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CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Revisão da literatura

A maior parte dos estudos que relacionam o consumo à pressão ambiental assume que as preferências dos consumidores são dadas e que determinam o padrão de consumo dos indivíduos e famílias. Este é o caso, por exemplo, dos trabalhos que procuram identificar grupos relativamente homogêneos de consumidores a partir dos tipos de gastos que realizam e de outras variáveis socioeconômicas, como a renda per capita, o número de filhos, o tamanho do domicílio ou a região em que residem. Em geral, a literatura identifica uma correlação positiva entre a renda e a pressão ambiental, muito embora o grau da associação entre as variáveis possa mudar significativamente a depender do impacto ambiental avaliado. Frequentemente os estudos apontam que a pressão ambiental diminui em termos relativos, ou seja, por unidade monetária de consumo, quando a renda aumenta. Todavia, em nenhum momento a pressão ambiental se torna decrescente.

Por exemplo, Baiocchi, Minx e Hubacek (2010) associaram diferentes estilos de vida às emissões de carbono no Reino Unido, para o ano de 2005. Os autores conciliaram um banco de dados típico de pesquisas de marketing, em que os consumidores são segmentados por variáveis geográficas e sociais, à emissão total de carbono dos produtos, estimada via análise de insumo-produto. O resultado é de que houve grande variação nas emissões, o grupo de consumidores que mais emitia, lançava até 3 vezes mais GEE que o grupo de menor emissão; devido ao estilo de vida. Não houve redução absoluta das emissões quando aumentou o nível de renda, ao contrário, a elasticidade renda das emissões teve formato de

“U”. Segundo os autores, casas e famílias maiores aumentaram as emissões. A educação, o uso da internet e a presença de crianças as reduziram. Quando consideradas as categorias de consumo, a habitação, especialmente em função dos sistemas de calefação, o transporte e a alimentação constituíram os principais itens responsáveis pelas emissões de carbono no consumo das famílias.

Já Munskgaard et al (2005) discutiram os impactos ambientais do consumo nos domicílios holandeses através da integração do insumo produto às pesquisas domiciliares e a um conjunto de indicadores da qualidade ambiental. O resultado foi o esperado. Famílias com maior renda exerceram menor pressão relativa, porém maior pressão absoluta. Todavia, a ordem das famílias que mais pressionaram o meio ambiente não foi fixa, de fato, mudou para cada tipo de impacto ambiental. Por exemplo, as emissões nocivas à camada de ozônio, os requerimentos de materiais e a oxidação fotoquímica, foram menos intensas nos domicílios de menor renda. Famílias nas zonas rurais tiveram consumo menos amigável para o meio ambiente em termos destes mesmos indicadores e também do aquecimento global. Isto ocorreu em função das necessidades de transporte e energia. A contribuição geral para a confecção de políticas é a identificação das famílias cujo consumo impacta mais gravemente o meio ambiente.

Também para a Holanda, Kerkhof et al (2009) relacionaram o consumo das famílias à mudança climática, eutrofização, acidificação e emissão de fumaça. Os dados apontaram que o aumento da despesa total aumentou a pressão ambiental, entretanto, a depender do impacto considerado, este aumento foi proporcional, menos que proporcional ou mais do que proporcional. De posse dos gastos das famílias, separadas por decis de despesas equivalente – que leva em conta o tamanho do domicílio - e das intensidades de pressão ambiental, os autores calcularam as elasticidades de emissão de poluentes em relação aos gastos das famílias. A combinação entre os bens de primeira necessidade, por exemplo, alimentação e habitação, e os bens de luxo, como combustível para viagens, foi decisiva para o impacto ambiental. Todavia, a classificação dos bens em cada categoria foi arbitrária. A emissão de fumaça aumentou com a renda, pois o consumo de gasolina e viagens também aumentou, enquanto a eutrofização diminuiu, pois está mais relacionada à alimentação.

