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Fase ii Indicadores desportivos do sector federado

3. Indicadores desportivos

3.3 Títulos nacionais e atletas internacionais

Os títulos nacionais e a quantidade de atletas internacionais podem contribuir para caracterizar o nível de desenvolvimento desportivo de cada uma das modalidades no contexto desportivo nacional, particularmente quando combinados ou relacionados com outras dimensões e indicadores do sector em estudo. Assim, a título de exemplo e com base nos indicadores da demografia federada, talvez seja relevante verificar se existe alguma coerência entre os títulos nacionais de cada uma das modalidades e os atletas que estão integrados no regime regional de alta competição. Esta relação pode ser mais adequada quando tem em conta os títulos das épocas anteriores, uma vez que a concessão do estatuto de alta competição decorre dos resultados alcançados nas épocas antecedentes. Por ora, optámos por efectuar uma descrição sumária, relevando a quantidade de atletas (valores percentuais na RAM e no País), os títulos nacionais e os atletas internacionais, de forma a podermos perceber, na fase ulterior, a lógica de desenvolvimento da modalidade no contexto regional e nacional.

Capítulo IV – Processo de Redução e Discussão dos Dados Fase ii – Indicadores desportivos do sector federado

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Quadro 27 - Atletas federados, títulos nacionais e atletas internacionais

Percentagem de atletas na RAM e no País Títulos nacionais internacionais Atletas Modalidades desportivas no Associações

País n.º % R % N Ordem a) n.º % n.º % Atletismo 22 956 6,50 7,93 4º 59 - 11 - Basquetebol 21 829 5,64 4,28 9º 1 4,16 2 - Canoagem 8 148 1,00 9,18 5º 5 1,56 2 5,41 Ginástica 10 249 1,69 3,89 5º 25 40,98 3 10,34 Ténis de Mesa 19 1.306 8,88 29,20 1º 44 61,97 24 61,53 Voleibol 18 663 4,51 4,05 8º 2 10,52 2 2,89 Notas:

% R - percentagem de atletas federados da RAM. % N - percentagem de atletas federados do País.

a) Posição da AD a nível nacional de acordo com os atletas inscritos, em comparação com as restantes AD’s.

O primeiro resultado que emerge da leitura do quadro 27 é a supremacia da modalidade de ténis de mesa no contexto regional e nacional, não apenas por ser aquela que apresenta um maior número de atletas e clubes ao nível do País, mas sobretudo pela percentagem de 61,97% dos títulos nacionais alcançados e ainda pela projecção de 24 atletas com estatuto de internacional. Relembramos que esta modalidade tinha sido uma das que mais tinham crescido desde 1992 mas em que nos últimos anos tem vindo a decrescer o número de atletas federados, depois de ter ultrapassado a fasquia dos 2000 atletas. Provavelmente, depois de uma fase de crescimento acelerado, quer do número de atletas, quer de clubes, deu-se origem a uma fase de melhoria da qualidade dos praticantes, de consolidação e afirmação na competição nacional. Actualmente, é possível e previsível uma estratégia de projecção da modalidade no âmbito das competições e eventos internacionais. Perante os indicadores que são apresentados no quadro, qual será, então, o número de praticantes e de clubes necessários para suportar e alimentar não só a participação das equipas no espaço nacional, mas também a supremacia e projecção internacional dos clubes da RAM, tal como acontece com a referida modalidade? Por outro lado, que papel terá o processo de formação dos praticantes e da competição regional na tendência de internacionalização da modalidade?

Um segundo resultado que salta à vista é o facto de, nas modalidades individuais, os títulos nacionais e os atletas internacionais serem claramente mais profícuos, comparativamente com as modalidades colectivas, numa proporção de 258 para 9 (no universo do movimento federado da RAM, época de 2002/2003). Talvez estes resultados possam ser explicados pela reduzida expressão das modalidades individuais no espaço nacional e também pela concentração de apoios e de incentivos aos atletas de alta competição que representam as equipas da RAM nas competições nacionais e internacionais. Neste

sentido, a própria demografia federada tem vindo a apresentar indicadores que denotam um aumento da participação das equipas na competição nacional e internacional e, por outro lado, um incremento da conquista de títulos dos clubes e atletas da RAM.

