• Nenhum resultado encontrado

Roteiro da peça “Se chover eu não virei ”

No documento A atenção e a cena (páginas 162-166)

ANEXO 1 – Roteiro da peça “Se chover eu não virei...”

Se chover eu não virei... Entrada - Introdução

As cadeiras da plateia estão dispostas em semi-círculo. Atrás de Salete estão o baú com os equipamentos de som e luz e a cafeteira. Salete está posicionada no centro, sentada em seu baú-cadeira de rodas. Do seu lado direito estão a mala grande, uma lanterna e um sino. Do lado esquerdo estão a mala pequena, outra lanterna e outro sino. Há plástico-bolha no chão nas trajetórias indicadas no esquema I .

Hanna e Ravena estão posicionadas em pé ao lado de Salete cada uma com uma garrafa com água, Leonel está auxiliando na entrada do público.

luz ambiente da sala mais luminária da Salete

Cena 1 - Um encontro a distância

Uma tarde em uma avenida movimentada da cidade de São Paulo. Leonel observa Salete deslizar pela calçada enquanto espera o tempo passar.

(Hanna e Ravena permanecem em pé, Leonel senta-se ao lado de Salete. Leonel conta a história pra Salete. Depois vai até a central e liga as diagonais.)

Leonel: Por volta das três da tarde, todo o trabalho já tinha sido concluído e só me restava vagar pela avenida afim de esperar o início do evento ( que começava as nove). Decido tomar um café. Fico olhando todas aquelas pessoas andando apressadamente num fim de tarde quente, que convida à um banho de mar ou de piscina. Em meio a tantas faces, prédios e pedaços de céu me chama a atenção uma figura de menina. Certamente morena, por volta de 17 anos... veste um vestido verde e lhe pende do pescoço um colar preto. Tem as mais belas feições que já vi em minha vida. Ela caminha bonito, parece deslizar pela calçada. Sem pressa. Caminha de uma lixeira a outra, mas não se detém muito tempo na lixeira. Contempla a lixeira enquanto eu a sigo com os olhos. Há algo diferente naquela menina, naquele andar.... Seu comportamento tem algo de estranhamente nobre. Ela para em frente a outra lixeira. Nunca afunda suas mãos na lixeira. Apenas para e contempla o interior do recipiente. Em uma próxima lixeira ela para, olha, e coloca a mão na superfície do lixo, vasculha, vem a sua mão um sanduíche pela metade. Ela olha rapidamente para ele e coloca-o novamente na lixeira. A sombra dos transeuntes se alonga, está ficando tarde. Talvez eu deva voltar...

Apaga a luz da sala. Apenas a luminária da Salete e durante a cena acende as luminárias laterais. Quando acende as diagonais começa a próxima cena. Dá o play na música.

Cena 2 - Uma noite de chuva e sonhos

Uma noite, chove. Davi lembra de seu inusitado encontro com Beatriz enquanto é oprimido por pensamentos obscuros e sombrios.

(Hanna e Ravena estão em pé no centro do palco

Hanna e Ravena iniciam a caminhada no momento em que as diagonais são ligadas. Caminham sobre o plástico bolha. Quando atingem o limite da diagonal se encontram com o olhar e após uma pausa correm em direção ao centro. Dançam a partir da música.)

Hanna "chora" durante a caminhada, Ravena fala: parece uma moça. Deve ser morena. Acho que está preocupada com alguma coisa. Ela esta chorando. Durante a dança Leonel: Naquele dia, voltava bastante tarde para casa. Voltava cantarolando, pois assim faço quando estou feliz. De súbito, aconteceu comigo um incidente inesperado. Vi uma mulher, apoiada ao parapeito de uma pequena ponte. Com os braços encostados a grade, ela parecia olhar muito atentamente à água turva do rio. Usava saia preta e uma blusa bege. Na cintura uma faixa roxa, coroada de um brilhante metal. Pareceu não ouvir meus passos quando por ela passei. Ouvi seu soluço. Decidi voltar e perguntar se estava tudo bem. A moça disparou a minha frente caminhando pela rua. Por minha sorte, o acaso fez com que um senhor, de andar não muito respeitável disparasse no encalço de minha desconhecida. Ela corria como o vento, mas o senhor já a alcançava...(Hanna grita). Num piscar de olhos eu estava do outro lado da rua. Dei-lhe o braço e continuamos a caminhar.

Ravena: vamos tomar um café? (para Hanna)

Enquanto Ravena coloca água na cafeteira Leonel apaga as luzes diagonais e liga as luzes verde e azul.

Hanna arruma a avó.

Leonel continua ao lado de Salete. Hanna e Ravena estão atrás deles. após a dança Hanna abre o pó de café, Ravena pega a água.

Ravena acende as diagonais quando Hanna canta a marcha nupcial. A escuta do sonhador

(Leonel está com a mala pequena nas mãos, chapéu. Está na direita e sua trajetória está na horizontal atrás. Hanna está no centro com a Salete, com linha e agulha nas mãos e sua trajetória está na horizontal frontal.

Hanna caminha de um lado a outro, sempre na diagonal, fazendo breves pausas. Leonel caminha lentamente no sentido da esquerda para a direita e volta na posição do arqueiro com passos para trás.)

