• Nenhum resultado encontrado

Relação entre a frequência de usos, dificuldades técnicas e disponibilidade de infraestrutura tecnológica

1 TECNOLOGIAS, TRABALHO E EDUCAÇÃO: A SOCIEDADE EM REDE E A CULTURA DIGITAL SOB AS FACES DE JANO

4 CARACTERIZAÇÃO E USOS DAS TD NO TRABALHO DOCENTE NA PG

4.2 FREQUÊNCIA DE USO DAS TD E CAPITAL CULTURAL TECNOLÓGICO

4.2.1 Relação entre a frequência de usos, dificuldades técnicas e disponibilidade de infraestrutura tecnológica

Partimos da já citada premissa de que uma das condições para uso das TD nas atividades da PG é, evidentemente, a presença de tecnologias nesse contexto. No capítulo anterior, vimos que somente uma parte dos professores que atuam na PG dispõe de sala própria na universidade, individual ou compartilhada, para a realização de suas atividades. Em

59 No capítulo intitulado Os três estados do capital cultural, Bourdieu (2007) detalha cada um desses estados. A forma incorporada e objetivada do capital cultural são as que mais nos interessam ao tratar das tecnologias digitais e seus usos.

paralelo, temos que (também) por conta disso, uma parte desses professores é compelida a trabalhar em outros locais, mais precisamente em sua própria casa.

Para analisar se existem diferenças significativas entre a presença de tecnologia na universidade e a frequência de uso das TD nas atividades da PG, separamos o grupo de professores que dispõe de infraestrutura (sala de trabalho na universidade com a presença de TD) e o grupo de professores que não dispõe da mesma infraestrutura. Em seguida, comparamos a intensidade de usos (categorias frequentemente e sempre) para a realização das atividades que listamos. A análise do gráfico a seguir mostra que para somente duas atividades (pesquisas em sites específicos e acesso a plataformas institucionais para apoio à submissão de projetos de pesquisas ou publicações científicas) existe uma frequência de uso maior no grupo de professores que não dispõe, segundo eles, de infraestrutura tecnológica no seu local de trabalho. Embora o padrão de comportamento de uso seja mais ou menos semelhante entre os dois grupos, verificamos uma maior tendência de uso sempre ou frequentemente no grupo de professores que possui tecnologias e sala própria de trabalho na universidade.

Gráfico 12 – Frequência de uso mais intensa das TD para a realização das atividades – comparação entre os grupos que dispõe e não dispõe de TD em

salas próprias na universidade

# Atividades 19

Chats e fóruns de discussão on-line para contato com alunos/orientandos

18 Pesquisas em sites específicos 17 Preparo de aulas

16

Criação e manutenção de blogs e/ou redes sociais (Facebook, Twitter etc.)

15

Apresentações de trabalhos/aulas que incluam áudio e outras mídias

14 Uso de ambientes virtuais de aprendizagem, do tipo Moodle 13 Uso de bibliotecas virtuais e bases de dados on-line

12 Registro e divulgação on-linede notas e conceitos dos alunos 11 Uso de softwares específicos para organizar dados de pesquisa

Disponibilidade ou não de infraestrutura

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Sem TD Com TD

10 Envio de material de aula aos alunos 9 Envio de material de pesquisa a orientandos 8 Atualização de currículo on-line/Lattes

7 Orientação virtual utilizando ferramentas específicas

6

Cadastro/gerenciamento de informações sobre andamento de pesquisas em sistemas específicos (plataforma do CNPq, Capes etc.)

5

Uso de sistemas administrativos on-line para requerimentos na universidade

4 Gerenciamento de laboratórios virtuais 3

Gerenciamento de contas e perfis em redes sociais específicos sobre a área de atuação/pesquisa

2

Gerenciamento de contas de e-mail específicas sobre a área de atuação/pesquisa

1

Acesso a plataformas institucionais para apoio à submissão de projetos de pesquisas ou publicações científicas

Fonte: Elaboração do autor (2016).

Atrelada à disponibilidade de tecnologias, está a questão das diferentes aprendizagens que os usos permitem. Em nossa investigação, apenas tangenciamos essa questão quando buscamos identificar se os professores possuem ou não dificuldade técnica para uso das TD em suas atividades na PG (existente entre 37% dos professores, conforme já apresentamos). Para identificar se a presença de dificuldades técnicas influencia na frequência de uso das TD nas atividades da PG, também separamos os professores em dois grupos: os que possuem e os que não possuem dificuldades técnicas.

Tal como a disponibilidade de acesso, identificamos que as dificuldades em utilizar as TD são elementos importantes – mas não determinantes – para a frequência de seu uso. Em apenas duas situações (atualização de currículo Lattes e envio de materiais a alunos) o uso mais frequente das TD foi maior entre o grupo de professores que afirmou possuir dificuldade técnica. Isso pode ser explicado pelo qualitativo dessas dificuldades: conforme apresentamos no Capítulo 3, algumas das dificuldades descritas são bem específicas e podem não impactar necessariamente no rol de atividades que listamos como opções de usos das TD.

Conforme pode ser identificado no gráfico a seguir, em alguns casos as diferenças na intensidade de usos entre um grupo e outro são

bastante significativas. Mesmo assim, seria precipitado afirmar que as dificuldades técnicas relatadas pelos professores sejam determinantes para a menor intensidade do uso – embora pareça a tendência.

Gráfico 13 – Frequência de uso mais intensa das TD para a realização das atividades – comparação entre os grupos que possuem e não possuem

dificuldades técnicas

# Atividades 19

Chats e fóruns de discussão on-line para contato com alunos/orientandos

18 Pesquisas em sites específicos 17 Preparo de aulas

16

Criação e manutenção de blogs e/ou redes sociais (Facebook, Twitter etc.)

15

Apresentações de trabalhos/aulas que incluam áudio e outras mídias

14 Uso de ambientes virtuais de aprendizagem, do tipo Moodle

Freqência de uso x Dificuldade técnica

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Possui Dificuldade S/ dificuldade

13 Uso de bibliotecas virtuais e bases de dados on-line

12 Registro e divulgação on-line de notas e conceitos dos alunos 11 Uso de softwares específicos para organizar dados de pesquisa 10 Envio de material de aula aos alunos

9 Envio de material de pesquisa a orientandos 8 Atualização de currículo on-line/Lattes

7 Orientação virtual utilizando ferramentas específicas

6

Cadastro/gerenciamento de informações sobre andamento de pesquisas em sistemas específicos (plataforma do CNPq, Capes etc.)

5

Uso de sistemas administrativos on-line para requerimentos na universidade

4 Gerenciamento de laboratórios virtuais 3

Gerenciamento de contas e perfis em redes sociais específicos sobre a área de atuação/pesquisa

2

Gerenciamento de contas de e-mail específicos sobre a área de atuação/pesquisa

1

Acesso a plataformas institucionais para apoio à submissão de projetos de pesquisas ou publicações científicas

Fonte: Elaboração do autor (2016).

O fator faixa etária, comumente citado como determinante para caracterizar facilidades ou dificuldades em lidar com o digital, não pode ser aplicado em nosso caso, já que entre os professores que dizem não ter dificuldade técnica a média de idade é de 54,06 anos, ao passo que no grupo que encontra dificuldade de uso das TD a média é de 56,02 anos – uma diferença muito pequena. A disponibilidade de equipamentos na universidade também não pode ser determinante para as dificuldades técnicas, uma vez que o percentual de professores que não dispõe de sala e tecnologia na universidade é maior no grupo que sinaliza não ter dificuldades para utilizar as TD na PG. Isso pode ser explicado pelo fato de a maior parte da aprendizagem de usos das TD ocorrerem em espaços fora da universidade e, portanto, independerem da disponibilidade de equipamentos nesse lócus, conforme identificamos em outras pesquisas (CUNHA, 2011).

A mesma lógica vale para a relação entre disponibilidade de apoio técnico e presença de dificuldades técnicas entre os professores: enquanto o percentual de professores que não dispõe de apoio técnico para as questões de informática é de 24,5% no grupo que indica ter dificuldade

de uso das TD, no outro grupo (de professores que não possuem dificuldade de uso) esse percentual é de 23,6%, portanto, muito semelhante.

Por sua vez, ambos os grupos possuem comportamentos ligeiramente distintos quando se trata da intensidade de uso das TD para fins pessoais e sociais, como é possível verificar no quadro a seguir. Ainda que alguns índices possam ser destoantes, no geral se percebe que entre os professores que têm dificuldades para utilizar as TD nos processos de trabalho na PG a intensidade e frequência de uso dessas tecnologias é menor no cotidiano pessoal, indicando que são professores “menos conectados”.

Quadro 16 – Caracterização dos usos das TD no contexto pessoal entre professores que apresentam e não apresentam dificuldades para uso das

tecnologias na PG Usos Usa TD no lazer para a maioria das atividades Utiliza internet em dispositivo s móveis Passa a maior parte do tempo conectado Só usa as TD quando extremame nte necessário Não usa TD para fins pessoais Frequência PD NP PD NP PD NP PD NP PD NP Sempre 31,1 43,4 33 50 19,8 33,5 11,3 9,3 3,8 6,6 Frequentemente 40,6 39 33 30,8 47,2 47,3 30,2 19,2 15,1 8,8 Esporadicamente 24,5 15,4 21,7 13,7 24,5 14,8 23,6 25,8 26,4 20,3 Nunca 1,9 2,2 11,3 5,5 7,5 3,3 25,5 40,1 44,3 59,3 PD – Grupo de professores que possui dificuldades técnicas para uso das TD no trabalho na PG.

NP – Grupo que não possui dificuldades técnicas para utilizar as TD no seu trabalho na PG.

Fonte: Elaboração do autor (2016).

Pelos dados que analisamos, podemos inferir que a disponibilidade de tecnologias na universidade e as dificuldades técnicas dos professores influenciam, ainda que ligeiramente, na intensidade de uso das TD nos processos de trabalho na PG. Em paralelo, devemos ter claro que uma parte considerável desse trabalho não é realizado na universidade; não apenas pelo grupo de professores que não possui uma sala própria de trabalho na universidade, mas também por aqueles que fazem horas a mais de trabalho em casa, conforme dados apresentados no capítulo anterior.

Há que se considerar, também, a avaliação que a maioria dos professores faz de que as tecnologias de que dispõem em casa são melhores do que as existentes na universidade. Por esse motivo, podemos dizer que o trabalho docente na PG com uso das TD também se caracteriza por ser um trabalho extensificado para sua residência, não apenas pelas condições ligadas às tecnologias existentes e disponíveis, mas pelas próprias condições de trabalho.