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CAPÍTULO 2 METODOLOGIA

2.3 TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO

Não há trabalho de campo que não vise a um encontro com um outro, que não busque um interlocutor. Também não há escrita de pesquisa que não se coloque o problema do lugar da palavra do outro no texto

(AMORIM, 2004, p.16).

2.3.1 A técnica da observação participante

Para a produção dos dados, recorremos à observação participante. Essa técnica constitui- se em um importante instrumento, uma vez que “consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada. [...] onde o observador assume, pelo menos até certo ponto, o papel de membro do grupo” (GIL, 2010, p. 103). Assim, ao participarmos de um grupo, estamos sendo, também, observados. É importante, pois, que o observador se apresente aos elementos do grupo e declare os objetivos do seu trabalho sem maiores disfarces, evitando que seja considerado um “estranho no ninho” (VIANNA, 2003, p. 41). Essa técnica parte do princípio de que o pesquisador tem sempre um grau de interação com a situação estudada, afetando-a e sendo por ela afetado (ANDRÉ, 2015).

Um dos grandes traços da observação participante consiste em verificar o maior número de situações possíveis no decorrer da pesquisa, o que permite não apenas a apreensão das ações, também, a participação nas conversações naturais, onde emergem as significações das rotinas dos participantes. Nesse caso, o pesquisador coloca-se à espreita, segundo Coulon (1995).

Considerando nossa aproximação com o objeto, preocupamo-nos com as relações estabelecidas, já que a observação ocorre em um contexto real entre pessoas que agem, se comunicam e interagem. Portanto, conduzimos as observações estando cientes de que, se por um lado, a nossa presença altera a dinâmica da sala de aula, por outro, seria complexo compreender tal processo sem um envolvimento e uma participação direta.

Como dissemos anteriormente, por meio de observações participantes, acompanhamos, durante o ano letivo de 2018 (Apêndice A), a prática das três professoras que atuavam nos três anos do Bloco Inicial de Alfabetização - BIA. Foram 12 (doze) observações de aulas de língua portuguesa, em cada turma, sendo seis no primeiro semestre, no período de março a junho; e as outras seis no segundo semestre, de agosto a novembro. Essas jornadas corresponderam a um total de noventa e seis horas (96h) distribuídas, igualmente, em trinta e duas horas (32h) em cada ano do ciclo de alfabetização, totalizando trinta e seis (36) protocolos.

A observação participante foi utilizada para termos acesso às maneiras de fazer, ou seja, como as ações docentes eram realizadas no cotidiano da sala de aula. Buscamos analisar as práticas de alfabetização desenvolvidas por essas profissionais, com vistas a responder aos critérios e às inquietações delineadas face aos eixos: ciclos e alfabetização (Apêndice B).

Ainda acerca de sua rigorosidade, Lüdke e André (2003) esclarecem que, para ser um instrumento válido e fidedigno de investigação científica, a observação precisa ser planejada cuidadosamente, e isso depende de uma preparação rigorosa do observador. Por isso, na observação participante escolhemos, previamente, o foco exato para elaborar um plano com as categorias de análise necessárias e com objetivos prévios para, assim, realizar uma observação orientada a partir de temas-chave. Entretanto, sabíamos que outros surgiriam no decorrer da produção de dados.

Para o registro dos dados, utilizamos recursos, tais como a gravação em áudio e o diário de bordo. Na gravação conseguimos assegurar, com precisão, as falas e os diálogos estabelecidos pelos sujeitos; e no diário pudemos escrever nossas percepções, angústias, questionamentos e informações que não poderiam ser obtidas por meio da utilização de outros instrumentos.

Nas notas de campo contidas no diário de bordo constam as interações e a sequência em que elas ocorreram entre os observados, pois, se não há interação, não há como obter informações sobre o que se observa. Nesse sentido, foi importante registrar os tempos investidos nas diferentes atividades e os fatos que ocorreram, evitando “escrever com base na memória dos fatos, face à ocorrência de prováveis lapsos que prejudicariam, de forma

bastante efetiva, o trabalho que está sendo realizado” (VIANNA, 2003, p. 31). Por isso, as observações foram norteadas por temas especificados na íntegra no Apêndice B e antecipados na seção que enfoca o Tratamento dos dados.

