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Rompimento entre os Coronéis do Garimpo

Foto 9 JOAQUIM NUNES ROCHA

3.5 A INCORPORAÇÃO

3.5.5 Rompimento entre os Coronéis do Garimpo

Carvalhinho, no entanto, não se mostrou favorável com a solução apresentada por José Morbeck. Para ele, Reginaldo de Melo tinha ficado de mãos atadas diante da violência perpetrada contra os maranhenses. Pediu a José Morbeck que os assassinos fossem presos, mas que não se perseguisse Reginaldo de Melo. Ele estava certo da inocência do aliado e também tinha certeza de que podia contar com ele quando necessário. Armou-se, então, uma acalorada discussão entre os dois coronéis. Porém, nada demovia José Morbeck de sua pretensão de justiça. Carvalhinho, então, deixou a reunião e voltou para Santa Rita do Araguaia.

O presidente do estado, entre os tantos relatos que certamente colheu sobre os eventos do vale do Ribeirão das Pombas, deve ter dado especial atenção justamente a esse desentendimento, que se transformou, posteriormente, em trunfo para dar início ao plano de criar a dissidência entre José Morbeck e Carvalhinho e incorporar o território diamantino à administração estadual.

Os eventos do vale do Ribeirão das Pombas se tornaram, então, parte da agenda tanto de José Morbeck como do governo estadual. Na zona diamantina do Garças e Araguaia, Reginaldo de Melo, de representante de José Morbeck no vale do Ribeirão das Pombas, passou a figurar entre os comparsas de Chiquinho Baiano e de seus companheiros de chacina que passou a desestabilizar a ordem existente na região. Reginaldo de Melo tentou mandar notícias a Caçununga, com a finalidade de sondar terreno sobre a própria situação em face dos acontecimentos. Como não obtivesse resposta, partiu para a localidade a fim de se entender pessoalmente com José Morbeck.

Enquanto pernoitava numa das fazendas da família Ribeiro Vilela, algumas pessoas se adiantaram a ele e foram, assustadas, comunicar a sua aproximação de Caçununga. O coronel José Morbeck se muniu de cautela. Imaginando que Reginaldo estivesse acompanhado pelos companheiros de Chiquinho Baiano e que a sua ida a Caçununga seria um pretexto para tomar de assalto a localidade, preparou-se para o possível ataque, espalhando os defensores da localidade nas cercanias da Serra da Arnica, no início de 1925, perto da qual o bando de Reginaldo de Melo necessariamente deveria passar. À frente do piquete estava o moço que por primeiro informou a José Morbeck sobre a chacina do Alcantilado. Tinha ele por intenção matar Reginaldo de Melo, para, assim, vindicar seus parentes mortos.

Reginaldo de Melo estava realmente acompanhado por alguns homens e logo que se aproximaram da Serra da Arnica receberam sucessivas descargas de bala. Na fuga, Reginaldo foi encontrar refúgio no garimpo da Chapadinha, onde acabou sendo preso. Na presença de José Morbeck fez repetidos apelos para que não fosse punido, mas o coronel já tinha decidido a entrega-lo às autoridades de Cuiabá.

Após a prisão de Reginaldo de Melo, uma grande companhia de homens partiu rumo a São Pedro com o fito de aprisionar o bando que perpetrara a chacina. Chiquinho Baiano, o líder do grupo, recusou-se a se entregar e foi logo morto. Os outros se renderam assim que viram seu líder morto e se deixaram levar amarrados à presença do coronel. Eles, assim como aconteceu com Reginaldo de Melo, foram entregues por José Morbeck aos soldados da Força Pública, que os levaram para Cuiabá.

O presidente Estêvão Alves Correia começou, então, a pôr em prática o plano de desestabilização do poder do coronel José Morbeck e dos seus liderados sobre a região diamantina do sudeste mato-grossense. Enquanto os homens de José Morbeck ainda estavam na cidade, manteve Reginaldo de Melo livre. Reginaldo de Melo foi visto desfilando em carro aberto pelas ruas de Cuiabá, sendo assassinados por Antônio Leandro, Deija Lira e José

Franklin, homens de confiança de José Morbeck que haviam acompanhado os prisioneiros até a capital.

A morte de Reginaldo de Melo pelos homens de José Morbeck teve como consequência o acirramento das contendas entre os dois coronéis que compartilhavam entre si a liderança sobre a zona diamantina do Garças e Araguaia. Num primeiro momento, José Morbeck e Carvalhinho reataram a amizade. Porém, ainda em 1925, os dois partiram para o Rio de Janeiro com a finalidade de tratar de interesses comuns e de apoio político. Por essa ocasião, Estêvão Alves Correia, conhecedor da autoridade de José Morbeck sobre os garimpeiros e das desavenças entre ele e Carvalhinho, colocou em ação o plano para desestruturar de vez a liderança dos coronéis sobre o sudeste mato-grossense. A viagem simultânea dos três – o presidente do estado, José Morbeck e Carvalhinho – ao Rio de Janeiro se apresentou como a oportunidade para tal. Uma vez que a Concessão para a exploração dos minerais do Garças à Companhia de Antônio Mota Moreira não tinha entrado em operação, devido à resistência de José Morbeck, e, em 1925, após a reunião da Liga que culminara na elaboração da Ata imperativa que havia sido enviada ao governo, o governo estadual nomeou Antônio Balbino de Carvalho como Delegado Especial do Garças e Araguaia e Agente Arrecadador das Minas dos garimpeiros.

Com isso, o governo estadual colocava José Morbeck sob o comando Manoel Balbino de Carvalho, ao mesmo tempo em que dava mostras claras de que não aceitaria que a mão dos coronéis do Garças e Araguaia alcançasse Cuiabá, como havia acontecido, com o assassinato de Reginaldo de Melo. José Morbeck percebeu, então, o golpe desfechado contra a sua liderança sobre o território diamantino do sudeste de Mato Grosso. Rompeu em definitivo com Carvalhinho e voltou para o Garças com a finalidade de se preparar para a luta.