Hanna fala: - deve estar fazendo a barba. Eu vou casar, ele vai descer e me pedir em casamento e eu vou casar. Ele vai dizer: beatriz , casa comigo. Não, ele vai dizer: beatriz, meu amor, quer se casar comigo? Eu vou falar: pode ser... Não, vou falar:

tenho que pedir pra vovó, não, vou falar claro meu amor.... eu vou casar, tãããnãã~~aã, eu vou ter muitos filhos... o primeiro vai chamar.... Luis Henrique.... o segundo vai chamar Maria beatriz.... o terceiro vai chamar.... ah o que vovó? sim vovó.. não vovó... sim...ta bom...ta bom vovó

Hanna está com um lanterna e Leonel com outra. Ravena apaga as diagonais na hora que Hanna for para frente.

Leonel: Apesar de não conversar com muitas pessoas, elas me fascinam. Gosto de passar sempre pelos mesmos lugares. Conheço profundamente cada uma das faces que me acostumei a ver, nos lugares habituais, nos mesmos horários o ano todo. Eles não me conhecem, mas eu os conheço. As casas também são minhas conhecidas. Quando caminho pela rua, parece que elas avançam em minha direção...

Luminária Salete, Hanna e Ravena Conversa com as casas

(Hanna e Ravena estão frente a frente no canto esquerdo da cena. Caminham paralelas na horizontal.

Hanna e Ravena seguem paralelas de acordo com a coreografia pré-definida. ) Ravena diz: olá casa numero quinze. Tudo bem?

Hanna: tudo bem, você reparou como meu jardim está ? gramado aparado, roseiras podadas? Ravena: vi, está realmente muito bonito. Olá, como está sua saúde? Hanna: estou ótima! Amanhã vão aumentar-me um andar...vai ter escada rolante... vai ter banheira...

Ravena: uma delas é minha melhor amiga, ela é uma casa simples, pintada de branco com uma cerca verde, tem um jardim pequeno na frente, as janelas são de madeira e tem uma cortina vermelha. tem também uma caixa de correspondência do lado de fora da casa... uma vez que passei por lá e ouvi um grito lastimoso.

Hanna: pintaram-me de amarelo!

Ravena: vi que tinham pintado tudo de amarelo. uma coisa horrível! deu até vontade de vomitar. Agora quando passo por lá não consigo nem olhar para ela.

Hanna: portão amarelo, parede amarela, cortina amarela, tudo amarelo. Colortrans

Até amanhã

(Hanna e Ravena estão no café, Leonel faz diagonal da direita pra esquerda.Leonel vai deixar a mala no meio do caminho, Hanna a pegará na próxima cena.

Leonel levanta o chapéu, caminha, coloca a mala no chão, caminha novamente, se cobre com a saia. Hanna ilumina Leonel com a lanterna, Ravena liga a cafeteira. ) Leonel: até amanhã! ... se chover não nos veremos, eu não virei. .... Hoje o dia foi

triste, chuvoso, sem luz. Fui oprimido todo o tempo por...ama-me, não me deixe: eu o amo tanto neste momento que por isso mereço seu amor. Caso-me com ele na próxima semana.

Luminária da Salete. Hanna ilumina Leonel com duas lanternas. No momento em que Leonel cobre a cabeça com a saia Ravena acende a diagonal direita.

Cena 3 - Dois encontros e um desencontro

Em uma pequena cidade do interior uma estranha figura que denomina-se de Primo chega e modifica a vida de Amélia, dona de um pequeno café. Quando o ex- marido de Amélia volta para a cidade o Primo apaixona-se por ele.

Amargo laço

(Mala no centro. Ravena está a direita, Hanna no centro, Leonel a esquerda. Ravena faz meia volta em volta de Hanna, Leonel vai atrás e fica junto da Salete.

Hanna entra em cena, pega o chapéu e o coloca, abre a mala e pega a canela, passando-a entre os dentes, olhando para a plateia, percebe a aproximação da Ravena e recebe as luvas.Ravena pega a mala e o chapéu de Hanna e os colocam em sua mala. Inicia o jogo do vudu (coreografia pré-definida). Leonel traz Salete tocando sino. Ravena vai até Salete após jogar Hanna no chão. Hanna levanta-se e permanece no mesmo lugar. Ravena desvela Salete e rouba-lhe a máscara. Olha pra frente. Hanna atrás manipula Salete. )

Hanna: é pra caçar intrometidos....é que desde que eu nasci os meus dentes têm um sabor amargo, e eu uso esse pozinho pra me aliviar... (Pra Ravena:) um bezerro... Parece uma criança...

Ravena: Somos primos. tome essas luvas, eram da minha tia, sua mãe.

Hanna: Nenhuma alma vivente na cidade alegrou-se em vê-lo. Meu primo ficou felicíssimo. Eu e todos os outros ficamos olhando para o primo e ele era digno de ser olhado. Meu primo tinha uma habilidade muito peculiar, que utilizava quando queria chamar a atenção de alguém: ficava muito quieto, e com uma pequena concentração. O corcunda sorria para ele com uma súplica que estava perto do desespero. Deslizou os pés no chão, gesticulou com os braços e, finalmente, iniciou uma dança que mais parecia uma cavalgada. Será que o corcunda está tendo um ataque? Depois da chegada do viajante, meu primo tornou-se rude comigo e um dia, subitamente, desapareceu.

diagonais acesas, acende as três luzes coloridas de acordo com a aproximação de Ravena e Salete.

ANEXO 2 – Relatos sobre a coleta do material (vídeos e entrevistas)

No documento A atenção e a cena (páginas 162-166)