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CAPÍTULO 2: Conflito Interétnico: uma revisão bibliográfica

2.1 Revolvendo concepções

Viabilizar um alinhamento do conflito interétnico estabelecido entre índio e índio requer cautela para se evitar a tentadora vontade de radicalizar à luz do Manifesto Comunista. Pois como diz Assies:

Elementos como socialização, processo educativo, interação social, autoconsciência, não- consciência, identidade coletiva e individual baseadas em fatores de gênero, preferências sexuais, etnicidade etc. permaneceram fora das principais correntes marxistas de análise e reflexão. O processo político e seus níveis de autonomia também não foi um ponto central naquelas análises. Por isso, os temas que serão destacados pela maioria dos estudiosos marxistas dos movimentos sociais têm um ponto de partida nas questões estruturais, de forma a ter uma base para o entendimento dos conflitos sociais (ASSIES, 1990, p. 25).

Mas, há espaço na Sociologia para vincular conflito com guerra como sugerem dicionários? Não. Sobre guerra, Santos de Oliveira apenas diz que “pessoas ou grupos podem canalizar sua tensão para a guerra ou a criminalidade” (idem, p. 40). Uma concepção ampliada de conflito no sentido político é mais bem caracterizada pelos cientistas políticos Bobbio, Matteucci e Pasquino (1992) que, ao estabelecerem uma concepção para conflito, afirmam: “[...] é uma forma de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades que implica choque para o acesso e a distribuição de recursos escassos” (BOBBIO, MATTEUCCI e PASQUINO, 1992, p. 225). E indicam características para que possa ser reconhecido como tal:

Dimensões, intensidade e objetivos. Quanto à dimensão, o indicador utilizado será constituído pelo número dos participantes, quer absoluto quer relativo à representação dos participantes potenciais [...]. A intensidade poderá ser avaliada com base no grau de envolvimento dos participantes, na sua disponibilidade a resistir até o fim (perseguindo os chamados fins não negociáveis) ou a entrar em tratativas (sic) apenas negociáveis [...] e objetivos [...], de mudanças no sistema” (BOBBIO, MATTEUCCI e PASQUINO, 1992, p. 226).

Esses últimos autores advertem que a violência não deve ser tomada como índice de reconhecimento. Consiste apenas de um componente de sua existência, de uma quebra de normas pactuadas (idem, ibidem).

Conforme o que Bobbio, Matteucci e Pasquino (1992) apontam, dois grupos de pensamento podem ser formados: 1) aqueles que reconhecem um continuum [grifo desses

autores]. Estes vêem harmonia e equilíbrio seja no grupo, seja na sociedade, seja na organização. Integram esse grupo Comte, Spencer, Pareto, Durkheim e Talcott Parsons. Portanto, nessa linha ideológica qualquer conflito é uma perturbação, uma quebra de um estado normal causada por fatores extra-sociais que devem ser reprimidos porque é uma patologia social. E 2) grupo em cuja composição encontram-se Marx, Sorel, John Stuart Mill, Simmel, Dahrendorf e Touraine. Para estes,

qualquer grupo ou sistema social [é] marcado por conflitos porque em nenhuma sociedade a harmonia ou o equilíbrio foram normais. Antes, são exatamente a desarmonia e o desequilíbrio que constituem a norma e isto é um bem para a sociedade. Através dos conflitos surgem as mudanças e se realizam os melhoramentos. Conflito é vitalidade (idem, p. 226).

Já a guerra29, apesar de haver registros sobre tantas nas mais diversas sociedades, só a partir de Maquiavel é que passou a ser tratada como algo passível de um estudo mais sistemático. Para ele, guerra é um fenômeno controlável e previsível. Assim, um estado de guerra só pode ser entendido concomitantemente ao estado de paz, cujo debate ocorre na base das ciências jurídicas. Explica mas não a decompõe, sistematiza. Na Ciência Política, guerra implica e pressupõe uma força armada, excluindo, portanto, qualquer raiz personalítica, mas como o filósofo e cientista político Hobbes a definia no seu Leviatã: “the nature of war consisteth not in actual fighting, but in the known disposition ” (1974).

Para o psicólogo gestaltista alemão Kurt Lewin (1975), o conflito está no indivíduo como

a convergência de forças de sentidos opostos e igual intensidade, que surge quando existe atração por duas valências positivas, mas opostas (desejo de assistir a uma peça e a um filme exibidos no mesmo horário e em locais diferentes); ou duas valências negativas (enfrentar uma operação ou ter o estado de saúde agravado); ou uma positiva e outra negativa, ambas na mesma direção (desejo de pedir aumento e medo de ser despedido por isso) (LEWIN, 1975, p. 3).