Em sentido inverso, reparámos que as modalidades desportivas colectivas (embora neste estudo sejam apresentados dados das modalidades de Basquetebol e de Voleibol), apresentaram resultados muito fracos quanto aos títulos conquistados e aos atletas internacionais. Que razões poderão explicar uma diferença tão acentuada? Naturalmente que precisaremos de outros dados de natureza quantitativa e qualitativa, bem como da caracterização do contexto da modalidade nos respectivos quadros competitivos, para percebermos os resultados que foram apresentados.

4. Conclusões e extensões

O sector federado-competitivo apresentou um conjunto de indicadores quantitativos que expressam um crescimento notável nas últimas três décadas, com particular realce para o aumento do número de atletas federados na ordem de uma média de 9% ao ano. Tendo em conta o grupo das AD’s que participou no estudo, as modalidades desportivas de ténis de mesa e de atletismo foram as que apresentaram maiores percentagens de atletas federados, 8,8% e 6,5%, respectivamente, posicionando-se como as 3ª e 4ª modalidades mais praticadas na RAM. Estas foram também as modalidades que apresentaram maior consistência entre o número de praticantes federados e os resultados alcançados a nível nacional (títulos e atletas com representação internacional). Enquanto a AD de ténis de mesa é seguramente a maior associação do País, quer pelos resultados desportivos alcançados e pelo número de equipas que participam na competição nacional, quer ainda pelo número de atletas federados, a modalidade de atletismo deve situar-se entre as três primeiras AD’s do País.

Do lado oposto, e tendo em conta os mesmos critérios, as modalidades mais frágeis foram as da ginástica e da canoagem, apesar de ambas terem alguns atletas talentosos e conquistado resultados nacionais de reconhecido mérito, incluindo um atleta olímpico na modalidade da ginástica.

A análise da demografia federada 2002/2003 evidenciou um aumento substancial da participação das equipas madeirenses na competição nacional, bem como dos títulos alcançados e dos atletas internacionais, com particular destaque para três AD’s de modalidade individual: ténis de mesa, atletismo e ginástica.

O desporto federado está generalizado a todos os concelhos da RAM mas a diferença dos valores percentuais foi elevada, com realce para o do Funchal que congrega 53,48% dos atletas federados para uma taxa de população de 42,26%, enquanto o segundo concelho “mais

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desportivo” foi o de Câmara de Lobos que obteve uma percentagem de 10,89% para uma taxa de população de 14,24%. Contrariamente aos concelhos mais representativos da RAM, o Concelho da Ribeira Brava, apesar de ter uma taxa populacional de 5%, apenas dispôs de dois clubes com desporto federado e uma das mais baixas percentagens de atletas federados: 2,57%.

Quanto aos títulos nacionais alcançados e às representações internacionais, verificámos que houve uma evolução muito positiva ao longo das últimas épocas desportivas e que pode ter justificação na política de apoios e de aproveitamento das oportunidades proporcionadas pela APR, das quais destacaremos algumas na fase seguinte.

Não obstante a demografia federada 2002/2003 oferecer um conjunto alargado de indicadores quantitativos que evidenciam o crescimento e desenvolvimento deste sector, reconhecemos a necessidade de aprofundar certos resultados que deram origem às questões e subquestões de investigação, no sentido de podermos integrar de forma sistémica as determinantes que explicam as lógicas das decisões estratégicas das AD’s.

Os dados apurados na demografia federada indiciaram um conjunto de apoios financeiros vocacionados para as equipas e atletas que participam na competição nacional. Quais são as diversas modalidades de apoio da APR ao movimento associativo, em geral, e às AD’s, em particular?

Ao analisarmos o crescimento notável dos títulos alcançados pelas equipas madeirenses nas competições nacionais e o incremento das representações dos atletas nas competições internacionais, coloca-se a seguinte questão: será que estes resultados estão relacionados com um maior apoio das subvenções públicas aos atletas e equipas ao mais alto nível competitivo?

Neste quadro de desenvolvimento desportivo e de valorização da competição nacional, tem havido um crescimento do número de atletas não regionais, particularmente nas modalidades de atletismo e de ténis de mesa. Porque será que os clubes madeirenses recrutam atletas não regionais para representar as suas equipas de seniores nas competições nacionais? Será porque não existem atletas regionais em quantidade e qualidade suficiente?

