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Participante Opiniões expressas pelo participante a respeito da temática disparadora

Expressão escrita (Q1) Expressão verbal (R1)

Maria

Incluir significa inserir o aluno deficiente no contexto escolar da aula; criar meios para que ele se sinta inserido e participe. Inclusão não é simplesmente estar junto com os colegas.

Primeiro que a inclusão é uma lei que diz que as escolas devem dar um jeito de todos os alunos estarem nas escolas e participando das atividades do mesmo jeito que os outros alunos sem deficiências. Só que não é só isso, os alunos precisam aprender os conteúdos, não é só socialização, e aí que o “buraco fica mais embaixo”.

Ana

Inclusão é dar oportunidade igual a todos de conviver com as diferenças. Dar conhecimento nos vários aspectos das vivências e não obrigar a aceitar tudo e todos, mas respeitar.

A inclusão é sim dar oportunidade de todos participarem, mas você não pode obrigar todos a fazerem tudo do mesmo jeito, senão você está desrespeitando a individualidade dos alunos. Falamos tanto em respeito ao aluno e vamos obrigar todos a fazer tudo do mesmo jeito?

Carol

Inclusão é um direito garantido por lei e também é conhecer e

atender as necessidades

individuais de cada criança.

Eu acho que inclusão é um direito e temos que proporcionar a participação de todos os alunos em todas as atividades, mas quando possível. Tem algumas atividades que não podemos incluir determinados alunos porque é até arriscado para a sua própria saúde. Sofia

Inclusão é o direito de todas as crianças estarem na escola, seja ela deficiente, negra ou de crença religiosa diferente. É permitir que todas as crianças participem das atividades pedagógicas.

Sei lá, parece que inclusão é só para alunos deficientes, mas não é. E o aluno gordinho que tem dificuldade de fazer um monte de atividades de Educação Física não é de inclusão? E aqueles que não entendem o que a gente fala? Se for ver, quase todos nossos alunos são de inclusão.

Paulo

Inclusão é trabalhar com todos os alunos, incluindo-os nas práticas, mas sem excluir os demais.

Acredito que devemos sim dar um jeito de que todos os alunos participem, mas precisamos pensar nas possibilidades de participação. Não dá para todo mundo fazer tudo. Então tem que ter uma seleção do que e como fazer isso. Não adianta a lei falar isso ou aquilo. É um direito, mas precisamos pensar nesse direito.

QUADRO 5 - Conceitos e objetivos da inclusão educacional apresentadas pelos participantes do Programa de Formação Continuada

As opiniões emitidas pelos participantes do Programa, presentes no Quadro 5, permitiram-me perceber que os mesmos possuem saberes e/ou conhecimentos sobre o paradigma da inclusão e/ou Educação Inclusiva, citando seus objetivos e o relacionando com questões de ordem legal (direito).

Os participantes, em sua maioria, enfatizaram que a inclusão é um direito presente nas legislações que apregoam que a escola não deve ser seletiva, mas deve possibilitar o acesso,

permanência e igualdade de oportunidades nos processos de ensino e aprendizagem a todos os alunos em idade escolar, sem distinção de classe social, etnia, gênero, credo religioso, deficiência, orientação sexual, dentre outros.

Os entendimentos sobre inclusão dos participantes vão ao encontro dos ajuizamentos propostos por Rodrigues (2006b), Carvalho (2013) e Denari (2014) ao mencionarem que o paradigma da inclusão deve promover a promoção de todo e qualquer aluno sob o princípio de individualização dos processos de ensino e aprendizagem, rejeitando, desta maneira, qualquer tipo de exclusão, tanto presencial quanto acadêmica.

Entretanto, questionaram estas conjecturas, sobretudo, em função da aplicabilidade na prática das legislações/políticas, uma vez que as mesmas, geralmente, não consideram as dimensões organizacionais da educação escolarizada e seus reais objetivos, ou ainda as dimensões físicas, sociais, atitudinais, curriculares, dentre outras. Segundo os participantes, os pressupostos da inclusão, geralmente, não se efetivam em função da contradição existente entre o que consta na legislação/políticas e a situação prática vivenciada principalmente nas escolas públicas.

