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6. ANÁLISE COMPARATIVA DA CONDIÇÃO ECONÔMICA DOS

6.2. Categorias de renda monetária dos assentados

6.2.2. Renda não agrícola, obtida fora do estabelecimento rural

Foram seis as categorias de renda monetária derivadas de fontes não diretamente vinculadas à produção agropecuária e florestal realizada no lote dos assentados: trabalho assalariado como diarista, assalariamento como funcionário público, aposentadoria rural, benefício do Bolsa Família, atividade comercial e arrendamento de terras.

Segundo Buainain e Garcia (2013), a economia local abre possibilidades aos pequenos produtores, em relação à produção e comercialização. Uma economia local dinâmica e organizada permite aos produtores superar a desvantagem da escala e facilita a adoção de alternativas, além da produção, como geração de renda rural não agrícola ou pela possibilidade de articulação rural-urbano.

Os dados da pesquisa permitiram observar a importância da participação de outras rendas para a família. Segundo Kageyama (2001), as três principais fontes de renda das famílias rurais são o trabalho agrícola, os trabalhos fora da agricultura e os benefícios sociais, principalmente a aposentadoria.

Ao analisar pluriatividade como estratégia de reprodução social e econômica dos produtores familiares para permanecer no espaço rural, Carneiro (2000) argumenta que a prática pode tanto revitalizar as atividades agrícolas como secundarizá-las. Já para Schineider (2005):

A pluriatividade refere-se a um fenômeno que se caracteriza pela combinação das múltiplas inserções ocupacionais das pessoas que pertencem a uma mesma família. A emergência da pluriatividade ocorre em situações em que os membros que compõem as famílias domiciliadas nos espaços rurais combinam a atividade agrícola com outras formas de ocupação em atividades não-agrícolas. Ou seja, a pluriatividade resulta da interação entre as decisões individuais e familiares com o contexto social e econômico em que estas estão inseridas (SCHNEIDER, 2005, p. 78).

A venda de mão de obra em atividades externas ao lote, desde que as atividades produtivas continuem gerando renda, pode, portanto, significar o avanço das relações econômicas do entorno e o aproveitamento de oportunidades. Por outro lado, quando o assentado precisa buscar o sustento da família em atividades externas, não conseguindo produzir uma renda mínima através do trabalho no próprio lote, tal indica que o projeto de assentamento não atendeu os objetivos para o qual foi criado.

Dentre programas sociais e de transferência de renda, a aposentadoria (incluindo os benefícios continuados) e o Programa Bolsa Família foram frequentemente identificados como fontes de renda nos assentamentos estudados. A Previdência Social Rural, ao garantir proteção social a um público em geral muito pobre e historicamente marginalizado na sociedade brasileira, termina por assumir um papel de destaque na distribuição da renda no território nacional. A Previdência Rural foi efetivada de fato no Brasil em 1992, com a aplicação das novas leis de custeio e benefícios da previdência (Leis 8.212 e 8.213, de 24 de junho de 1991) definidas pela Constituição de 1988. Desde então, chega ao meio rural um sistema de atendimento ao trabalhador informal e à agricultura de subsistência, o chamado ―regime especial‖. Com isso, se introduziu o

princípio do acesso universal de idosos e inválidos de ambos os sexos à previdência social, em regime especial; ou seja, o chamado setor rural informal, constituído pelo ―produtor, parceiro, meeiro e o arrendatário rurais, o garimpeiro e o pescador artesanal, bem como respectivos cônjuges que exerçam suas atividades em regime de economia familiar sem empregados permanentes‖ (Art. 195, § 8, Constituição Federal, apud DELGADO, 2000, p. 2).

Diversos estudos têm demonstrado que as aposentadorias impactam diretamente na redução da pobreza no meio rural no Brasil, tendo em vista que facilitam a reprodução econômica de uma parcela da população que, em muitos casos, não teria condições de sobreviver dignamente sem a proteção proporcionada pela política social (SCHWARZER, 2000; BELTRÃO et. al, 2000; AQUINO, SOUZA 2007; DELGADO, 2015). Em um ambiente naturalmente hostil, marcado por adversidades climáticas, rendas regulares advindas dos benefícios previdenciários representam elemento de estabilidade que amplia estratégias de sobrevivência de pessoas carentes, reduzindo a migração destes às cidades.