Nesta mesma ciência, para Salvatore Maddi conflito é:

um antagonismo psicológico que perturba a ação ou a tomada de decisão por parte da pessoa. Trata- se de um fenômeno subjetivo, muitas vezes inconsciente ou de difícil percepção. De modo geral, o indivíduo tem consciência apenas do sofrimento ou da perturbação de comportamento, originados do conflito reprimido” (MADDI, apud Silmara Leithold, UFPR, 1985).

29 Ir ao encontro do que chamo de “categoria-satélite” do conflito, no caso a guerra, é no intuito de eliminar essa hipótese e deixar bem claro que neste estudo o leitor não está diante de uma situação onde isso ocorra.

A Psicologia parece sugerir que a guerra é uma intenção desta, ou seja, uma finalidade dada a um objetivo. Para o psicólogo Oliver Zancul Prado (2008), a Psicologia ainda não encontrou um consenso para os estudos sobre a guerra, mas arrisca a denominá-la de uma “psicologia aversiva”.

Afinal, o que está deflagrado entre os Makuxi e Wapixana na Terra Indígena Raposa- Serra do Sol: um conflito ou uma guerra? Aquele, ou esta, “é culpa” de um indivíduo ou de um grupo, uma coletividade? Sabemos de invasões, liderança exercida, enfrentamentos judiciais, territórios questionados, grupos armados [porém bem “intencionados”] e muitas ações, que vão desde o “terrorismo psicológico” até provas materiais, como grupos, milícias de mascarados, tropas fardadas e carros sem placas.

Não percebo uma relação conflituosa entre as etnias Makuxi e Wapixana em nenhum dos padrões acima mencionados. Não há uma rivalidade entre pessoas. Isto exclui a variante psicológica, tanto no sentido de Kurt Lewis quanto em Salvatore Maddi e Oliver Zancul Prado. Mesmo tendo presenciado uma cena em que uma senhora Wapixana cuspiu nas pegadas de uma índia moça Makuxi que passava, enquanto eu observava a um jogo de futebol sentado no banco externo da quadra de esportes.

Aquilo não me convenceu de que havia uma motivação psicológica para o conflito, embora um sentido de contradição seja encontrado, por exemplo, quando por ocasião de uma índia enfermeira que visitou a minha residência em Boa Vista. Ela me disse que na Casa do Índio, ambiente hospitalar existente em Boa Vista – RR, “jamais se interna um índio Makuxi com um Wapixana na mesma enfermaria, a fim de evitar o risco de briga no interior da Casa, pois, um sempre desconfia do outro” (“Cláudia” – nome fictício, 40 anos de idade – enfermeira da Casa do Índio).

Uma aproximação desse depoimento com as condições políticas prescritas por Bobbio, Matteucci e Pasquino não contempla a totalidade destas. Se efetuarmos uma relação com aqueles que põem conflito na direção de que todo ele tende a se estabilizar em prol de uma harmonização, eu diria que não procede, visto que tenho percebido uma forte presença de dominação na forma de ocupação de papéis sociais bem definidos: todos os professores entrevistados nas duas escolas da Maloca do Barro são da etnia Makuxi. Isto sugere uma busca pela ocupação de cargos influentes no centro da etnia, como entendo ser lá uma das funções do professor.

Uma informação importante que reforça essa conclusão pode ser assim percebida na página seguinte:

O Núcleo Insikiran, com o objetivo de fazer um diagnóstico de estudantes indígenas na instituição, por meio do Sistema de Informações [o trecho do jornal apresenta um tópico frasal incompleto]. A primeira etapa do levantamento está em fase de finalização, com base nas matrículas realizadas no semestre 2008.1. O diagnóstico inicial deste semestre revela dados interessantes. Foram identificados, por exemplo, que a etnia com maior número de matriculados na UFRR é a macuxi (sic), com 184 pessoas, seguida da wapichana (sic), com 88. Na licenciatura intercultural estão matriculados 237 índios de diversas etnias. Destaque para o aumento da presença dos yekuana (sic), também conhecidos como mayongong, que vivem a noroeste de Roraima, divisa com a Venezuela dentro da área Yanomami. O grupo conta com uma população de 500 índios, dos quais sete estão matriculados na UFRR. Também freqüentam as aulas da universidade os ingaricó, taurepang e wai wai (sic) (Jornal Folha de Boa Vista, Especial: 22 abr. 2008).

