• Nenhum resultado encontrado

2. MATERIAIS E MÉTODOS

3.2. Descrição qualitativa do desenvolvimento ontogenético em Mariliasuchus e Caiman

3.2.5. Região palatal

3.2.5.1. Palatino

O palatino é um elemento visível apenas em vista ventral do crânio (Figura 85). Anteriormente ele forma um extenso contato transversal com a maxila, e medialmente neste contato ele forma a maior parte da fenestra maxilo-palatina. Lateralmente, o palatino participa de toda a parede medial da fenestra suborbital, onde avança posteriormente até formar um ramo lateral que toca o ectopterigóide numa sutura oblíqua ao eixo sagital. O palatino toca o pterigóide em dois pontos distintos: um na porção mais posterior de seu ramo lateral e outro na região medial do contato entre os dois palatinos, que toca o processo anteromedial do pterigóide (o septo da coana). O palatino é firmemente suturado entre si e forma boa parte do

65 palato secundário presente em Mariliasuchus, além de participar, com seus ramos laterais, da porção anteromedial da asa do pterigóide e da porção anterolateral da coana (Figura 84). Ontogeneticamente é possível observar que o palatino sofre uma expansão lateral e um encurtamento anteroposterior, se tornando um elemento mais robusto durante o desenvolvimento de M. amarali (Figura 85). Tanto em MZSP-PV 760 como em UFRJ-DG 56-R a região palatal como um todo encontra-se pobremente preservada, impossibilitando uma análise adequada de sua anatomia.

Em Caiman os palatinos são elementos mais expandidos anteriormente (avançando até regiões mais anteriores que a borda da fenestra suborbital) e mais curtos posteriormente (não participando da asa do pterigóide) (Figura 86). Neste táxon, o palatino não participa da coana e não apresenta nenhum vestígio de uma fenestra maxilo-palatina, nem em estágios ontogenéticos menos desenvolvidos. Ontogeneticamente o palatino de Caiman parece se tornar um elemento apenas sutilmente mais robusto, e mais avançado anteriormente, em contraste com o padrão observado em Mariliasuchus onde o palatino fica claramente mais curto e robusto.

3.2.5.2. Ectopterigóide

O ectopterigóide é um elemento bastante significativo na anatomia de Mariliasuchus, compondo quase toda a porção anterior da asa do pterigóide (Figura 85). Anteriormente, ele toca a maxila numa ampla sutura transversal ao eixo sagital, se estendendo lateralmente até o contato triplo entre estes elementos e o jugal. Antes de atingir o jugal, medialmente, o ectopterigóide forma a borda posterior do último alvéolo maxilar e, em alguns casos, também participa da borda do penúltimo alvéolo maxilar (como em MZSP-PV 51 e UFRJ-DG 106-R). A partir do contato triplo entre o ectopterigóide, a maxila e o jugal, o ectopterigóide forma um contato posteriormente direcionado com o jugal que é paralelo ao eixo sagital. Posteroventralmente, o ectopterigóide é firmemente suturado com o pterigóide, participando amplamente da asa do pterigóide (Figura 88). Próximo à sua porção mais ventral, o ectopterigóide forma um contato com o palatino que se estende anterodorsalmente até atingir a borda mais posterior da fenestra suborbital, onde ele participa de toda a metade lateral desta fenestra (Figura 85). O ectopterigóide apresenta uma trajetória ontogenética semelhante à observada no palatino, com uma sutil diminuição do comprimento anteroposterior e um leve aumento em sua dimensão lateromedial.

66 Em Caiman, o ectopterigóide apresenta uma trajetória ontogenética distinta da observada no táxon fóssil: ao longo do desenvolvimento este elemento fica mais alongado anteroposteriormente, com pouca ou nenhuma alteração na largura lateromedial (Figura 86). Em Caiman, também, o ectopterigóide participa relativamente bem menos da asa do pterigóide, formando apenas uma parte de sua porção lateral.

3.2.5.3. Pterigóide

Os pterigóides são completamente fusionados em todos os espécimes estudados menos em MN 6298-V, onde é possível observar o pterigóide do lado direito do crânio (o que fica do lado esquerdo em vista ventral) sobrepondo o pterigóide do lado esquerdo do crânio (Figura 45) e expondo um processo anterior do basiesfenóide que não está visível nos outros espécimes (Figura 85). Infelizmente os espécimes mais juvenis não possuem essa região visível (UFRJ-DG 50-R não está totalmente preparado e MZSP-PV 760 possui os pterigóides bastante danificados), impossibilitando afirmar com certeza se a condição observada em MN 6298-V é oriunda de variação ontogenética ou de variação intraespecífica. Em Mariliasuchus, o pterigóide forma toda a parede posterior da asa do pterigóide (Figura 88), e participa anteriormente da maior parte da coana, margeando toda sua metade posterior e sua parede medial (Figura 85). Na linha de fusão entre os dois pterigóides, seguindo a linha sagital do crânio, estes elementos se unem e formam um processo que se estende anteriormente até contactar os palatinos, formando um septo bem desenvolvido (e levemente alargado anteriormente) da coana (Figura 84). Lateralmente, o pterigóide forma um segundo contato com o palatino e um extenso contato que segue dorsalmente com o ectopterigóide. Posteriormente, o pterigóide toca medialmente o basiesfenóide numa sutura que é côncava para o pterigóide e convexa para o basiesfenóide. Lateralmente a esse contato, o pterigóide ainda toca sutilmente o quadrado. Ontogeneticamente, o pterigóide parece acompanhar a mesma trajetória de desenvolvimento observada nos outros elementos do palato (descritos acima), se tornando um elemento mais robusto e maior lateromedialmente em indivíduos mais desenvolvidos ontogeneticamente (Figura 85). Fora isso, nenhuma outra mudança ontogenética significativa foi observada para este elemento.

O pterigóide em Caiman é um dos elementos que mais se diferencia de seu correlato em Mariliasuchus. Ele participa da grande maioria da asa do pterigóide, e encerra completamente a coana no táxon atual, ao contrário da condição observada em M. amarali (onde há participação do palatino nessa estrutura). O contato entre o pterigóide e o quadrado

67 também não é visível em vista ventral do crânio (Figura 86) devido à expansão posterior da asa do pterigóide, que no táxon atual fica posicionada de maneira muito mais posterior do que no táxon fóssil. O pterigóide é um elemento que tem uma clara e forte alometria positiva em Caiman, ficando proporcionalmente maior durante a ontogenia, tanto em vista lateral (Figura 89) como em vista posterior (Figura 92) do crânio. Essa forte tendência alométrica positiva não é observada em M. amarali.