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CAPÍTULO IV ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 Síntese dos Resultados da Análise do Discurso

Nesta seção, iremos fazer duas sínteses: a primeira referindo-se a uma análise geral de como os alunos avaliaram o Curso FIC, levando-se em consideração os resultados obtidos em todas as perguntas do QAVAFIC; a segunda organizando de forma visual as perguntas 2, 7 e 9 do QAVAFIC a fim de responder objetivamente as perguntas de pesquisa.

Como já indicado no subitem anterior, os dados do QAVAFIC foram colocados no anexo desta pesquisa (Apêndices D a N) por motivos didáticos. A Tabela 4 a seguir sintetiza e indica as subcategorias da categoria Apreciação do Subsistema de Atitude encontradas no corpus desta pesquisa, como também aponta um número expressivo da subcategoria capacidade referente à categoria Julgamento do Subsistema de Atitude. A Tabela 4 foi organizada de modo a dar uma visão geral do número de ocorrências fornecidas nas respostas dos alunos para cada pergunta do QAVAFIC e para cada subcategoria das categorias Apreciação e Julgamento, fazendo somatória do número dessas ocorrências na última coluna da referida Tabela.

01 02 03 04 05 06 07 08 09 12 13 Subcategorias 7 3 8 5 2 1 - 2 5 14 10 re quali + 57 - - - re quali - - 1 - 11 3 - 1 1 3 1 6 1 re imp + 28 - - 1 1 - 1 - - 1 - 2 re imp - 6 - - - re imp Ø - 15 16 3 4 - - 7 - 10 6 2 val relev + 63 - - - val relev - - - 1 - 1 - - - - 1 1 - val orig + 4 - - - val orig - - 1 - - - 11 3 11 5 3 1 - comp compl + 35 - - 1 1 7 1 - 3 - - 3 comp compl - 16 - - - - 10 - - - comp compl Ø 10 - - - 11 - 9 - - 1 1 - comp prop + 22 - - - 1 - - - comp prop - 1 - - - comp prop Ø - 3 9 7 1 1 1 1 11 3 - - cap + 37 - - 1 - - - - 4 1 - - cap - 6

A Tabela 4 demonstra que houve predominância das subacategorias val

relev +, re quali +, comp compl + e re imp +, sendo a somatória desses itens,

respectivamente, 63, 57, 35 e 28. Essas subcategorias são itens da categoria Apreciação. Devemos lembrar, neste momento, que a categoria Apreciação valora e constrói significados para coisas (MARTIN; WHITE, 2005). Entretanto, se analisarmos matematicamente as subcategorias de forma a somar as ocorrências positivas, diminuindo deste valor as ocorrências negativas e desprezando as ocorrências neutras, observaremos que a avaliação do Curso FIC como um todo foi marcado, com maior nitidez, pelo tipo reação (79 ocorrências positivas absolutas) da categoria Apreciação, tal qual ilustrado na Tabela 5.

O tipo reação está associado à avaliação de coisas de forma afetiva, sendo que tal avaliação pode ser de forma emotiva (isso me atrai) ou desiderativa (eu quero isso) 50(MARTIN; WHITE 2003, p. 57). Como o

QAVAFIC foi o instrumento para se avaliar o Curso FIC, refletindo também a quinta etapa da nossa pesquisa-ação, notamos que, de acordo com os resultados apresentados na Tabela 5, o tipo reação apresentou um maior índice na subcategoria de qualidade (posicionamento emotivo) do que na de impacto (posicionamento desiderativo). Isso pode sugerir que os alunos

50 No original: emotive –‘ it grabs me’, desiderative – ‘I want it’.

Tabela 4.Tabela Quantitativa das Respostas do QAVAFIC pela Perspectiva do SAVA, Subsistema de Atitude, Categorias Apreciação e Julgamento.

sentiram-se atraídos pela perspectiva de estar diante de uma oportunidade de elevar o nível de compreensão escrita ao se depararem com textos da área de informática em LI. Além disso, o fato de que Cursos FIC não são ofertados com regularidade nos campi do interior e a dualidade necessidade/aceitação tende a ser um fator normalmente presente na comunidade do campus onde foi realizada a pesquisa, é possível que, por conta desta não regularidade de oferta constante e pela dualidade observada, o discurso dos alunos tenha se mostrado enfático ao tipo reação.