O segundo grupo30, do qual excluo Simmel, composto pelos três cientistas políticos anteriormente mencionados, não o incluiria no critério sugerido por eles como procedente porque, como a história das duas etnias em foco diz, há fases em que ambas se alinham em defesa de algo coletivo, e/ou se rivalizam quando pela defesa da ocupação das representatividades superiores, isto é, quando estabelecem disputa eletiva, por exemplo, para a Presidência do Conselho Indígena de Roraima - CIR. Antes da homologação, havia somente o Conselho Indígena de Roraima; com ela, foi criada a Sociedade dos Índios Unidos de Roraima, esta congregando aqueles contrários ao modelo demarcatório defendido pelo CIR.

Dois filósofos contemporâneos também ajudam a entender o conflito interétnico entre Makuxi e Wapixana, George Simmel (1858-1918), filósofo e historiador alemão, professor na Universidade de Berlim, e Michel Foucault (1926-1984), filósofo francês, professor da Escola Normal Superior da França.

Antes de Foucault, Simmel, em seu título “Grundfragen der Soziologie”, cuja tradução foi por mim consultada na versão de 1999 para o português brasileiro (2006), aponta o que para ele constituem “questões fundamentais da Sociologia”: 1) que fundamentos devem compor a base de uma ciência da sociedade, de tal modo que permitam responder aos seus próprios problemas e aos de seu “objeto” de estudo? 2) Ao aprofundar a atividade de conhecimento de seu objeto, deve a Sociologia concentrar-se nas relações individuas ou grupais? O que e como cabe a indivíduos e grupos, que os façam distintos? Como estes (indivíduos e grupos) interagem com a massa? 3) É possível captar conteúdos e formas da vida social? Que conteúdos são esses? 4) O que estimula o conflito entre indivíduo e sociedade?

Para Simmel (2006), a Sociologia é a ciência mais bem preparada para o estudo dos conflitos. Para ele,

tudo o que os seres humanos são e fazem, [...] ocorre dentro da sociedade, é por ela determinada e constitui parte de sua vida. [...] Seria preciso introduzir uma ciência da sociedade que, em sua unidade, trouxesse à tona a convergência de todos os interesses, conteúdos e processos humanos, por meio da sociação (sic )em unidades concretas (SIMMEL, 2006, p. 9).

Portanto, poderíamos intuir que o conflito está na raiz da vida em sociedade. Isto impõe um “preço” à Sociologia: a necessidade de provar seu “direito de existência”. Por isto, Simmel coloca uma condição: que somente por intermédio de estudos sobre “indivíduos” [grifo do autor], haveria condições para se conhecer a existência do real (SIMMEL, 2006, pp. 9-10). Para ele, o indivíduo não é dirigido por vontade própria e sim, por seus líderes, os quais, por sua vez, tentarão reunir o máximo de forças dentro do grupo: “ambos os elementos constroem a unidade indivisível da vida pessoal” (idem, p. 11), apesar de ele reconhecer que “o que cientificamente conhecemos no ser humano são traços individuais e singulares, que talvez se apresentem uma única vez, talvez mesmo em situação de influência recíproca, e em cada caso exige uma percepção e dedução relativamente independentes” (idem, p. 12).

Esta atividade de conhecimento-reconhecimento implica numa forma, que, para Simmel, é

sempre uma articulação estabelecida por um sujeito articulador-, torna-se patente que a realidade a ser conhecida se nos escapa rumo à total incompreensão. A linha divisória que culmina no ‘individuo’ também é um corte totalmente arbitrário, uma vez que o indivíduo, para análise ininterrupta, apresenta-se necessariamente como uma composição de qualidades, destinos, forças e desdobramentos históricos específicos que, em relação a ele, são realidades elementares tanto quanto os indivíduos são elementares em relação à sociedade (idem, p. 13).

A realidade da Maloca do Barro é conflituosa porque, muitas vezes, os indivíduos resolvem agir movidos por interesses que se revelam contrários aos interesses do grupo. Ou, como Simmel coloca “A interação psíquica entre os indivíduos” [aspas do Autor], e que “se realiza num fluxo incessante [...] que os indivíduos estão ligados uns aos outros pela influência mútua que exercem entre si e pela determinação recíproca que exercem uns sobre os outros” [aspas do Autor] (idem, p. 17).

