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Responsabilidade civil no Código de Defesa do Consumidor

e 48 do ADCT) foi elaborado o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) que, na seara da evolução do instituto da responsabilidade civil, adotou como regra a responsabilidade objetiva. Partindo da premissa básica de que o consumidor é parte vulnerável das relações de consumo (art. 4°, I do CDC), o Código pretende restabelecer o equilíbrio entre os protagonistas de tais relações.

Urge destacar que com a evolução das relações sociais e o surgimento do consumo em massa, bem como dos conglomerados econômicos, os princípios tradicionais da legislação privada pátria, baseados na responsabilidade subjetiva, exigindo grande esforço probatório por parte do lesado, já não mais bastavam para reger as relações humanas, sob determinados aspectos.354

Assim que o Código prevê, no inciso VI do artigo 6°, como direito básico do consumidor, a efetiva prevenção e reparação integral dos danos por ele sofridos, sejam eles

352 Carlos Roberto Gonçalves, Responsabilidade civil, cit., p. 28.

353 “Artigo 5° - (...) XXXII – O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. (...) Artigo 170 -

A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) V - defesa do consumidor (...).”

materiais e/ou morais, individuais, coletivos ou difusos. Esse princípio, ademais, veda qualquer tarifação dos danos suportados pelo consumidor. Para assegurar a sua observância, o legislador do Código optou por uma sistemática própria a reger as relações de consumo. Essa peculiar sistemática consiste desde a consolidação da responsabilidade objetiva355, até a inversão do ônus da prova.

O Código do Consumidor superou a clássica distinção entre responsabilidade contratual e extracontratual, no que respeita à responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços. Ao equiparar ao consumidor todas as vítimas do acidente de consumo (art. 17), submeteu a responsabilidade do fornecedor a um tratamento unitário, tendo em vista que o fundamento dessa responsabilidade é a violação de um dever de segurança − defeito do produto ou serviço lançado no mercado − e que, numa relação de consumo, contratual ou não, dá causa a um acidente de consumo.356

Nesse sentido Cláudia Lima Marques, Antônio Herman V. Benjamin e Bruno Miragem afirmam: “Realmente, a responsabilidade do fornecedor em seus aspectos contratuais e extracontratuais, presente nas normas do Código de Defesa do Consumidor (arts. 12 a 27), está objetivada, isto é, concentrada no produto ou no serviço prestado, concentrada na existência de um defeito (falha na segurança) ou na existência de um vício (falha na adequação, na prestabilidade). (...) Assim, os produtos ou serviços prestados trariam em si uma garantia de adequação para o seu uso e, até mesmo, uma garantia referente à segurança que deles se espera. Há efetivamente um novo dever de qualidade instituído pelo sistema do Código de Defesa do Consumidor, um novo dever anexo.”357

Dessa forma, nas relações de consumo, a responsabilidade do fornecedor, seja ela contratual ou extracontratual, está diretamente ligada à existência de um defeito ou de um vício no produto ou serviço prestado. Para que exista a responsabilidade do fornecedor, desta feita, basta a comprovação do defeito ou vício, do dano e do nexo causal. Simultaneamente, o Código de Defesa do Consumidor instituiu um dever de qualidade à

355 Cabe destacar aqui o artigo 931 do Código Civil, que também adota a teoria da responsabilidade objetiva

pelos danos causados por produtos: “Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.”

356 Sergio Cavalieri Filho, Programa de responsabilidade civil, cit., p. 39.

357 Cláudia Lima Marques; Antônio Herman V. Benjamin; Bruno Miragem, Comentários ao Código de

atividade dos fornecedores, referente não apenas à adequação dos bens e serviços, como também à segurança que deles se espera.

Destaca Sérgio Cavalieri Filho que o Código de Defesa do Consumidor “deu uma guinada de 180 graus na disciplina jurídica então existente uma vez que transferiu os riscos do consumo do consumidor para o fornecedor”358. O Código esposou a teoria do risco de

empreendimento, que se contrapõe à teoria do risco do consumo.

Acrescenta o autor: “Pela teoria do risco do empreendimento, todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de consumo tem o dever de responder pelos eventuais vícios e defeitos dos bens e serviços fornecidos, independentemente de culpa. Este dever é imanente ao dever de obediência às normas técnicas e de segurança, bem como aos critérios de lealdade, quer perante os bens e serviços ofertados, quer perante os destinatários dessas ofertas.”359

O Código de Defesa do Consumidor previu ainda, de forma a tornar mais eficaz a nova sistemática instituída, a responsabilidade solidária de todos os que integram a cadeia de consumo, isto é, de todos que propiciaram a colocação do produto no mercado ou a prestação do serviço (arts. 7°, parágrafo único e 25, § 1°). Essa é a idéia geral360, uma vez que o microssistema do Código geralmente impõe a responsabilidade objetiva ou independente de culpa (arts. 12, 14, 18 e 20).361

É de se frisar, por fim, que o Código de Defesa do Consumidor estabeleceu em seus artigos a responsabilidade pelo fato e pelo vício do produto (arts. 12, 13 e 18), bem como a responsabilidade pelo fato e pelo vício do serviço (arts. 14 e 20), todas tendo, como regra geral, a natureza objetiva. Sendo relevante para o desenvolvimento do presente

358 Sergio Cavalieri Filho, Programa de responsabilidade civil, cit., p. 473. 359 Sergio Cavalieri Filho, Programa de responsabilidade civil, cit., p. 473.

360 Cabe destacar que o Código de Defesa do Consumidor impõe a solidariedade em matéria de defeito do

serviço (art. 14), em contraponto aos artigos 12 e 13, onde há previsão de responsabilidade objetiva imputada nominalmente a alguns agentes econômicos. Também nos artigos 18 e 20, a responsabilidade é imputada a toda a cadeia, não importando quem contratou com o consumidor (Cláudia Lima Marques; Antônio Herman V. Benjamin; Bruno Miragem, Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, cit., p. 188).

361 Cláudia Lima Marques; Antônio Herman V. Benjamin; Bruno Miragem, Comentários ao Código de

trabalho a estudo da responsabilidade decorrente da prestação de serviços, o próximo tópico será dedicado ao seu estudo.