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Participante Opiniões expressas pelo participante a respeito da temática disparadora

Expressão escrita (Q1) Expressão verbal (R1)

Maria

Alunos com necessidades

educacionais especiais, alunos com

deficiência, aqueles com

dificuldades.

Todo e qualquer alunos que necessite de uma atenção diferenciada deve ser considerado de inclusão.

Ana

São os que apresentam

necessidades que fogem ao

comum, onde o ensino padrão não os atinge, havendo necessidade de auxílio para o aluno.

Todos os alunos em idade escolar merecem uma educação de qualidade, de acordo com suas dificuldades e favorecendo suas capacidades. Se for ver, não são só os deficientes que são alunos de inclusão, muitos alunos são, depende se as atividades propostas agravam ainda mais suas dificuldades ou não.

Carol

Alunos com deficiências ou necessidades especiais.

São os alunos que necessitam de uma intervenção pedagógica diferenciada ou especial para dar conta de sua dificuldade educacional.

Sofia

Deficientes físicos e intelectuais.

Aqueles que necessitam de

cuidados especiais ou tem

necessidades especiais.

O aluno de inclusão é aquele que necessita de auxílios para que ele aprenda os conteúdos. Às vezes a dificuldade não está nele e sim no jeito de ensinar algo a ele. Então ele é de inclusão porque o professor precisa pensar com mais cuidado como vai ensinar.

Paulo Deficientes intelectuais, visuais, auditivos e físicos.

Aquele que necessita de algum cuidado, auxílio para o aprendizado dos conteúdos da matéria.

QUADRO 6 - Público alvo da inclusão segundo os participantes do Programa de Formação Continuada

Verifiquei, que os participantes do Programa tanto nas respostas escritas (Q1) quanto nas respostas verbais (R1) mencionam que o PAI seria destinado aos alunos com necessidades especiais, isto é, aqueles que precisam “de uma intervenção pedagógica diferenciada ou especial” (Carol). Mas, quando questionados que tipo de necessidade especial esses alunos tinham, os participantes em sua maioria mencionavam que os alunos apresentavam deficiências, como pode ser visualizado nas falas de alguns participantes coletadas por meio do R1.

Ah! Aluno com necessidade especial é o aluno com deficiência. Pode ser um cadeirante, um cego, surdo. Esses alunos têm bem mais dificuldades (Ana).

Eu dou aula há muito tempo e ultimamente estou achando que quase todos os meus alunos têm necessidades especiais (risos). Sabe porquê? Porque todos eles andam

precisando de uma atenção especial. Ando precisando ser psicólogo, terapeuta, pai, amigo e professor de Educação Física que é bom nada (Paulo).

Todos os alunos têm necessidades especiais. Só que acho que quando falamos de inclusão estamos falando dos alunos com deficiência. Porque eles não precisam apenas que a gente seja psicóloga como o Paulo falou. Eles precisam que a gente adapte as aulas, os materiais, o ambiente (Maria).

Sei lá! Semana passada falamos que inclusão é para todos. Se é para todos então todos deveriam ser de inclusão, não só os deficientes. É doido isso né? (Sofia).

Eu continuo achando que não são só os alunos com deficiência. Acho que como disse a Sofia, semana falamos que inclusão é para todos. Seria meio idiota dizer que então o público alvo da inclusão são só os deficientes. São todos os alunos, mas só que tem aqueles que precisam de coisas diferentes em função de algo que apresentam. Um aluno gay pode não precisar adaptar o ambiente ou os materiais, só que se os colegas ou o professor ficar zoando com ele vai acabar não sendo excluído (Carol).

Este entendimento traz resquícios da ideia originalmente proposta pela Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), principalmente pela utilização da expressão necessidades educacionais especiais, adotada e assumida a partir da mesma. De acordo com essa Declaração, os alunos com “deficiência ou sobredotados, crianças da rua ou crianças que trabalham, crianças de populações remotas ou nômades, crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginais” seriam considerados alunos com necessidades educacionais especiais (UNESCO, 1994, p. 06).

Então, segundo a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), os alunos com necessidades educacionais especiais não seriam apenas os alunos com deficiência, mas sim todos aqueles que, de uma ou de outra forma, necessitassem de algum tipo ou grau de apoio para ter acesso e permanência à educação, bem como possibilidades de aprendizagens, enfrentando e progredindo de acordo com as demandas que a educação escolarizada exige, como por exemplo, a aprendizagem dos conteúdos de cada componente curricular. Trata-se, pois, a partir desta perspectiva, de fazer uso de instrumentos, materiais, recursos, serviços e estratégias que respondam, de forma mais eficaz, a esta abordagem da participação efetiva de todos os alunos.

