• Nenhum resultado encontrado

6. ANÁLISE COMPARATIVA DA CONDIÇÃO ECONÔMICA DOS

6.2. Categorias de renda monetária dos assentados

6.2.1. Renda derivada da produção agropecuária e florestal

Para efeito da análise, o estudo identificou cinco categorias de atividades relacionadas à produção agropecuária e florestal: cultivos anuais, cultivos perenes (incluindo semi-perenes), criação de bovinos (e produtos derivados), criação de pequenos animais (e produtos derivados), e produção florestal.

Apesar do baixo investimento relatado nas entrevistas em políticas governamentais para os assentamentos, o acesso à terra permite uma reorganização social dessas famílias. Para Bergamasco (1997) isso acontece por dois fatores: a abertura de um espaço para a construção habitacional e o aumento na disponibilidade familiar de alimentos através do autoconsumo. No entanto, depoimentos dos entrevistados indicam que a renda monetária agropecuária constitui o principal objetivo dessas famílias.

Segundo Veiga (2001), a diversidade de produção agrícola conciliada com a criação de animais, maximiza oportunidades de desenvolvimento humano e diversifica as economias locais. Para Wanderley (2000), a diversificação das atividades é uma estratégia adotada pelos agricultores brasileiros, e destina-se não só a ampliar o leque de produtos comercializáveis, mas igualmente a garantir o autoconsumo.

A diversificação agrícola é considerada, portanto, uma alternativa de renda para os pequenos produtores, pois se o produtor possuir apenas uma cultura anual como principal fonte de renda, está sempre correndo o risco de perder sua produção devido a agentes externos, como clima, pragas e doenças, além de estar sujeito às condições de mercado. Quando insere outras culturas, seja para a comercialização ou para o consumo de sua família, abre-se a possibilidade de uma nova renda. A diversificação pode representar, então, a redução do risco para o produtor, pela dependência de uma única cultura e uma forma de maximizar as condições de sua sobrevivência.

A produção familiar foi excluída das estratégias iniciais de desenvolvimento da região da Transamazônica e, apesar de avanços recentes na criação e implementação de programas e políticas públicas dirigidas, sobretudo federais, sua inclusão ainda acontece de forma lenta e desordenada. A produção familiar na região ainda é desenvolvida com padrão tecnológico em que prevalece a prática agrícola de ―corte e queima‖ da

cobertura florestal e a criação extensiva de gado, sistemas reconhecidamente caracterizados por alto custo ambiental e baixa produtividade. Isso se dá principalmente em decorrência das dificuldades financeiras enfrentadas, além da falta de assistência técnica, baixo nível de acesso ao crédito rural, insuficiente infraestrutura para transporte, além de falta de estruturas de beneficiamento, armazenamento e comercialização da produção agrícola.

Analisando a produção agropecuária nos assentamentos pesquisados é possível constatar que os produtos mais cultivados são aqueles mais facilmente comercializáveis e, aqueles mais importantes na alimentação da família: cacaueiro, mandioca e arroz. Também a criação animal é diversificada, os animais são utilizados para consumo e venda com destaque para gado de corte, aves, suínos e peixes. Verificou-se ainda que existia pouca renda agregada através da industrialização da produção, pois apenas o queijo e a polpa de frutas aparecem como produtos transformados.

Apesar de diversificada, a geração de renda através da produção agrícola concentra-se na comercialização de culturas anuais (milho, arroz, farinha de mandioca); semi-perenes (bananeira); e perenes (pimenta-do-reino, urucum, açaízeiro, cupuaçuzeiro e cacaueiro), sendo que dentre esses se destaca a produção de cacau. O município está localizado no polo cacaueiro da Transamazônica, que concentra 75% da produção do Pará, apresentando a sexta maior produção do estado, responsável por 4,5% do total (IBGE/PAM, 2017).

Entre os ramos produtivos do setor agropecuário, a criação bovina, apesar de ocupar relativamente pouca mão de obra, tem grande importância como fonte de renda. A bovinocultura paraense é destaque por registrar o quinto maior rebanho efetivo do país, superior a 19 milhões de cabeças, segundo o IBGE, ou mais de 22 milhões, consoante dados da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), o que o tornaria o terceiro maior rebanho do Brasil (FAPESPA, 2015). De acordo com Kohlhepp (1987), até meados da década de 1980, cerca de 9 milhões de hectares de terras já haviam sido ocupados por fazendas de gado no sul e sudeste do Pará (apud KOHLHEPP, 2002, p.40), pois incentivos governamentais tornaram vantajoso para bancos, seguradoras, mineradoras e empresas diversas do Centro-Sul investir na criação de gado bovino, com subsídios do governo federal.

A criação de pequenos animais também é comum entre os agricultores familiares, e isso se dá principalmente devido ao baixo custo de investimento em instalações e equipamentos, assegurando assim uma renda complementar ao orçamento

familiar e uma alimentação balanceada para a família. Dessa forma, a criação de pequenos animais na propriedade representa um aspecto relevante, seja como fonte proteica acessível e com seguridade alimentar, ou como uma fonte alternativa de renda familiar, através da comercialização do excedente da produção.

Com relação à produção florestal, apesar da magnitude da floresta nos assentamentos estudados, seu aproveitamento econômico ainda tem sido pequeno. No entanto, a atividade representa importante fonte de pesquisa para novos estudos regionais de diversificação nos sistemas de produção, sendo bastante discutida, principalmente em virtude dos graves impactos ambientais produzidos pelas atividades agropecuárias. Alternativas de uso de produtos florestais podem ser de grande importância para o desenvolvimento de comunidades locais, além de contribuir para a conservação do meio ambiente. No caso específico dos PDS, consta nas suas diretrizes a promoção do desenvolvimento em bases sustentáveis, através da geração de emprego e renda, promoção e estímulo das parcerias entre comunitários, instituições de pesquisa e empresas e a promoção da utilização e do uso comunitário dos recursos florestais madeireiros e não-madeireiros.

Nas últimas décadas, tem crescido o interesse das organizações não governamentais, instituições de pesquisa e demais setores da sociedade na utilização dos produtos florestais não madeireiros (PFNM), gerando novas informações sobre a importância que tais produtos desempenham no contexto socioeconômico das populações que vivem nas florestas e de seus efeitos sobre a conservação e o manejo sustentável (GUERRA, 2008). De acordo com a FAO (2002), os produtos florestais não-madeireiros são recursos biológicos provenientes de florestas nativas, sistemas agroflorestais e plantações e incluem plantas medicinais e comestíveis, frutas, castanhas, resinas, látex, óleos essenciais, fibras, forragem, fungos, fauna e madeira para fabricação de artesanato. Além do potencial econômico, os PFNM constituem fontes alimentícias e medicinais para milhões de famílias na Amazônia.