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No documento RelatorioUNFPAPopePolPub (páginas 127-131)

Professora e pesquisadora titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE

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Professor colaborador/bolsista PRODOC do Departamento de Demografia e pesquisador do Cedeplar, UFMG

Maria Cláudia Canto Cabral apresentou as novas propostas do Ministério da Justiça para revisão da legislação de concessão de vistos e entrada no Brasil para estrangeiros das mais diversas situações e procedências. Defendeu a necessidade do Anteprojeto de Lei Sobre Imigrações diante das mudanças sociais, políticas, econômicas e demográficas do Brasil nos últimos 40 anos, bem como das transformações impostas pela globalização no cenário internacional. O “Antigo Paradigma” vinculado ao Estado de Exceção, período da ditadura orientada para os temas da Segurança Nacional, condicionava a legislação migratória para grande rigidez na concessão de vistos e direitos sociais (e humanos) dos imigrantes internacionais. O “Novo Paradigma” vinculado à globalização e à necessidade de salvaguardar os direitos humanos universais dos migrantes. Assim, novas orientações do Ministério da Justiça para tratar da legislação migratória: ampliar concessão de vistos, tipos de vistos e formas de permanência no território; garantir a Soberania e Segurança Nacional sem desconsiderar os direitos humanos básicos (direitos trabalhistas e previdenciários, em especial); propor novas leis e formas de combate ao tráfico de seres humanos, controle e efetivação dos direitos sociais dos imigrantes; promover maior integração social e econômica dos imigrantes, intensificar transferências de tecnologia e conhecimento entre Nações, e garantir a liberdade e diversidade cultural.

A palestrante apresentou propostas para novos tipos de vistos: 1. Turismo de negócios (fusão entre turismo e visita temporária de empresários/executivos); 2. Treinamento profissional: visando a transferência de tecnologia e conhecimentos estratégicos, abrange situações diversas, como trainees, estágios alternados em empresas multinacionais, visto para assistência técnica, e situação particular dos técnicos de empresas marítimas; 3. Pesquisador: visto especial para pesquisadores, cientistas e professores visando incrementar o intercâmbio de pesquisa científica; 4. Visto para voluntariado: facilitação do trabalho voluntariado no país, inclusive de fundações, dirigentes de organizações internacionais e instituições bancárias; 5. Visto de trabalho para estudantes: concessão de vistos de trabalho temporário e parcial para estudantes estrangeiros visando responder à reciprocidade diplomática recebida pelos brasileiros em outros países; 6. Visto para residência temporária e permanente: novo tipo de condição avaliada visa evitar a necessidade de saída do

país do estrangeiro para regularização do visto no país de origem; 7. Visto “prêmio”: visa conceder o visto temporário ou permanente para pessoas com notório saber numa área científica, técnica ou artística; 8. Visto “melhor-idade”: concessão de visto especial para aposentados estrangeiros que pretendam investir no Brasil (compra de imóveis, por exemplo) e fazer turismo regular; 9. Visto de investidor: concessão para estrangeiros que tenham intenção de investir no desenvolvimento do país.

O segundo palestrante, Orlando Fantazzini, expressou a visão do Parlamento Brasileiro em relação às questões da migração internacional no Brasil, e também fez a ressalva de que as visões no Congresso Nacional são múltiplas e não consensuais, em especial sobre as prioridades de atuação quanto aos migrantes (imigrantes estrangeiros e emigrantes brasileiros). De maneira geral, defende o foco da atenção das políticas de migração nos direitos humanos dos migrantes, combate ao tráfico de seres humanos, exploração do turismo sexual internacional, garantia de direitos trabalhistas dos emigrantes e imigrantes internacionais e ação mais concreta com relação à situação dos brasileiros no exterior.

