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Vam os agora reflet ir o entendim ent o de conceit o e de cat egorização que, j unt os, são form at ações do que é cham ado de represent ação e, em um processo colet ivo, fazem part e do processo designado por cognição. Esses t em as são assaz relevant es ao darm os nossas aulas, para olharm os/ conhecerm os/ respeit arm os os corpoS de nossos alunos e, sem dúvida, para colocarm os em questão os conceit os difundidos pela m ídia. Port ant o, o que se coloca é que essas próprias noções precisam ser revisitadas e, sobretudo, reelaboradas, pois elas são corponect ivas, ao cont rário de um m at erial “ puram ent e” int elect ual ou racional, com o geralm ent e são t rat ados.

“ A t eoria clássica da represent ação com eça no século XVI I e part e da pressuposição da est ranheza do m undo em relação à m ent e que o concebe – um a est ranheza que result a de um a caract erização da m ent e com o algo dist int o do m undo” TEI XEI RA ( 2004: 45) .

A represent ação é ent endida, nas am biências m idiát icas e educacionais com o m anipulação de sím bolos ou figuras ( com o ícones de com put ador) que t êm , ao m esm o t em po, um a realidade m at erial e sem ânt ica, localizados “ dent ro” do cérebrom ent e, e represent am o m undo, independent e do rest o do corpo. Há, ainda, um ent endim ent o ( o do Conexionism o, DUPUY 1994) que pensa a represent ação com o um cálculo em paralelo, com o se as represent ações ( de, por exem plo, um a cadeira, um cavalo, ou um t em a de livro) fossem t raduzidas por redes neurais para os est ados sim bólicos, espelhando- as “ diret am ent e” , sem nenhum processo em conj unt o com o rest o do

corpo, quer dizer, sem at enção ao que o corpopessoa pensa/ sent e ou m et aboliza em relação à cadeira, livro, et c. Ent ão, m esm o aceit ando que redes neurais ( corpóreas) fazem part e do processo de representar, o sent ido ( m etafórico) de “ em paralelo” não leva em cont a a pessoa, inserida no am bient e e o est ado do corpo que ela é/ est á. Est es aspect os t êm relação com o que vim os na visão funcionalist a da m ent e (p. 49) , um a t eoria da correspondência da

“ verdade” (v. temas essencialistas, p. 121) que declara com o “ verdadeira”

a relação entre as palavras e com o obj et ivo o m undo real, independent e e alheio a qualquer corpogent e. Com essa proposição, parece que se pensa som ent e por palavras escrit as ou faladas. Tendo essa perspect iva com o ferram ent a de análise, m ídia e educação t ornam m esm o desnecessária qualquer espécie de est udo sobre corpo, m ent e e cérebro, que ent enda que conceit os não são som ent e represent ados sim bolicam ent e.

Com um ent e, em um a aula de Geografia, Ciências, Est udo do44

Meio, ou na propaganda de que t em coisas que o dinheiro não

com pra, por exem plo, o educando aprende a incom preensão do

sent ido ao repet ir um a “ colcha de ret alhos form ada de declam ação

ideológica e de fat os que foram apropriados, ist o é, na m aior part e das vezes decorados, revela que foi rom pido o nexo ent re obj et o e reflexão” ( ADORNO 2003: 63) .

Na am pla m aioria das observações e ent revist as, ficou evident e que se est uda os m ovim ent os de rot ação e t ranslação da t erra, a geom et ria euclidiana, ou nom es de m úsculos e ossos com o se fossem ent idades: A rotação, A t ranslação, A perpendicularidade, O j oelho, O dinheiro. Nossos j ovens e crianças são ensinados a sent ir que sent im ent o e a pensar que pensam ento vêm de fora do corpo. Treinados a serem descorponect ivados, eles est udam ( disciplinas e conceitos m orais, por exem plo) apenas induzidos para as relações ent re conceit os abst rat os e as coisas em um a m ent e ext erna ao

m undo. É com o se não ligássem os o nom e à pessoa! Ou m elhor, sem ligar o que se est uda a quem est uda. Com o ent ender, por exem plo, cint ura escapular, sist em a respirat ório com o part e do corpoeu? Com o est udar geom etria corponect ivam ente? BERTHOZ ( 1997: 43)45, argum ent ando que o m ovim ent o é um sexto sentido traz a possibilidade – j á inquest ionável em LAKOFF e JOHNSON, CHURCHLAND, DAMÁSI O, ent re out ros – de que conceit os e est rut uras de pensam ent o t êm um a base biológica: “ A geom et ria dos

canais recept ores dit a a organização da análise cerebral do m ovim ent o visual e t alvez t am bém dos m ovim ent os. Ela poderá ser ainda a origem de nossa geom et ria euclidiana” .

PARKER ( 1992: 11) . O olho e a visão.

PARKER ( 1992: 33) . O ouvido e a audição.

44 Deveríam os dizer com o Meio. Crianças são colocadas com o observadoras, ao invés de parte ou j unto com o m eio am biente.

45 Alain Berthoz é engenheiro, psicólogo, neurofisiologista e neurocientista. É professor do Collège de France e dirige o Laboratório de Psicologia da Percepção e

da Ação. É diretor científico da Act ion Concert ée I ncit at ive - Neurociências I nt egrativas e Com putacionais.

A represent ação46 é, port ant o, corponect iva ( = fat osm ent eSfat oscorpoS = em bodied) . Charles Sanders Pierce com sua propost a sígnica de m ediação do m undo t raz a noção de representação com o m ediação.

“ 228. Um signo, ou represent ám en é aquilo que, sob cert o aspect o ou m odo represent a algo para alguém . Dirige- se a alguém , ist o é, cria, na m ent e dessa pessoa, um signo equivalent e, ou t alvez um signo m ais desenvolvido” ( PI ERCE 2000: 46)47.

PI ERCE dá a perceber a vida com o represent ação enquant o “ t udo” ( os fenôm enos, v. p. 30) é m ediado: por corpos que não t êm

possibilidade de um a apreensão e represent ação diret a do m undo, e, m ediado pelo am bient e e suas m últ iplas com posições, desde um a onda de luz at é se usam os óculos ou não. Para buscarm os ent ender essa noção de m ediação, volt em os ao exem plo do m em e t ênis (p. 10) . Exist e um t ênis, t odos que com partilham os da cult ura do signo t ênis sabem os do que se t rat a. Cont udo, o cham ado m enino de rua t em um a idéia de t ênis bem diferent e daquela de um garot o que t em vários t ênis ou de um idoso que usa t ênis por recom endação m édica. I sso nos aj uda a ent ender que, não exist e o t ênis, o j oelho, a m ent e, a razão... E que cada um a dessas coisas, bem com o as out ras t odas do m undo ( os fenôm enos) chegam a nós com algum a form a de m ediação. O próprio design do corpo é m ediador/ represent ador – m inha m ão, m eus órgãos percept ivos, m inhas reflexões e pensam ent os t ocam a t ext ura de um out ro corpo de m aneira diferent e da sua.

46 Obviam ente não estam os falando da idéia de representação cênica. E, m esm o essa, operacionaliza diferent es int erpret ações.

47 É de um a beleza e esclarecim ento singulares a apresentação de PI ERCE de sem iose, a ação do signo: um signo tem um a ação nele m esm o que é a de ser obj eto, signo e a de carregar um a form a de ser interpretado ( o cham ado interpretante) . Um signo se dá em outro signo, ou sej a, para falarm os, pensarm os ou gesticularm os com um signo, sem pre usam os outro signo. Um processo infinito de signos, assim é a sem iose.