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Há dentro do CONFAZ a Comissão Técnica Permanente do ICMS – COTEPE, veiculada ao Ministério da Fazenda, que divulga os dados da arrecadação do imposto. Com última atualização em Dezembro de 2014, de Janeiro a Setembro, os Estados brasileiros, menos o Acre que não foi divulgado, arrecadaram juntos pouco mais de R$ 278 bilhões de reais. Mantendo-se este ritmo de arrecadação, estimasse que no decorrer do ano seja arrecadado em torno de R$ 350 bilhões de reais.

O montante arrecadado somente com o ICMS é gigantesco. Reflete parcela importantíssima na economia estadual e municipal, tendo em vista que parte do imposto é repassado através de transferências constitucionais obrigatórias.

Segundo os dados do COTEPE87, até setembro, São Paulo foi o Estado que mais arrecadou, superando a casa dos R$ 90 bilhões, enquanto Roraima atingiu somente R$ 439 milhões.

A política de incentivos fiscais exacerbada nos primórdios da guerra fiscal era iniciada pelos Estados pobres que arrecadam pouco. Entretanto, recentemente com a perda de receita, até mesmo os Estados ricos têm tomado medidas para evitar a elisão fiscal. Isso é explicado por alguns fatores em conjunto.

Segundo Fernando Rezende88, antes de 1988, os Estados possuíam controle completo da tributação sobre o consumo. Hoje, em razão da concentração em um imposto único, foi permitido à União o ingresso nesse campo da tributação através das Contribuições Sociais, Pis e Cofins. As contribuições fazem parte do fundo de financiamento da seguridade e servem para custear os inúmeros benefícios sociais ofertados pelo governo.

A segunda explicação para o uso dos benefícios fiscais é que com a promulgação da Carta Magna, há maior controle dos orçamentos dos Estados. Há amarras legislativas para o uso do orçamento, que por ser reduzido, não permite aos governantes por em práticas políticas efetivas de desenvolvimento. Aliado a isso, há uma total ausência do Governo Federal em impulsionar e liderar as políticas para redução das desigualdades regionais.

87 Os dados podem ser conferidos através do sítio: <http://www1.fazenda.gov.br/confaz/boletim/valores.htm> 88 REZENDE, Fernando. O federalismo brasileiro em seu labirinto: crise e necessidade de reformas. Rio de

Em terceiro, recentemente houve grande urbanização, o que levou mais de 80% (oitenta por cento) dos brasileiros a se alojarem nas cidades, principalmente nos maiores centros comerciais. A arrecadação não cresceu conforme a densidade demográfica urbana, deixando os gastos públicos mais elevados e os problemas sociais mais agravados.

Tais fatores levam os Estados a uma condição difícil. Rezende ainda destaca que em 1960 os Estados participavam do bolo fiscal levando uma fatia de quase 38% (trinta e oito por cento) da arrecadação. Hoje, este número chega a algo em torno de 25% (vinte e cinco por cento). Os Estados estão endividados, participam menos da arrecadação, não possuem saídas legislativas para o problema e, por isso, recorrem a incentivos fiscais exorbitantes no intuito de atrair investimentos da iniciativa privada.

Como resultado, inicia uma ferrenha disputa fiscal onde todos perdem. Os Estados concedem tantos benefícios fiscais que ficou economicamente interessante para as grandes empresas produzirem fora do Brasil e somente enviarem os produtos para serem consumidos aqui. A indústria nacional sentiu o grave impacto que tais políticas têm causado. Em consequência, os Estados ricos começam a participar de forma agressiva na guerra fiscal para que sua produção e arrecadação não sofram prejuízos.

A reforma tributária é necessária e deve abranger tópicos urgentes como demonstrado nos capítulos anteriores. O primeiro problema que dá origem a toda questão é a crise federativa dos Estados, que perderam espaço com a promulgação da Constituição de 1988. O ICMS é uma das causas dessa crise. Além de permitir a tributação dual sob o consumo, teve sua relevância econômica reduzida.

José Roberto R. Afonso traz alguns dados pertinentes:

O imposto estadual sobre circulação de mercadorias (ICM), que não alcançava petróleo, gás e combustíveis, energia elétrica, minerais e serviços de comunicações e transportes, e tinha uma alíquota genérica de 17%, arrecadou em 1968 o equivalente a 7,28 do PIB, e gerou sozinho 31% da carga tributária bruta global. Ampliado pela Constituição de 1988 com novas, sólidas e crescentes bases de cálculo (36% da arrecadação atual) e submetido a alíquotas internas diversificadas e muito maiores (de até 25% ou 30%), o ICMS arrecadou em 2011 o equivalente a 7,11% do PIB, e mal respondeu por 20% da mesma carga nacional. Logo, mais de quatro décadas depois de criado o ICM, com base mais ampla e maiores alíquotas, o ICMS arrecada relativamente menos na economia brasileira.89

89 AFONSO. José Roberto R. In: REZENDE, Fernando. O federalismo brasileiro em seu labirinto: crise e

A razão para isto já foi exposta. Os benefícios fiscais têm permitido a entrada de mercadorias estrangeiras a custo menor do que a produção interna. A indústria nacional passa por um processo de retrocesso e com isso há perda de renda e empregos.

Além disso, aliado ao problema fiscal, a federação sente o entrave e o peso de medidas tomadas em decorrência da abertura dos direitos sociais de terceira geração com a promulgação da Constituição de 1988. A máquina pública lastima a falta dos recursos gastos com os benefícios previdenciários que poderiam ser utilizados em infraestrutura, educação e outras atividades essenciais, o que torna ainda mais cara a produção nacional.

Convém ressaltar que o foco das prioridades que vêm sendo sugeridas para conter a expansão dos gastos e evitar a breve eclosão de uma crise fiscal está direcionada para os programas abrangidos pelo conceito de seguridade social adotado pela Constituição em 1988. Por trás da expansão dos gastos com benefícios previdenciários e com os programas de saúde e assistência está, como vimos, a universalização dos direitos de cidadania, pelo qual todos os cidadãos, independemente de qualquer vínculo empregatício ou contributivo, deveriam ter acesso à proteção plena do Estado em matéria de previdência, saúde e assistência.90

Outro fator interessante apontado pela ESAF91 é que o ICMS ainda mantém a arrecadação ao atual nível devido à melhor tributação sobre os blue chips, que são as bases tributárias incorporadas em 1988: telecomunicações, combustíveis e lubrificantes, gás natural e energia elétrica. Sem elas a arrecadação estaria seriamente prejudicada. Entretanto, elas não são suficientes para manter o ritmo necessário de crescimento e aumentar as alíquotas poderá gerar efeito negativo.