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4.2 Apresentação das empresas

4.2.2 Empresa B

4.2.2.2 Relato de pesquisa realizado na empresa B

a) Processo de IC

Na empresa B, cada unidade de negócio possui seu núcleo de IC, ou seja, cada unidade de negócio realiza a atividade de inteligência voltada para o segmento de mercado em que atua.

Nesta empresa, o processo de IC acontece de forma totalmente descentralizada e independente entre as unidades de negócio. Cada unidade define o que deve ser monitorado no ambiente externo, segundo as necessidades intrínsecas de cada área.

Utilizam-se de sistemas computacionais para facilitar a troca e o acesso às informações, porém muitos dos sistemas utilizados não são integrados e, portanto, não é possível unificar as informações contidas neles.

Conforme comentado na entrevista, “[...] para definir o que deve ser monitorado, considera-se: o que o tomador de decisão quer, o que a equipe de IC entende que ele precisa, e o que ele realmente precisa.”

“[...] percebe-se uma falta de clareza por parte dos tomadores de decisão quanto: à definição de quais as informações realmente precisa e [quais] as informações que desejam, e por isso acabam definindo um escopo de coleta muito amplo. Querem saber tudo.”

Cabe à equipe de IC auxilia o tomador de decisão na definição das necessidades de informações, considerando questões como: quais são as principais preocupações desses gestores? Quais as decisões a serem tomadas no curto, médio e longo prazo?

A equipe de IC monta uma lista com as necessidades de informação e as prioriza com os gestores. Consideram reflexões como: o que é mais importante para a competitividade e a sobrevivência da empresa? Definidas as questões de pesquisa, cabe à equipe de IC delinear o conteúdo que será produzido e entregue aos gestores ao final do processo de IC.

Na etapa de coleta, utilizam-se, entre outras fontes, informações provenientes da rede interna de colaboradores, por exemplo, informações da equipe de vendas. Em relação à coleta de informações, foi destacada a importância de utilizar fontes primárias.

Os produtos de inteligência gerados subsidiam a tomada de decisão das áreas estratégica e tática. Cabe destacar a importância em fornecer aos decisores relatórios que apresente tendências, recomendações, impacto, oportunidades, ameaças.

Dependendo do nível de confidencialidade das informações contidas em determinados produtos, eles podem ser disseminados a outras pessoas dentro da empresa para que elas possam fazer uso da inteligência gerada.

Atualmente a empresa não possui uma sistemática para medir os resultados gerados pela inteligência, mas consideram ser uma etapa importante do processo, ressaltando duas variáveis a ser consideradas ao definir indicadores de resultado, o tempo e o esforço despendido na realização das atividades de mensuração.

b) Etapa de análise

A análise é a etapa do processo de IC que exige do analista reflexão, uso de técnicas e metodologias específicas. O uso desses artefatos sob as informações coletadas permitem ao analista responder às principais inquietações dos gestores, identificar sinais no ambiente externo que podem afetar a empresa, investigar a veracidade de um rumor, avaliar informações provenientes de fonte primária.

Segundo o analista entrevistado, a etapa de análise é algo “mutante”, cada produto é único, porém, com a prática na realização da atividade, algumas constatações em relação a essa etapa podem ser destacadas:

 a questão a ser respondida é o centro da análise;  qual é a decisão a ser tomada;

 a partir da questão a ser respondida, definir alguns parâmetros: tempo para entregar a resposta, precisão da resposta, amplitude necessária na pesquisa, tipo de produto, nível gerencial, qual o momento da empresa, incertezas da empresa;

 ao gerar o produto final, adequar o conteúdo ao perfil do gestor, apresentar recomendações e os impacto delas, ponderar a linguagem e o formato que está sendo utilizado;

 com base nos parâmetros e no objetivo da resposta, utilizar ou combinar técnicas de análise, se necessário.

Figura 34 – Informações para análise Fonte: Elaboração própria

O analista destaca que “[...] com a prática é possível observar que os produtos de inteligência (relatórios) recorrentes seguem um mesmo formato havendo uma atualização das informações, segundo a periodicidade definida.” O resultado de cada produto gerado com a análise pode levar a novas recomendações e à avaliação do impacto delas.

Entretanto, “[...] outros produtos são bem específicos e definidos para atender a uma necessidade pontual identificada ou uma demanda do cliente da inteligência.”

Em relação à utilização de técnicas de análise, o analista entrevistado destacou que é importante combiná-las quando for conveniente, como, por exemplo, “[...] ao realizar uma análise de indústria pode ser combinada com uma análise de ambiente (situação política, econômica, social, tecnológica), mais as cinco forças de Porter”. A combinação de técnicas depende do tipo de análise que está sendo realizada, do setor de atuação e da sensibilidade do analista.

