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Receitas tributárias

No documento Orçamento participativo (páginas 68-72)

2.2 Poder local e receitas públicas

2.2.1 Receitas tributárias

No que concerne às receitas tributárias, é importante que se faça um exame mais aprofundado a esse respeito, levando-se em consideração a doutrina tributária e financeira. Para tanto, é necessário que se examine o conceito de tributo. Conforme aduz Bernardo Ribeiro de Moraes, o termo tributo passou por um processo evolutivo: inicialmente significava dividir ou repartir entre as tribos, já numa noção moderna, resulta como uma exigência da autoridade para com seus subordinados, a fim de atender ao interesse coletivo.30

28 Ver quadro do anexo XIV.

29 DOWBOR, Ladislau. Por uma esfera pública: a experiência do Orçamento Participativo. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 11.

Em face dos inúmeros conceitos e conflitos doutrinários em tòmo do tema, a opção é de apenas conceituá-lo nos termos em que legisla o Código Tributário Nacional no seu artigo 3o, assim dizendo: "Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada".

É da própria conceituação legal que decorrem as características necessárias para que uma receita derivada possa ser entendida como um tributo, sendo destaque cinco hipóteses. Na primeira, "tributo é toda prestação pecuniária”, significando, para tal, que os tributos somente serão pagos em dinheiro. No dizer de Fábio Fanucchi, “tributo é uma prestação de dinheiro”31. A segunda característica refere-se ao fato de que a prestação é “compulsória”, ou

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seja, o tributo é um pagamento obrigatório, sendo da sua essência a compulsoriedade. Como bem doutrina Fábio Fanucchi, “a compulsoriedade é da essência do tributo”.33 Na terceira, a prestação, que deverá ser pecuniária e compulsória, também deverá ser “em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir”. Boa parcela da doutrina tem criticado a expressão, advogando que a mesma seria redundante, já que no momento em que o legislador determina que a prestação será pecuniária, não haveria necessidade de prever que fosse em moeda. Dentre outros, assim expressa Zelmo Denari: “O tributo é sempre uma prestação pecuniária, porque no estágio atual de desenvolvimento dos povos não se compreende que a prestação tributária possa se efetivar in natura”.34 Já Valter Paldes Valério comenta que “(...) nada obstando, entretanto, possa ser feita de outro modo, desde que pecuniariamente avaliável, por exemplo, mediante cheque visado, título vencido da dívida pública, estampilha com valor liberatorio, etc”.35

Nesse diapasão, é importante salientar que a doutrina diverge no sentido de saber se o tributo pode ser pago em outros bens, que não em dinheiro, como em bens móveis ou imóveis e com a prestação de serviços. Afirma Kiyoshi Harada:

a forma usual de satisfazer o tributo é em moeda corrente; porém, nada impede que possa o pagamento do tributo ser feito por algo equivalente à moeda, desde que a legislação ordinária de cada entidade tributante assim o determine, como faculta o Código Tributário Nacional. Alguns autores

31 FANUCCHI, Fábio. Curso de direito tributário brasileiro. 4. ed. São Paulo: Resenha Tributária, 1984, p. 52. j2 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 11 ed. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 40.

33 FANUCCHI, Fábio. Op. cit, p. 52.

34 DENARI, Zelmo. Curso de direito tributário. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 43.

incluem aí até o trabalho humano, fato que tem causado controvérsia quanto à natureza tributária no serviço militar, que é obrigatório e é instituído em lei36.

No mesmo sentido, leciona Eduardo Marcial Ferreira Jardim que “é de mister frisar que o pagamento do tributo, por outro meio que não em dinheiro, somente será permitido se houver disposição legal expressa”.

E ainda Leandro Paulsen,

a prestação é em pecúnia, em dinheiro. Sua liquidação é que pode ser em espécie, desde que a lei assim o preveja, permitindo que determinado bem seja dado em pagamento. De qualquer maneira, o contribuinte sempre poderá cumprir sua obrigação mediante pagamento em dinheiro.38

Parece-nos acertado o entendimento doutrinário que afirma não ser a expressão “em moeda” utilizada de forma redundante pelo legislador, pois a mesma foi utilizada, propositalmente, de tal forma que não pairassem dúvidas, ou seja, que um tributo somente seria pago in pecunia. Dentre estes doutrinadores, podemos citar Hugo de Brito Machado quando assim se manifesta:

A prestação tributária é pecuniária, isto é, seu conteúdo é expresso em moeda. O Direito Brasileiro não admite a instituição de tributo em natureza, vale dizer, expresso em unidade de bens diversos do dinheiro, ou em unidade de serviços. Em outras palavras, nosso direito desconhece os tributos in

natura e in labore.39

A interpretação dominante é no sentido de que um tributo somente pode ser pago em dinheiro, ou seja, em moeda ou outras formas que possam nela se expressar, quais sejam, as definidas no artigo 162 do Código Tributário Nacional.40 Representando ainda esta posição doutrinária, encontra-se, dentre outros nomes, Ruy Barbosa Nogueira.41

36 HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e direito tributário. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 209.

37 JARDIM, Eduardo M. Ferreira. Manual de direito financeiro e tributário. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 74. 38 PAULSEN, Leandro. Direito tributário - Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da

jurisprudência. Livraria do Advogado.

39 MACHADO, Hugo de Brito. Op. cit., pp. 40-41. 40 “Art. 162: O pagamento é efetuado:

I - em moeda corrente, cheque ou vale postal;

II - nos casos previstos em lei, em estampilha, em papel selado, ou por processo mecânico”. 41 NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de direito tributário. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 157.

Como quarta característica da receita tributária destaca-se o fato de que esta prestação, que deverá ser pecuniária, compulsória, cobrada em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, não poderá constituir-se em uma sanção de ato ilícito. Neste ponto reside a diferença já anteriormente mencionada acerca das receitas públicas derivadas tributárias e as receitas públicas derivadas não tributárias, ou seja, para que uma exigência do Estado possa ser entendida como um tributo, não poderá trazer como hipótese para cobrança uma prática ilícita, ofensiva aos ditames legais.

Um tributo jamais trará um comportamento ou uma atividade ilegal como base, como hipótese para ser instituído e cobrado. Com isso não se quer afirmar que um indivíduo, ao exercer atividades ilícitas, e o exemplo a seguir é clássico, como o jogo do bicho ou outros jogos de azar, a exploração de casas de prostituição, o tráfico de drogas, ou qualquer outra, estará livre da incidência da cobrança de tributos, em especial do Imposto de Renda sobre os rendimentos que poderão advir da exploração dessas atividades. Muito pelo contrário. A legislação do Imposto de Renda prevê, como hipótese para sua cobrança, a “aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou proventos de qualquer natureza”42, inexistindo referência para a origem dessa renda. Outro ssim, é importante citar o artigo 118 do Código Tributário Nacional, quando o mesmo assim dispõe:

A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se:

I - da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos;

II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.

A outra característica dos tributos (quinta) corresponde ao fato de que a referida prestação deverá ser “instituída em lei”. Esta característica encontra-se prevista no denominado princípio da legalidade tributária, no artigo 150, inciso I da Constituição Federal de 1988, que assim legisla: “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça”.

O legislador deixou sua posição de forma clara e objetiva: somente o Parlamento, o representante do povo tem competência para a criação de tributos.

Por fim, para que possamos afirmar a existencia de uma receita tributária, necessário se faz que a mesma seja “cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.43 Pretendeu o legislador, com esta característica, deixar exime de dúvida o fato de que ao Executivo pertence o poder de exigir o tributo instituído em lei pelo Legislativo. A exigência do tributo é ato administrativo que decorre única e exclusivamente da lei, ou seja, é ato que não comporta juízos de conveniência e oportunidade por parte da administração pública. No dizer de Kiyoschi Harada:

cobrança de tributos só se processa por meio de atos administrativos vinculados, isto é, sem qualquer margem de discrição do agente público, que deverá portar-se fielmente como prescrito no mandamento legal para edição do ato do “lançamento”, que é a constituição do crédito tributário.44

Decorre daí a distinção dos atos administrativos vinculados, discricionários e arbitrários. O ato discricionário seria aquele que, segundo Maria Sylvia Di Pietro, “implica em liberdade de atuação nos limites traçados pela lei”.45 Já o ato arbitrário é aquele no qual “a administração ultrapasse os limites traçados pela lei, a sua decisão passa a ser arbitrária, ou seja, contrária à lei”.46

No documento Orçamento participativo (páginas 68-72)