Ou seja, para Simmel, sociedade é apenas uma nomenclatura designada para exprimir “um círculo de indivíduos que estão, de uma maneira ou de outra, ligados uns aos outros por efeito de relações mútuas, e que por isto podem ser caracterizados como uma unidade um sistema de massas corporais que, em seu comportamento, se determinam plenamente por meio de suas influências recíprocas (SIMMEL, 2006, p. 18).

Isto me parece importante em face de algumas peculiaridades que o conflito interétnico entre Makuxi e Wapixana foi adquirindo no decorrer de sua história, como constataremos nos estudos bibliográficos e de campo, conforme atestam trabalhos feitos por antropólogos brasileiros ou não, por mim recuperados e posteriormente, apresentados. Antes de estabelecerem uma relação mais consistente e constante com as demais etnias do Brasil e compartilharem dos mesmos problemas sociais e ambientais, Makuxi e Wapixana atuavam mais numa concepção de coletividade do que individualmente, enquanto com a percepção e vivências de dentro da nova terra conquistada, estes entraram para uma atuação individual em prol da coletividade.

Reconhecendo a habilidade de articulação Makuxi e a flexibilidade Wapixana, tanto no sentido de indivíduos quanto de grupos, concordo com Simmel quando provoca a correspondência entre poder do grupo e poder do indivíduo:

As condições para o poder dos indivíduos são imediatamente claras: inteligência, energia, combinação apropriada entre pertinácia e flexibilidade etc.; mas é preciso que existam certas coisas obscuras que sustentem devidamente o poderio historico de fenômenos como Jesus, de um lado, e Napoleão, de outro, fenômenos que de modo algum seriam explicados por meio de designações como “persuasão”, “prestígio” etc. Quando os grupos exercem seu poder, seja sobre os indivíduos, seja sobre outros grupos, eles operam com outros fatores. Alguns deles são: a capacidade de intensa concentração, assim como dissolução em atividades individuais específicas; a crença consciente em espírito de liderança, assim como em nebulosos impulsos expansionistas; o paralelismo entre o egoísmo dos indivíduos e a devoção sacrificial diante de todos; o dogmatismo fanático e uma liberdade espiritual evidente a cada instante (SIMMEL, 2006, p. 31-32).

Vejamos dois dos casos de exercício de liderança individual ocorridos em prol da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol:

TIROTEIO NA INVASÃO – Famílias de índios feridos querem indenização do produtor Quartiero.

As famílias dos nove índios feridos à bala durante confronto com funcionários do rizicultor e prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero, na segunda-feira, vão pedir indenização ao empresário pelos danos sofridos por seus familiares. A informação foi repassada ontem pelo tuxaua Martinho Macuxi de Sousa, 37 anos.

Martinho Macuxi é o responsável pelo acampamento montado por indígenas ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), a sete quilômetros de Surumu. A concentração dos índios não pára de crescer no local. Ontem já havia mais de 25 barracos de lona, com cerca de 300 pessoas entre homens, mulheres e crianças. Segundo Macuxi, chegam indígenas a todo o momento. O líder indígena informou que vai a Boa Vista hoje para acompanhar a situação dos indígenas que foram feridos.

Além de exigir indenização, ele anunciou que o grupo vai retomar a ocupação, mas não informou a data. Anteontem o grupo deixou a fazenda Depósito, cuja ocupação provocou o confronto com funcionários do rizicultor e deixou nove índios feridos à bala. Agora, eles estão acampados do outro lado da estrada. (Jornal Folha de Boa Vista, 8 de mai. de 2008).

Aqui, o líder Martinho, de origem Makuxi, poderia ser classificado como um líder atuando plenamente como articulador nos três tempos: antes, durante e depois. Destaco que ele apresenta-se como articulador, em princípio, de indivíduos, passando, a seguir, como estimulador do grupo.