Roca e Serrano (2007) investigaram as emissões espanholas por faixa de despesa domiciliar, e as elasticidades-despesa das emissões de 9 gases do efeito estufa. Os padrões de consumo domiciliares foram comparados em vintis da despesa total, por produtos, tamanho e

categoria de consumo. Os autores não encontraram suporte para a hipótese do descolamento da pressão ambiental sugerido pela hipótese da Curva de Kuznets Ambiental59. Houve, outra vez, apenas descolamento relativo das emissões, para todos os gases, exceto os sintéticos, o que resultou, sobretudo, do aumento do consumo de automóveis, que implicou maior intensidade de emissões para as maiores despesas. Todavia, houve diminuição no uso absoluto destes gases, o resultado deveu-se, porém, a acordos internacionais, não relacionados aos argumentos apresentados pela Curva de Kuznets Ambiental. As categorias de consumo energia, alimentos e habitação, causaram maior pressão ambiental.

Golley e Meng (2012) testaram se a redistribuição de renda dos mais ricos para os mais pobres altera o nível agregado de emissões dos domicílios chineses. Os autores observaram que naquele país o consumo de carvão é substituído pelo do óleo, gás ou eletricidade à medida que a renda das famílias aumenta. Como a primeira fonte de energia é mais intensiva em CO2, o resultado é que a intensidade de emissões per capita diminui quando a renda é elevada. Por outro lado, aumenta o consumo energético embutido nos bens finais adquiridos em maior volume pelas famílias mais afluentes. Enfim, concluíram que a diminuição da desigualdade teria pouco impacto sobre o total de CO2 domiciliar.

Em alguns estudos, as matrizes de insumo-produto foram ampliadas, ou os vetores de consumo corrigidos, para fazer frente a algumas das suas limitações. Uma vez que o consumo é tomado em valores monetários, e que as emissões são medidas por setores de produção, a abordagem mais geral do insumo-produto assume que a aquisição de um casaco de R$ 200 causa o mesmo impacto ambiental que a aquisição de dois casacos de R$ 100. Dito de outro modo, todo aumento do consumo, dado o aumento da renda, é tido como um aumento da escala de consumo e, portanto, das emissões. Por sua vez, a utilização do modelo de insumo-produto, em sua versão mais simples, não captura os efeitos dos vazamentos de renda sobre o consumo das famílias, ou seja, os efeitos induzidos sobre os demais setores institucionais e que retornam como aumento de renda e consumo. Entretanto, é possível endogeneizar o consumo das famílias.

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A hipótese da Curva de Kuznets Ambiental defende que, ao passarem de economias pobres e agrárias a economias industrializadas, inicialmente produzindo manufaturados leves e, depois, completando a industrialização com a produção de bens intermediários e de capital, os países elevam a pressão sobre o meio ambiente, pelo próprio aumento da escala de transformação. A seguir, quando a renda atinge níveis suficientemente elevados, passam à fase em que os serviços, menos intensivos em recursos naturais e poluição, passam compor a maior parte do produto e a demanda por qualidade ambiental aumenta (DINDA, 2004). Deste modo, a pressão ambiental aumenta inicialmente para depois diminuir com o passar do tempo e o desenvolvimento. A extrapolação deste padrão para os diferentes níveis de renda é comum na literatura, embora não seja fiel à hipótese original.

Girod e Haan (2010) aplicaram uma correção sobre o consumo para lidar com a questão dos preços no insumo-produto ou na análise do ciclo de vida. O trabalho respondeu à questão: quando aumenta a renda, os consumidores compram mais bens, ou bens melhores (mais caros)? Os autores transformaram a quantidade consumida em unidades funcionais, cujo preço é dado pela razão entre a quantidade física e o gasto do consumidor; tais informações estavam disponíveis nas pesquisas domiciliares suíças. A pressão ambiental foi medida pelas emissões indiretas de gases do efeito estufa. Os domicílios foram tomados individualmente, e depois agregados por tamanho (número de pessoas). A análise do ciclo de vida dos alimentos e bens duráveis forneceu as estimativas das emissões. A conclusão foi de que os preços importam. Modelos apenas monetários superestimam o aumento das emissões em função do aumento da renda. A elasticidade-renda das emissões caiu pela metade quando foram consideradas as unidades funcionais. Todavia houve descolamento apenas relativo entre a pressão ambiental e a renda, porém mais intenso quando realizado o ajuste do vetor de consumo. O tamanho do domicílio também foi relevante, já que domicílios menores têm menor renda; dados não corrigidos irão sugerir que domicílios maiores compram mais em função da renda maior, quando, de fato, consomem mais alimentos porque abrigam mais pessoas.