Por outro lado, importa ainda questionar se os clubes que têm representação nacional têm desempenhado adequadamente a sua missão ao nível dos escalões de formação e de competição regional. Que correspondência é que existe entre o papel dos clubes ao nível do processo de formação dos atletas e a projecção dos mais talentosos nas principais equipas?

Na modalidade de ténis de mesa, apesar do número de atletas ter vindo a decrescer nos últimos anos, conseguiu manter um elevado número de clubes e atletas, assumindo-se

claramente como a maior AD do país. Será que esta diminuição é natural e necessária, face a uma estratégia de concentração de sinergias e de projecção dos atletas a nível internacional?

A edição da Demografia Federada (IDRAM, 2005) é baseada no número de atletas que estão registados na respectiva federação portuguesa de modalidade, não correspondendo necessariamente aos atletas que, efectivamente, são praticantes federados. Admite-se a existência de uma diferença substancial entre o número de atletas inscritos como federados e o número de atletas praticantes no sector. Neste sentido, talvez seja pertinente estudar variáveis como, por exemplo, as características dos quadros competitivos nestes escalões; a fidelidade dos praticantes mais jovens na modalidade num processo de formação plurianual; a taxa de abandono e a taxa de intensidade da prática desportiva em certos escalões etários. Inclusivamente, se pretendemos maior consistência na evolução dos praticantes federados desde as fases iniciais da formação até ao alto rendimento, então precisamos de encontrar critérios de apoio ao sector baseados na qualidade da prestação do jovem e na avaliação do processo de médio-longo prazo do percurso do atleta.

Estando o sector federado predominante localizado no Concelho do Funchal, com um valor percentual acima dos 50%, que expressão representa os outros sectores desportivos em localidades onde o sector federado apresenta valores percentuais relativamente pequenos, por exemplo, entre 1% a 4%? Será que nestes concelhos existem outras oportunidades de acesso à actividade física e ao desporto, constituindo outros segmentos de praticantes? No caso do Concelho da Ribeira Brava, apesar de ser o que apresenta uma das taxas de participação federada mais baixas face à população, sabemos que os clubes locais realizam outro tipo de actividade física e desportiva que se enquadram no âmbito do “desporto para todos” e que contribuem para a elevação do índice de participação e da melhoria da qualidade do desporto local.

No estudo efectuado pelo IDP (2005) sobre a estatística do sector federado entre 1993 a 2003, a RAM apresentava uma taxa de atletas federados de 6%. Será que uma das razões que explica este valor estará na valorização e concentração dos apoios às equipas e atletas com maiores responsabilidades na competição nacional e internacional, em detrimento de uma estratégia de crescimento e de generalização do sector federado a nível regional? Embora o sector federado não tenha por missão a generalização e ampliação da prática das modalidades desportivas junto dos diversos extractos populacionais, esperávamos encontrar uma percentagem mais consentânea, face aos valores financeiros que a APR proporciona ao sector desportivo em geral.

No que respeita à análise dos atletas por escalões etários, houve dois indicadores que despertaram a nossa atenção.

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O primeiro foi no escalão de juniores, supostamente o mais importante para aceder às equipas principais que representam a RAM nas competições nacionais, que apresentou valores muito inferiores em todas as modalidades quando comparados com os escalões próximos (juvenis e seniores). Provavelmente, neste escalão etário existe uma taxa de abandono bastante elevada que importa alvitrar. Tendo em conta que o escalão sénior é o principal escalão de representação na competição nacional e o que recebe maiores apoios financeiros da APR, não deveria o escalão de juniores apresentar uma percentagem de atletas mais elevada? Será esta uma das razões que levam a que os clubes optem por recrutar atletas não regionais, face às insuficiências dos atletas e, provavelmente, da competição regional?