2.3.2 A técnica de Grupo focal

Recorremos à técnica de grupo focal por considerarmos muito utilizada nos trabalhos de abordagens qualitativas em pesquisa social, e por assegurar uma interação verticalizada acerca dos temas abordados nas observações, explicitados no Apêndice B, conforme descrito anteriormente. Por meio da aplicação do grupo focal, é possível apreendermos as implicações de uma proposta oficial na prática docente e verificarmos, conforme realça Gui (2003), uma quantidade maior de interação entre os participantes a respeito de um tópico, em um limitado intervalo de tempo, podendo o pesquisador direcionar e focalizar o tema da pesquisa. Constitui-se em um espaço onde é possível se apropriar de concepções em uma perspectiva mais interativa, e mais, traçando um perfil inicial com as projeções para o ano letivo. Assim foi no final do ano letivo de 2018, assegurando, dessa forma, o que foi realizado ao longo do ano.

Para Gatti (2012, p. 449), o grupo focal é elucidado como “um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é o objeto de pesquisa, a partir de sua experiência pessoal”.

O grupo focal permitiu acessarmos os saberes das docentes acerca das práticas de leitura e escrita e como as Diretrizes Pedagógicas e o Currículo em Movimento têm orientado seus trabalhos no BIA (Apêndice B). Assim, conseguimos apreender maiores informações sobre os limites e as possibilidades enfrentadas pelos docentes no processo de didatização daqueles eixos de ensino de língua, ou seja, como realizavam a transposição didática a partir dos saberes teóricos a ensinar. Foram realizadas duas entrevistas que permitiram traçar um perfil inicial e final do ano letivo de 2018. As duas totalizaram exatamente duas horas e dois minutos (2h e 02m) de duração.

Assim sendo, após encerrarmos as observações no primeiro semestre, realizamos, no dia 26 de junho de 2018 (Apêndice C), a primeira entrevista de grupo focal. Por meio dela, pudemos conhecer e compreender como as docentes organizaram o trabalho pedagógico para o ano em questão. Esta se prolongou por uma hora e seis minutos (1h e 06m).

Posteriormente, ao completarmos as observações, igualmente, concretizamos, no dia 26 de novembro de 2018 (Apêndice D), a segunda entrevista. Naquela ocasião, as informações

permitiram apreender o que foi desenvolvido em sala de aula e como os estudantes finalizaram o ano em relação às aprendizagens, bem como o que as alfabetizadoras levantaram como prioridades e/ou quais conteúdos mereciam ter ganhado mais destaque. A entrevista durou cinquenta e seis minutos (56m).

Ao conjugarmos o grupo focal com a observação participante, triangulamos o conteúdo produzido no grupo com o cotidiano das práticas de sala de aula. Gui (2003) chama a atenção ao afirmar que, no grupo focal, não se busca o consenso, mas a pluralidade de ideias, uma vez que a ênfase está na interação dentro do grupo, baseada em tópicos oferecidos pelo pesquisador, que assume o papel de moderador.

De acordo com González Rey (2002), caberá ao moderador do grupo focal a preparação dos participantes para a discussão, que seguirá favorecendo uma conversação espontânea, em que a "[...] a intimidade entre os sujeitos participantes cria uma atmosfera natural, humanizada, que estimula a participação e leva a uma teia de relação que se aproxima à trama das relações em que o sujeito se expressa em sua vida cotidiana" (GONZÁLEZ REY, 2002, p. 87).

Entretanto, segundo Gui (2003), é necessário que o processo de discussão seja cuidadosamente planejado a partir de tópicos organizados e roteirizados, segundo aspectos adequados ao projeto de pesquisa em questão. Essa medida auxilia o moderador ou facilitador a se orientar, dando-lhe maior controle sobre a situação, mas adverte que esse roteiro não deve se constituir em uma camisa de força, que obrigue o grupo a discutir mais extensamente um tópico que claramente não lhe interessa, ou a passar para outro tópico quando ainda tem o que dizer a respeito da questão que está sendo examinada.

Macedo (2010, p. 116), por sua vez, acredita que “alguns elementos devem ser levados em conta, tais como: os membros do grupo; sua preparação para a entrevista; as condições de tempo; o lugar do encontro; a qualidade da mediação ou do entrevistador em termos de domínio da temática a ser trabalhada e da dinâmica grupal”.

Seguimos apontando o caminho teórico-metodológico para o tratamento das informações produzidas.