Com o uso de uma matriz de contabilidade social, que inclui todos os setores institucionais da economia, Sanchéz-Chóliz, Duarte e Mainar (2007) avaliaram os impactos ambientais domiciliares na Espanha, para três poluentes atmosféricos (CO2, NOx e SOx) e quatro indicadores da qualidade da água (gasto de água; nitrogênio; metais e Demanda Bioquímica de Oxigênio). Naquele estudo, a produção de alimentos foi o setor mais intensivo em poluição, porém, dada a importância relativa do setor de serviços no produto líquido e consumo das famílias, este foi o setor que mais poluiu em termos agregados, para todos os indicadores observados. As importações foram tomadas como poluição evitada, isto é, na ausência de dados sobre os impactos ambientais dos parceiros comerciais, foram consideradas as emissões evitadas caso a produção desses bens tivesse ocorrido na própria economia espanhola.

Nos países ricos, o deslocamento da demanda agregada para os serviços é um fato estilizado. Todavia, o resultado deste deslocamento em termos da pressão ambiental é avaliado como pouco relevante. Isto porque, embora mais intensivo em trabalho, o crescimento do setor de serviços induz o aumento da produção de bens, ou até, de certos bens mais intensivos em poluição. Butnar e Llop (2011), por exemplo, decompuseram a mudança

estrutural no subsistema de serviços de uma matriz de insumo-produto espanhola, para os anos de 2000 e 2005. As autoras concluíram que o aumento observado nas emissões dos serviços estava relacionado aos efeitos à montante sobre a produção de bens, necessários para atender a maior demanda por serviços. Mesmo que a intensidade de emissões por unidade do produto tenha sido reduzida, em função das mudanças tecnológicas, o efeito final foi de aumento das emissões totais, dado o aumento na escala de produção. Na mesma linha, Henriques & Kander (2010) atribuíram a expansão do setor terciário, em boa medida, à mudança de preços. O crescimento mais acelerado da produtividade nos setores industriais encarece relativamente os serviços (BAUMOL, 1967). Porém, a estrutura produtiva não é substancialmente alterada, daí que a pressão ambiental ou, no caso investigado pelas autoras, a intensidade energética, não necessariamente diminuiu com a transição para uma economia de serviços.

O aumento da produtividade, que, no princípio, diminui a intensidade de recursos naturais da produção, pode ter o efeito não premeditado de aumentar a pressão ambiental do sistema econômico. Trata-se do chamado “efeito bumerangue” (rebound effect). Este efeito foi originalmente identificado nas pesquisas que dizem respeito à Economia da Energia (KHAZZOOM, 1980; BROOKES, 1978; 1990; HENLY et al, 1988; LOVINS, 1988; HERTWICH, 2005). O argumento é simples; o aumento da eficiência no uso da energia provoca queda em seu valor marginal, e aumento de sua demanda, pelo crescimento econômico ou pela alteração dos preços relativos. Se o efeito escala supera o efeito tecnológico, o resultado é o aumento do uso de energia.

Quando se trata da pressão ambiental, o efeito bumerangue assume outro nível de complexidade. Afinal, não se restringe ao comportamento de uma única variável, mas sim de um amplo conjunto de impactos ambientais. Muitas vezes estes impactos dizem respeito às externalidades, sem custos captados pelo sistema de preços, diferentemente do ganho de eficiência energética. Conforme Hertwich (2005), o efeito bumerangue de uma política de defesa do meio ambiente tem diversos aspectos a serem considerados: uma redução de custos que altere o consumo pode ter efeitos positivos ou negativos, a depender do tipo de gasto do consumidor com a renda extra. A política pode também aumentar o custo de produção, ao contrário do ganho de eficiência energética, o que pode, ou não, reduzir a pressão ambiental, ainda que o sentido esperado seja esse. A política voltada para um objetivo pode ter outros efeitos, como, por exemplo, o controle dos gases que destroem a camada de ozônio pode aumentar a emissão de gases do efeito estufa, ou o controle de um poluente pode aumentar o

lançamento de outros. As mudanças no comportamento têm efeitos indiretos, não mediados pelo mecanismo de preços, e algumas mudanças técnicas podem viabilizar outras tecnologias, mais amigáveis com o meio ambiente. Enfim, uma tipificação mais adequada do efeito bumerangue requer o entendimento mais aprofundado do comportamento dos consumidores e produtores, bem como das opções tecnológicas.

