• Nenhum resultado encontrado

A S P OLÍTICAS E AS E NTIDADES DE T URISMO

P ARTE II: P OLÍTICAS E P LANEAMENTO DO T URISMO EM

Z ONAS C OSTEIRAS

4. A S P OLÍTICAS E AS E NTIDADES DE T URISMO

É necessário que haja um desenvolvimento racional e equilibrado do turismo no nosso país, pois este sector é considerado como motor de um processo de desenvolvimento integrado, já que é gerador de infra-estruturas, equipamentos, actividades e empregos, proporcionando a dinamização das actividades económicas locais, regionais e nacionais. O turismo apresenta-se, assim, como um sector estratégico de grande importância para o desenvolvimento económico de Portugal. Gerador de grande riqueza e emprego, com efeitos multiplicadores noutros sectores da economia, o seu desenvolvimento deve ser feito tendo em consideração os princípios da sustentabilidade já referidos, bem como a preservação e conservação da natureza.

Esta preocupação e consciencialização da necessidade de harmonizar o desenvolvimento do turismo com a conservação da natureza, levou, já em 1984, à elaboração do Plano Nacional de Turismo (1986-1989), onde os seus objectivos e estratégias apontavam para um desenvolvimento do turismo em consonância com a preservação do ambiente, como se pode constatar por um dos objectivos do referido plano: “… contribuir para a protecção do património natural e valorização do património cultural” (DR n.º 5/87, de 14 de Janeiro). Além disso, este plano definia linhas orientadoras de acordo com um desenvolvimento mais sustentável e de forma a dar um papel mais activo às populações. Como menciona Arroteia, o Plano Nacional do Turismo referia que o desenvolvimento do turismo em Portugal impõe que todas as acções a desenvolver se subordinem aos seguintes princípios:

• “O crescimento do turismo terá de ser compatível com o desenvolvimento equilibrado das estruturas de apoio e de enquadramento;

• O turismo português assentará a base do seu desenvolvimento na defesa intransigente da qualidade da oferta;

• A recuperação das zonas com potencialidades de aproveitamento turístico, bem como o desenvolvimento das insuficientemente aproveitadas, será tarefa prioritária;

• A oferta turística de equipamentos será reorganizada e assentará na diversificação e no seu melhor ordenamento;

• A promoção turística será orientada de forma a diversificar mercados e aumentar receitas turísticas;

• O esforço de desenvolvimento turístico terá como pressuposto a participação das populações locais.”

Como é estabelecido neste Plano Nacional de Turismo, e no Decreto-Lei n.º 256/87 de 27 de Agosto, “o turismo deverá contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população portuguesa, mediante, outras medidas, o fomento do turismo rural e o incremento do turismo de habitação nas zonas rurais, modalidades que, simultaneamente deverão visar a protecção e valorização do património cultural, de que a arquitectura regional é expressão de grande interesse turístico”.

No entanto, apesar do sector turístico ser de extrema importância para o nosso país, e desta relevância ser reconhecida nos vários documentos oficiais, este sector encontra-se muito repartido por várias entidades, havendo assim uma complexa organização institucional e uma legislação pouco flexível e muito burocrática, não atingindo, desta forma, os objectivos do sector (AEP, 2001).

Dada a grande importância que o sector do turismo tem para o desenvolvimento e crescimento do nosso país, é necessário a concretização de alguns objectivos essenciais e a execução de “políticas integradas e coordenadas com outras áreas da acção governativa, como os transportes, o ambiente, o ordenamento e planeamento do território, o emprego e a formação profissional, a promoção da imagem, o desporto e o apoio à internacionalização” (Programa do XV Governo Constitucional). Desta forma, o Ministério da Economia apresentou objectivos e linhas orientadoras de uma política de turismo, que permita concretizar as acções previstas pelo Programa do XV Governo Constitucional. O turismo é eleito pelo presente Governo como um dos eixos centrais do modelo de desenvolvimento económico do país. As orientações da política de turismo foram já definidas através da Resolução de Conselho de Ministros n.º 97/2003, de 1 de Agosto (Anexo VI). Segundo esta Resolução, os objectivos prioritários da política de turismo são os seguintes:

• Aumentar a capacidade competitiva do País e dos principais destinos turísticos regionais;

• Criar condições mais vantajosas para a captação de investimentos e concretização de novos projectos turísticos de qualidade e interesse estratégico para o País;

• Dinamizar o desenvolvimento de novas áreas de aptidão e vocação turística nas diversas regiões que, pela sua especificidade, riqueza natural e cultural e diferenciação, possam responder às exigências de novos segmentos do mercado;

• Definir e concretizar modelos sustentáveis de desenvolvimento de produtos de elevado potencial de crescimento da procura designadamente o Turismo de Congressos e Incentivos, o Turismo de Natureza, o Turismo Rural, o Turismo de Golfe, o Turismo Cultural e o Turismo Desportivo;

• Promover uma utilização mais racional, cuidada e sustentável dos recursos naturais, dos espaços, do património histórico e arquitectónico e das infra- estruturas e equipamentos disponíveis para fins turísticos;

• Fomentar a requalificação e reabilitação da oferta de alojamento e animação existentes, bem como o incremento da qualidade do serviço prestado aos turistas.