Em relação à análise SWOT, o entrevistado destacou que o “[...] o resultado da análise de indústria e da análise PEST são utilizados na análise SWOT.” Cada técnica possui uma metodologia, uma lógica de execução, pontos sugeridos para análise, entretanto o que é necessário aprofundar no uso de cada uma das técnicas depende muito do escopo definido na questão que o analista tem à responder.

Para determinados tipos de indústrias, não faz sentido usar algumas das técnicas de análise em sua forma tradicional, alguns eixos podem ser retirados ou substituídos.

Veja algumas das técnicas destacadas como mais utilizadas pela empresa:

Técnicas de análise Como é aplicado

Análise de indústria Realiza-se uma análise das Cinco Forças de Porter e uma análise do ambiente (PEST).

SWOT Realizado a partir dos resultados da análise de indústria e ambiental.

Análise financeira Análise financeira entre as empresas competidoras, análise financeira dos fornecedores.

Análise da competição Análise da competição entre algumas empresas.

Análise PEST Acompanhar a situação política, econômica, social, tecnológica, de determinado país ou região de interesse. Quadro 36 – Técnicas utilizadas

Conforme destacado, “[...] a característica da inteligência é estar voltada para o monitoramento do ambiente externo.” Entretanto, o conhecimento do ambiente interno serve para balizar o núcleo de IC na definição do que é necessário captar no ambiente externo e qual o impacto disso para a empresa. Portanto, “[...] o foco do processo de IC é totalmente para fora (ambiente externo), sendo que o uso dos resultados é para dentro da empresa (ambiente interno).”

Em relação às informações que são monitoradas no ambiente externo,

“[...] coletam informações sobre os competidores e os fornecedores, acompanham a situação econômica, educacional, política, incentivos do governo, pesquisa e desenvolvimento de alguns países, cadeia de suprimentos, desenvolvimento da indústria, clientes.”

O processo de IC “[...] não monitora informações do ambiente interno”, mas é importante entender os aspectos relacionados a:“[...] políticas internas; relações de poder existentes; redes de relacionamento; stakeholder da decisão, quem realmente decide na empresa e quais são pontos de atenção dessas pessoas.”

Esses pontos ajudam a entender a dinâmica interna da empresa.

Figura 35 – Informações do ambiente interno e externo Fonte: Elaboração própria

Conforme colocado, “[...] a atividade de inteligência tem uma natureza política muito forte.” Em relação à atividade de inteligência, “[...] está muito mais ligada à identificação de quem toma a decisão e que informação precisa, do que, à escolha da técnica ou à formalização do resultado final.”

Os produtos gerados pela atividade de inteligência são relatórios, sendo que os relatórios periódicos seguem templates definidos pelas áreas. Os produtos gerados são encaminhados aos clientes da inteligência (gestores) por e-mail.

É importante destacar que alguns assuntos demandam do núcleo de IC um monitoramento contínuo e a geração de resultados segundo a periodicidade definida. Em outros casos, as áreas podem demandar do núcleo de IC uma pesquisa específica, algo pontual, que não entra no ciclo de produtos gerados continuamente.

A atividade de análise deve ser um resultado produzido não por uma pessoa ou uma técnica de análise específica, mas decorrente de um trabalho coletivo construído com a participação de vários especialistas, onde cada um pode expor suas experiências, suas percepções e seus conhecimentos sobre um determinado assunto e sobre as informações coletadas. Conforme colocado pelo entrevistado, “[...] a atividade de análise não fica concentrada no núcleo de IC, é realizada de forma descentralizada.

Por fim, cabe ressaltar que a etapa de análise do processo de IC “[...] não é linear” e “[...] deve ser realizada com a colaboração de uma rede de especialistas.” Muitos produtos gerados exigem conhecimento técnico específico, além de conhecimento de mercado, indústria, marketing, financeiro e outros.

c) Melhores práticas

Em relação às melhores práticas adotadas pela empresa, destacam-se:

 descentralizar a atividade de inteligência para que possa ser especializada;

 possibilitar a proximidade com o cliente da inteligência durante a realização do processo;

 alinhar o resultado a ser entregue pela atividade de inteligência com as necessidades dos clientes;

 adaptar as ferramentas de análise sempre que necessário;

 promover o encontro e as discussões com alguns colaboradores-chave com o objetivo de saber seus posicionamentos frente a determinadas tendências;

 participar das reuniões estratégicas;

 contar com apoio de uma rede de especialistas.

Em relação à gestão do conhecimento, consideram importante captar informações primárias junto à equipe de vendas. Destacam ainda que o uso de determinadas técnicas contribui para a troca de informações. Um exemplo de técnica aplicada são os jogos de guerra (war games).