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5. PERCEPÇÃO DOS ASSENTADOS SOBRE O LUGAR EM QUE VIVEM

5.2. Percepção dos assentados a partir da análise de seus discursos

5.2.5 Floresta, meio ambiente e sustentabilidade

5.2.5.2. Sustentabilidade

A questão da sustentabilidade é uma preocupação no quadro ambiental e social dos assentamentos de reforma agrária. Os termos ―sustentabilidade‖ e ―desenvolvimento sustentável‖ estão associados a conceitos econômicos, ambientais e sociais. Entretanto, existem interesses e conceitos distintos para o estabelecimento de parâmetros sobre o que seja um ―ambiente sustentável‖.

As ações para a adoção de um modelo de desenvolvimento sustentável no Brasil passam a ser introduzidas no campo da reforma agrária no final dos anos 1990, e aos poucos vão se tornando realidade, principalmente com a implantação de modelos de assentamentos ambientalmente diferenciados.

Pelo que se pôde observar in loco na área da pesquisa, a ação de muitos assentados é contrária à prática produtiva sustentável. Há terras que já se encontravam seriamente devastadas, mesmo antes de serem ocupadas, em função principalmente do modelo de colonização da região, pautado em desmatar para ser considerado produtivo. E mesmo nos PDS, dentre as práticas agrícolas utilizadas, predomina o corte-e-queima, prejudicial ao meio ambiente. Neste sentido, a consolidação dos Projetos de Desenvolvimento Sustentáveis em Anapu é também um desafio, pois implica em subverter a ordem estabelecida há décadas, pelo modelo de desenvolvimento excludente (SACHS, 2004), que ainda predomina na Amazônia.

Para Sachs (2004), o desenvolvimento é entendido não somente no sentido econômico, mas também no de bem estar. Dessa forma, conciliar sustentabilidade com desenvolvimento envolve o desafio necessário de realizar atividades produtivas aliadas à conservação de recursos naturais.

Nos assentamentos pesquisados, independente da modalidade, foi possível observar que com o apoio das organizações sociais, gradativamente as famílias incorporaram o discurso ambiental do cuidado com a mata, e da importância dela para o bem estar do assentamento. No entanto, ainda é aparente a diferença dos discursos de

acordo com a modalidade de assentamento. Nos assentamentos convencionais, os entrevistados apresentam discursos mais vagos em relação à sustentabilidade, e muitos, apesar de já terem ouvido falar, não sabem seu significado. Durante as entrevistas, quando questionados sobre o que entendem por desenvolvimento sustentável, foram comuns discursos como: “a gente vê falar na televisão, mas eu não entendo bem o que

é não”. Segundo os assentados, essas discussões não estão presentes no assentamento.

Quando foram iniciados os discursos sobre a criação dos assentamentos, no final da década de 1990, o tema era até mencionado em reuniões. No entanto, logo após a criação, nada foi desenvolvido nesse sentido. A forma como esses assentamentos foram iniciados interfere, portanto diretamente na construção do pensamento do assentado.

A visão de desenvolvimento para assentados em PAs convencionais está diretamente ligada com geração de riqueza, que nos assentamentos é associada à criação de gado. Assim, parte dos assentados considera que mesmo a mata sendo necessária, é preciso que os limites para a reserva sejam revistos no sentido de aumentar a área para as atividades produtivas. Esses agricultores, quando questionados sobre como o assentamento poderá chegar ao desenvolvimento sustentável, alegaram que isso só será possível com investimentos do governo, principalmente na mecanização de áreas e através de fiscalização e investimento em conscientização dos assentados sobre o tema. No entanto, há que se atentar para a necessidade de intervenções locais no intuito de viabilizar a introdução de sistemas produtivos baseados nos princípios da sustentabilidade, que venham ao encontro das peculiaridades do assentamento.

Já nos PDS o discurso sobre sustentabilidade foi introduzido desde o inicio das discussões sobre a criação do assentamento. Os movimentos sociais já pensavam, antes mesmo de conhecer a modalidade, em criar áreas diferenciadas dos assentamentos convencionais existentes na região, principalmente por verem que a modalidade existente até então no município estava contribuindo para o desmatamento. Assim, o PDS surge como uma alternativa para reverter esse modelo, com uma proposta em que o ecossistema deve manter suas características e inter-relações fundamentais ao longo do tempo, para viabilizar a sustentação da vida. De acordo com o já mencionado, os agricultores eram introduzidos a esse discurso logo no momento em que iam procurar terra, e continuavam participando de reuniões que foram fundamentais em seu processo de formação. Assim, é possível identificar que a compreensão sobre desenvolvimento sustentável está bastante presente nos PDS, principalmente entre os assentados pioneiros, que participaram de todo esse processo. Para esses assentados, a floresta

aparece como parte do sistema de produção. No entanto, os assentados mais antigos enfrentam um grande desafio. Segundo eles, a mobilidade constante entre os moradores tem dificultado a consolidação dessa ideia de desenvolvimento sustentável, visto que a maior parte dos moradores novatos não concorda com os princípios do PDS. Mesmo com os esforços dos assentados, eles não conseguem reverter o pensamento desses moradores, e esse embate de pensamentos tem gerado conflitos no assentamento.

Para alguns entrevistados, o PDS tem perdido o caráter de sustentável, visto que com a entrada desses novos moradores, o discurso no assentamento foi sendo modificado, tanto que hoje há uma parte considerável de moradores que deseja que a modalidade seja alterada. Com efeito, durante as entrevistas, muitos assentados alegaram que o PDS tem perdido seu caráter sustentável, e que para o assentamento alcançar um desenvolvimento realmente sustentável, são necessários investimentos por parte do governo, em projetos que valorizem a floresta e que a integrem à unidade familiar de produção. Ou seja, projetos que façam com que a floresta gere renda no assentamento. Muitos assentados, especialmente no PDS Virola Jatobá, apontaram a retomada do MFC como uma saída nesse sentido.

6. ANÁLISE COMPARATIVA DA CONDIÇÃO ECONÔMICA DOS