SUBCATEGORIAS OCORRÊNCIAS TOTAL DE OCORRÊNCIAS POSITIVAS ABSOLUTAS

re quali + 57

79

re quali - - re imp + 28 re imp - 6 re imp Ø - REAÇÃO (TOTAL) 57 + 28 - 6 val relev + 63

67

val relev - - val orig + 4 val orig - - VALORAÇÃO (TOTAL) 63 + 4 comp compl + 35

40

comp compl - 16 comp compl Ø 10 comp prop + 22 comp prop - 1 comp prop Ø - COMPOSIÇÃO (TOTAL) 35 – 16 + 22 - 1 cap + 37

31

cap - 6 CAPACIDADE (TOTAL) 37 - 6

Os resultados obtidos, ilustrados na Tabela 5, também enfatizam o tipo valoração, que soma 67 ocorrências positivas absolutas, o que torna este dado significativo, já que foi o tipo de Apreciação que maior apresentou índice de ocorrência positivas. O tipo valoração é utilizado para avaliar coisas no seu sentido de significância social (MARTIN; WHITE, 2003). Neste sentido, ainda que algumas perguntas do QAVAFIC sugiram o uso de expressões que se encaixem nesta subcategoria, o total de ocorrências observado pode indicar

Tabela 5. Total de Ocorrências por Subcategoria.

que existiu uma valorização do Curso na perspectiva de ser um instrumento do qual os alunos participantes poderão usufruir no percurso acadêmico e profissional.

O tipo composição, diante dos resultados apresentados na Tabela 5, talvez seja o mais interessante de ser analisado, já que houve uma maior variedade de distribuição de ocorrências em suas subcategorias. Prestando atenção à referida Tabela, observamos um total de 84 ocorrências das quais apenas quase um pouco mais da metade destas (44), no discurso apresentado pelas respostas do QAVAFIC, foram positivas. Devemos, no entanto, considerar que, em termos de complexidade (comp compl), a avaliação tendeu para uma heterogeneidade de percepções, já que verificamos um número significativo de ocorrências positivas (35), negativas (16) e neutras (10). Isto pode sugerir que o nível de complexidade exposto no Curso pode ter atingido um grau de compreensão satisfatória como também, se analisarmos a quantidade de ocorrências negativas (16), pode ter sido frustrante para alguns. Se considerarmos agora o tipo composição, pela perspectiva da proporção (comp prop), o qual indica se a coisa apreciada é bem elaborada (MARTIN; WHITE, 2003), observamos que, neste aspecto, o discurso mostrou-se favorável, já que houve 22 ocorrências positivas e apenas uma negativa, o que pode indicar que a ordenação do Curso como um todo foi satisfatória.

Ressaltamos ainda que o Curso FIC, pela sua natureza de ser um projeto de ensino voltado, no nosso caso, a ser um mecanismo para complementação de formação profissional, foi avaliado, pela categoria Apreciação, com expressões relacionadas à forma, à aparência, ao impacto e ao valor de objetos naturais e abstratos (ALMEIDA, 2011, p. 109) para se obter informações que possibilitassem destacar itens lexicais desta categoria no discurso.

Com relação à categoria Julgamento, verificamos que houve, de acordo com a Tabela 5, a ocorrência de 31 registros positivos da subcategoria capacidade, o que pode apontar que os alunos, ao final do Curso, se sentiram, no discurso aferido pelas respostas do QAVAFIC, mais capazes de se defrontar com textos da área de informática em LI, ainda que a Análise Experimental (comentado no subitem 4.3 deste capítulo) realizado para esta

pesquisa não tenha mostrado estatisticamente um aumento significativo na compreensão escrita.