Estas proposições podem ser evidenciadas na fala da participante Carol ao mencionar que

agora todos os alunos tem acesso à escola, mas estão depositados, segregados em salas de aulas supostamente inclusivas. Eles estão ali socializando ou nem isso. Só que não estão aprendendo os conteúdos das disciplinas. E na legislação fala que todos os alunos têm que aprender os conteúdos. Os professores precisam ensinar os alunos a fazer contas, a ler, a conhecer e se localizar no meio ambiente, conhecer o próprio corpo e os movimentos que ele pode fazer. Na nossa disciplina precisa conhecer os conteúdos dos jogos, esportes, danças. Olha quanta coisa. Só que todos nós aqui sabemos que nem todos os alunos aprendem ou querem aprender (fala coletada por meio do R1).

Serra, em 2006, já relatava que escola ou classe inclusiva é aquela que promove o desenvolvimento do seu aluno e a transmissão de conhecimentos específicos (conteúdos) de cada componente curricular. Uma escola inclusiva não pode oferecer apenas a oportunidade da convivência social (socialização), como mencionara Carol.

O fato de receber o aluno e matriculá-lo não representa que os pressupostos da inclusão estejam sendo efetivados. Para haver inclusão é necessário que haja aprendizagens e participação social, e isso traz a necessidade de rever os conceitos sobre currículo; este, não podendo se resumir apenas aos conteúdos escolares específicos, mas se ampliando a toda e qualquer experiência que favoreça e contribua para o desenvolvimento de todos os alunos (SERRA, 2006).

Entendo que a inclusão deve traduzir um conjunto de reflexões e de ações que garantam ingresso, permanência e saída de todos os alunos, ao menos preparados para a vida em sociedade, em que a escola represente para o aluno, independentemente se for ou não pertencente ao PAEE, um espaço significativo de aprendizagens compartilhadas. Caso contrário, pode-se, a pretexto de promoção da inclusão, confirmar práticas excludentes ou, no mínimo, dissimuladoras de uma realidade que prima pela inclusão, mas efetiva a exclusão, inclusive nas aulas de Educação Física.

Cruz (2008) destaca que se pode preparar os alunos para a vida em sociedade à medida que se estruturar um ambiente que proporcione vivências capazes de incrementar habilidades para analisar e procurar soluções às tarefas apresentadas pelo ambiente escolar e social no qual ele está inserido. Para tanto, a escola deve focalizar atividades sem restrições excludentes que, geralmente, priorizam a deficiência do aluno e não as possibilidades de aprendizagem do mesmo.

Para que essa possibilidade se concretize, Denari (2013) afirma que é necessário o envolvimento de todos, desde os professores, alunos e equipe escolar até as famílias e comunidade social onde se insere a escola, pois há, ainda, muita confusão e incerteza a respeito do paradigma da inclusão educacional e como ele deve acontecer. Talvez, por meio do diálogo, todos os envolvidos possam encontrar soluções viáveis para que, de fato, se garanta o ingresso, permanência e saída de todos os alunos ao menos dispostos para o enfrentamento da vida em sociedade.

Destaco que durante o segundo encontro no Programa de Formação Continuada os pensares de Serra (2006), Rodrigues (2006b), Cruz (2008), Carvalho (2013) e Denari (2013; 2014) foram apresentados aos participantes e por estes discutidos. Ainda foram reforçados pelo que consta na Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) e pela Lei n° 12.796/2013 (BRASIL, 2013a).130

Constatei que opiniões iniciais expressas pelos participantes a respeito dos conceitos e objetivos da inclusão e/ou Educação Inclusiva sofreram modificações significativas, principalmente no discurso, afastando-se um pouco das questões de ordem legal para aquilo que diz respeito ao assumir compromissos e responsabilidades para que a inclusão realmente se efetive.

130As apresentações dos ajuizamentos dos autores e das políticas foram apresentadas por meio do Programa

Microsoft PowerPoint (2010) e, também, condensadas em um texto entregue ao final do segundo encontro para que os participantes realizassem em suas residências, se assim quisessem, leituras mais detalhadas.

Percebi isso ao final do segundo encontro quando perguntei aos participantes o que eles gostariam de comentar sobre os conceitos e objetivos da inclusão. Assim, se expressaram por meio do R1.

A inclusão escolar acontece realmente quando toda a escola se empenha e se envolve neste processo. A equipe gestora, os funcionários, corpo discente, comunidade, família. Inclusão é um trabalho coletivo e claro que todos os alunos precisam querer aprender e o professor ensinar, sem isso acho que também não dá muito certo (Maria).