Neste sentido, as pesquisas que avaliam o uso do tempo e estilos de vida permitem que os consumidores sejam tratados de uma perspectiva mais geral do que comporta a abstração do agente racional. Os modelos baseados no indivíduo que maximiza a utilidade negligenciam que o consumo está inserido em processos sociais complexos. O consumo viabiliza a realização de práticas específicas, já que a vida ocorre na materialidade, logo, a organização socioeconômica implica certa cultura material (MILLER, 2007). O consumo pode estar relacionado também ao engajamento em um estilo de vida (JALAS, 2002; ROPKE, 1999, 2009), ou na comunicação de aspectos relacionados à identidade (JACKSON & PAPATHANASOPOLOU, 2008; SHOVE & WARD, 1998; AXSEN; TYREEHAGEMAN; LENTZ, 2012).

Empiricamente, Jalas (2002) combinou dados de uso do tempo com os requisitos diretos e indiretos de energia em domicílios de dois moradores da Finlândia. No exercício, o autor assumiu que o tempo e o dinheiro não são intercambiáveis e que o consumo era limitado pelo tempo disponível, e não pelo poder de compra. O modelo admitiu a ideia de que o consumo não é exclusivamente funcional, ou seja, não ocorre somente para que uma tarefa seja cumprida, ou um propósito alcançado, também atende a questões subjetivas. Assim o autor procurou estimar o gasto energético de atividades cotidianas como a alimentação dentro e fora do domicílio, a organização da casa, lavar e passar, e outros. Depois de estimar um consumo médio de energia por tarefas, o autor sugeriu que as atividades poupadoras de tempo, por exemplo, a entrega em domicílio de alimentos, pode aumentar ou diminuir a pressão ambiental, a depender de como o consumidor irá gastar o tempo liberado. A abordagem foi exploratória e carece dados mais apropriados para sua execução. Por exemplo, a atribuição do consumo energético por minuto de cada tarefa seguiu o best-guess, e daí foi extrapolado para os tempos dedicados a cada tarefa pelas famílias. Todavia, uma mesma tarefa pode exigir mais ou menos recursos em cada domicílio; especialmente, há severas variações na intensidade energética do consumo conforme o nível de renda domiciliar.

Jackson & Papathanasopolou (2008) investigaram as categorias de consumo, como alimentação, comunicação, habitação, recreação, etc., e seus requisitos de combustíveis fósseis, para o Reino Unido, entre os anos de 1968 e 2000. As categorias de consumo que mais cresceram em demanda por estes recursos foram: combustíveis e iluminação, transporte privado e recreação e entretenimento. As duas primeiras foram então redistribuídas em propósitos mais específicos, através de medidas dos quilômetros rodados por destino (trabalho, viagens de lazer, etc.) e uso da energia (para aquecimento, iluminação, aparelhos domésticos, etc.). Os autores concluíram que houve aumento absoluto na utilização de combustíveis, apesar de ganho todo o ganho de eficiência energética dos automóveis desde 1968, especialmente em função do transporte privado, sobretudo para o movimento pendular, para o lazer e compras. A energia usada para o aquecimento também aumentou em termos absolutos.

