas principalmente um hábito de pensar, uma reflexão que valoriza e atribui significado, na relação humana (a psicologia orgânica revelou que a relação entre a atividade cerebral e o sistema nervoso constitui- se na mesma experiência, refutando, assim, o dualismo entre cérebro e corpo). Dewey chama experiência de arte porque, na língua inglesa, não há uma palavra que funda ambos os sentidos, ou seja, o sentido do fazer artístico e o sentido da contemplação estética. (CAVALLARI, 2007, p. 116).

Para Dewey artista e expectador estão sujeitos a experiências estéticas próximas (mesmo nas particularidades de cada um) e autênticas, pois tem em comum o objeto artístico. Nesse entendimento, define a arte como linguagem já que a obra é uma relação expressiva que vai do criador ao interlocutor em múltiplas influências.

O encontro do artista Mário Cravo Junior, de sua obra e o público são questões levantadas na pesquisa do PAP33. Indagando acerca desse encontro: “Quais as possibilidades de estudos sobre relações dos espaços de arte com o público? Quais as correlações entre as obras de Mario Cravo e as tendências contemporâneas e o público? (p. 186). Em sua concepção de Estética /Educação Estética defende a urgência de “uma outra visão de mundo, visando o equilíbrio entre razão e emoção. Acredita-se que uma forma para se trabalhar esse aspecto são as experiências estéticas, seja no que concerne a fruição ou a produção de trabalhos em arte” (p. 184)

3.2.4.1 Quadro 6 - Categoria - Obra/Público

PAP02 “Levantando questões sobre a relação entre o artista e sua criação, e as possibilidades de uma estética da autonomia, os artistas criam obras que sofrem intervenção direta a partir da interação humana, reagindo e comunicando-se constantemente” (p. 266).

(filosóficas) com o qual se procede a uma análise, investigação ou especulação a respeito da arte e da beleza. (DUARTE JÚNIOR 2003, p.8).” (p. 260). PAP08 “A estética pragmatista, apresentada por Dewey e discutida por Shusterman

(1998), se configura a partir da noção de que a arte não possui um valor intrínseco, mas surge a partir da experiência - estética - que ocorre em conexão com a vida cotidiana” (p. 788)

PAP33 “Postula-se uma outra visão de mundo, visando o equilíbrio entre razão e emoção. Acredita-se que uma forma para se trabalhar esse aspecto são as experiências estéticas, seja no que concerne a fruição ou a produção de trabalhos em arte” (p. 184).

PED07 “Um trabalho que poderíamos definir aqui como “uma educação do olhar e da sensibilidade” com todos os paradoxos e desequilíbrios, alegrias e angústias suscetíveis de emergir e que podem ser trabalhados se obtivermos o conhecimento da maneira pela qual funcionam estes sujeitos, face à arte contemporânea” (p. 11).

A estética se apresenta nos textos como o ponto central das discussões, ainda que por enfoques distintos. Os autores acreditam no potencial formativo da obra de arte e o encontro do sujeito com esse objeto pode ser preparado no processo educacional. Ocorre que a arte no contexto urbano, as manifestações artísticas exigem que seus expectadores a reconheçam como objeto artístico. Sendo interagindo organicamente com a obra de arte, ou ainda, apreendendo-a na percepção, a arte contemporânea em sua plasticidade de formas requer do educador também o desenvolvimento das competências para se trabalhar o inusitado, o estranhado. De uma forma geral, observa- se nos textos o alargamento da educação estética que sendo entendida como função da escola, não se limita a ela, e onde a sensibilidade, a emoção o gosto e o desgosto são peças fundamentais nestas vivências, experiências com a obra de arte.