A análise da Tabela 5, através das ferramentas discursivas do Sistema de Avaliatividade, Subsistema de Atitude, elaboradas por Martin e White (2003) e Martin e Rose (2005), serviu como um veículo para avaliar as percepções dos alunos sobre o Curso FIC Inglês Para Informática e tal análise tornou-se importante no sentido de utilizar estes resultados para promover cursos semelhantes em outras áreas técnicas na comunidade onde esta pesquisa foi realizada ou ainda para implementar Cursos FIC na área de informática utilizando gêneros textuais específicos e abordagens contemporâneas em estudo como a R2L (MARTIN; ROSE, 2012). Esta reflexão tornou-se norteadora da análise desta pesquisa e vislumbrou, de forma mais ampla, meios de propor outras pesquisas pelo modelo pesquisa-ação se compararmos ao que tínhamos proposto inicialmente como objetivos deste trabalho. Isto posto, entendemos que ainda nos falta responder objetivamente as perguntas de pesquisa e, para isto, sintetizaremos no Quadro 19 as perguntas 7, 2 e 9 do QAVAFIC de forma a colocar as marcas linguísticas mais frequentes no discurso dos alunos, bem como marcas linguistícas que se destacaram no discurso.

O Quadro 19 demonstra que, para a primeira pergunta de pesquisa, houve predominância da subcategoria composição complexidade. No Quadro, observamos 7 registros mais recorrentes/significativo (variações do processo mental facilitar e os adjetivos fácil e claro); entretanto, no total, como analisado no subitem 4.2 deste capítulo e visualizado na Tabela 4, foram 11 registros ao todo. A expressão mais utilizada foi o processo mental facilitar, que está associada ao tipo composição, da categoria Apreciação (MARTIN; WHITE, 2003). Como já explicitado, o tipo composição expressa se a coisa apreciada é bem ordenada (comp prop) ou se é ou não difícil (comp compl). Os resultados para a primeira pergunta de pesquisa sugerem que rever os conteúdos da área técnica de informática em LI tornou, pelo apresentado no discurso dos discentes, os textos apresentados no Curso menos complexos de serem compreendidos. Isto tende a evidenciar que há sempre uma vantagem em utilizar uma abordagem de IFE através de assuntos que estejam relacionados ao conhecimento profissional (DUDLEY-EVANS; ST JOHN, 1998).

Perguntas de Pesquisa

Marcas Linguísticas no SAVA,

Subsistema de Atitude Subcategorias

Número de Ocorrências

Quais as percepções dos alunos sobre rever, na língua inglesa, conteúdos técnicos dos dois primeiros anos do curso técnico integrado de informática no Curso FIC?

Facilitou ; facilitam; facilita fácil claro interessante tinha conhecimento tinha um entendimento comp compl + comp compl + comp compl + re imp + val relev + val relev + 2; 1; 1 2 1 1 1 1 Quais marcas linguísticas, no Sistema de Avaliatividade, caracterizam as percepções dos alunos sobre o Curso FIC para sua formação

profissional?

Aprendi

Contribuiu; vai contribuir bom

Proveitoso; fundamental; necessário;indispensável Abriu portas para a minha vida ganho de experiência confusa cap + val relev + re quali + val relev + val relev + val relev + val relev + cap - 4 3; 1 2 1; 1 1; 1 1 1 1 Quais marcas linguísticas, no Sistema de Avaliatividade, caracterizam as percepções dos alunos sobre as estratégias de leitura introduzidas no Curso FIC? importante(s) bom; boas Nice; legal úteis val relev + re quali + re quali + val relev + 8 1; 2 1; 1 1

Quanto à segunda pergunta de pesquisa, pelo Quadro 19, notamos que há uma predominância da subcategoria capacidade (destacando-se a forma verbal aprendi), que totalizou 9 ocorrências, conforme ilustrado na Tabela 4, bem como há também a predominância, pelo Quadro 17, do tipo valoração (destacando-se os adjetivos Proveitoso, fundamental, necessário e indispensável), que totalizou, conforme a Tabela 4, 17 ocorrências das quais 16 são da subcategoria val relev + e apenas 1 da subcategoria val orig +. Neste sentido, percebemos que, como o tipo valoração teve maior destaque no discurso, os alunos tenderam a explicitar o Curso FIC como sendo uma forma de conquistar espaço na área profissional. Além disso, destacamos que o número de registros da subcategoria capacidade para esta pergunta, tal qual analisado no subitem 4.2 deste capítulo, reluz a ideia de que os alunos se mostraram mais confiantes perante textos da área técnica em LI. Talvez o fato de ter aplicado o Curso FIC na segunda metade do curso técnico integrado para os alunos tenha sido fator motivador, já que Dudley-Evan e St. John