Conforme as orientações da política de turismo consagradas pela Resolução de Conselho de Ministros supracitada, é resolvido aprovar o Plano de Desenvolvimento do Sector Turístico, que propõe diversas medidas entre as quais destacamos:

• Revisão da legislação aplicável a diversos sectores do turismo, entre as quais a qualidade ambiental e a preservação da natureza;

• Reforma da organização institucional do turismo português; • Reforço da informação e conhecimento do sector;

• Planeamento e desenvolvimento do turismo, através, essencialmente da

criação das “Áreas de Protecção Turística”, bem como da compatibilização dos instrumentos de gestão territorial com a definição destas áreas;

• Formação de recursos humanos para o turismo.

No que diz respeito à criação das áreas de protecção turística estas têm em vista “facilitar a definição e delimitação espacial e geográfica das áreas do País com actual vocação turística, ou com significativo potencial de futuro desenvolvimento turístico”. Como é ainda referido na mesma Resolução de Conselho de Ministros, “nestas áreas não apenas será autorizado mas incentivado o investimento na reabilitação, extensão e melhoria da qualidade de empreendimentos existentes de relevante interesse para o turismo, mas, fundamentalmente, o investimento em novos empreendimentos turísticos de qualidade e em infra-estruturas e ou actividades complementares de animação turística, no âmbito do turismo e lazer”. O mesmo documento refere ainda que se devem considerar e integrar as áreas de protecção turística na preparação e/ou revisão dos vários instrumentos de gestão territorial, como é o caso dos Planos Directores Municipais, Planos Regionais de Ordenamento do Território, Planos de Ordenamento da Orla Costeira, entre outros.

Portugal, devido às suas características sócio-económicas e biofísicas apresenta uma grande aptidão em termos de turismo, tais como Turismo no Espaço Rural, Turismo da Natureza, Turismo Cultural, bem como o tão proclamado Turismo de Sol e Mar. Por estas razões, é necessário a existência de legislação que compreenda todas as formas de turismo, as competências dos diversos órgãos de gestão, à escala, nacional, regional e local, bem como o regime aplicável à instalação dos empreendimentos turísticos. Pode afirmar-se que em termos de legislação de turismo em Portugal, se verifica uma preocupação em abranger as diversas formas de turismo, bem como os diversos tipos de empreendimentos possíveis. Podemos referir, como exemplo o decreto-lei n.º 54/2002, de 11 de Março, que legisla o Regime Jurídico de Instalação e Funcionamento do Turismo no Espaço Rural, ou o decreto-lei n.º 47/99, de 16 de Fevereiro, que legisla o Regime Jurídico de Instalação e Funcionamento do Turismo da Natureza.

Existem já várias tentativas por parte do governo português para implementar políticas que tenham em conta o turismo e a conservação da Natureza. É cada vez mais reconhecida a importância da conservação da natureza para que o sector do turismo se possa expandir nesse sentido. Também por estas razões é necessário ter em conta a capacidade de carga das regiões, pois, essencialmente nas zonas costeiras esta capacidade já foi, em muito, ultrapassada. Interessa, então, estimar a capacidade de carga das regiões, tendo em conta a limitação e a exaustão dos recursos disponíveis, a necessidade da sua preservação bem como dos ambientes e das paisagens que atraem o elevado número de turistas que aí afluem (Arroteia, 1994).

Entre outras dinâmicas político-estratégicas postas em prática no sector do turismo, é dado um certo ênfase à temática do turismo ambiental. A assinatura do Protocolo de Cooperação entre a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) e a Secretaria de Estado do Turismo (SET), que permitiu lançar o Programa Nacional de Turismo na Natureza (Resolução do Conselho de Ministros n.º 112/98 de 25 de Agosto), veio comprovar a possibilidade de articulação do relacionamento entre o turismo e o ambiente no nosso país.

