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Cresci sob um teto sossegado, meu sonho era um pequenino sonho meu. Na ciência dos cuidados fui treinado.

Agora, entre meu ser e o ser alheio a linha de fronteira se rompeu.

Waly Salomão, “Câmara de ecos”

Na pesquisa contemporânea, o conceito de fronteira pode referir-se tanto à separação e diferença entre identidades ou Estados nacionais quanto à permeabilidade e contaminação entre indivíduos e culturas. Na primeira acepção, convocam-se “noções operativas, tais como: limites, fronteiras, de- marcações”, além de “identidade(s), nacionalidade, princípios legitimadores de soberania e possessão”, como assevera Ângela Domingues (2011, p. 42) ao analisar a fronteira marítima brasileira no contexto colonial. O geógrafo Ricardo José Batista Nogueira (2007, p. 28-29) afirma que, hoje, “a frontei- ra retorna à cena [...] em virtude das discussões em torno da globalização, da mudança do caráter dos Estados, da ampliação dos fluxos de diversas ordens”. O autor aponta, ainda, as conotações de perigo e transgressão, ile- galidade e bandidagem frequentemente associadas ao espaço fronteiriço:

Resultado de sua construção histórica como divisor de soberanias; de dis- puta de poder; defesa do território do Estado-nacional, limite das leis do Estado para proteção/punição de seus cidadãos e até mesmo de sua ‘pro- dução’, a fronteira não poderia ter outra imagem senão a de lugar em que vicejam as contravenções, o contrabando, a rota de fuga, a saída ou entra- da daqueles que infringem a lei e a ordem em seus respectivos Estados. Segundo Nogueira, tem-se outra perspectiva (ou seja, a segunda acepção do termo) se a fronteira deixar de ser vista como periférica e for colocada no centro gerador do pensamento sobre identidades, níveis de des- locamento, porosidade e interação entre culturas diversas.

Uma ideia de fronteira que se mostrou extremamente influente no âmbito da historiografia e dos estudos literários foi desenvolvida pelo histo- riador Frederick Jackson Turner no ensaio “The significance of the frontier

in American History”. Originalmente publicado em 1893, o texto estabele- cia a relação entre a fronteira oeste dos Estados Unidos (seguidamente em- purrada até o Oceano Pacífico) e o desenvolvimento social, político e econô- mico do país. Desafiadora e simbólica, a fronteira se apresentava como ideal possível de ser conquistado e “civilizado” por pessoas comuns, um processo vital para moldar o “caráter americano”, solidificar a República e expandir a economia. Como assinala Jean Morency (2013, p. 47-48), entretanto, a “experiência dos limites” e o “imaginário das fronteiras” na verdade já im- pregnava a cultura e a literatura do país desde a sua colonização.

Em prol da união nacional, a imagem mítica foi evocada por presiden- tes como F. D. Roosevelt e J. F. Kennedy, mas criticada por correntes acadê- micas a partir dos anos 1960 pelo fato de estimular a crença na excepcionali- dade norte-americana, além de apagar ou diluir questões cruciais de gênero, classe, raça e etnia. No contexto anglo-americano, a palavra frontier ficou tão relacionada ao oeste e à tese de Turner que se popularizou o conceito de border para lidar com a paradigmática divisa México-Estados Unidos, além de ou- tros espaços fronteiriços, físicos ou metafóricos. Publicações importantes das décadas de 1980 e 1990, como Borderlands/La frontera (ANZALDÚA, 1987),

Divided Borders (FLORES, 1993) e Border Matters (SALDÍVAR, 1997), en-

tre outras, registram e fortalecem a prática, enquanto em português, espanhol e francês geralmente prevalecem os termos fronteira, frontera e frontière.

O trabalho de expoentes dos estudos culturais e pós-coloniais tende a sublinhar a mistura, o hibridismo e a contaminação inerentes ao espaço intermediário da fronteira, ao invés do antagonismo radical de uma linha divisória. Focalizando particularmente os Estados europeus, Homi Bhabha (1998, p. 209-211) aponta a rasura ou o esvaziamento das “fronteiras totali- zadoras – tanto reais quanto conceituais” – que antes assinalavam “a indivi- dualidade da nação” e visavam proteger sua suposta homogeneidade contra a ameaça externa. Para Stuart Hall (2001, p. 84), o mundo apresenta “fron- teiras dissolvidas” e “continuidades rompidas”, pois à medida que o espaço nacional absorve migrantes e minorias em sua alteridade, línguas e cores, a fronteira se dissemina “no interior” da própria nação, “articulando a hete- rogeneidade de sua população”. Em decorrência das múltiplas hibridações e entrecruzamentos, García Canclíni (1997, p. 348) argumenta que, “hoje, todas as culturas são culturas de fronteira”. A contaminação se dá entre nações, espaços, línguas, produtos e artes, como ele explica: “o artesanato

migra do campo para a cidade; os filmes, os vídeos e canções que narram acontecimentos de um povo são intercambiados com outros” (1997, p. 348). Apesar da perda da “relação exclusiva com seu território”, há o ganho “em comunicação e conhecimento”; e se “em toda fronteira há arames rígidos”, a presença de “arames caídos” comprova a possibilidade de transpor barreiras pela mediação de “práticas transformadoras” (1997, p. 348-349).