Segundo caso:

Depois de passar pela Espanha e Inglaterra, as lideranças indígenas de Roraima Jacir José de Souza e Pierlângela Nascimento da Cunha chegaram nesta quinta (26) a Bruxelas, capital belga, onde lançam a campanha \'Anna Pata, Anna Yan\' (do macuxi (sic), \'Nossa Terra, Nossa Mãe\'). Nesta quarta-feira, a comitiva indígena esteve em Londres. Na capital inglesa, tiveram audiência com o embaixador brasileiro na cidade, além de encontros com representantes da Survival Internacional (ONG em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas no mundo) e Anistia Internacional. As entidades manifestaram apoio à causa indígena em Roraima e aguardam

julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF). No primeiro dia de divulgação da campanha em Londres, as lideranças indígenas concentram-se em

atender aos meios de comunicação ingleses. Mas, o destaque foi a entrevista concedida ao grupo Pulse Films, produtor de um documentário sobre os movimentos resistentes ao processo de exclusão em todo o mundo. A filmagem, que promete passar por todos os continentes recolhendo histórias e lutas, contará com a participação especial do jovem ator mexicano Gael García Bernal, do filme Diário de uma Motocicleta (Jornal Folha de Boa Vista, 26 de jun. 2008)

Figura 5: Duas etnias - separadas no passado e unidas no presente

Jacir José de Souza Macuxi e Pierlangela Nascimento da Cunha Wapichana em visita à Embaixada Brasileira em Londres, em divulgação da campanha Anna Pata, Anna Yan – junho de 2008 (Foto: CIR)31

Ante a iminente aprovação pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, da revisão da demarcação da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, a Profa. Pierlângela Wapixana, Coordenadora da Organização dos Professores Indígenas de Roraima, e o líder Makuxi Jacir José de Souza, estes recorreram a órgãos de influência internacional com o propósito se fazerem influenciar na jurisdição nacional.

Foi uma decisão coletiva ou individual? Pelas informações que me foram dadas por um informante com o qual sempre mantenho contato à distância, o professor da Licenciatura Intercultural do INSIKIRAN Jonildo Santos, ambos tiveram a idéia de buscar meios de 31Disponível em: http://www.cir.org.br/noticias.php?id=536. Acessado em: 9 de julho de 2008.

persuasão fora do país. No entanto, agiram como representantes de suas comunidades e das organizações indígenas locais: Organização dos Professores Indígenas de Roraima – OPIRR; Organização das Mulheres Indígenas de Roraima – OMIRR e do Conselho Indígena de Roraima – CIR.

A esse respeito, Simmel considera que:

O indivíduo é pressionado, de todos os lados, por sentimentos, impulsos e pensamentos contraditórios e de modo algum ele saberia decidir com segurança interna entre suas diversas possibilidades de comportamento – que dirá com certeza objetiva. Os grupos sociais, em contrapartida, mesmo que mudassem com freqüência suas orientações de ação, estariam convencidos, a cada instante e sem hesitações, de uma determinada orientação, progredindo assim continuamente; sobretudo saberiam sempre quem deveriam tomar por inimigo e quem deveriam considerar amigo (SIMMEL, 2006, p. 40).

E mais adiante, em sua argumentação sobre o indivíduo e seu pertencimento grupal, Simmel ainda afirma:

Os elementos espirituais que se objetivaram em palavras e conhecimentos, em inclinações afetivas e normas de vontade e juízo, e que penetram o indivíduo como tradições conscientes e inconscientes, fazem isto de maneira tanto mais segura e universal quanto mais consolidada e evidente elas tenham crescido dentro do espírito de uma sociedade que se desenvolveu ao longo do tempo – isto é, quanto mais antigas forem as tradições (idem., p. 43).

Em que posso me apoiar para defender a unidade entre lideranças e “liderados” [destaque meu para considerar que a condição de liderados, no que percebi em campo, não acontece de modo massivo, pelo fato de pertencer ao grupo]?. Uma situação pode ser assim considerada no informe a seguir:

Cerca de 500 professores ligados à Organização dos Professores Indígenas (OPIR) bloquearam ontem pela manhã a BR-174, próximo à entrada da comunidade indígena Entroncamento, sentido Pacaraima. A interdição da rodovia com pedras e galhos ocorreu por volta das 9h e encerrou às 11h30 (sic). A informação foi confirmada pela Força Nacional de Segurança.

Desde domingo, cerca de 300 índios do CIR realizam um festejo cultural para marcar a criação oficial da comunidade 10 Irmãos e em manifesto contra o tiroteio que deixou 10 índios feridos, após a invasão da propriedade do rizicultor e prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero (DEM), no início de maio.

A OPIRR também realizou ontem um evento nas comunidades indígenas Boca da Mata, no Município de Pacaraima, e em Boa Vista, na comunidade Campo Alegre. O manifesto, determinado como o Dia de Apoio aos Povos Indígenas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, teve como tema: