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RELAÇÃO PORTO – CIDADE PERSPECTIVAS DE SAÚDE AMBIENTAL

CAPÍTULO 3. INTERAÇÕES PORTO – CIDADE – LEGISLAÇÃO, SAÚDE E GESTÃO

3.2. RELAÇÃO PORTO – CIDADE PERSPECTIVAS DE SAÚDE AMBIENTAL

A discussão acerca da relação Porto-Cidade passa, invariavelmente, por uma reflexão acerca da saúde ambiental na região de influência. Neste sentido, nesta tese adotou-se como conceito de saúde ambiental aquele apresentado pela Organização Mundial da Saúde, em documento denominado Carta de Sofia (1993) como sendo:

A saúde ambiental compreende os aspectos da saúde humana, incluindo a qualidade de vida, que são determinados por fatores físicos, químicos, biológicos, sociais e psicossociais no meio ambiente. Também se refere à teoria e prática de avaliar, corrigir, controlar e prevenir esses fatores no

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ambiente que potencialmente podem afetar adversamente a saúde das gerações presentes e futuras (OMS, 1993).

Segundo Ribeiro (2004), as preocupações em torno da Saúde Ambiental estão presentes há muito tempo, entretanto, somente na segunda metade do século XX iniciou- se a estruturação de uma área de conhecimento específica para tratar dessas questões.

A necessidade, já no século XX, de se estruturar a saúde ambiental em uma área específica justifica-se sobretudo pelos avanços sociais e econômicos, já sinalizados em capítulos anteriores desta tese, mas traz no cerne a preocupação dos impactos no meio ambiente oriundos das transformações do globo terrestre impostas pela atividade humana que experimentava níveis de intervenção e complexidade nunca vistos até aquele período. Segundo Ribeiro (2004) já no início do século V a.C., na Grécia, havia um esforço em relacionar algumas doenças com o seu local de ocorrência. Tal reflexão permitiu que se criassem hipóteses sobre o papel do meio ambiente nas condições de saúde das populações.

Na era moderna, a promoção da saúde pública no mundo ganha respaldo, sobretudo em áreas produtivas como Londres, berço da revolução industrial, pois rapidamente se percebe que uma população doente representa atrasos para o desenvolvimento econômico. Assim, surge a reforma sanitarista, com o objetivo de tornar os ambientes das cidades salubres e livres de doenças muitas vezes contagiosas. Esse processo também foi identificado na cidade santista, conforme já descrito, tendo como principal expoente da reforma sanitarista o Eng. Saturnino de Brito.

Além das questões sanitárias, o mundo haveria de acompanhar também os avanços do desenvolvimento tecnológico, em especial a sofisticação dos processos produtivos e a rápida globalização, pois começava a surgir a preocupação em relação aos mecanismos de apropriação do planeta e como isso comprometeria a saúde ambiental.

Diamond (2012) abre extensa reflexão acerca da atuação das civilizações sobre os recursos naturais e meio ambiente. Dedica-se à análise de casos cuja intervenção e apropriação humana nos recursos naturais culminou em desequilíbrios e colapso de sociedades como a da ilha de Páscoa, de outras sociedades polinésias, dos Maias em Yucatán e dos Anasazis, localizadas na grande bacia da América do Norte.

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O esforço do autor em resgatar o passado serve para alertar as sociedades contemporâneas em relação aos riscos de novos colapsos, que envolveriam, em decorrência da escassez de recursos, o surgimento de guerras, refugiados ambientais, fome, doenças, comprometendo a saúde das populações.

Ribeiro (2004) aponta que, no Brasil, as preocupações com os problemas ambientais e sua vinculação com a saúde humana emergiram a partir da década de 1970, com a criação de órgãos de controle ambiental, dentre eles a Secretaria Especial de Meio Ambiente, que posteriormente se transformaria no Ministério do Meio Ambiente (MMA) e, no caso de São Paulo, o surgimento da CETESB, cujo objetivo era, estabelecer legislações, inicialmente de comando e controle, para estabelecimento de Padrões de Qualidade do Ar e das Águas, padrões de riscos ambientais, entre outros.

Em 1994 a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), sinalizava que:

Os problemas de saúde ambiental da América Latina e Caribe estão dominados tanto por necessidades não atendidas, enquanto saneamento ambiental tradicional, como por necessidades crescentes de proteção ambiental, que têm se tornado mais graves devido à urbanização intensiva em um entorno caracterizado por um desenvolvimento econômico lento” (OPAS, 1994 apud RIBEIRO, 2004).

De forma mundial, mas também no cenário brasileiro, verifica-se o crescimento da desigualdade ambiental, pois o processo de urbanização e apropriação das cidades, pautados em políticas e sistema econômicos excludentes, tem inserido indivíduos e grupos sociais a riscos ambientais diferenciados. Assim, ainda segundo Ribeiro, 2004, “os indivíduos não são iguais do ponto de vista do acesso a bens ambientais, tais como ar puro, áreas verdes, locais salubres para moradia, embora muitos desses bens sejam públicos”.

Assim, considerando a necessidade de promover uma justiça ambiental e evocando o princípio 16 da Declaração do Rio:

As autoridades nacionais deveriam procurar fomentar a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em conta o critério de que o causador da contaminação deveria, por princípio, arcar com os seus respectivos custos de reabilitação, considerando o interesse público, e

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sem distorcer o comércio e as inversões internacionais. (Declaração do Rio, 1992)

Reforça-se, que diante de todo o exposto nesta tese, o município de Santos apresenta uma efetiva vulnerabilidade ambiental, em decorrência da atividade portuária que vem privatizando os lucros, socializando os prejuízos, sobretudo pelo comprometimento da qualidade ambiental.

Assim, com foco neste cenário, torna-se fundamental promover ações conjuntas, oriundas da relação Porto-Cidade, que se projetem no caminho da sustentabilidade, aqui considerada a definição contida no documento Nosso Futuro Comum, 1987. Seu foco será nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2015), na concepção da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável:

• Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares; • Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da

nutrição e promover a agricultura sustentável;

• Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades;

• Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos;

• Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas;

• Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e o saneamento para todos;

• Objetivo 7. Assegurar a todos o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia;

• Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos;

• Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação;

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• Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;

• Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis;

• Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e os seus impactos;

• Objetivo 14. Conservar e usar sustentavelmente os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável;

• Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade;

• Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis;

• Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.

Observando, em especial os objetivos: 3; 6; 8; 9; 11; 12; 13; 14; 15 e 16.

Diante dessas premissas, torna-se urgente atuar nos principais aspectos e impactos ambientais da atividade portuária e seus desdobramentos na qualidade ambiental do entorno de forma consistente, pragmática e gradual, colhendo frutos perceptíveis pela população residente.