Além dos muros e cercas, a ponte é outra imagem recorrente de asso- ciação à fronteira. Vilém Flusser considerou Praga uma cidade “situada nas fronteiras” (apud SELIGMANN-SILVA, 2009, p. 156), onde a Ponte de Carlos tem grande destaque. Como explica Seligmann-Silva, “Praga é mar- cada por essa imponente e delicada ponte, justamente porque é um espaço de tensões e campos de força” (2009, p. 156).

No texto pioneiro Borderlands/La frontera: the new mestiza, a es- critora chicana Gloria Anzaldúa (1987, p. 85) cita versos de Gina Valdés (1982) para enfatizar a flexibilidade da fronteira e a existência de pontes que aproximam, apesar das diferenças: “Hay tantíssimas fronteras/ que dividen a la gente,/ pero por cada frontera/ existe también un puente”. Anzaldúa se baseia em deslocamentos pessoais ao adotar o conceito bilíngue borderlands/

la frontera como estratégia cambiante e multifacetada, tanto em termos de

nacionalidade e cultura quanto na escolha de um modo de vida híbrido e transgressor. A autora defende uma identidade profundamente mestiza nos âmbitos sexual, cultural, social, nacional, racial, étnico, linguístico e inte- lectual, abraçando ambivalências e contradições que levam a pensamentos e vivências novas, plurais e criativas, na vanguarda do mundo. Segundo An- zaldúa (2005, p. 706), “As fronteiras e os muros que devem manter idéias indesejáveis do lado de fora são hábitos e padrões de comportamento arrai- gados”, já endurecidos e mortos; em contrapartida, “La mestiza tem que se mover constantemente para fora das formações cristalizadas” e desenvolver “um pensamento divergente”, mais aberto e inclusivo.

Em tempos pós-modernos avessos a binarismos, continuar pensando a fronteira com apenas dois lados, duas línguas e duas culturas parece indicar uma posição simplificadora que subestima as múltiplas nuances do termo. A

mestiza fronteiriça de Anzaldúa transita entre várias culturas, ou melhor, está

“in all cultures at the same time, / alma entre dos mundos, tres, cuatro”. Sua vida parece uma tradução simultânea confusa e emaranhada: “me zumba la cabeza

neamente” (1987, p. 77, em itálico no original). Embora dor e atordoamento

se façam presentes, prevalecem as esperanças e possibilidades: em Anzaldúa, o inglês, o espanhol chicano e a língua indígena Nahuatl entrelaçam culturas e crenças na busca de uma nova consciência feminina e hemisférica1.

Para a artista-escritora Coco Fusco, filha de imigrantes cubanos e nascida nos Estados Unidos, o significado de fronteira depende do lugar que se ocupa e a partir do qual se fala. A fronteira México-Estados Unidos, por exemplo, é caracterizada no lado norte como “questão de segurança na- cional” e apresentada pela mídia como “uma espécie de zona de guerra – lugar de conflito, de ameaça, de invasão”. Para os mexicanos, em seu país, a fronteira pode ser um muro protetor da defesa nacional, mas também o “abismo” onde caem os traidores que passam ao lado norte. Para os chicanos que a cruzam e tentam articular um novo espaço próprio, “a fronteira tem múltiplas conotações míticas: é o cordão umbilical com o México, o lugar de redenção para onde se pode retornar sempre” (FUSCO, 1995, p. 148-149).

Muitos escritores ressaltam a contaminação linguística e cultural na experiência de fronteira, inclusive a partir das próprias perdas e contradi- ções. Descrevendo-se “um ‘commuter’ binacional como centenas de milha- res de mexicanos”, por exemplo, Guillermo Gómez-Peña (1996, p. 63, 25) registra a divisão e incompletude resultantes: “Minha arte, meus sonhos, minha família, amigos e minha mente foram literal e conceitualmente di- vididos pela fronteira”, o que o faz sempre “outro”, em qualquer lado que esteja2. Politizado e mordaz, Gómez-Peña satiriza a situação do “Novo

Mundo” ao final do século XX: segundo ele, uma enorme zona de fronteira transcultural controlada pelos Estados Unidos, onde traduções simultâneas, ininteligíveis e caóticas impedem qualquer entendimento.