Para atingir os objectivos de uma política estruturada com base na conservação e valorização do património natural é necessário que as entidades responsáveis pelo turismo, ambiente e ordenamento do território tenham em conta a organização equilibrada dos espaços, a protecção dos ambientes naturais, em particular das faixas litorais, a definição da capacidade de carga turística para cada região, a protecção da arquitectura regional e dos aglomerados urbanos típicos, a preservação dos monumentos

e protecção dos espaços envolventes, bem como o desenvolvimento do artesanato e das actividades culturais típicas de cada região (Arroteia, 1994).

Estão à partida, criadas condições para que o turismo possa assumir-se como uma preciosa alavanca de desenvolvimento para áreas naturais e populações residentes, que de outra forma muito dificilmente veriam chegar o desenvolvimento aos locais onde residem.

Apesar desta preocupação, verifica-se ainda uma certa ausência dos princípios da sustentabilidade defendidos na Cimeira do Rio e, mais recentemente, na Cimeira de Joanesburgo. Houve já a preocupação da elaboração de um Programa Nacional de Turismo de Natureza, o que é um indício das preocupações em termos da sustentabilidade, mas no que se refere à legislação, esta está muito mais virada para a regulamentação dos empreendimentos e não tanto para a regulamentação da actividade turística em si.

Como foi já referido, existe já um programa nacional de turismo de natureza, que procura estabelecer critérios para a prática de um turismo mais sustentável nas áreas naturais, com destaque especial para as áreas protegidas. Como refere o artigo 1º do decreto-lei n.º 47/99, de 16 de Fevereiro, “Turismo de Natureza é o produto turístico, composto por estabelecimentos, actividades e serviços de alojamento e animação turística e ambiental realizados e prestados em zonas integradas na Rede Nacional de Áreas Protegidas”. Este artigo refere ainda que “o turismo de natureza desenvolve-se segundo diversas modalidades de hospedagem, de actividades e serviços complementares de animação ambiental, que permitam contemplar e desfrutar o património natural, arquitectónico, paisagístico e cultural, tendo em vista a oferta de um produto turístico integrado e diversificado.”

Não obstante a importância da prática de um turismo sustentável na Rede Nacional de Áreas Protegidas, achamos também que é muito importante a regulamentação desta prática em áreas naturais que, mesmo não estando englobadas na Rede Nacional de Áreas protegidas, devem ser preservadas e conservadas, tendo em conta os critérios da sustentabilidade. Um exemplo são diversas áreas nas zonas costeiras, que são procuradas por um grande número de turistas, essencialmente na época balnear, mas em que a maior parte delas não se encontra abrangida pelos princípios das Áreas Protegidas. Assim, não havendo programas específicos que regulamentem o turismo nestas áreas, cada vez mais vamos assistir a uma maior degradação dos ecossistemas costeiros, que tanto importa preservar e conservar. Por

para as Zonas Costeiras, para que possa ser compreendida a importância destas áreas, não apenas para o turismo, mas como áreas necessárias à protecção e conservação.

Actualmente, existem diversos organismos que gerem e financiam o turismo, estando estes na dependência do Ministério da Economia, onde se encontra a Secretaria de Estado do Turismo.

A Direcção-Geral do Turismo é, por seu turno, o organismo dependente do Ministério da Economia, com autonomia administrativa e financeira, responsável pela concepção, avaliação e execução da política de turismo, segundo o decreto-lei n.º 292/98, de 18 de Setembro, que aprovou a nova Lei Orgânica da Direcção-Geral do Turismo.

Através da reforma da organização institucional do sector do turismo, foi criado em 28 de Janeiro de 2004 o Instituto do Turismo de Portugal que concentrará todas as competências nos domínios da promoção e do apoio financeiro do turismo, hoje dispersas pelo ICEP (Instituto de Comércio Externo Português) e pelo IFT (Instituto de Financiamento e Apoio ao Turismo). Passam a estar também “cometidas ao ITP atribuições no domínio da inovação turística, nomeadamente no que respeita ao apoio ao desenvolvimento de novos produtos ou destinos turísticos regionais, assim como no domínio do tratamento e divulgação da informação de interesse para os operadores turísticos e visitantes” (IAPMEI, 2004). Além disso, prevê-se também a “concentração das actuais 19 regiões de turismo num número significativamente mais reduzido de áreas promocionais a definir, reduzindo a dispersão do esforço de promoção e criando estruturas regionais profissionalizadas capazes de assumir responsabilidades acrescidas e de estabelecer parcerias com o sector empresarial” (RCM n.º 97/2003, de 1 de Agosto).

Como já foi referido, são vários os sectores em que o turismo tem influência. Desta forma, é necessário haver uma articulação entre os diversos departamentos, entre os quais se destaca o Ministério da Economia, da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente, bem como das autarquias locais.