Além disso, chamou a atenção para a necessidade de uma perspectiva mais global e relacional dos agentes públicos (Executivo, Legislativo e Judiciário) sobre o contexto do Brasil nas migrações internacionais contemporâneas: é necessário pensar o Brasil nos termos da reciprocidade com os países onde há trocas migratórias. Assim, defende amplamente a configuração geopolítica global através da elaboração de tratados internacionais forçosamente bilaterais e multilaterais, que atendam as demandas de cada país e preservem os direitos humanos em todos os níveis (local, nacional e internacional).

Afirma que não há por que se concentrar na legalidade ou não do deslocamento, visto que ele já é garantido pela declaração dos direitos universais da ONU. O problema atual é sobre a regularidade/irregularidade, documentados/indocumentados, e diz respeito às responsabilidades dos Estados Nacionais e às pressões do mercado econômico global. As políticas públicas devem estar mais atentas quanto à erradicação da pobreza nos países de origem, à integração cultural e ao controle dos conflitos políticos e econômicos. Defende maior comunicação e circulação das informações entre todas as instâncias de poder dos Estados e da Sociedade Civil (chama atenção para a necessidade de garantir a comunicação entre as comunidades de imigrantes e seus locais de origem).

Fantazzini faz a crítica do papel dos Estados (em especial do Estado Brasileiro), das instâncias de governo que não defendem os interesses e direitos dos migrantes, do desconhecimento da nova situação alcançada pela emigração internacional de brasileiros e a precariedade destes no exterior. Critica as ações do Itamaraty e dos serviços consulares no exterior, fala sobre o “medo” dos emigrantes com relação às ações consulares, e também sobre a precariedade dos serviços prestados com relação ao amparo dos brasileiros em situação de irregularidade. Defende, ainda, uma mudança conceitual sobre a percepção e tratamento dos emigrantes internacionais, em especial sobre a situação de irregularidade (deveria haver mais tratados internacionais multilaterais) e também o não aproveitamento das remessas internacionais para o desenvolvimento das comunidades de origem.

Apresentou propostas de ação do Estado junto às organizações da sociedade civil para proteção dos direitos humanos – e faz a crítica severa da incongruência

política brasileira ao não ratificar alguns tratados internacionais sobre a livre circulação de pessoas.

O terceiro palestrante, Nilton Freitas, falou em nome do Conselho Nacional de Imigração. Expressou a necessidade de unificação das instâncias de governo que lidam com as questões migratórias (Ministérios do Trabalho, Justiça, Relações Exteriores, Turismo, Ciência e Tecnologia e Educação), além do contato mais intenso entre governo e sociedade civil segundo seus vários segmentos (universidades, sindicatos, ONGs, instituições cívicas e religiosas, organizações de imigrantes, etc). Destacou a necessidade de desenvolvimento de massa crítica para a consecução de políticas públicas de migração mais abrangentes (papel fundamental das universidades e institutos de pesquisa). Além disso, também defendeu parcerias entre governo e estas instituições de fomento à pesquisa na área das migrações internacionais. Ao mesmo tempo em que fez a crítica do Governo sobre algumas medidas que impediram a livre circulação dos trabalhadores, dificultando a aplicação da legislação trabalhista para imigrantes, defendeu mais diálogo dentro e fora do governo e a necessidade de facilitar a livre circulação de pessoas na região do Mercosul.

Uma contradição ou paradoxo aparente nas falas de todos (e mais destacada aqui), é a proposta de políticas públicas que desenvolvam mais o mercado de trabalho interno para brasileiros. Ele fala explicitamente na necessidade de concentrar mais brasileiros nos postos de trabalho, onde há mais concorrência estrangeira. Uma no cravo, outra na ferradura – as contradições do Estado diante da duplicidade do fenômeno migratório.

Freitas fala longa e detalhadamente sobre as funções e prerrogativas do Conselho Nacional de Imigração, da necessidade de sua reforma e ampliação, e também critica suas limitações institucionais e legais. Destaca, também, alguns pontos e diretrizes da burocracia do Ministério do Trabalho com relação à situação do trabalho dos imigrantes. Algumas inovações e tentativas de resolução de problemas de direitos trabalhistas e previdenciários. Chama a atenção, em especial, para o caso dos bolivianos e das medidas tomadas para controle do trabalho irregular desse contingente populacional. Fala da necessidade de uma política nacional e regional integradas, que dê conta de avaliar o processo globalmente, leve em conta tanto imigrantes quanto emigrantes brasileiros (a reciprocidade dos acordos internacionais e a aplicação de legislação pertinente para avanço e garantia dos direitos trabalhistas em todos os países).