Quadro 19. Ocorrências de Algumas Marcas Linguísticas para Sintetizar as Respostas para as Perguntas de Pesquisa.

(1998) expõem a ideia de que cursos com abordagem de IFE aplicados nos anos finais de um estudo acadêmico possibilitam trabalhar determinadas habilidades que um grupo necessita, bem como eleva o status da abordagem de IFE.

Passando para a terceira pergunta de pesquisa, observamos que houve, pelo Quadro 19, a predominância da subcategoria val relev + tendo o adjetivo importante como marca lingüística mais evidente. Atentamos também que a subcategoria re quali + foi registrada 5 vezes, o que sugere que a introdução das estratégias de leitura no Curso FIC foram avaliadas não apenas pela relevância, mas também de forma emocional (isso me atrai)(MARTIN; WHITE, 2003). Neste sentido, McNamara (2009, p. 34) aponta que há evidências do aprimramento da compreensão escrita através de leitura, principalmente, por aqueles que possuem pouco domínio em uma determinada área do conhecimento e poucas habilidades de leitura.

Após discutirmos os resultados das perguntas de pesquisa, passaremos, a analisar o experimento, no subitem a seguir, feito neste trabalho com intuito de mensurar se as estratégias de leitura introduzidas no Curso FIC impactaram positivamente a compreensão escrita dos alunos ao final da intervenção pedagógica.

4.3 Resultados da Análise Experimental

Esta seção destina-se a relatar os resultados da Análise Experimental feito nesta pesquisa com o objetivo de investigar se, após o Curso FIC, os alunos atingiram estatisticamente um desempenho melhor na compreensão escrita em textos da área técnica de informática em LI. A Tabela 6 aponta o número de acertos do primeiro texto, aplicado no primeiro dia de aula do Curso, e do segundo texto, aplicado no último dia.

Os resultados obtidos na Tabela 6 foram analisados pelo software R e contatou-se que o conjunto, isto é, o grupo como um todo não obteve um resultado estatisticamente significativo, porém é possível notar que há alguns valores matemáticos que são importantes de serem observados. Um deles é o fato de que 9 alunos tiveram um aumento da pontuação do primeiro para o segundo texto, o que já representa um percentual 47% de discentes que

conseguiram um melhor escore. Além disso, 5 desses 9 alunos marcaram, pelo menos, de 3 a 5 questões corretas a mais, o que representa aproximadamente 55% dos 9 alunos e 25% do total de alunos.

Alunos Escore 01 Acertos Escore 02 Acertos Diferença de Acertos S01 5 4 -1 S02 3 8 +5 S03 7 8 +1 S04 3 4 +1 S05 4 7 +3 S06 6 5 -1 S07 5 4 -1 S08 4 7 +3 S09 6 6 0 S10 7 4 -3 S11 5 7 +2 S12 7 6 -1 S14 7 5 -2 S16 3 6 +3 S17 3 7 +4 S18 3 3 0 S19 5 5 0 S21 4 4 0 S22 3 7 +4 Total 90 107

9 alunos aumentaram o escore 6 alunos decaíram o escore 4 alunos mantiveram o escore

Como já informado no capítulo II Metodologia de Pesquisa, os dados deste resultado foram analisados estatisticamente, através do teste T, no software R. A hipótese mostrada pelo software foi que houve uma diferença estatística entre as pontuações, tendo esta diferença um nível de confiança de 95% conforme visualizado no Quadro 20 abaixo. Entretanto, esta diferença não é estatisticamente significativa, já que o p-valor foi igual a 0.1013, ou seja, 10,13%. Lembrando ainda que foi aplicado o teste T porque os dados apresentaram distribuição normal de probabilidade.

