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Tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas

O tamanho de gotas e o volume de aplicação são fatores básicos que de- vem ser considerados em primeiro lugar para o planejamento de uma aplica- ção. Os demais fatores importantes, como o momento da aplicação, as con- dições climáticas, a recomendação do produto e as condições operacionais devem ser considerados em conjunto para que todo o sistema esteja ajusta- do, visando o máximo desempenho com o mínimo de perdas, sempre com o menor impacto ambiental possível. De maneira geral, os produtos com

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ação sistêmica quando direcionados ao solo ou às folhas podem ser aplica- dos com gotas maiores. Isso facilita a adoção de técnicas para a redução de deriva, melhorando a segurança ambiental da aplicação e aumentando a sua eficiência . Se usadas de maneira correta, gotas maiores geralmente ofere- cem bom nível de depósito (quantidade de defensivo depositado nos alvos), apesar de não proporcionar as melhores condições de cobertura das folhas das culturas. Para os produtos de contato ou de menor ação sistêmica, o uso de gotas menores e/ou maior volume de calda é necessário, devido a maior dependência dessa técnica com relação à cobertura dos alvos.

O estudo das características dos alvos deve incluir a análise de outros fatores, como movimentação das folhas, estágio de desenvolvimento das plantas, cerosidade, pilosidade, rugosidade, face da folha em que a cober- tura é mais importante (superior/inferior) e arquitetura geral da planta. Na diferenciação entre plantas como alvos de aplicações, a posição e o formato das folhas apresentam importância fundamental. Por exemplo, as folhas das monocotiledôneas são geralmente mais estreitas e se posicionam na ver- tical, enquanto as folhas das dicotiledôneas são mais largas e permanecem na horizontal. Esses fatores são fundamentais para a definição da retenção das gotas nas folhas e na própria eficiência de penetração dos defensivos nos tecidos vegetais. Por este motivo, em muitos casos, a tecnologia de aplica- ção mais adequada ao milho pode não ser a melhor para a soja, e vice-versa. A cobertura dos alvos de uma aplicação pode ser definida pela fórmula de Courshee (1967): 2 VRK C 15 AD = Onde: C = cobertura (% da área) V = volume de aplicação (L/ha);

R = taxa de recuperação da calda nas folhas (% do volume aplicado) K = fator de espalhamento de gotas

A = área foliar

D = diâmetro das gotas (μm)

Assim, em termos genéricos, para melhorar a cobertura de uma aplica- ção deve-se adotar gotas mais finas ou volumes maiores; na aplicação de

volumes mais baixos, as gotas mais finas devem ser preferidas, para que se consiga uma boa cobertura com a calda pulverizada; se a escolha recair sobre as gotas maiores, o volume de calda deve ser igualmente aumentado para que se possa garantir um nível mínimo de cobertura para o tratamen- to. Por esses motivos, um dos princípios básicos da tecnologia de aplicação é que não existe uma solução única que atenda todas as necessidades. É necessário, primordialmente, que a tecnologia seja ajustada para cada con- dição de aplicação.

Para que se faça o ajuste do tamanho das gotas e do volume de calda, várias ações podem ser planejadas dentro do manejo dos parâmetros de uma aplicação. Para reduzir o tamanho das gotas, as pontas de jato plano (leque) podem ser substituídas pelas pontas de jato plano duplo (duplo le- que) ou cônico vazio; a pressão de trabalho das pontas pode ser aumentada e um adjuvante pode ser adicionado à calda (um surfatante, por exemplo). Para aumentar o tamanho das gotas, as pontas de jato plano (leque) podem ser substituídas pelas pontas de pré-orifício ou indução de ar; a pressão de trabalho pode ser reduzida e outro tipo de adjuvante pode ser adicionado à calda (um óleo ou um espessante de calda, por exemplo, cuja ação produza gotas de maior tamanho). No caso do volume de calda, sua variação pode ser feita tanto pela troca das pontas como pela variação da velocidade de deslocamento do pulverizador.

Condições climáticas

Outro parâmetro fundamental para o sucesso do tratamento é a adequa- ção da tecnologia de aplicação às condições climáticas. Para a maioria dos casos, devem ser evitadas aplicações com umidade relativa inferior a 50% e temperatura ambiente maior que 30°C. No caso do vento, o ideal é que as aplicações sejam realizadas com vento entre 3 e 10 km h-1. Ausência de ven- to também pode ser prejudicial, em função da chance de ocorrer ar aque- cido com movimento ascendente, o que dificulta a deposição das gotas pe- quenas. Esses limites, entretanto, devem ser considerados e eventualmente flexibilizados de acordo com a tecnologia de aplicação que será utilizada. Como exemplo, o uso de gotas grossas ou muito grossas pode facilitar o trabalho um pouco além dos limites, sempre com o cuidado para que a apli- cação não seja feita em condições muito extremas com relação ao clima.