Inclusão não é apenas dos alunos deficientes. Inclusão é para todos os alunos. Eu acreditava que inclusão era só para os alunos deficientes e que eles eram o problema da escola. Hoje descobri que inclusão é um trabalho coletivo. É família, professores, diretores, alunos, merendeiras, porteiros, todos pensando em todos e não apenas nos deficientes. Só que a Secretaria também precisa fazer sua parte né? Podia muito bem ofertar mais cursos para a gente entender de inclusão (Ana).

Olha! Hoje eu levei um tapa na cara, mas um tapa igual aqueles que a gente recebe da mãe para aprender. Hoje aprendi que inclusão não é só para o meu aluninho deficiente das pernas. Inclusão é uma luta que vem acontecendo há anos. É luta histórica para que todos possam participar das aulas. É uma luta das mulheres, dos negros, dos deficientes, dos gays, dos pobres. Inclusão é luta e eu como professora não posso fingir que não tenho minha responsabilidade. Tenho que dar um jeito e pelo menos tentar (Carol).

Entendi que inclusão é um direito, mas antes disso, como disse a minha colega Carol, a inclusão é luta. Luta históricas de pessoas que foram excluídas e depois de muito tempo estão começando a poder fazer coisas que antes só uns e outros podiam. Para ter inclusão tem que ter mudanças gerais, mas elas também começam pelas nossas atitudes e também de todo mundo que está na escola (Sofia).

Eu já imaginava que inclusão era para todos, mas sei lá. Não sabia que todo mundo precisa ajudar nisso. Eu pensei que era só o governo e a Secretaria de Educação que tinham que fazer isso. Vi que é um trabalho de todo mundo e por isso que não nada fácil (Paulo).

De maneira geral, já no segundo encontro, os participantes deram a entender, no discurso, que:

- a inclusão deve ser entendida como a participação de todos os alunos;

- a escola e o professor têm o compromisso de promover os processos de ensino e aprendizagem de conteúdos e, também, de atitudes respeitosas em ambientes inclusivos;

- a família e/ou responsáveis devem procurar se informar como estão ocorrendo os processos de ensino e aprendizagem dos alunos, bem como, procurar seguir as orientações sugeridas pelos professores e gestores escolares a respeito das possíveis limitações e potencialidades dos alunos;

- a SEED precisa ofertar mais cursos de formação continuada aos professores e gestores sobre inclusão, assim por diante.

Desta maneira, os participantes construíram e reconstruíram saberes já no segundo encontro, percebendo que o paradigma de inclusão e/ou Educação Inclusiva deve, antes de tudo, ser compreendido como um processo que está em andamento, que por mais que não aborde ideias novas, precisa, mais do que nunca, de uma revisão de suas intenções políticas e práticas na educação escolarizada.

Conforme orienta Omote (2008, p. 31), necessita que toda comunidade escolar esteja “sensibilizada e orientada para a construção de uma cultura inclusiva, no interior das instituições escolares. Novas gerações de cidadãos formados nessa cultura podem ser a esperança para a construção de uma sociedade genuinamente inclusiva”. Deste modo, o sucesso dos pressupostos da inclusão

depende da vontade geral e política não só de governantes e altos dirigentes, mas de todas as pessoas da comunidade escolar intra e extra muros. Se, de fato, queremos construir a Educação Inclusiva, superando a barreira retórica e da simulação, então é hora de fazermos uma revisão de velhos dogmas, crenças e práticas, um grande mutirão para essa revisão (OMOTE, 2008, p. 31).

Segundo os participantes, as discussões e reflexões no segundo encontro já proporcionaram novos saberes e revisões sobre os pressupostos do paradigma da inclusão e/ou Educação Inclusiva, compreendendo que os mesmos representam um resgate histórico do igual direito de todos à educação de qualidade. Entretanto, questionavam porque, então, existia uma delimitação do PAI.

Como já estávamos no final do segundo encontro e a delimitação do PAI já era o assunto da pauta do encontro seguinte, mencionei que daríamos continuidade na semana subsequente a este assunto. Assim, a seguir, apresento os dados do terceiro encontro.

4.4.2 Público Alvo da Inclusão e posicionamentos dos participantes do Programa diante do processo inclusivo