Tabela 6. Resultado da Análise Experimental.

É válido comentar que os dados poderiam ter sido diferentes se o experimento tivesse sido aplicado de forma a distribuir os dois textos de forma igualitária aos alunos no primeiro e último dias de aula, o que resultaria numa análise mais precisa, já que poderíamos verificar qual dos textos apresentou maior ou menor complexidade antes e depois do Curso. Isto pode ser apontado como uma limitação desta Análise Experimental.

Há outras variáveis que também podem ter determinado o resultado desta Análise Experimental. Por exemplo, apesar de 6 alunos terem decaído no escore do primeiro para o segundo texto, 2 deles tiveram 3 ausências das 10 aulas ministradas, sendo que um deles (S07) teve seu escore diminuído em 1 ponto ao passo que o outro (S10) diminuiu em 3 pontos. Isto pode ter afetado, de alguma forma, o desempenho destes alunos na compreensão escrita do segundo texto do experimento. O mesmo fato aconteceu com 1 dos 4 alunos que mantiveram o mesmo escore do primeiro para o segundo texto. O aluno S19 teve duas ausências e manteve seu escore em 5 pontos. Reportando ainda, para fins comparativos, é importante relatar que dos 9 alunos que tiveram seus escores aumentados do primeiro para o segundo texto, 2 deles estavam ausentes em 2 aulas, sendo que 1 deles (S03) teve seu escore aumentado em 1 ponto e o outro (S16), em 3 pontos.

Não podemos ignorar ainda que o experimento foi aplicado com 19 alunos dos 24 participantes. Este fato ocorreu devido a ausências no primeiro e último dias de aula, período em que pré e pós testes foram aplicados. Entendemos que, uma segunda chamada, colocaria os participantes ausentes

> antes=c(5,3,7,3,4,6,5,4,6,7,5,7,7,3,3,3,5,4,3) > depois=c(4,8,8,4,7,5,4,7,6,4,7,6,5,6,7,3,5,4,7)

> teste t pareado (antes,depois,pareado=VERDADEIRO) dados: antes e depois

t (valor crítico) = -1.7271, df (grau de liberdade) = 18, p-valor = 0.1013 hipótese alternativa: diferença real nas médias não é igual a zero. 95% de intervalo de confiança

estimativas da amostra: -1.9831488 0.1936752 médias das diferenças: -0.8947368

Quadro 20. Resultado da Análise Experimental.

em condições diferentes dos que estavam presentes, podendo afetar indevidamente os resultados da Análise Experimental.

Por fim, entendemos que a Análise Experimental aplicada nesta pesquisa, apesar de suas limitações, é uma ferramenta válida de análise e pode ser um instrumento de mensuração importante para constatar o impacto não só de compreensão escrita, mas de outras habilidades em Cursos FIC e no modelo pesquisa-ação.

Dito isto, discorreremos sobre nossas considerações finais no próximo capítulo deste trabalho científico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cerne deste trabalho envolveu o desenvolvimento e a implementação de um curso com abordagem de IFE para os alunos do curso técnico integrado de informática do IFRN - campus João Câmara, tendo esta intervenção pedagógica sido avaliada pelos discentes participantes desta pesquisa e tendo esta avaliação sido analisada por meio de um experimento e das ferramentas semântico-discursivas do Subsistema de Atitude, no Sistema de Avaliatividade, elaboradas por Martin e Rose (2003) e Martin e White (2005). Por esta perspectiva, este trabalho se enquadrou no modelo de pesquisa-ação, o qual permite a ação de um trabalho científico e uma reflexão no processo desta ação: a reflexão em ação51 (SCHÖN, 1992).

