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2.1 GRUPO A – PEDAGOGIA LIBERAL

2.1.4 Tecnicista

O tecnicismo educacional, outra corrente pedagógica que se fez presente na história do ensino brasileiro, desenvolve-se no Brasil na década de 50, ascendendo nos anos 60 e, por volta de 1968, passa a ser consagrado e reconhecido como uma nova tendência cuja fonte de inspiração provém da corrente behaviorista da aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino (LIBÂNEO, 2012).

Nesse período, o regime militar acaba impondo uma política educacional que reflete a condição econômica, política e ideológica desse regime. Essa política tem caráter tecnicista e sistêmico, em que dominam os “princípios positivistas como a racionalidade, eficiência e produtividade, com forte peso na formação técnica e no ensino profissionalizante” (LIBÂNEO, 2012, p. 241).

Esse tecnicismo, de caráter meramente instrumental, firmava-se, de acordo com Libâneo (1994, p. 67), “na racionalização do ensino, no uso de meios e técnicas mais eficazes. Essa visão tecnicista teve grande repercussão no ensino de Ciências”. O tecnicismo apresenta um avanço no uso de tecnologias, com foco principal na formação para o trabalho, ou seja, inserir o indivíduo no mercado de trabalho, que se tornava cada vez mais exigente.

O autor ainda salienta que a reestruturação do sistema de ensino, no período do governo militar, traz uma nova visão no campo da Ciência, com objetivos explícitos de

crescimento econômico e a modernização do país. Frente a esse desafio, ocorre uma mudança no ensino de Ciências, voltada à formação de mão-de-obra qualificada e necessária para o progresso do país. São então criadas duas leis representativas para esse enfoque, a Lei n. 5.540/19689 e a Lei n. 5.692/197110. Essas duas leis têm como foco principal integrar as aptidões individuais, necessárias e de grande valia para o mercado de trabalho, sendo a escola a instituição responsável por essa integração e pela conexão entre o indivíduo e o trabalho (LIBÂNEO, 2012).

No entanto, essa proposta não correspondeu ao que dela se esperava, pois a precariedade na formação dos professores, o material didático e a estrutura da escola não contribuíram para a sua efetividade. Pelo contrário, registra-se que “as disciplinas chamadas instrucionais ou profissionalizantes fragmentaram o currículo prejudicando, assim, a formação profissional” (COSTA, 2001, p. 8).

Uma das mais fortes razões para esse insucesso estava vinculada ao material didático, em especial o livro-didático, que, mesmo de péssima qualidade, era o instrumento mais utilizado.

O livro era composto por questões de múltipla escolha que dependiam apenas da leitura ou, mais raramente, questões dissertativas que requeriam transcrição literal do texto para respondê-las. [...] muitos dos novos profissionais jamais entraram em laboratório durante seus cursos de formação, o que os tornava ainda mais dependentes do livro-texto. (KRASILCHIK, 1987, p. 18)

Por suas características, esse modelo/tendência pode ser representado pela seguinte fórmula: objetivos, conteúdos, estratégias, avaliação (COSTA, 2001).

9Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968-da Reforma Universitária estabeleceu o fim da cátedra e a

departamentalização. Organizava o Ensino Superior em ensino, pesquisa, e extensão. Sistema de créditos e adoção do vestibular unificado e classificatório para resolver o problema da falta de vagas (CARNEIRO, 2010).

10 A lei n. 5.692/71, Lei da Reforma do Ensino de 1º e 2º grau. De maneira geral, objetivou direcionar o ensino

para a qualificação profissional, “com a introdução do ensino profissionalizante através dos ginásios orientados para o trabalho (GOT) e a implantação da profissionalização compulsória no ensino de 2º grau”. Os termos ensino primário (1º a 4º série) e médio (5º a 8º série ginasial e o colegial) são instituídos pela lei 4.024. No entanto, pela lei 5692/71, une-se o primário e o ginásio formando o 1º grau e o colegial fica como o 2º grau. O núcleo comum são disciplinas obrigatórias que deviam constar no currículo: Comunicação e Expressão– Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna (2º grau), Educação Artística e Educação Física; Ciências – Matemática, Física, Química, Biologia e Programa de Saúde; Estudos Sociais – Geografia, História, Organização Social e Política do Brasil (O. S. P. B) e Educação Moral e Cívica, essa última sendo criada neste período da ditadura com o principal objetivo de educar com bases filosóficas de moral e bons costumes inspirados nos direcionamentos da Escola Superior de Guerra. O caráter obrigatório da profissionalização é discutido e revogado pela Lei 7.044/82 (CARNEIRO, 2010).

Para Luckesi (2011, p. 81), “os conteúdos abordados na tendência tecnicista são princípios científicos estabelecidos e ordenados numa sequência lógica e psicológica, preparados por especialistas”. Sob essa perspectiva, debates, discussões e questionamentos são desnecessários, assim como pouco importam as relações afetivas e pessoais dos sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Não é, portanto, preocupação do tecnicismo a formação crítica e reflexiva de indivíduos.

A figura do professor, segundo Libâneo (1994, p. 68), é “meramente de administrador e o executor do planejamento, o meio de previsão das ações a serem executadas e dos meios necessários para se atingir os objetivos”. Ainda destaca que seu maior desafio é aumentar a ocorrência de respostas aprendidas, para que a proposta tenha êxito. O professor é apenas um elo entre a verdade científica e o aluno, cabendo-lhe empregar o sistema instrucional previsto.

Nesse contexto, o aluno é considerado um indivíduo responsivo, que não participa da elaboração do programa educacional. A comunicação professor-aluno tem um sentido exclusivamente técnico, que é o de garantir a eficácia da transmissão do conhecimento.

A metodologia de ensino é de abordagem sistêmica abrangente, em que os objetivos instrucionais são operacionalizados em comportamentos observáveis e mensuráveis, procedimentos instrucionais e avaliação. Nesse aspecto, prevalece a tecnologia educacional de aplicação sistemática de princípios científicos, comportamentais e tecnológicos que emergem do contexto social vigente (LIBÂNEO, 1994).

O autor ainda destaca que, para a operacionalização dos objetivos, faz-se necessário o emprego de técnicas meramente instrucionais, tais como: instrução programada, as técnicas de microensino, multimeios, módulos, estudo dirigido, tele-ensino, testes de múltipla escolha, máquinas de ensinar e computadores, entre outras.