O Programa Bolsa Família (PBF), também contribui para a renda dos assentados. Segundo o então Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), que abriga o Programa Bolsa Família (PBF), este é um programa de transferência direta de renda condicional, que beneficia famílias em situação de pobreza (com renda mensal per capita de R$ 77,01 a R$ 154,00 por pessoa) e extrema pobreza (com renda mensal per capita de até R$77,00) (MDS, 2015). O objetivo deste Programa, além de reduzir a desigualdade, é garantir a inserção e a continuidade do aprendizado de crianças carentes no sistema educacional, promovendo maior nível de escolaridade entre os jovens, fomentando a quebra do ciclo vicioso da miséria. Além disso, o Programa contribui para a erradicação de algumas doenças, uma vez que a periodicidade da vacinação também é uma das regras impostas para se alcançar o benefício

Além das atividades não agrícolas citadas, foram identificadas a geração de renda através de comércio e do arrendamento de terra. A atividade comercial está presente nos assentamentos principalmente devido à distancia dos mesmos aos estabelecimentos comerciais localizados nas sedes municipais. Comércios locais facilitam, portanto, o acesso a itens básicos de consumo, contribuindo para diminuir a busca pelo meio urbano. Mesmo que a cidade seja o maior centro comercial para os assentados, há ainda entraves que dificultam a aquisição de produtos na cidade, como a má qualidade das estradas e a falta de transporte. O meio de transporte predominante

entre os assentados é a motocicleta, que não suporta o transporte de compras volumosas realizadas na cidade. Apesar de em alguns casos haver transportes particulares, esses não realizam o trajeto diariamente. Portanto, os estabelecimentos comerciais dentro dos assentamentos constituem a principal forma de acesso de produtos básicos para as famílias. As unidades comerciais, geralmente pequenas, são mantidas apenas com mão de obra familiar, sem contratação externa para serviços na atividade, não gerando empregos diretos.

Registra-se ainda, a geração de renda através do arrendamento de terra. Embora o arrendamento fundiário no país seja fenômeno mais frequente entre produtores mais capitalizados, este sistema de cessão temporária da posse da terra tem sido cada vez mais frequente, de maneira informal, também entre agricultores familiares, como forma de obtenção de renda, enquanto para os arrendatários é uma alternativa de expandir sua produção sem a necessidade de aquisição de terras adicionais. O arrendamento é um contrato agrário no qual uma pessoa (arrendador) se responsabiliza por ceder à outra (arrendatário), por tempo determinado ou não, o uso de um imóvel rural. No arrendamento, o montante a ser pago pelo arrendatário é fixado em dinheiro ou produto. O arrendatário assume praticamente todos os riscos do processo produtivo, custeando, quase sempre inteiramente o investimento inicial (FERNANDES FILHO; ALMEIDA, 1998). Nos assentamentos estudados os contratos são firmados de maneira informal, na base da confiança, sendo comuns acordos entre parentes e amigos.

O meio rural deixou de ser sinônimo de agrícola e passou a ser também o local de atividades que eram tipicamente urbanas. Schneider (2003) destaca pelo menos cinco fatores principais que teriam contribuído para a emergência e expansão das atividades não-agrícolas nos países desenvolvidos. São eles: a modernização tecnológica; a queda da renda agrícola; as políticas públicas; a dinâmica do mercado de trabalho e a pluriatividade como característica estrutural da agricultura familiar. De fato, as diversas fontes de renda de atividades não agrícolas no meio rural permitem estabelecer processos de diversificação produtiva e ampliação da renda. É possível que em determinadas regiões a agricultura deixe de ser a única possibilidade de ocupação e emprego, pois as atividades não agrícolas passam a oferecer alternativas aos que habitam o espaço rural. Isso não significa, contudo, que a agricultura deixará de ser importante. Ao contrário, pode indicar o surgimento de uma nova divisão espacial, contribuindo para o desenvolvimento da propriedade.