Sob esta ótica, os participantes acabaram por identificar adequadamente quais alunos seriam pertencentes ao PAI. Mesmo Ana e Maria afirmando que os alunos com necessidades educacionais fossem os alunos com deficiência, Paulo, Sofia e Carol os questionaram e foram enfáticos ao dizer que se o PAI fosse apenas os alunos com deficiência as compreensões de

inclusão apregoadas pelas políticas e pelos pesquisadores, apresentadas no segundo encontro, eram contraditórias.

Comentei com os participantes que, no Brasil, a primeira política a delimitar claramente quais seriam os alunos PAEE e, consequentemente, quem seriam os alunos de inclusão foi a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). Nesta política consta que os alunos PAEE e/ou PAI seriam “os alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação”. Já os alunos que apresentam transtornos funcionais específicos não seriam considerados PAI, porém, “a Educação Especial atuaria de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades educacionais especiais desses alunos” (BRASIL, 2008, p. 15).

Destaquei que a supramencionada Política incitou alterações na LDBEN 9.394/96 (BRASIL, 1996), por meio da Lei n° 12.796/2013 (BRASIL, 2013a), reforçando, dentre outras ações, o atendimento educacional especializado gratuito, especificamente aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e/ou superdotação em todas as etapas da Educação Básica, preferencialmente na rede regular de ensino.

Comentei, também, que de acordo com Denari (2014), não se pode falar em Educação Inclusiva se ela não está voltada ao atendimento das diversas necessidades de todos os alunos e, não apenas aquelas associadas a deficiências, aos transtornos globais do desenvolvimento e as altas habilidades e/ou superdotação. Segundo a autora,

a resposta educacional às necessidades especiais de certos alunos, condições especiais associadas à deficiência ou superdotação obedece a mesma abordagem e o mesmo objetivo típicos de todas as ações direcionadas para a educação e promoção de TODOS os alunos dentro do princípio de individualização dos processos de ensino e aprendizagem (DENARI, 2014, p.47).

Deste modo,

seria discutível e inadequado considerar que qualquer resposta às diferenças individuais engendra um desempenho explícito da Educação Especial, e que a atenção aos alunos com necessidades especiais devem conceitualmente surgir a partir de diferentes bases e pressupostos que dão sentido à atenção à diversidade (DENARI, 2014, p.47).

Diante disso, os participantes mencionaram que as (novas?) proposições alvitradas pela Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) e pela Lei n° 12.796/2013 (BRASIL, 2013ª) parecem não ir ao encontro com os até

então pressupostos presentes na maioria das políticas internacionais e nacionais da Educação Inclusiva (UNESCO, 1948; 1990; 1994; 2001; BRASIL, 1994; 1996; 2001a; 2006c), necessitando deste modo, de maiores discussões e compreensões, sobretudo “para que os professores que estão lá na escola realmente saibam e entendam que a atenção especial não pode ser apenas pro aluninho deficiente” (Sofia), mas sim “para qualquer aluno que não esteja aprendendo ou esteja sendo excluído das atividades da escola” (Ana).

Penso que as atuais políticas educacionais estejam delimitando quem são os alunos PAI, por perceberem que até então tenham fracassado no sentido de estender a todas as crianças e jovens uma educação de qualidade. Para que isso finalmente aconteça, há que lembrar que já em 2008, Bueno apontava para a necessidade de mudanças drásticas tanto nas políticas quanto nas práticas escolares sedimentadas na perspectiva da homogeneidade de seus alunos.

Deste modo, a ideia de inclusão não contempla apenas o acesso e permanência no ambiente escolar. O processo de inclusão está atrelado a revisões e modificações que abrangem as dimensões físicas e atitudinais que permeiam o ambiente escolar, em que diversos elementos como a acessibilidade, arquitetura, engenharia, transporte, experiências, currículo, saberes e/ou conhecimentos, sentimentos, comportamentos, valores e formação de professores, entre outros, coexistem, formando assim um lócus extremamente complexo.

Como as discussões e reflexões estavam bastante acaloradas, perguntei aos participantes se eles eram a favor ou contra a inclusão e, ainda, mencionei se depois do que foi discutido nos primeiro, segundo e terceiro encontros, que estava acontecendo, eles mudaram de opinião quanto ao que responderam no Q1. As respostas dos participantes estão apresentadas a seguir no Quadro 7.