O segundo indicador prendeu-se com o número relativamente elevado de praticantes federados no escalão de minis (mais do dobro do escalão seguinte), no total das seis modalidades desportivas. Este resultado levanta-nos algumas dúvidas quanto à sua fidedignidade, quando sabemos que as AD’s, em geral, e os clubes, em particular, têm evidenciado sérias dificuldades em assegurar praticantes nos escalões etários de formação e na competição regular. Por outro lado, a concentração dos apoios das subvenções públicas ordinárias tem privilegiado as equipas de competição nacional, em detrimento da competição regional, conforme verificaremos na fase seguinte. Neste sentido, talvez o processo de registo dos praticantes no escalão de minis seja mais fácil e económico do que os escalões etários mais avançados (juniores e seniores). Os dados da fase seguinte irão evidenciar a importância que representa para as AD’s a necessidade de assegurar um certo número de atletas federados para poder beneficiar das subvenções públicas ordinárias provenientes do IDRAM.

No que concerne às modalidades desportivas com menor número de atletas federados nos escalões etários mais baixos, isto é, a canoagem e a ginástica (variando entre 0 e 41), poderá estar em causa a sustentabilidade da modalidade num período de médio-longo prazo, mesmo ao nível da qualificação e enquadramento dos atletas mais talentosos. Este problema deveria merecer a preocupação e intervenção das próprias AD’s.

Tendo-se apurado e combinado alguns indicadores relacionados com a alta competição, poderia ser interessante estudar as variáveis e os elementos constantes do programa Regime Regional de Apoio ao Atleta de Alta Competição (RRAAAC), a fim de determinar o aproveitamento (eficácia) destes apoios, face aos resultados dos atletas das diferentes modalidades no panorama nacional e internacional.

No âmbito da competição nacional as modalidades desportivas individuais alcançaram resultados muito superiores, quando comparados com as modalidades ditas colectivas. Estes indicadores deveriam ser analisados à luz do contexto e da expressão de cada uma das modalidades desportivas a nível nacional e também a nível do trabalho dos clubes e atletas.

Seria, igualmente importante ter em conta a avaliação dos apoios e dos resultados alcançados pelos agentes desportivos que recebem incentivos financeiros para a alta competição. Admite- se a possibilidade de ser mais fácil e económico investir nos atletas dos desportos individuais, tendo em vista a obtenção de resultados a nível mundial, do que numa equipa ou atletas de um desporto colectivo. A representação dos atletas das modalidades individuais da RAM nos Jogos Olímpicos de Sidney e de Atenas indiciam essa hipótese.

Capítulo IV – Processo de Redução e Discussão dos Dados Fase iii – Instituto do Desporto da Região Autónoma da Madeira e associações desportivas

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Fase iii – Instituto do Desporto da Região Autónoma da Madeira e associações desportivas

1. Introdução

No decurso da análise de documentação do regime jurídico, da estrutura e das actividades das AD’s, e mais tarde corroborado nas dimensões externas das fontes de poder de tomada de decisão, foram notórias as alusões do papel do IDRAM no que se reporta ao apoio e financiamento do movimento associativo. No percurso da investigação, fomos sustentando a necessidade de consultar os principais instrumentos de que o IDRAM dispunha na relação com as AD’s, com o propósito de saber até que ponto as decisões estratégicas e o respectivo desenvolvimento organizacional estavam ou eram influenciadas pelo poder da APR. Esta dúvida, que foi despoletada a partir da análise dos documentos específicos, confirmou uma das questões iniciais da investigação: quais são as relações do IDRAM com as AD’s?

Ou, respeitando três objectivos mais precisos, pretendemos descrever os instrumentos legais e regulamentares relacionados com as AD’s, as diversas modalidades e programas de apoio, incluindo os respectivos critérios que suportam as decisões de financiamento. Complementarmente, pretende-se apurar se existe ou não um sistema de avaliação dos resultados dos apoios às AD’s.

Por último, mas não menos importante, procurámos identificar a perspectiva do Presidente do IDRAM sobre três questões abertas: as principais dificuldades e os aspectos positivos da relação entre estas duas organizações; o comportamento estratégico das AD’s e, finalmente, as mudanças que o dirigente preconizava para o desenvolvimento desportivo regional.

Relembramos que as informações que apresentamos nos números seguintes são muito importantes para percebermos e confirmarmos muitos dos dados que foram apurados ao nível das determinantes políticas e organizacionais, através da técnica de observação das reuniões e da entrevista qualitativa.