• Nenhum resultado encontrado

1. TESSITURAS SOBRE EDUCAÇÃO ESTÉTICA NO ENSINO DA ARTE

1.6 Uma disciplina chamada Dimensão Estética da Educação

1.6.1 Sentidos e Saberes da disciplina Dimensão Estética da Educação

Considero uma sorte ter realizado meu estágio docente nessa disciplina. É inegável a riqueza cultural trazida para o estudo e as vivências. Fiquei impressionada com bagagem teórica e o repertório de vivências práticas apresentadas em sala de aula. Em contrapartida, nada era imposto, salvo as regras referente a formatação dos trabalhos e de comportamento e convivência em um espaço publico como é a universidade. Mesmo permeada por liberdade e participação, as aulas seguiam uma certa ordem necessária ao aprendizado. As leituras eram cobradas, as discussões passavam pela fala de todos, até mesmo daqueles que se limitavam a dizer que nada tinham a acrescentar. Foram aulas de falar e de ouvir, de cantar e de dançar, de aprender ser melhor em grupo. Os alunos, em sua maioria negros adentraram na discussão da escravidão e no legado cultural dos africanos para o Brasil, um país construído com eles.

A estética negra foi apresentada como rica, sensível, cheia de particularidades; porém não ficou de fora da discussão, a negação dessa estética por uma sociedade branca e colonizada por europeus. O candomblé foi apreendido em sua essência; ancestralidade e oralidade, características dessa cultura herdada, foram apresentadas nos trabalhos e valorizadas pelos alunos. Os convidados falaram dos Orixás, cantaram e dançaram; o grupo do samba de roda nos levou para dentro da roda; aprendemos a importância do turbante, o que ele representa para a cultura negra. Ouvimos histórias e contamos histórias; recebemos duas dançarinas do Ilê Aiyê , momento muito especial.

A experiência frente à dança afro-brasileira do Ilê Ayê é também um momento para tentarmos resgatar nosso corpo que infelizmente aos poucos, já a partir da adolescência, vai perdendo a sensibilidade nos processos educacionais que priorizam a razão e condenam a emoção. O resultado dessa educação restritiva é a perda da sensibilidade e a construção de adultos exageradamente racionais que ao ouvir uma

música não se sentem abertos para fazer aquilo que as batidas sugerem ao seu corpo não conseguindo se expressar livremente.(fala de uma aluna)

Nos aproximamos dos indígenas ao conhecer a sua estética ligada a vida cotidiana, a natureza. Reconhecemos nossa miscigenação, nos deparamos com nossas diferenças e nos unimos em nossos objetivos. Ali, professores e futuros professores construíram em cada aula dimensões estéticas; percepções e estranhamentos eram constantes. Nosso corpo foi provocado a ser percebido no grupo, tocar, acolher, dançar, confiar, permitir. A roda era um lugar seguro, estávamos no mesmo lugar e sujeitos as mesmas vivências e diferentes sensações. Era comum sentir em algum aluno uma emoção mais aflorada, uma lágrima, ou um isolamento passageiro. Havia nas vivências práticas uma emoção que nos tirava do lugar confortável, conhecido e enfadonho. Por isso, quando as práticas foram interrompidas pelo trabalho de campo dos grupos, alguns reclamaram pois sentiram falta.

As leituras nos fortaleceram para a construção do entendimento acerca da dimensão estética da educação . Nossos encontros inciavam com música e terminavam com música. Os convidados foram de uma riqueza ímpar; os eventos e os debates. Por estes caminhos foi construída a estética da disciplina, ligada a vida, a formação docente, a troca de saberes e de experiências.

O que poderia ser melhor para a formação dos futuros professores a partir dessa experiência me parece ser pequenos ajustes de estrutura e tempo. A disciplina dimensão estética da educação pode ser considerada o início de uma formação sensível e crítica que permeia todo a graduação dos professores e professoras. Acredito que as discussões em torno do desenho infantil proporcionou as pedagogas um acolhimento diferenciados para com as expressões dos pequenos, bem como as etapas de seu desenvolvimento.

No entanto, um semestre, mesmo que tenha sido significativo, como revelaram as falas das alunas, parece insuficiente para desenvolver fundamentos sensíveis para a docência. É certo que estimula esses acadêmicos a ampliar o olhar acerca do que significa ser professor e professora. Ainda assim, seria preciso que outras disciplinas seguissem a construção de uma formação estética para a vida e para a docência. Entendo também, que uma estrutura mais adequada, com salas ambiente facilitaria as práticas desenvolvidas na disciplina, conferindo maior liberdade ao grupo. Concluindo, a disciplina Dimensão Estética da Educação não é só parte importante na formação dos

alunos, mas necessária. Sejam eles professores ou não, os saberes sensíveis apreendidos, bem como o reconheciento de nossa identidade cultural oferecidos pelo conteúdo dessa disciplina, é de fundamental importância para nosso desenvolvimento como pessoas que vivem em sociedade. A estética se configura na vida cotidiana, na arte e na cultura popular, no sentir para saber e transformar.

Finalizamos aqui o capítulo I da pesquisa. Procuramos dar uma visão geral de algumas questões que estão atreladas a hipótese da pesquisa. Com as tessituras sobre educação estética revelamos, ainda que breve, o tramado teórico presente no encontro arte, estética e educação. No subtítulo Breve Panorama sobre Educação Estética apontamos a concepção de alguns autores sobre a temática que influenciam o cenário educativo. A Educação do Sensível presente no segundo subtítulo mereceu destaque por ser termo constante nas considerações dos autores do tópico anterior. A importância do professor na busca da educação estética para a emancipação está ligada essencialmente a sua competência, e por isso, destacamos algumas considerações sobre a formação em Arte e os pressupostos dialógicos desta formação, fundamentos caros na busca da emancipação. No final deste capítulo, nos aproximamos da cultura popular, uma forma de nos fortalecer através da porção estética que a compõem, para a luta em defesa da educação estética emancipadora. O relato acerca do aprendizado e das percepções oriundas do Estágio Docente na disciplina Dimensão Estética da Educação visou oferecer o testemunho desta pesquisadora de como é possivel por em prática alguns conceitos acerca da formação estética na educação.

Seguindo em frente, adentraremos agora no segundo capítulo da pesquisa. Será neste momento que discutiremos a estética a partir da visão de alguns autores marxistas, especialmente a estética de Georg Lukács. Um pouco diferente dos autores do Capítulo I que se remetem diretamente a educação estética, os pensadores marxista trabalhados no capitulo II não se voltam diretamente para a educação, se dedicam a estudar a estética e sua conexão com a vida concreta do homem histórico na obra de arte, principalmente a literária, que é foco dos estudos de Lukács. O estudo da estética marxiana conduziu a análise dos dados da pesquisa, e a partir deste movimento, foi possível a discussão da educação estética para a emancipação.

CAPÍTULO II