Outro instrumento que ganha atenção dos pesquisadores é a análise de decomposição estrutural das matrizes de insumo-produto (WEINZETTEL & KOVANDA, 2011; KIM, 2008; ROCA & SERRANO, 2007; BUTNAR & LLOP, 2011; SILVA & PEROBELI, 2012; WOOD, 2009; PETERS et al, 2007; FREITAS & KANEKO, 2011). Trata-se de um método para separar em partes componentes a variação da pressão ambiental, sejam as emissões de poluentes ou a demanda de recursos naturais necessários à produção ou consumo. Por exemplo, entre os vetores que somam a demanda final, ou, entre os efeitos: tecnológico, aquele decorrente das mudanças nos coeficientes de insumo-produto, intensidade, das mudanças nas emissões por unidade monetária de produto, efeito escala, variação na escala de produção, e efeito composição, em função da mudança nos bens produzidos. Os trabalhos empíricos são bastante variados, mas apontam para a inexistência do descolamento da atividade econômica em relação à pressão ambiental. As emissões de CO2

são o tipo de impacto mais estudado. O efeito tecnológico, que frequentemente reduz a pressão ambiental, na maior parte dos casos é superado pelo efeito escala. O consumo das famílias é o componente da demanda final que induz a maior parte das emissões e da demanda de recursos naturais pelo sistema produtivo.

Nos países afluentes, a pressão ambiental causada diretamente pelos domicílios é bastante significativa, nos demais países é inferior à emissão induzida60. O consumo de combustíveis fósseis no transporte privado, por exemplo, é uma emissão direta, pois torna o

60 O consumo de combustíveis fósseis no transporte privado, por exemplo, é uma emissão direta, pois torna o consumidor a origem do CO2. A emissão induzida diz respeito àquela embutida no processo produtivo de bens e serviços, inclusive a decorrente dos efeitos de vazamento da renda, captados pelas matrizes de contabilidade social ou modelos de equilíbrio geral.

consumidor a origem do CO2. A emissão induzida diz respeito àquela embutida no processo produtivo de bens e serviços, inclusive a decorrente dos efeitos de vazamento da renda, captados pelas matrizes de contabilidade social ou modelos de equilíbrio geral. O vetor de investimentos também é importante para países em rápido processo de desenvolvimento (PETERS et al, 2007). O impacto do comércio exterior é mais ambíguo; em alguns casos, as exportações são fonte importante de pressão ambiental, em outros o comércio exterior resulta em importação líquida de recursos naturais.

No plano dos domicílios, a importação pode alterar significativamente a pressão ambiental do consumo. A demonstração está em Peters & Hertwich (2006). Os autores abandonaram a hipótese de que os produtos importados têm a mesma tecnologia da produção nacional e através de um modelo de insumo-produto multirregional concluíram que os domicílios noruegueses importavam bens mais intensivos em recursos naturais e poluição, especialmente dos países em desenvolvimento. A análise não pôde ser estendida por faixas de renda. Já Hertwich & Peters (2009) aplicaram um modelo multirregional para 73 nações, divididas em 8 regiões do globo. O objetivo era avaliar a pegada de carbono global, por finalidade de consumo dos bens e componentes da demanda final. O consumo das famílias respondeu por 72% das emissões de CO2 equivalente, 18% são atribuídos ao investimento e outros 10% ao consumo das administrações públicas. Para todas as finalidades de consumo - construção, habitação, vestuário, alimentação, bens manufaturados, mobilidade, serviços e comércio exterior -, as emissões de CO2 aumentaram com a despesa. Apesar da elasticidade quanto à despesa ser menor que a unidade, em nenhum momento o nível de emissões passou a decrescer.

Em um estudo que cobriu um período relativamente longo, entre os anos 1976 a 2005, Wood (2009) verificou as principais causas da emissão de gases do efeito estufa na Austrália. Para o autor, o crescimento das exportações e do dispêndio nacional foram os principais fatores que induziram o aumento das emissões naquele país, em termos absolutos. A evolução temporal foi capturada através da decomposição da variação das emissões em triênios, assim as distorções originadas da natureza estática do modelo de insumo-produto foram minimizadas.

O número de trabalhos empíricos que relacionaram as questões ambientais ao desempenho econômico brasileiro ainda é pequeno face às transformações recentes da economia. Dentre aqueles que mais se aproximam da abordagem proposta nesta tese, por

exemplo, Young & Barbosa Filho (2008) testaram se houve especialização da nossa economia em atividades mais intensivas em poluição, ou se as melhorias técnicas e o aumento da eficiência pela força da concorrência diminuíram a pressão ambiental. Os autores construíram uma matriz de insumo-produto em que a poluição foi associada aos diferentes setores