Tripp (2005) discute que é necessário haver uma compreensão sobre o que estamos fazendo e o porquê de fazê-lo numa pesquisa-ação. Ser um professor-pesquisador possibilita tentar compreender fenômenos educacionais ao agir como docente, fornecendo atividades previamente planejadas e interagindo com o grupo discente, e, ao mesmo tempo, ao agir como pesquisador, organizando atividades e interação com métodos de pesquisa, refletindo este processo científico-humanístico em busca de compreender diferentes aspectos sociais, políticos, psicológicos, emocionais e educacionais (FAGUNDES, 2016). Neste sentido, propiciar uma forma de fazer os discentes da área de informática terem uma melhor compreensão dos textos da área técnica foi uma preocupação instaurada quando percebi que havia uma lacuna a ser preenchida ao concluir que a ementa de língua inglesa não proporcionava aos alunos esta habilidade de forma eficiente.

A pesquisa, pelo prisma acima, buscou responder quais eram as percepções dos alunos em rever os conteúdos dos dois primeiros anos de informática no Curso FIC, quais eram as marcas lingüísticas, no Sistema de Avaliatividade caracterizam as percepções dos alunos sobre sua formação profissional e sobre as estratégias de leitura introduzidas no Curso FIC e, finalmente, mensurar se o uso de gêneros textuais e estratégias de leitura impactaram na compreensão escrita desses discentes.

51 No original: reflection in action.

A pesquisa aqui apresentada mostrou que, apesar de não ter havido estatisticamente um aumento significativo na compreensão escrita por meio do experimento realizado, as marcas linguísticas demonstraram, de modo geral, na avaliação do Curso FIC, que, no discurso, houve a predominância do tipo reação da categoria Apreciação com 79 ocorrências absolutas, sendo que a subcategoria reação qualidade (57 ocorrências) foi mais expressiva no discurso do que a reação impacto (28 ocorrências positivas e 6 negativas), revelando que os participantes avaliaram o Curso, principalmente, pelo aspecto emocional (isso me atrai) (MARTIN; WHITE 2003, p. 57). Além disso, nesta avaliação do Curso FIC, houve um número expressivo de marcas da subcategoria capacidade (31 ocorrências positivas absolutas) pertencente à categoria Julgamento, sugerindo que os participantes, no discurso, se sentiram mais capazes quando diante de textos em LI na área técnica. Os resultados apresentados me impulsionam a continuar utilizando materiais com abordagem de IFE, já que esta pesquisa mostrou tendência a uma aceitação por parte dos participantes a este tipo de abordagem. Além disso, algumas inserções com materiais de IFE feitas em turmas de informática em dois outros campi do IFRN onde trabalhei, antes da elaboração desta pesquisa, me pareceram válidas, embora tais experiências não tenham sido submetidas a uma metodologia de pesquisa científica, isto é, tais práticas apenas foram observadas empiricamente. Tendo, então, a visão a de que, por se tratar de uma instituição que tem como um dos objetivos formar técnicos, a utilização de materiais com abordagem de IFE é coerente com o contexto acadêmico no qual estou inserido.

Tomando como parâmetro ainda os resultados desta pesquisa, tenho a intenção de desenvolver projetos semelhantes de ensino, através de Cursos FIC, para outras áreas técnicas como Administração e Eletrotécnica, que também são opções de curso técnico integrado para a comunidade da região onde o campus João Câmara se situa. Tal qual o curso de informática, há materiais com abordagem de IFE disponíveis no mercado e materiais autênticos que podem ser adquiridos e adaptados para as duas áreas acima citadas, fornecendo a possibilidade de melhorar a compreensão escrita dos discentes destas outras áreas. Esta ação futura possibilitará um estudo comparativo de como Cursos FIC, com mesma duração e objetivos, podem

impactar discentes de áreas diferentes, mas que estão inseridos num mesmo contexto escolar.

Nesta pesquisa-ação, refletindo pela faceta professor da nomenclatura professor-pesquisador, executar uma intervenção pedagógica por meio de Curso FIC com alunos voluntariados foi recompensador no sentido de presenciar e observar – não levando em consideração neste momento aspectos científicos – uma disposição por parte da maioria dos discentes de se envolver com as atividades propostas e tentar aperfeiçoar a compreensão escrita e verificar que boa parte deles realmente tendem a seguir seus estudos