O quarto e último palestrante, Manoel Gomes Pereira, comenta a situação atual da emigração internacional, o perfil da população migrante e os principais destinos e comunidades de imigrantes no estrangeiro. Também fala das limitações do serviço consular, das carências de recursos humanos e financeiros para a melhoria do sistema de informação e assistência aos brasileiros no exterior e explica a organização da força-tarefa entre ministérios para atuação conjunta em diversos temas migratórios.

Segundo o Embaixador, as estimativas atuais, nas quais se baseia o Ministério das Relações Exteriores, contabilizam entre 3 e 4 milhões de brasileiros vivendo no exterior, a maioria em situação de irregularidade. Destes, entre 1,8 milhão e 2 milhões viveriam nos EUA, aproximadamente 300 mil no Japão (todos virtualmente

regularizados), 500 mil no Paraguai, 100 mil no Reino Unido (dos quais 90% em situação irregular), e outros destinos igualmente concentradores (Portugal, Espanha, Uruguai e Argentina).

Pereira critica a falta de reciprocidade dos Estados Nacionais com relação às políticas migratórias para as comunidades brasileiras no exterior. Destaca a participação do Governo brasileiro no contexto das políticas internacionais para migração (mas não fala da não ratificação de tratados importantes). Fala sobre o problema das migrações de fronteira, em especial o caso dos Bolivianos e a necessidade de desenvolver acordos bilaterais mais específicos com relação à legislação trabalhista, e da necessidade de modernização do sistema de informação e administração dos serviços consulares. Dá vários exemplos de melhorias nesse sentido, como a criação da Carteira de Matrícula Consular que implicará na unificação do sistema internacional de informação sobre brasileiros residentes no exterior, além do registro de trânsito, entradas e saídas do país. Melhoria também da segurança na documentação dos brasileiros, controle de extravios e busca de melhoria da situação de irregulares através da utilização das novas carteiras, além de melhoria da segurança na emissão e utilização dos passaportes. Sugere maior integração entre o MRE e a Polícia Federal e o Ministério da Justiça.

Pereira fala pouco sobre a situação dos brasileiros residentes no exterior e o desenraizamento possível da segunda e terceira geração (fala um pouco mais sobre isso numa resposta à pergunta da Paula Miranda-Ribeiro). Fala, brevemente, da crescente conscientização sobre a migração de “retorno”.

Com relação ao lançamento do Relatório da GCIM, Mary Castro fala sobre a situação contemporânea das migrações internacionais – como foi constituído o grupo de discussão, quais foram as estratégias adotadas para produção do relatório, as diretrizes e princípios trabalhados. Em linhas gerais, enfoca o problema da contemporaneidade em relação à intolerância, governança, soberania, direitos humanos e mobilidade. Propõe analisar as questões migratórias ligadas diretamente a esse problema da intolerância entre culturas, a alteridade, e a necessidade de desenvolver mecanismos supranacionais para o controle das dissensões.

Castro ressalta a ênfase do relatório sobre as questões de direitos humanos (mobilidade) e soberania nacional. Para isso, lança mão dos 3 D’s (demografia, democracia e desenvolvimento) como estratégia fundamental para a resolução dos problemas suscitados pelas migrações internacionais. Finalmente, destaca a discussão sobre os migrantes internacionais em situação de irregularidade e a necessidade de um maior debate sobre as questões envolvidas, em especial a reação de intolerância das sociedades e dos Estados Nacionais com relação a esse tipo de migrante, o foco da intolerância e desigualdade de políticas migratórias.

ABERTURA

No documento RelatorioUNFPAPopePolPub (páginas 127-131)