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Mesmo dentro das faixas de trabalho relativas a esses limites, as caracte- rísticas da técnica utilizada devem ser consideradas no momento da toma- da de decisão. Um exemplo de otimização da escolha do tamanho de gotas em função das condições climáticas (umidade e temperatura, nesse caso) pode ser observado na Tabela 3.3. Nessa forma de raciocínio, o princípio a ser utilizado é o da adoção da gota mais segura dentro dos limites de cada situação. Assim, se a umidade permite uma gota muito fina, mas a tempe- ratura indica que o melhor seria uma gota fina, a gota maior (fina) deve ser a escolhida, por ser a mais segura para tal situação (menor risco de perdas por deriva e evaporação).

Tabela 3.3 – Exemplo de relação prática entre as condições climáticas e a escolha do tamanho das gotas

Fatores Classes de gotas de acordo com as condições climáticas Muito Finas ou Finas Finas ou Médias Médias ou Grossas

Temperatura abaixo de 25°C 25 a 28°C acima de 28°C

Umidade relativa acima de 70% 60 e 70% abaixo de 60% Fonte: Antuniassi et al., 2005

O início da manhã, o final da tarde e a noite são períodos em que a umi- dade relativa é maior e a temperatura é menor, sendo considerados mais adequados para as aplicações. Na prática, é possível e recomendável a utili- zação de gotas finas nesses horários. Porém, é necessário um monitoramen- to das condições ambientais com o passar das horas do dia, pois se houver, por exemplo, um aumento considerável da temperatura (com redução da umidade relativa), o padrão de gotas precisa ser mudado (passando-se a usar gotas maiores). Nesse caso, o volume de aplicação deve ser aumentado, para não haver efeito negativo na cobertura dos alvos.

Chuva e orvalho são fatores climáticos que também requerem atenção no momento do planejamento das aplicações. No caso da chuva, recomen- da-se bastante cuidado na observação do intervalo mínimo de tempo entre a aplicação e a ocorrência da chuva, visando permitir o tempo mínimo para a penetração e absorção dos ingredientes ativos. No caso do orvalho, a pre- sença de água nas folhas pode causar interferência na técnica de aplicação. O risco de um eventual escorrimento está ligado ao uso de espalhantes (sur- fatantes) na caldas. Entretanto, existem situações, dependendo da técnica empregada e do tipo de defensivo utilizado, em que a ação do orvalho pode ser benéfica (muitos fungicidas se posicionam nesta situação).

A aplicação noturna apresenta vantagens no que se refere às condições climáticas (umidade, temperatura e vento mais adequadas à aplicação de gotas mais finas), mas essa opção deve considerar a possível existência de limitações técnicas relativas aos próprios defensivos, no que se refere às questões de eficiência e velocidade de absorção/penetração nas situações de ausência de luz ou baixas temperaturas.

Tamanho de gotas

Atualmente, as gotas produzidas por uma ponta são classificadas como “muito finas”, “finas”, “médias”, “grossas” e “muito grossas” (em algu- mas normas de classificação de pontas existe também a classe “extrema- mente grossa”). Para a classificação de uma determinada ponta usando-se esse conceito, o seu diâmetro mediano volumétrico (DMV) – que é o diâ- metro da gota que divide o volume das gotas pulverizadas em duas partes, de forma que a soma dos volumes das gotas de diâmetro menor seja igual à soma do volume das gotas de diâmetro maior, sendo medido em microme- tros (μm) – deve ser comparado ao obtido por pontas de referência avalia- das utilizando-se o mesmo método de determinação do tamanho das gotas. Tomando-se como base a norma ASAE S572 (ASAE, 2000), se uma ponta apresenta DMV inferior ao obtido para uma ponta 11001 operando a 4,5 bar, o spray é classificado como “gotas muito finas”; se o DMV é intermediário entre o obtido por uma ponta 11001 (operando a 4,5 bar) e uma ponta 11003 (operando a 3,0 bar), o spray é classificado como “gotas finas”; se o DMV é intermediário entre o obtido por uma ponta 11003 (operando a 3,0 bar) e uma ponta 11006 (operando a 2,0 bar), o spray é classificado como “gotas médias”; se o DMV é intermediário entre o obtido por uma ponta 11006 (operando a 2,0 bar) e uma ponta 8008 (operando a 2,5 bar), o spray é clas- sificado como “gotas grossas” e, finalmente, se o DMV é maior do que o obtido por uma ponta 8008 operando a 2,5 bar, o spray é classificado como “gotas muito grossas”.

A classe de tamanho de gotas é um bom indicativo da capacidade da pulverização em cobrir o alvo e penetrar na massa da folhas. Gotas meno- res possuem melhor capacidade de cobertura (oferecem maior número de gotas/cm2), assim como propiciam maior capacidade de penetração, e são recomendadas quando é necessária boa cobertura e boa penetração. Entre-

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tanto, gotas pequenas podem ser mais sensíveis à evaporação e aos proces- sos de deriva. Na maioria dos sistemas de produção as gotas grossas são preferidas para aplicação de herbicidas de grande ação sistêmica, enquanto as gotas finas são mais utilizadas para inseticidas e fungicidas.

Novas tecnologias para a racionalização