A fronteira oeste do Brasil, por sua vez, estimula a criatividade do poeta Douglas Diegues, de herança familiar mesclada de brasileiro/ca- rioca mais paraguaio/guarani, e vida pessoal dividida entre Assunção, no Paraguai, e Ponta-Porã e Campo Grande, no lado brasileiro. Pesquisador da língua e da poética guaranis, Diegues é falante do nheengatu (uma 1 Anzaldúa parece antecipar, de certa forma, a proposta de “identidade nômade” feminista a ser defendida anos depois por Rosi Braidotti (n. 1954), que, poliglota, com dupla cidadania australiana-italiana e estudos em Paris, é professora da Universidade de Utrecht, Holanda. Cf. verbete “Nômade, nomadismo”, neste livro.

evolução da língua geral amazônica) e inventou o “portunhol selvagem”, linguagem intensa, irreverente e híbrida que usa para escrever e traduzir em formas inovadoras. Segundo o cineasta Silvio Back, “Diegues é a iné- dita escrita da fronteira brasiguaia”3. Os temas, títulos (e.g. Triplefrontera dreams) e linguagem das obras mostram a experimentação vanguardista

do escritor, que vincula seu trabalho a uma tradição literária renomada e também ao povo comum das ruas fronteiriças, que continua a expandir os sons e sentidos dessa linguagem mutante. Em sua própria versão do portunhol selvagem, ele diz:

Existem vestígios de lo proto-portunhol selvagem enquanto escritura em algunas páginas de Sousândrade, Oswald de Andrade, Haroldo de Campos, Héctor Olea, Wilson Bueno, Nestor Perlongher, Antonio Fra- ga... Y posso dizer também que, em ambos lados de la frontera, el pue- blo inbenta-lenguas triplefrontero lo sigue inventando enquanto habla (DIEGUES, 2009).

A partir do mesmo espaço geocultural, “a fronteira-sul do Cen- tro-Oeste brasileiro”, Edgard Cézar Nolasco (2012, [s.p.]) propõe “uma crítica fronteiriça, fora do eixo e periférica”, criada a partir “das margens da nação brasileira”, consciente da diferença hemisférica e da contraditória e persistente “divisão conceitual” Norte-Sul. Nolasco encontra inspiração teórica na influente obra de outro sul-americano, Walter Mignolo, sobretu- do no conceito de “epistemologia fronteriza”. Mignolo questiona as fronteiras geográficas e culturais que tradicionalmente dividem nações, territórios, línguas, culturas, disciplinas e classificações, dada a relação desses limites com a “colonialidade do poder”. Associando-se a “periféricos” e “fronteiri- ços” como Anzaldúa e outros, Mignolo (2003, p. 298-299) defende o “pen- samento liminar”, transcultural, de fronteira – ou “border thinking”, como estabelece o subtítulo original de seu livro.

Estudos, obras e eventos têm abordado o deslocamento de fron- teiras entre línguas e discursos, espaços acadêmicos, gêneros literários, artes e modos de produção. Já se discutia o desaparecimento de frontei- ras culturais, políticas e/ou econômicas no congresso interdisciplinar da 3 Silvio Back é citado na apresentação do blog Portunhol selvagem (DIEGUES, [s.d.]).

Associação Canadense de Estudos Latino-Americanos e do Caribe no ano de 1994 em Ottawa, sob o tema “Para uma América sem fronteiras” [“Towards a borderless America”]. Por outro lado, diversos autores apon- tam a voracidade da globalização capitalista na era pós-moderna e o lucro obtido com a suposta irrelevância das fronteiras nacionais, o que, na ver- dade, proporcionaria “[...] um horizonte teórico para que o novo império do mercado possa circular livremente” (ABDALLA JR., 2004, p. 19). A fronteira é mantida quando isso interessa à globalização, segundo Sérgio Bellei (2009, p. 223-224): a barreira entre os hemisférios norte-sul, por exemplo, isola o intelectual periférico “condenado a ficar do lado de fora” dos centros hegemônicos. Com base em Octavio Paz e García Márquez, Bellei (2009, p. 233) acredita na demarcação da diferença e, ao mesmo tempo, no diálogo “possível e produtivo” que resulta da prática crítica de cruzar a fronteira.

Vistas como zona potencial de perigo e conflito, divisão política, desafio a ser ultrapassado, espaço discursivo, símbolo de contradições e, ao mesmo tempo, condição de possibilidade de encontro, invenção e criativi- dade, as fronteiras seguem instigando cruzamentos e renovando desafios pessoais e coletivos.

REFERÊNCIAS

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Claudio Bergstein FOZ DO RIO PREGUIÇA, MARANHÃO, 2004

GLOBALIZAÇÃO